Capítulo Seis

Enquanto caminhava em direção à porta, William não conseguia evitar olhar para todas aquelas pessoas no salão. Estavam todos vivos, mas não era possível ajudá-las. Tinha que se conformar: todos naquele salão estavam condenados. Não só elas, como também as do abatedouro e as pessoas que estivessem naquelas celas. 

Depois de longos segundos caminhando por entre os corpos cobertos pela cera, William chegou a porta. Respirou fundo e, após verificar que só tinha mais três disparos na pistola, a abriu, erguendo a arma e se preparando para o que viesse, mesmo com a dor que sentia nas mãos que foram queimadas pela cera o incomodando e a perna cada vez mais dormente. 

Nada de perigoso do outro lado. 

Apenas um corredor, iluminado por velas enormes. Seis velas iluminavam o corredor, três em cada canto da parede e, ao lado de vela, uma porta de madeira. Estava tudo aparentemente em ordem. No final do corredor, uma enorme porta de metal. Ele foi até a porta mais próxima e decidiu entrar. Poderia obter informações. Ao entrar naquela sala, se deparou com um escritório: Era pequeno. Um quadro antigo que tinha a imagem de uma guerra estava pendurado no lado esquerdo. Havia uma prateleira com alguns livros do lado direito, e no fim do escritório, em frente à porta, uma mesa e uma cadeira. William caminhou até a mesa. Diversos papéis estavam espalhados por ela. Ele deu a olhada em alguns. A maioria estava numa língua estranha, outros estavam em línguas diferentes, conseguindo compreender uma palavra ou outra. Pareciam não passar de documentos de propriedades, valores, entre outros. Ele olhou no outro lado da mesa, e viu três gavetas. Ao abrir a primeira, achou mais alguns documentos com desenhos e símbolos que não conseguia compreender. Na segunda, uma caixa de charutos e um revólver carregado, seis tiros. Ele pegou a arma e a guardou. 

Na terceira gaveta, uma pequena caixa branca com uma cruz vermelha e uma garrafa d'água. Ele as pegou e pôs em cima da mesa, abrindo a caixa. Era um kit primeiros-socorros. Finalmente a sorte sorria para ele. Rangendo os dentes de dor, limpou a ferida da perna e então enfaixou-a, fazendo o mesmo com as mãos. Ele bebeu metade da água junto com alguns analgésicos, aliviando a dor. Guardou as coisas, fechou a caixa e levou com ele, saindo daquele escritório.

Assim que pôs sua mão na maçaneta da segunda porta, ouviu o grito de dor de Zion vindo da porta metálica. Não havia tempo para olhar os outros cômodos, precisava ajudar o amigo. Correu até a porta de metal e a abriu. Havia uma escada descendo até outra porta de metal. Ao chegar no final, abriu a outra porta, dando numa espécie de calabouço. Havia diversas máquinas de tortura, e nelas várias pessoas presas, já mortas. Algumas aparentavam ser recentes, outros pareciam estar ali há anos.

- Que merda! - ouviu Zion falando e gemendo de dor.

- Zion?! - William perguntou.

- William! Puta merda... aqui, estou aqui! Me solta, rápido! - Gritou. William correu seguindo a voz dele, até o encontrar preso num banco de tortura. Era uma máquina na qual havia dois rolos. As pernas ficavam amarradas em um rolo e as mãos no outro rolo, cada rolo em uma extremidade da mesa. Os rolos giravam em direções opostas, esticando a pessoa até que suas articulações se deslocassem, os ossos quebrassem, causando uma morte lenta e dolorosa. Os rolos giravam lentamente, esticando Zion que parecia já estar em seu limite. William pegou a faca que tinha conseguido no abatedouro e começou a cortar as amarras dos pés e em seguida as amarras das mãos de Zion, que caiu rolando no chão, se contorcendo de dor. - Por que demorou tanto?

- Estive ocupado. Consegue levantar? - William perguntou, Zion se apoiando na máquina que o torturava e se levantando com dificuldade. Felizmente William tinha chegado a tempo. Não parecia estar com nenhuma fratura, apenas alguns arranhões. - Lá fora tem alguns quartos, podemos descobrir algo sobre tudo que está acontecendo e quem sabe uma saída. - William disse, Zion o acompanhando com certa dificuldade até o quarto onde William entrara antes. Ele pegou os papéis da mesa e entregou a Zion. - Bom... é isso aí. O que entendi desse e desse outro é que são documentações de imóveis e coisas do gênero. O que acha? - Perguntou. Zion continuou a ler os papéis, com uma expressão confusa.

- Não sei dizer direito... tem francês e italiano aqui, com toda certeza. Vou continuar lendo, dê uma olhada nas outras salas. - Disse, se sentando na cadeira e lendo os papéis. William colocou o revólver na frente de Zion e se dirigiu à segunda sala. William abriu as gavetas. Assim como na anterior, havia várias folhas com informações escritas. Boa parte estava em inglês. Na segunda gaveta, dois walkie-talkies. A terceira estava vazia. William pegou os dois walkie-talkies e os documentos Esses se tratavam de informações sigilosas com relação ao... Reino Unido. Parecia que uma pequena parte do governo estava auxiliando a seita, financiando e dando suporte para ficarem fora dos radares. William correu até a primeira sala, e quando estava prestes a abrir a porta, Zion a abriu e os dois quase se chocaram. - William, se eu não estiver enganado, essa seita tem seguidores infiltrados nos governos francese e italiano.

- Foi o mesmo que achei na outra sala, mas foi o Reino Unido. Se duvidar, nas outras salas, acharemos mais documentos sobre outros países... neles devem haver os nomes dos infiltrados e todas as informações que precisarmos! Precisamos continuar a analisar isso, mas...

- Mas...? - perguntou Zion.

- Preciso achar Pedro. Ele foi capturado por alguma coisa. Ainda está vivo, sei que está. E não vou abandoná-lo tão fácil.

- Eu o ouvi. Pensei que estivesse alucinando, mas ouvi os gritos dele.

- A propósito, você ainda não falou o que aconteceu contigo.

- Eu lembro de ir para o quarto onde você estava. Quando abri a porta, alguma coisa me nocauteou. Acordei na máquina, me esticando como se eu fosse a porra de um elástico... e ouvi os gritos, com certeza de Pedro.

- Irei atrás dele então. Fique aqui e junte todos esses papéis. Quanto mais informação, melhor. Você é bem melhor em línguas do que eu. Fique atento. - William jogou o rádio para Zion e saiu da sala.

William caminhou pelo calabouço até encontrar uma porta de madeira. Com calma, a abriu, erguendo a pistola. A porta dava numa escada que subia alguns metros. Após a escada, um enorme corredor se estendia, com várias janelas nele, iluminando o ambiente com a luz da Lua. William correu até uma das janelas e olhou o lado de fora, para descobrir onde estavam e ficou perplexo ao ver a situação no lado de fora. 

Parecia estar no Morro do Ipiranga. Tudo ao redor estava destruído. Casas, prédios, colégios, hospitais, tudo reduzido à ruínas. Parecia que metade de Salvador havia sido engolida pelo caos. Era possível ver alguns helicópteros ao longe, sobrevoando a região. Podia ouvir ao longe alguns gritos, choros. Como aquilo era possível?

Continuou a andar pelo corredor em direção a uma porta no outro lado. "Corredores e portas, corredores e portas... já cansei disso" pensou, cansado. Assim que pôs a mão na maçaneta, a porta se abriu com tremenda força, o lançando para trás. 

William se ajoelhou com dificuldade, desnorteado. Ao erguer o rosto, sentiu seu corpo estremecer e sua pele ficar pálida. O açougueiro o encarava, caminhando lentamente em sua direção. Antes que pudesse fugir, ele o agarrou lhe deu um soco no rosto, William voando alguns metros, o mundo girando ao seu redor. "Merda, merda, merda...." William pensava sem parar, enquanto rastejava para longe do monstro, que o agarra novamente pela nuca e o joga para o outro lado do corredor. 

Ofegante, William ergue a pistola, mirando o açougueiro, mas alguém chuta sua mão, a arma caindo longe. O monstro se aproxima e o ergue novamente, rendendo William, o deixando face-a-face com um senhor de idade, talvez com a idade por volta dos oitenta anos.

- Como ousa apontar uma arma para meu irmão mais novo? Patético... - O velho diz, sua voz quase inaudível, rouca e distante. Ele segura o rosto de William com força, analisando-o. - Mas que maravilha.... achamos nosso garoto prodígio. Sempre tive vontade de conhecê-lo, senhor William. Graças à você poderemos trazer nosso mestre, nosso pai, nosso líder, nosso tudo, nosso deus. Burlagk, leve-o para minha sala e mande a condessa Báthory terminar de matar aquele rastafári. Ah, mas antes: mande-a preparar Julia para o ritual... - Foi a última coisa que William ouviu do velho, antes de sentir seu pescoço sendo apertado, até não consegui mais respirar e o mundo apagar.

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