Capítulo 24

Edgar desfrutou da sua limonada, enquanto observava Simon brincar no pequeno quintal da casa, aproveitando o dia sem aula. Era quinta-feira, eles acordaram como costume, enquanto Casper se arrumava para ir trabalhar, ele cuidava de Simon, mas quando o pobre menino tinha acabado de tomar banho, a direção da escola ligou, dizendo que houve um vazamento e as aulas de hoje e amanhã tinham sido canceladas.

Pensou que o seu filho poderia ter ficado irritado, mas se surpreendeu em ver a alegria estampada no rosto dele por poder brincar mais cedo e lá estava Simon no quintal rodeado com vários carros, bonecos e todo sujo de areia, desde que comeu o café da manhã.

Eram apenas nove e meia, estava cedo para começar a fazer o almoço, com isso estava aproveitando mexendo em seu notebook, escrevendo mais uma vez. Como Simon não tinha com quem ficar, acabou remarcando sua fisioterapia para próxima semana.

Fazia quase um mês que estava indo e com isso, já viu grandes resultados, mas o médico deixou claro que para a completa recuperação precisava fazer a cirurgia, que por acaso, era já no próximo mês. Confessava que estava com medo, medo de algo desse errado e que nada iria adiantar, medo esse que evitou demonstrar, pois via a alegria e a esperança nas pessoas ao seu redor, principalmente, nos olhos do seu Adônis.

Mas se sentia um tolo, pois mesmo que não voltasse a ter o movimento da sua perna, nada iria mudar, pois iria continuar a sua simples e amável vida, nessa casa, ao lado do seu parceiro e filho.

Um sorriso se formou em seu rosto e começou a teclar rapidamente, como de costume, nem olhava para as teclas, o seu rosto se concentrava nas infinitas palavras e ideias que apareciam magicamente em sua mente.

Estava tão concentrado que não percebeu a pessoa que estava atrás de si, não até sentir uma respiração em seu pescoço, o paralisando e ao escutar a profunda e rica voz do seu amado, inevitavelmente acabou gritando.

— Uau, que cena detalhada...

Edgar quase que derrubava o copo de limonada em cima do seu aparelho eletrônico, mas por pura sorte, acabou se livrando disso.

— Casper! — gritou assustado, se virou e bateu no seu amado. — Está doido? Quer que eu tenha um ataque cardíaco?

— Papai! — Simon, acenou, mas continuou sentado no seu lugar.

O Adônis apenas riu e mandou um beijo para o seu filho. — Oh bebê, não pensei que estava tão concentrado ai. — ele se sentou na cadeira livre em frente do amado. — O que está escrevendo, hein? Qual é o dia que vai me dar a honra em me deixar ler os seus romances?

— Após esse susto, estou repensando. — estreitou os olhos com um ar de brincadeira. — Mas o que o senhor está fazendo em casa nesse horário? Não que estou reclamando, Deus sabe que não, mas só são nove horas.

— Sabia que o senhorzinho adorava a minha presença. — mexeu com as duas sobrancelhas, o que fez o namorado rir. — É que quando cheguei no meu escritório, me veio à mente que os dois homens da minha vida estavam em casa, então, fiz o que estava pendente numa rapidez tremenda e saí, alegando que estava com dores estomacais, se por acaso você ver o meu chefe/sócio, estou doente.

— Não acredito! Olhe o exemplo que você está dando ao nosso filho. — mesmo reclamando, um sorriso abordava o seu rosto.

— Posso estar fazendo algo errado, mas não me arrependo. Hum, vejo que fez limonada, será que tem mais?

— Sim, está na geladeira. Vá pegar.

Mas antes de entrar na casa novamente, Casper ao passar do lado do amado, se inclinou e beijou docemente os lábios carnudos, provando do gosto cítrico do limão.

Edgar sorriu ao final do beijo, observou de esguelha o seu Adônis entrar, logo pegou o seu copo antes abandonado. — Traga a jarra. — pediu saboreando. — E mais um copo.

— Certo. — Casper disse de volta.

Ele escutou os movimentos na cozinha, mas ficou bebendo vagarosamente do restante do líquido.

— Ah, acho que esqueci de comentar. Ultimamente ando muito atarefado. — comentou Casper.

— O quê? — indagou ele, mas só obteve resposta quando o seu Adônis voltou com uma bandeja, contendo a jarra com limonada cheia de gelo e sanduíches naturais, mas o que chamou a sua atenção foi a falta do blazer, da gravata e os três primeiros botões estavam soltos, revelando um pouco do seu peitoral.

— Terra para Edgar... amoor?

Edgar piscou os olhos freneticamente, pelo ato inesperado dos dedos estalando de Casper na sua frente. — Hum?

Casper tinha um sorriso de lado, ele pegou os copos e despejou o liquido dentro. — O que estava olhando, hum? Simon, venha comer.

— To indo, calma aí! — respondeu a criança ainda brincando.

— Nada... obrigado. — declarou assim que pegou o copo cheio. — Mas o que estava dizendo, o que esqueceu de comentar? — assim começou a degustar dos sanduíches e se refrescar novamente com a deliciosa limonada.

— Faz quase quatro meses, bem antes mesmo de morarmos juntos, que a editora que trabalho abriu um concurso para achar mais um talento. Estou na parte de achar uma história interessante, que chame atenção e de quebra, seja bem escrita e construída. Faz semanas que nado em histórias que não tem isso, até que, na reta final, encontrei algo precioso.

Edgar ficou completamente paralisado, não tinha coragem de falar ou de se mexer, ficou inerte e só escutando.

— A história que encontrei tem os aspectos de uma obra de arte. A maneira como ela é construída, a narrativa, os personagens são feitos, nunca na minha vida como leitor e editor encontrei algo assim. A maneira como a autora retrata é de uma maneira profissional e de extrema amor pela escrita.

Edgar acabou soltando a respiração. — Então é de alguma autora de renome?

— Não, não. Neste concurso apenas pessoas que nunca tenha publicado algo e essa mulher, acho que é mulher por causa do pseudônimo, não tem histórico de publicação. Ed, amor, você precisa ler esse livro. Retrata uma história de luta, de amores, drama. O personagem principal, Taylor, negro e drag queen, acaba indo parar no exército, além de lutar na guerra, ele luta pela seu direito de viver entre os soldados americanos, com o racismo, e o não pergunte e não conte ainda em rigor. E lá, por incrível que pareça, ele acaba encontrando o amor da vida dele, claro que, o comandante Marion, fez com que tudo isso complicasse um pouco, a incerteza de ser gay, do medo de ser expulso... Cara, nunca chorei tanto na minha vida, como me emocionei numa escrita, numa história assim. Por incrível que pareça, me senti representado pela luta de Taylor, em seguida, a de Marion. Nunca pensei nas lutas das pessoas, a luta de classes, depois desse livro, meus olhos ficaram mais abertos e o mundo preciso desse livro, ficção ou não, é uma maneira de retratar uma luta que vem até hoje.

Edgar apenas não sabia como respirar de volta, o seu corpo estava travado e o seu coração a mil. Escutar pela boca de Casper a sua história, o que ele sentiu ao ler, o pegou completamente desprevenido. Nem estava lembrando do concurso, agora o destino pregou outra peça e seu esquecimento ajudou, pois se soubesse que era da editora de Casper, não ia enviar.

— Você só sabe do pseudônimo?

— Sim, fiquei com a parte da história, a burocracia é com outro pessoal, então, eu não sei se a Lady E. é realmente uma mulher ou não, mas essa pessoa é a campeã do nosso concurso. Hoje de manhã assinei os papéis e o pessoal vai entrar em contato para nos reunir e publicar o livro.

Sentindo sua pressão cair e sua boca seca, rapidamente Edgar bebeu mais da limonada, tentando parecer o mais normal possível, tirou a sua dúvida cruel.

— Então, se essa pessoa tiver algum parentesco com alguém da editora, ela ganharia mesmo assim?

— Bem, os termos diz que não pode haver nepotismo, mas como foi às cegas o concurso e a parte burocrática foi feita, então dificilmente a Lady E. tenha algum problema, principalmente quando todos da editora querem publicar essa obra de artes antes que outra empresa o pegue. O Lute e Conte é nosso.

[...]

— Sim, tem que ser a senhora, por favor. Você me ajudou com a escrita, me incentivando, agora preciso urgentemente de você, mamãe. — Edgar suplicou pelo telefone. — Por favor.

— Mas filho, é sua obra que está em jogo e está na hora de mostrar a sua face e talento para o mundo, principalmente para Casper.

— Por isso mesmo, ele não vai gostar de ver minha cara na reunião sem saber que eu que sou a Lady E, pois tive a chance de dizer e deixei passar, também não quero que o pessoal pense que ganhei por ser marido dele. Entendeu, mãe?

— Mas sou a sogra dele, vê o quanto não há coerência? Edgar, por favor, você precisa ir e enfrentar isso, deixe de medo, sei que está, pois desde que começou a escrever não deixou ninguém a ler, a não ser eu, sua mãe. Está na hora!

— Eu sei. — ele suspirou resignado. — Mas te peço, imploro para que vá na reunião e assume, posso ir com você, mas quem vai entrar na reunião séria você, não conseguirei ir e enfrentar eles, enfrentar Casper.

— Sabe que vai machucá-lo? É você fazendo isso, mas tudo bem, serei a Lady E. só desta vez, mas logo você contará a verdade. Ok?

— Sim. A reunião só vai acontecer depois da minha cirurgia, já estarei recuperado e depois explicarei tudo a ele... Oh mãe, ele amou minha história. O personagens, todo dia me conta do livro, os elogios, fico nas nuvens.

— E você ainda quer esconder? Sei não viu. Ah, filho, não está na hora de ir para a consulta médica de Giulia?

Edgar rapidamente olhou o horário, gemeu ao ver que faltava cinco minutos para eles saírem de casa. — Sim. Até logo mãe, ainda vamos deixar Simon na casa de Selena, iremos encontrar a Lou e a Giu no consultório, estou tão animado com essa gravidez, serei padrinho.

— Eu também, filho. Aquelas duas merecem toda felicidade do mundo e digo que escolheram bem os padrinhos da criança. Tchau amor, até logo.

Após se despedir, Edgar guardou o celular e saiu do quarto que estava e encontrou os dois amores da sua vida na sala.

— Estão prontos?

— Faz meia hora que estamos esperando, o que tanto você falava com a sua mãe? — perguntou Casper pegando as chaves do carro que ficava num prato perto da porta.

— Ela só me falou as novidades de casa. Simon, já pegou os brinquedos?

— Sim, mas Tia Sel me disse que ia me levar ao zoológico, não é demais?

— Oh, espero que tirem muitas fotos para eu ver quando chegar e que se divirta muito. — declarou Edgar.

— Pode deixar, papai!

Assim saíram de casa e logo estavam no caminho da casa de Selena, que por acaso não ficava muito longe. Ela morava num apartamento vizinho ao bairro.

— Vocês vão para onde mesmo? — perguntou Simon no banco de trás.

— Na consulta da sua tia Giu, vamos com elas para ver se o teu priminho ou priminha está indo bem.

— Queria ir... Mas também quero ir ao zoo.

Edgar e Casper riram. — Oh amor, com certeza elas queriam ter sua presença lá.

— Espero que não aconteça com o meu priminho o que aconteceu comigo. — disse Simon distraído.

Edgar olhou para Casper com o cenho franzido, com a voz fraca, ele perguntou. — O quê, meu amor?

— Que ele tenha a mamãe dele, que ele não perca ela.

— O meu amor. — o jovem negro se inclinou para trás e pegou na mão pequena do filho. — Nada vai acontecer, ok? Ele terá as suas duas mamães. Né, Casper?

O editor apertava o punho no volante, assentiu bruscamente e confirmou para Simon, que logo abriu um sorriso e voltou a brincar. O restante da viagem foi inteiramente em silêncio, não demorou muito e logo deixaram Simon com Selena e eles foram para o consultório.

No meio do caminho, Edgar acabou quebrando o silêncio.

— Sabe, Cas. Acho que já está na hora de Simon saber da verdade, eu sei que não devo me intrometer nesse assunto e sendo muito delicado, mas sinto que está na hora do nosso menino saber que a mãe dele está viva e cuidado dele.

— Edgar...

— Casper, cortou o meu coração o que Simon falou antes. Ele tem a oportunidade de viver com a mãe dele e a Selena desde chegou não quis impor, respeitou a situação e não ficou insistindo para contar, pois sabe que é uma decisão de ambos e que está em jogo o Simon, mas sei o quanto ela quer dizer a ele que ela é mãe dele, mas só vai contar se você concordar.

Casper ficou um bom tempo em silêncio meditando, o seu olhar não saia da estrada e a sua linguagem corporal exclamava que estava incomodado e desconfortável, o que fez Edgar dar o assunto por encerrado, mas para a sua surpresa, Casper se virou para ele por meros segundos e começou a falar.

— Eu sei que devo estar parecendo um pirralho, mas compreendo que está na hora de contar, principalmente agora que entendo que a Selena é a minha amiga, que me ajuda e quer bem para o Simon e para nós. Porém, isso não acaba com o medo de que o meu Simon me culpe por ter contado essa mentira, que fique com raiva de mim, não aguentaria viver com isso, não com o meu pequeno magoado por minha causa.

Doeu em Edgar a explícita dor nas palavras e na expressão do namorado, ele rapidamente pegou no ombro dele e apertou carinhosamente.

— Oh amor, estou feliz que tenha contado o que se passa contigo e entendo completamente o seu medo, mas deve saber que Simon nunca iria ficar com raiva ou magoado com você, ele pode ser uma criança, mas é uma criança especial, aquele garoto é muito compreensivo e com certeza, mas para a frente, irá agradecer por contar logo, não deixar carregar por mais anos essa mentira, ai teríamos que enfrentar um Simon adolescente. — por último ele fez uma careta desesperado junto com a voz, o que fez Casper rir, aliviando assim o clima.

— E não se preocupe, estarei com você na hora de contar a Simon, ok?

Os ombros antes tensos do editor, num passe de mágica relaxaram, com um pequeno sorriso no rosto, Casper pegou na mão de Edgar que ainda estava em seu ombro.

— Agradeço a Deus por ter você, pois não saberia o que fazer nessa situação e nas outras. — por um instante tirou os olhos da estrada e fitou o amado. — Eu te amo muito, meu amor.

Edgar aproveitou e deu um rápido selinho nos lábios sedosos do namorado.

— Eu te amo mais.

[...]

— Graças a Deus, que os senhorios padrinhos compareceram. — ditou Giulia com as mãos nos quadris e batendo o pé esquerdo repetidamente no chão, com o seu olhar feroz para Casper e Edgar. — Dio, pensavo che non sarebbero venuti.

Os dois namorados se entreolharam.

— Não sei do que tenho mais medo, da Giulia com raiva ou da Giulia grávida com raiva. — exclamou Edgar. — Pobre do meu afilhado.

Louise que estava sentada vendo a situação, soltou uma pequena risada e se levantou. — Vamos meninos, já é a nossa vez, pela terceira vez.

— Vocês não entraram esperando a gente? — indagou Casper surpreso.

Giulia revirou os olhos. — Mas é claro que sim, qual a parte que quero vocês acompanhando o desenvolvimento do meu bebês, vocês não entenderam? Dio.

O jovem negro com sua cadeira de rodas foi até a italiana e abraçou na cintura, mas para a sua surpresa e de Giulia, Casper fez a mesma coisa.

— E somos gratos por nos dar essa oportunidade de ser padrinho desse bebê maravilhoso. — disse o editor. — E sou grato por ter ganhado duas amigas, mas acho que já atrasamos demais, vamos ver o meu afilhado.

Edgar continha um olhar apaixonado para o namorado e as garotas um sorriso emocionado.

Após esse breve momento, eles entraram na sala apropriada, mas logo a enfermeira chamou a italiana para se trocar, enquanto o obstetra falava com Louise e outra enfermeira ajeitava a cama e o aparelho para fazer a ultrassom.

A consulta era para ver o desenvolvimento do bebê, se havia problemas ou não. O médico junto com as enfermeiras ficaram um pouco surpresos pela quantidade de pessoas na sala só para acompanhar a consulta.

Não demorou e Giulia apareceu usando uma bata azul, ela rapidamente apontou para a esposa e Edgar.

— Nem falem o que estão pensando. — ao terminar de falar sentou na cama.

Louise aproximou-se dela. — Certeza? Pois estava pensando o quanto a minha mulher é linda de todo jeito, até mesmo com uma bata hospitalar sem graça.

A italiana se derreteu pelas palavras da amada e abriu um enorme sorriso, porém o clima quebrou quando o médico chamou a atenção delas, ele instruiu para que os rapazes ficarem do outro lado, ao lado de Louise, assim o exame teve início.

O Edward, o obstetra, primeiro colocou o tradicional gel na barriga ainda um pouco plana e espalhou com o objeto da máquina, para ver o bebê, enquanto ia passando, ele falava com as duas mulheres, falando o que ia vendo.

Até que por acaso, viu algo que chamou a sua atenção, o que fez se tornar sério, preocupando assim os espectadores.

— Er... algum problema, doutor? — indagou Giulia. Ela olhou para a amada e em seguida para o médico.

— Só para ter certeza... — ele murmurou.

— O bebê está bem? — Louise perguntou logo em seguida já um pouco aflita.

— Iremos escutar a batida do coração, ok? Só um momento.

— Dio. — Giulia apertou as mãos que estava entrelaçadas, o seu olhar se mantinha desesperado. — O que há, Edward? Não vai me dizer? — segundos depois um som de batidas foram escutada, bem forte e duplamente. — Oh meu Deus. Ele está bem, né? Bem forte. — exclamou aliviada.

— Eu poderia dormir escutando esse som. — Louise falou emocionado.

O médico antes com o semblante sério, abriu um sorriso. — Sim, está tudo ok, peço desculpas por ter deixados às preocupadas, mas precisava ter certeza do que vi.

— O quê, doutor? — indagou Edgar curioso.

As garotas assentiram, com a mesma pergunta no olhar.

O som das batidas do coração continuaram a ser escutada.

— O que vocês estão escutando agora não é apenas um coração e sim dois, são gêmeos, que por acaso, tem fortes corações e estão se desenvolvendo bem.

Louise e Giulia ficaram segundos paralisadas, mas lágrimas desceram pelos seus rostos descontroladamente, as duas estavam sem acreditar no que acabaram de ouvir, pois após de vários abortos, agora não tinha só um bebê, mas se dois a caminho, era algo maravilhoso.

A mexicana saiu do estupor e abraçou calorosamente e beijando o rosto animadamente da amada, que sorria entre as lágrimas.

— Dois, iremos ter dois filhos! — exclamou Louise.

Giulia só fazia soluçar e assentir, bastante emocionada para poder falar, mas não precisava, pois estava na cara dela o quanto estava feliz.

Mas elas não eram as únicas que estavam emocionadas, os dois padrinhos choravam abraçados observando aquela linda cena e felizes em saber que teria mais outro afilhado para amar e cuidar.

[...]

— Misericórdia, coloque este cachorro para lá. — exclamou Casper assim que entrou na casa de Selena, os seus olhos arregalaram e correu para ficar atrás de Edgar, que foi pego de surpresa.

O dito animal que Casper correu foi um lindo Wheaten Terrier de cor branca, que por acaso correu dos braços de Simon e foi atrás dos recém-chegados para brincar, mas parou assim que o editor gritou, o pobre cachorro inclinou a cabeça confuso, porém logo voltou para os braços da criança.

— Ah não. — o editor gemeu insatisfeito.

Edgar começou a rir, mas puxou o namorado para o seu lado. — Para de besteira, o cachorro está longe de você.

— Mas já estou pressentindo a minha alergia atacar e nem estou com o meu antialérgico, além de que o Simon está cheio de pêlos.

Selena que estava em silêncio, se levantou com um sorriso no rosto. — Eu sabia que você ia dar o seu ataque, por isso que já tenho o seu antialérgico, mas terá que se acostumar com o Robby.

— Obrigado por pensar em mim. E desde quando você tem um cachorro? — indagou Casper pegando o vidro de remédio das mãos da amiga.

— Desde que o novo veterinário do consultório de animais da esquina chegou, que por acaso tem um lindo sorriso, olhos, boca, corpo...

— Onde que fica esse consultório mesmo? — indagou Edgar, que acabou levando um peteleco de Casper.

— Pode tirar os olhos, você não tem nenhum animal de estimação.

Tentando não rir, o jovem negro respondeu com um sorriso malicioso. — Uai, é só adotar um passarinho, tenho certeza que seria bem atendido.

— O passarinho ou você? — Casper estreitou os olhos.

— Espero que o passarinho, faz quase duas semanas que ando flertando com ele, misericórdia, quero aquele homem. — ditou Selena se abanando, causando risos neles.

— E conseguiu alguma coisa?

— Além de um novo cachorro, acabamos o encontrando no zoo, Cezar conheceu o Simon e o adorou... ele me chamou para um encontro hoje à noite.

— Que bom, mas, você contou a ele? — Edgar insinuou com o olhar.

Perdida, Selena se virou e chamou o Simon. — Querido, porque não brincar com o Robby lá fora? Já, já você vai ter que ir embora e vai demorar um pouco para o ver.

A criança rapidamente, sem se importar e ter os olhos só para o animal, correu junto a ele para fora do cômodo. Assim que Simon saiu, a mulher suspirou e se sentou novamente no sofá, fazendo gestos para o casal se acomodar.

— Então, ainda é novo esse negócio com o Cezar, mas quero muito que dê certo, e se por acaso ficarmos firmes, eu não sei se devo contar, mas...

— Você quer. — completou Casper.

— É justo para o cara que vai dividir a vida comigo, tem que saber o que fiz no passado, o erro e o preço que estou pagando, além da presença constante do Simon na minha vida, mesmo que ele só me chame de tia ou amiga.

Casper suspirou, ele pegou na mão de Edgar para dar coragem para si. — E você ainda quer contar a Simon a verdade?

Pega desprevenida pela pergunta, Selena ficou sem palavras por meros segundos, mas um brilho de tristeza e saudades acendeu em seus olhos.

— Sim. A resposta é sim, mas sei que isso nunca vai acontecer, mesmo que seja o meu mais profundo desejo. O que fiz anos atrás ocasionou isso e a culpa é unicamente minha, por isso que não insisto, além de que tenho medo de que o Simon me odeie e não queira mais me ver, isso não aguentaria. — lágrimas começaram a se formar em seu belo rosto. — Posso estar sendo hipócrita, mas esses meses todo ao lado dele me fez pensar o quanto fui tola por o abandonar, por perder o crescimento. Simon foi uma criança desconhecida para mim esses anos todos, me arrependo amargamente por isso, mas quando o conheci, quando tive o prazer de estar lá para ele, aprendendo e compartilhando, conversando, vi o quanto esse garoto é especial e o amo, eu amo o Simon. Amo o meu filho e é o que mais quero na minha que ele me veja como a mãe dele, que é o que sou.

— Eu tenho uma mamãe. — exclamou Simon em pé ao lado da porta que dava para a cozinha. — Ela não foi embora para o céu como o papai disse... uma mamãe.

Edgar, Casper e Selena olharam completamente em choque para a criança, que ainda estava tentando processar o que estava acontecendo.

— Mas porque foi embora? Porque me deixou? — a voz dele começou a se alterar.

— Bebê. — Casper se levantou, mas foi impedido por Edgar, o editor o olhou confuso.

— Deixe-a. — ele murmurou para o namorado.

— Hein? — pediu confuso. — Por quê?

— Simon. — com a voz embargada pelas lágrimas, Selena respondeu e caminhou até ele. — Eu fui uma tola no passado, te deixei aos cuidados do teu pai com medo de ser mãe, de não saber como cuidar de um bebê e corri, deixando tudo para o Casper, que por acaso, foi um homem maravilhoso e um excelente pai. Fugi esses anos todos com medo, até que vi que eu era uma burra por ter feito isso e queria conhecer o meu filho.

— Mas você me deixou, me abandonou... eu... eu...

— Eu sei. — Selena se ajoelhou. — E eu me odeio por isso, odeio por ter feito você sofrer, queria poder mudar o passado, mas a burrada já está feita, mas estou aqui agora, não vou te pressionar para me chamar de mãe ou me amar ou algo do tipo, eu só te peço que me deixe ficar perto de você, não me odeie, mesmo eu mereça o seu ódio.

— Papai Edgar disse que o ódio é uma coisa feia, que nenhuma criança deve ter no peito, eu não te odeio, eu gosto de você Tia Sel, só... só... papai! Papai!

Simon desviou dela e correu, pulando nos braços de Casper, ele escondeu o seu rosto barriga dele e começou a soluçar alto, partindo assim os corações dos três adultos.

— Simon... — o rosto de Selena antes impecável, estava borrado com a maquiagem, além dos seus olhos tristes e lágrimas abundantes caindo.

— Acho melhor irmos, sinto muito Selena. — murmurou Edgar penalizado.

— A culpa foi minha, só isso. É o preço pelo que fiz. — disse ela com o coração partido.

Casper pegou Simon e o colocou nos braços, sorriu fracamente para a amiga e saiu da casa, mas antes de Edgar sair, ele olhou para ela.

— Não era para ser assim, Casper já estava decidido de contar a ele, mas infelizmente Simon acabou escutando sem antes podermos prepará-lo.

— Isso me deixa feliz em saber que ele tinha aceitado em contar, mas a reação do Simon é algo que já tinha imaginado, a rejeição era previsível, mas ele não me odeia, é algo bom.

— Tudo vai se resolver. — Edgar pegou em suas mãos, tentando a confortar. — Esse garoto tem um coração enorme, só está confuso e um pouco magoado, mas quando perceber que tem uma mãe viva e que ama ele, logo vai estar aqui com você e ainda mais com um cachorro, já que não podemos ter um em casa.

— Espero.

— Você vai ver. Espero que prepare um quarto só para ele.

Selena abriu um sorriso. — Não só um quarto, mas a casa toda e o meu coração.

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Tradução: Céus, pensei que não iam vir mais.

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