Chapitre huit

25 mars 2020; mercredi

CHEGO EM casa às nove e quarenta e cinco da noite, só vou deixar as minhas coisas da faculdade e colocar um vestido decente para encontrar a Vieve na Showcase¹, hoje é aniversário dela e, em plena quarta-feira, vamos para a balada comemorar. Eu avisei que chegaria um pouco atrasada e ela disse que não tinha problema.

Assim que eu fecho o zíper do vestido o meu celular vibra em cima da cama.

Nate: Oi, estou aqui embaixo!

Cher: Já estou no elevador.

Minto, mas ele não precisa saber.

Eu pedi que ele fosse junto porque definitivamente a Vieve não vai deixar eu ficar sóbria justo no aniversário dela. Então vamos precisar de reforços, Vieve dá muito trabalho quando está bêbada, eu dou menos, mas mesmo assim, precisamos de ajuda, talvez eu precise de ajuda com ela, talvez ela fique tão mal a ponto de eu não conseguir carregá-la — experiências antigas.

Genevieve é o tipo de garota que literalmente aperta o botão do foda-se para tudo, ela teve aquela briga feia quando os pais se separaram, ela estava na faculdade já, morando em seu apartamento e vivendo a sua vida, cortou o único contato que tinha com a mãe. Eu e Vieve somos amigas há, pelo menos, uns dezoito anos, os pais dela se mudaram para a casa ao lado de onde eu morava quando nós tínhamos uns três anos, a minha mãe, sempre muito receptiva, foi dar as boas-vindas para a nova família vizinha.

As nossas mães contam que desde então nós não nos separamos, vivíamos uma na casa da outra, entramos na mesma escola e, por sorte, ficamos em muitas aulas juntos, como tínhamos muito em comum e amávamos o mundo dos livros e da escrita, ambas decidimos cursar Letras, e cá estamos nós, dezoito anos depois, prestes a nos formarmos.

No começo da faculdade nós íamos em todas as festas, mal ficávamos em casa, a gente bebia, dançava, ficava com pessoas e era tudo muito incrível, até o ano em que os pais dela se separaram, Vieve herdou o péssimo hábito alcoólatra do pai e começou a beber quase todos os dias da semana, um dia eu peguei vodca dentro da garrafa de água que ela levava para a faculdade, tive uma conversa séria com ela, mas não adiantou nada. Hoje em dia eu policio ela o máximo que eu posso, já que se ela começa a beber, não para até estar vomitando. Isso acontece com frequência ainda.

Eu já tentei levar ela para grupos de apoio e tentei ajudar ela de várias maneiras possíveis, mas ela simplesmente não quer, e se ela não quer parar o que eu posso fazer? Bom, sempre que ela quer beber eu tento contornar e fazer a gente sair para outro lugar, ver um filme, fazer uma festa do pijama na minha casa, ou qualquer coisa do gênero, mas ela dá um jeito de fazer a bebida entrar. Então, como uma boa — ou nem tanto — amiga, eu acompanho ela, sempre com algum reforço, eu sempre dou um gole em alguma coisa junto com ela. Mas enquanto eu bebo um gole de cerveja ela já acabou o engradado, realmente parece que ela está bebendo água.

Desço pelo elevador sozinho, me direciono para fora do prédio e já vejo o carro do Nate parado, ele realmente está um gato, com uma camiseta preta com uma estampa aleatória, uma jaqueta de couro por cima e uma calça jeans. O cabelo está perfeitamente desarrumado e ele parece um deus grego mesmo.

— Oi, tudo bem? — digo, entrando no carro do Nate, dou um selinho nele.

— Oi, eu estou bem. E você? — Ele dá partida no carro.

— Como foi o seu dia? — ele pergunta,  é fofo o jeito com ele se preocupa em saber disso todos os dias.

— Foi bem legar até, fiz umas revisões de artigo e essas coisas; ainda é estranho acreditar que eu realmente trabalho lá.

— Você merece — ele diz, eu sorrio para ele. — E como foi o seu plantão?

— Foi normal, nada de acidentes hoje, apenas algumas pessoas com gripe ou crises de rim — ele diz.

— Definitivamente uma dia normal comparado com o que você me conta às vezes — digo, dando risada.

— Pois é, sem crânios quebrados ou ossos expostos — ele lembra.

Dou mais um sorriso para ele e voltamos a observar a avenida até chegar na balada.

Em vinte minutos estamos lá, um lugar enorme, com um decoração toda em roxo e várias luzes, por todos os cantos. Nate acha um lugar para estacionar e nós descemos de mãos dadas. Sem procurar muito, acho Vieve na multidão.

Ela está com um vestido bege curto, com alças e até meio solto, mesmo assim dá para perceber o corpo impecável dela por baixo do vestido, ela está com os cabelos ruivos um pouco acima do ombro com algumas ondas. Está com um salto preto fino e poucas joias, também sem muita maquiagem. Vieve quase nunca usa maquiagem.

— Uau! Eu amei o corte novo — digo, abraçando ela. — Feliz aniversário, amiga!

— Obrigada, mon amour. Eu cortei e espero não me arrepender. — Ela dá risada.

— Feliz aniversário, Genevieve — Nate diz, Vieve abraça ele.

— Obrigada, mas pode me chamar de Vieve, ou Gen... — Ela dá um sorriso e ele retribui. — Vamos começar a nossa festa! — Vieve diz, erguendo os braços para cima.

— Não chamou mais ninguém? — indago.

— Eu já tenho a pessoa que eu mais amo aqui, quem mais eu chamaria? — ela diz, rindo. — Vamos logo, vadia.

Ela agarra a minha mão e nós entramos na balada, não acho Nate com os olhos, mas pedi para ele observar a gente, então ele deve saber.

Vamos direto para o open bar, começamos com alguns shots de tequila. Depois começamos várias rodadas de bebidas e Vieve começa a misturar tudo. Ela mal termina uma garrafa de cerveja e já começa outra, não dá para diferenciar muito a Vieve Sóbria da Vieve Bêbada, porque ambas são muito alegres, gostam de abraçar, fazer declarações de amor e cantar músicas alto para todos ao redor ouvirem. 

26 mars 2020; jeudi

Músicas extremamente agitadas e com batidas contagiantes começam a tocar, Vieve pega uma garrafa de vodca, vira a mesma e me puxa pelo braço até o centro da pista de dança. Começamos a dançar como se não houvesse amanhã. Olho no visor do celular, são três e cinquenta, definitivamente a hora passa que a gente nem viu, já é quinta-feira e nós temos aula em algumas horas.

— O que foi? — Vieve pede, ainda dançando com uma garrafa na mão. 

— Nada. — Sorrio ela.

Continuamos a dançar por mais alguns minutos até que Vieve se aproxima de mim.

— Acho que eu estou meio tonta.

— Quer ir ao banheiro? — pergunto, ela dá risada e eu entendo como um sim.

Ela apoia a mão no meu ombro e nós caminhamos até o banheiro, tem uma fila enorme, mas nós esperamos mesmo assim.

Vieve parece respirar fundo, ela apoia a cabeça no meu ombro e tenta balbuciar alguma coisa, mas a única coisa que ela faz é virar o rosto para frente e vomitar no chão, respingando um pouco num grupo de garotas à nossa frente.

— Sua vadia! — uma garota morena grita. — Que inferno! — ela surta.

— Que nojenta — a garota loira ao lado dela diz.

— Ai, meu Deus, o meu salto! — uma garota de cabelos castanhos reclama, em segundos ela desfere um tapa na bochecha de Vieve.

— Ei! — grito.

— Eu estou grávida, você não pode bater em mim! — Vieve solta, ela está claramente bêbada. 

As garotas de frente parecem pensar na fala dela.

— Ela não está grávida, está bêbada — digo. — Vem, vamos para casa, Vieve.

Arrasto ela até onde consigo, então Nate nos encontra.

— Vamos para casa — digo, ele assente e me ajuda com a Vieve.

Não é possível que ela realmente disse isso — penso o caminho todo.

Observo ela deitada no meu colo, ela está basicamente dopada, claramente ela disse aquilo da boca para fora, não pode ser verdade.

Chegamos no meu apartamento, Nate pega Vieve no colo e nós subimos, todo o trajeto parece durar uma eternidade, mas são quatro e meia quando entramos no apartamento.

— Arruma o quarto de visitas, por favor? — peço para o Nate, enquanto eu vou com Vieve para o banheiro.

Ele assente eu sigo até o banheiro do meu quarto.

E essa revelação? Será que é verdade mesmo?

¹Showcase: Trata-se de uma casa noturna que fica localizada embaixo da Ponte Alexandre III, uma das pontes que cruzam o Rio Sena. A balada é especializada em House e Techno (mas também tem noites de Rap e Pop) e nos fins de semana a casa costuma ficar lotada de jovens, tanto moradores como turistas. 

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