Sorte Não Existe


-Eu me recuso a aceitar aquele jogo – eu ralhei pra Sora que estava andando ao meu lado pelo corredores do ginásio. – Primeiro uma se machuca depois elas jogam só por jogar. Alguma coisa aconteceu Sora.

-Eu sei que você está brava, mas não vá fazer nada que vá se arrepender depois – Sora respondeu.

-Pra você estar falando isso deve parecer que eu estou pronta para matar alguém. – retruquei, mas antes que pudéssemos fazer a volta ouvimos uma conversa deveras interessante.


-Porque que tivemos que abrir mão do nosso orgulho assim?

-Capitã!

-Não é assim que a Johoku joga!


Um longo silêncio, eu sabia que não era bom ficar ouvindo a conversa dos outros mas algo no meu âmago me dizia para continuar escutando, Sora fez menção de andar e eu a puxei fazendo que ficasse parada.

A vice capitã revirou os olhos pra mim mas continuou escutando.


-Não foi culpa dela foi minha.

-Mas...

-Não precisa falar Yoko.

-Eu preciso, meu pai é funcionário da empresa na número 7 da Itachiyama, ela disse que se não perdêssemos ia dar um jeito de...


-Número 7 é a Mahiru não é? – Sora perguntou e eu não precisei de mais nada, sai do meu esconderijo.

-Eu sabia que devia ter algum motivo pra vocês jogarem daquele jeito – eu disse.

-Você é realmente idiota não é – Sora disse atrás de mim.

-Agora não Sora – retruquei – O quão baixo aquela garota é? Sério, como que ninguém percebe o quão problemática ela é?

As jogadoras da Johoku pareciam ainda mais surpresas – Me desculpe não é nada contra vocês. – Me curvei lentamente.

-Não você tem toda razão de estar chateada, nós treinamos para isso. É o que todos os times fazem – a capitã disse – E de certa forma insultamos o esforço de vocês com nossas ações.

-Por favor não se curve – coloquei a mãos nos ombros dela – O que me deixa mais brava foi aquela garota tentar manipular as coisas desse jeito. E em vão porque elas perderam para a Academia Musashi.

-É o mínimo que elas merecem – uma das outras jogadoras disseram – Mas porque toda essa obsessão?

Passei a mão no meu pescoço – Espero que vocês tenham um pouco de tempo.

Sentamos ali mesmo e junto com Sora eu contei toda a minha história desde o fundamental até o meu pequeno incidente com Mahiru na parte da tarde. Essa segunda até Sora se pronunciou já que ela ainda não estava sabendo do que estava acontecendo.

-Como que nenhum dos treinadores percebe o que está acontecendo?

-Dinheiro pode fazer as pessoas ignorarem – respondi – Não é de hoje que ela usa a posição dos pais pra conseguir as coisas.

-Eu quero esmagar ela com as minhas próprias mãos – umas das pontas disse.

-Todas nós – Sora concordou – Mas vai ter que ficar pro próximo torneio esse aqui elas já caíram.

-Sora! [Nome]!

Ouvi a voz do Dan nos chamando de longe – É uma pena que não pudemos ter tido um jogo descente. Mas a Fukurodani com certeza ganhou uma aliada, quando eu for a capitã pode ter certeza que vou depenar aquela garota. Pode me chamar de Shiori.

-[Nome] – apertei a mão que ela estendeu. – Nos vemos por ai, vou aguardar ansiosa o nosso jogo de verdade.

Corri pra longe delas pra encontrar um Daniel razoavelmente bravo, aposto que nós tínhamos sumido por algum tempo.

-Onde diabos vocês duas estavam? – ele perguntou – Hibiki-sensei já estava quase entrando em contato com a segurança.

-Desculpa – falei - Mas quando você descobrir o porquê disso vai nos entender.

-Acho bom que seja um bom motivo – ele segurou na parte de trás da minha nuca, de Sora também – Pro ônibus as duas, agora.

-Ai ai ai, está bem, está bem.

Chegamos até o ônibus para alivio do Hibiki-sensei, as meninas também soltaram os ombros aliviadas. Mesmo depois de termos ganho, era visível que as garotas não estavam tão felizes assim.

Assim que descemos na escola fomos direto para o nosso ginásio passar as informações sobre a Academia Musashi. – As atuais campeãs do torneio, estou supondo que será um jogo complicado.

-Porque treinador?

-Porque vai ser como jogar contra um espelho, se nós jogamos nos apoiando na nossa força e na nossa resistência elas fazem o mesmo. Será o primeiro jogo de 5 sets que vamos ter, não vamos poder ir com tudo logo no começo e nem deixar que elas ditem o jogo.

-Vamos precisar equilibrar os dois para não cansarmos. – Dan virou a lousa e puxou a caneta – Então vamos começar.


***


Passei a mão no meu pescoço, antes de me sentar na mesa da cozinha. Junto com Dan e meus pais.

-Então, pra que todo esse mistério? – Dan perguntou.

-Bem... Enquanto eu e Sora estávamos andando pelos corredores do ginásio ouvimos as jogadoras Johoku comentando – comecei – Aparentemente a Mahiru ameaçou o pai de uma das jogadoras, por isso elas jogaram de qualquer jeito hoje.

Dan ergueu uma sobrancelha – Você só pode estar brincando? Como que uma menina consegue manipular um outro time desse jeito?

-Eu não sei – apoiei a testa na mesa – Mas ela está bem determinada a me ver no chão.

Lógico que meus pais sabiam da situação desde o fim do ensino fundamental, Daniel ficou sabendo em algum ponto do ano passado. Mas foi só recentemente.

-Infelizmente não temos muito o que fazer, para entrar com qualquer processo legal é preciso provas físicas. O mesmo para pedir uma avaliação psicológica.

Minha mãe não tinha se pronunciado ainda, foi quando ela se levantou e começou a preparar calmamente um chá – Quando as pessoas geralmente são muito agressivas com coisas muito específicas, dificilmente não tem relação a algum trauma ou ressentimento da parte emocional. A satisfação em ser agressiva e o prazer de afetar outra pessoa é provavelmente mais preocupante.

-Eu me lembro da Mahiru, um olhar distante por mais que estivesse jogando não tinha a sensação de que ela estava feliz – minha mãe disse ainda de costas – Nós sempre íamos ver seus jogos, por mais que ficasse no banco sem jogar.

-Obrigada – resmunguei.

Ela deu risada – O ponto que eu quero chegar é que toda essa motivação dela pra te deixar mal me parece ser é inveja, não como a literatura pinta mas como um caso clínico, como condição de doença. Se ela não tem admiração, se as amigas são falsas se os pais não dão atenção. Vendo que você tem tudo isso, estando "degraus" a baixo, o medo, a vontade de menosprezar e ridicularizar sobressai.

- O invejoso é capaz de boicotar, de fofocar, de fazer armadilhas, a fim de destruir o outro. Quer provar, ao menos para si mesmo, que ele é melhor. Mas no seu íntimo, sente-se menor do que os outros. – ela se virou e colocou uma xícara na minha frente – É capaz que o que ela tenha é um transtorno afetivo neurótico que pode ter ou não características de borderline. Uma condição de doença mental e sofrimento psíquico.

-Mas claro que estou falando isso de uma perspectiva bem ampla baseada no que você me diz – ela colocou a mão na minha cabeça – Não temos como tratar o outro lado a menos que ela aceite [Nome], também não temos como interferir sem provas das ameaças que ela faz usando o nome dos pais.

-Você é gentil [Nome], sei que consegue ter empatia com a dor dela – minha mãe disse – Portanto não a odeie.

-Eu faço isso por você – Dan comentou e recebeu um tapa na nuca do meu pai.

Minha mãe balançou a cabeça – Tão pouco estou falando pra você deixar ela te insultar, vou ver no escritório se podemos fazer alguma coisa. Quem sabe oferecer um estudo de campo na Itachiyama.

Ela piscou pra mim antes de sair na direção da sala. – Agora pra cama os dois vocês tem uma final para jogar amanhã.

Me levantei levando a xícara junto comigo, se a intenção dela era me deixar mais tranquila. Me deixou bem mais confusa, e com pena... Uma pessoa que passou a vida cercada de babás e que era exposta para colegas de trabalho como um troféu em festas de fim de ano, essa era a vida da Mahiru pelo que eu me lembro dos relatos.

Suspirei fundo, precisava ocupar a minha mente com outra coisa não sei se era a melhor opção mas resolvi repassar os dados que Dan deu sobre a Musashi acabei adormecendo com o caderno apoiado no meu rosto.

No dia seguinte acordei bem, não era a minha melhor condição. Falo pela questão mental, mas eu conseguiria colocar tudo de lado assim que a adrenalina começasse a bater.

Dan foi andando comigo até a escola conversamos coisas banais casualmente nos alfinetando um pouco. Cumprimentei as meninas que já estavam lá, Sora, Hana e Aki ainda não tinham chego e pelo que eu vi Sayu e Aya também não.

-Não caiu a fixa que vamos jogar a final – Misaki comentou.

-Eu também não estou acreditando ainda – falei.

-Era de se esperar – o motorista Velho Shin – Vocês são o melhor time feminino que tem.

-Você é nosso fã número um – falei – Vai assistir ao jogo hoje?

-Mas é claro que sim, capitã. Estarei na torcida para ver vocês ganharem.

Dei risada, não demorou muito até que todo o restante das garotas chegassem e nos partíssemos para o ginásio. Deveríamos estar a uns trinta minutos do local quando Dan começou a repassar algumas coisas.

-Keiko, Sora mesmo que você não consiga marcar com o bloqueio consigam pelo menos um toque quando-

Dan foi interrompido por um barulho estridente ouvimos uma buzina e em seguida meu corpo ser jogado para frente.

-Está todo mundo bem? – Hibiki-sensei perguntou – Treinador? Sr.Shin?

Ele abriu a porta para falar com o motorista – Um caminhão acabou de bater num caso no cruzamento sensei. Me desculpe pela parada brusca as garotas estão bem?

-Estamos velho Shin – Aki gritou.

Suspirei, que perigo... Mas espera, e o caminho? – Velho Shin vamos conseguir seguir para o ginásio?

Dan pareceu perceber a minha linha de pensamento – Essa não.

-Eu não sei capitã...

-É só o que me faltava não conseguirmos jogar ou melhor perder por W.O.

-Hibiki-sensei.

-Treinador.

As meninas começaram a falar uma por cima do outra e do lado de fora o burburinho também estava começando a ficar cada vez maior. Dan não estava conseguindo focar numa única informação.

-CHEGA! – gritei, era a primeira vez que eu levantava a voz com o time. As meninas me olharam com um pouco de medo mas logo entenderam a situação vendo o Dan quase entrar em parafuso.

– Não é hora de entrar em pânico, Dan, Hibiki-sensei o que podemos fazer? – perguntei.

-Shin-san qual distância do ginásio estamos? – meu irmão perguntou.

-Alguns algo em torno de 1 ou dois quilômetros treinador.

-O metrô mais próximo está a 5 minutos daqui, mas o horário não bate não chegaríamos a tempo. – Hibiki-sensei disse.

-Dan o que vamos fazer? – perguntei. Ele colocou a mão na cabeça puxando de leve os fios de cabelo. Ele respirou fundo e eu tenho certeza que pude ver literalmente um flash de um comandante de exército, os olhos dele estavam praticamente pegando fogo.

-Se alonguem – Dan pegou o próprio casaco e a mochila – Vamos correr.


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