Capítulo Dez

   - Não temos muito tempo a perder. William, eu vou pela direita, você pela esquerda, ok? - Perguntou, recarregando sua pistola com o último pente que tinha. William assentiu. - Até mais tarde cara. - Se despediu, correndo pelo corredor da direita, enquanto William seguiu pelo outro. 

...

Jonathan olhou para trás para se certificar que William havia ido pelo outro corredor. Pôde ouvir seus passos ecoarem cada vez mais longes a medida que corria. Correu por vários corredores até finalmente encontrar uma sala. Ao entrar, se viu numa espécie de escritório gigante. Alguns infectados andavam pelo local. Antes que o notassem, se jogou atrás de uma escrivaninha, se escondendo. 

Ele olhou para os infectados mais uma vez. Caminham às pressas de um lado para o outro, falando em línguas incompreensíveis. Papeis em mãos, alguns com dinheiro de vários países diferentes. Não eram infectados normais. Não pareciam tanto quanto os ''zumbis'' que enfrentava no lado de fora daquele lugar, ou aqueles que enfrentou no salão ao lado de William. Era como se tivessem uma consciência humana ainda ativa. 

Alguns outros estavam em ligações e também viu alguns humanos sem traços de infecção caminhando entre eles, usando roupas sociais e traços de diferentes etnias. Para ser sincero, pareciam mais diplomatas, cada um de um país diferente. Recebiam dinheiro, assinavam alguns papeis, iam, vinham. O que quer que fosse aquilo, era muito maior do que ele estava imaginando.

- Mas que... - um dos infectados disse.

- Algum de vocês, ligue as luzes. - gritou outro. - Esperem... tem alguém aqui. Vasculhem o local! - disse. Eles rangeram os dentes, nervosos, vasculhando a sala. 

Jonathan andava agachado por entre o corredor de divisórias, que formavam micro-escritórios dentro da sala. Evitava ao máximo fazer algum barulho, mas andar naquela escuridão estava mais difícil do que imaginava. A única coisa que o ajudava era a luz da lua entrando pelas janelas. 

O som de um infectado se aproximando ecoou próximo à ele. Pegou a faca e se preparou, ficando atrás de uma das divisórias. Se a criatura o notasse e fizesse qualquer alarde, seria seu fim. Seu coração batia forte, nervoso, o punho apertando o cabo da faca com força, torcendo para que o infectado não fosse em sua direção. 

Antes que a criatura entrasse no micro-escritório em que Jonathan se escondia, algum deles falou algo em uma língua incompreensível, o infectado se afastando. Ainda agachado, seguiu à procura da saída daquele lugar. Viu uma porta semiaberta a alguns metros dele, porém havia dois infectados na frente. Precisava criar uma distração e fazê-los sair dali. Olhou num dos micro-escritórios. Pegou um grampeador e o jogou próximo aos dois infectados. O som atraiu a atenção de ambos, que começaram a conversar na mesma língua que Jonathan não conseguia compreender. Por fim, ambos saíram da porta. O mais rápido que pôde, foi até a sala, a fechando atrás de si.

Ao se virar, se deparou com dezenas de monitores espalhados na parede. Era uma sala de vigilância, havendo um infectado sentado numa cadeira de costas para ele, analisando as telas. Ele estava com os dedos da mão direita próximos a lateral da sua cabeça, mas não a tocava. John continuou o observando-o, tentando entender porquê ele estava daquele jeito. Foi quando estremeceu, e em seguida, tocou a cabeça com os dedos. A ponta dos dedos começaram a brilhar levemente.

- Pandev, pode matar os números sete, vinte e seis, quarenta e um. - O infectado que estava sentado falou, sua voz rouca e destorcida quase impossível de entender. John olhou ao redor, procurando uma rota de fuga. Havia uma tubulação de ar na qual poderia passar. Ele encarou o infectado sentado, e decidiu arrancar algumas informações. Ao se aproximar do infectado, pôs a mão na boca dele, o segurando com força, e colocou a ponta da faca na sua nuca.

- É melhor você não gritar, caso contrário, te mando para seja lá o que for o além para vocês, ok? - Disse. O infectado balançou a cabeça, assentindo. John retirou a mão da boca dele e segurou sua testa, para se, caso fosse preciso, enfiar a faca na nuca dele com mais facilidade. - Muito bem, agora quer me dizer quem são vocês, e o que você está observando nesses monitores? Se estivessem analisando todo esse castelo, você teria me visto e avisado que havíamos entrado.

- Verdade, eu não vigio todo o castelo, apenas uma parte dele, salas específicas. Por favor, poderia afastar um pouco a lâmina da minha nuca? Está começando a incomodar. Falarei tudo que você quiser, acredite. Não tenho motivos para esconder nada de você, afinal de contas, já é tarde para você nos impedir. - respondeu. - Espero que o estado de minha voz não dificulte sua compreensão. - A criatura comentou, rindo. Jonathan virou a cadeira, o encarando nos olhos, colocando a faca em sua garganta.

- O que é você? Não é como os outros zumbis.

- Zumbi? Uma forma interessante de classificá-los. Não sou um zumbi. Nenhum nessa sala é como aqueles que vocês humanos têm enfrentado lá fora. Aqueles que estão nesse andar são servos genuínos do grande Mulak, que nos acenderá aos céus, nos transformará em semideuses, em seus filhos, e nos dará poder para castigar esse mundo em decadência.

- Castigar? Do que diabos você está falando? E me explica essa de ser tarde demais. - Jonathan perguntou, abaixando a faca e o encarando. Não parecia que aquele "servo" reagiria, era rápido o suficiente para matá-lo antes que ele conseguisse soltar algum som que chamasse a atenção.

- Não vê nosso trabalho? Não vê o que fazemos? Mulak viu que o mundo está banhado em tragédia, mas as pessoas fecharam seus olhos para o sofrimento dos outros. Pessoas morrem dia após dia, e ninguém se importa. Os que se dizem idealistas, que querem lutar contra o sofrimento nesse mundo, na verdade visam apenas serem reconhecidos. Mentirosos, pervertidos, nojentos, malignos. - As palavras quase incompreensíveis saíam da boca da criatura, junto a um líquido negro e viscoso, sua saliva, escorrendo aos poucos pela boca. - É o que todos são. Mulak irá castigar a todas as pessoas pela maldade que vive em seus corações, e nós, seus futuros filhos, executaremos seu castigo. O que acontece aqui dentro é apenas uma amostra do que acontecerá com todos aqueles que habitam esse mundo. - respondeu sorrindo. Jonathan desferiu um cruzado de direita, fazendo-o cuspir alguns dentes.

- Vocês são um bando de doentes desgraçados. Me diga o que quis dizer com ser tarde demais? - Perguntou, nervoso, a vontade de matá-lo crescendo cada vez mais.

- Olhe para tela e descubra por si mesmo. Não se preocupe, não farei nada. Quero ver até onde você conseguirá ir sem ser pego. - disse o servo, se afastando e apontando para uma das telas. Jonathan a observou com atenção. "Não... William".

...

William se esquivava o mais rápido que podia dos golpes da Condessa. Ela parecia se divertir vendo William se esquivar desajeitado. Ela havia decidido atacá-lo o mais lento que conseguia, já que ele não estava em forma. Finalmente William achou uma brecha, e quando ela tentou cortá-lo ao meio, William conseguiu agarrar seu braço e acertar um chute na barriga dela, e outro no rosto no exato momento em que ela se agachou ao sentir o chute na barriga. No exato momento em que sua perna tocou o chão após o golpe, William a agarrou e a jogou no outro lado da ponte, correndo na direção em que vira Julia sendo levada pelo velho. Enquanto corria mancando, pelos golpes que levou da Condessa, olhou para trás para se certificar de que ela ainda estava caída. Ela permanecia deitada, imóvel. Voltou seu olhar para frente e continuou correndo, quando de repente um vulto passou em sua frente, e quando se deu conta, pôde sentir apenas uma lâmina atravessando sua barriga. Ficou imóvel, tentando entender o que havia acontecido. 

Seu cérebro só não havia conseguido processar a informação do que havia acontecido ainda. Olhou para baixo, vendo a lâmina do braço da Condessa atravessando sua barriga. Seguiu o braço dela até seus olhos se encontrarem com o dela. Ela o encarava, sorrindo.

- Não se preocupe, meu querido. - Disse, enquanto atravessava cada vez mais a lâmina por ele, se aproximando, até ficar a poucos centímetros dele, acariciando seu rosto. - Depois de tanto tempo abrindo corpos, dilacerando pessoas, as torturando, enquanto as via gritar de dor e sofrimento, aprendi bastante sobre anatomia. O local onde o feri não te matará, apesar de que, quando eu retirar meu braço, fará você sentir uma dor indescritível e ficará inconsciente. - Ela aproximou o rosto do dele, quase o beijando. - Mulak escolheu tão sabiamente seu guerreiro... Sinto paixão por você. Você me lembra meu falecido esposo, "que Deus o tenha", como costumam dizer. - Disse para si mesma. Ela agarrou William e sumiu, tão rápido quanto um piscar de olhos.

...

- Filha da... para onde ela o levou? - John perguntou. O infectado sorriu.

- Para onde você acha? Parece ser tão inteligente, descubra. Vi quando você analisava os desenhos no portão... pense um pouco. - Respondeu. John ficou parado, os olhos voltados para o nada, pensativo. Por que ela o capturou. William no vídeo não parecia lutar bem, estava debilitado. Enquanto esteve perto dele, pôde perceber que estava pálido. Havia perdido sangue, mas não lembrava de nenhuma ferida grave em seu corpo. Não havia sido ferido como se tivesse lutado, alguém retirou seu sangue. Mas para quê? - Parece estar progredindo. Espere, estão te procurando. - Ele levou a mão até a lateral da cabeça, como fez antes para falar algo. - Sqrovisk. O intruso matou um dos nossos. Deve ter se dirigido para a parte sul. - Mais uma vez afastou a mão do rosto. - Pronto, continue. Estou curioso para saber o que fará. - Disse, se inclinando na cadeira e encarando John.

- Por quê me protegeu? Eu sinceramente pretendo te matar quando sair daqui.

- É como eu disse: curiosidade. - Respondeu, fazendo um sinal para John prosseguir. Ele respirou fundo e voltou aos seus pensamentos. O sangue de William havia sido coletado, um litro, talvez mais. A palidez dele levava a entender que havia perdido essa quantia de sangue. A única questão era descobrir porque pegaram seu sangue. "Aqui eles pegam o guerreiro que matou o deus e retiram o sangue dele e fazem essa pessoa aqui beber, depois iniciam um ritual..."

- Isso não faz sentido... William é o guerreiro que derrotou o tal deus? - Perguntou, assustado. O infectado assentiu, sorrindo e mostrando os dentes perfeitamente alinhados, com o líquido negro escorrendo. - Como é possível? Isso é bem antigo, até demais! Como ele pode ser o guerreiro? Ah não ser... ele é a reencarnação desse guerreiro. Vocês pegaram o sangue dele para dar de beber à pessoa que será o corpo do deus... - Foi quando John percebeu o que aconteceria. Uma onda de fúria tomou seu corpo. Ele agarrou o homem e o ergueu, jogando-o contra a parede. - Seu filho da puta, pegaram minha irmã? Por que ela? Por quê?! - Perguntou desesperado.

- Eles passaram no teste. Você não entende... fazemos isso à milênios, procurando o guerreiro que derrotou nosso pai e a pessoa que será a reencarnação do nosso deus. O teste revelaria ambos. A pessoa que encarnaria nosso deus e futuro pai teria que sobreviver ao teste, com a ajuda de alguém, e esse alguém...

- Seria o guerreiro... - completou John, sua mente completando algum tipo de quebra-cabeça.

- Exato. Sua irmã beberá o sangue, iniciando o ritual. Quando Mulak estiver nela, só precisaremos esperar que ele a consuma completamente e então ele, no corpo de sua irmã, devorará o profano, aquele que aprisionou nosso grande mestre. - Terminou de explicar, rindo. John continuava pensativo, era realmente o fim? Precisava haver uma maneira de parar aquilo. Ele encarou algumas das telas, até uma chamar sua atenção. Numa sala, pôde ver uma mochila que já tinha visto antes: a mesma na qual o notebook de Zion estava. Talvez houvesse uma resposta.

- Você disse que ela "beberá o sangue", isso quer dizer que ainda não aconteceu. Você está errado... ainda há tempo para impedi-los. - disse John, com uma expressão totalmente fria. O servo continuou a olhar para ele. Depois de alguns segundos se encarando, o servo começou a rir.

- Pobre humano... você morrerá... TODOS VOCÊS MORRERÃO! - Gritou, colocando a mão direita na lateral da testa, os olhos brilhando. Antes que dissesse algo, Jonathan cravou a faca em seu crânio, matando o infectado.

- É o que veremos... - Replicou, arrancando a faca da cabeça da criatura. Ele olhou nas telas novamente e viu um homem preso numa cela. Jonathan já o vira antes. Se alguém podia ajudá-lo, aquele seria a pessoa correta. - Zion...

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