Capítulo 8

AVISO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM...
Temas sensíveis para quem anda sofrendo por amor.

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Na vida, eu sou esse carinha olhando de baixo 🫠

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O carro realmente era bem apertado, mas não era uma porcaria. Tinha um motor bem fraquinho, sim... mas ainda andava ao contrário do Peugeot de Carla. Já era lucro.
 
     – Max Schubert dirigindo o carro da minha avó! – O cara de suéter azul disse, ainda impressionado. – Ninguém vai acreditar!

     – Max Schubert, Max Schubert, Max Schubert! – O outro pegou no ombro do piloto, empolgadíssimo.

     O alemão pareceu se sentir meio sufocado, mas nada disse. Apenas continuou a dirigir, sem pressa.

     A moça, que estava no banco do passageiro, olhou para a cara do piloto e perguntou:

     – Alguém me diz o que está acontecendo? Quem é você? Eu deveria reconhecê-lo?

     – O que? – Um dos rapazes disse. – Você não sabe? Ele é o Max Schubert, piloto de Fórmula 1. Acabou de assinar com a Ferrari.

     Carla levantou as sobrancelhas e apontou para o louro.

     – Ele?

     – Aham.

     – Impossível – Debochou.

     – Por quê?

     Ela quis rir.

     – Bem, esses pilotos de Fórmula 1 tem cabelos longos, são sexy, andam de camisa aberta até o peito...

     – Obrigado – Max disse, como se quisesse lembrá-la que ainda estava ali.

     – E olhem como ele pilota, parecendo uma velhinha.

     Ele apenas continuou a dirigir.

     – Não há necessidade de correr – Argumentou. – Isso só aumenta o risco. Não estamos com pressa e ninguém está me pagando. Bem, eu deveria acelerar por que?

     Ela se aproximou de Max e disse, baixinho, de jeito provocativo e instigante:

     – Porque eu estou te pedindo.

     O alemão ficou pensativo.

     – E sempre consegue o que quer?

     – Sim, normalmente.

     Ele se inquietou, e de uma hora para a outra, passou marcha e acelerou muito. Todos nós ficamos espantados com aquela arrancada brusca.

     Os homens que estavam comigo no banco de trás começaram a gritar de emoção. Riam alto de tudo aquilo enquanto Carla tentava se segurar firme.

     Sentir a velocidade daquele jeito fez com que eu me juntasse a eles e aproveitasse o momento.

     Passamos alguns carros na estrada em uma velocidade surreal e demos tchauzinho para eles pelo para-brisa. Até fiquei com medo do carro desmontar do nada. Na curva seguinte, topamos com um caminhão. Senti um frio na barriga imenso quando vi o tamanho dele.

     Max apenas acelerou ainda mais, passando de raspão pelo veículo de carga. Ouvimos o motorista dele buzinar e continuamos a rir com tudo aquilo. Até Carla trocou o semblante amedrontado por um alegre.

     Vi que Max olhou para ela brevemente. Mesmo aquele momento tendo durado menos de um segundo, consegui perceber que ele sorria muito.

     Foi ali que tive a certeza de que o amor à primeira vista realmente existia.

     – Mica... ei, Micael – Escutei a voz de Max, sussurrando.

     Senti o avião tremer, e em seguida, um bate na costela.

     – Ei! – Abri os olhos, sobressaltado. Ao ver que não era nada demais, os fechei. – Ain, que isso?

     E sim, se alguém me bate ou me expõe a estímulos demais logo após acordar, eu faço “ain” mesmo.

     – Oh, meu Deus! – Ouvi Johanna dizer. – Me desculpe. Foi sem querer. Essas porcarias de turbulências.

     Além da sensação estranha em um dos lados da barriga, notei que alguém estava mexendo no meu cabelo. Era ela?

     – Você dormiu a viagem toda – Max disse. – Apagou mesmo. Até me assustei.

     Notei que as músicas ainda estavam sendo reproduzidas pelo meu celular. Acho que foi por isso que meu sonho tinha parecido uma espécie de edit do Tik Tok com músicas antigas.

   Mas aquele sonho havia sido muito estranho. Era a segunda vez que eu meio que via uma “cut-scene” falando sobre o passado, como naqueles jogos. Uma em 1973, e a outra no que me parecia ser o começo de 74. E os rostos? Nítidos como a luz do dia. Era como se eu realmente estivesse assistindo tudo de camarote

     Aquilo era coisa de doido, mas viagem no tempo também, então...

     Será que os sonhos poderiam ter sido causados pela mesma coisa que me fez retroceder esse tanto de décadas?

     – Estamos quase che... – Max foi interrompido por outros tremores. O aviso para apertar os cintos foi aceso.

     Olhei para Johanna, indo se sentar ao lado do irmão. Pensar que ela havia mexido em meus cabelos há poucos segundos me fez corar.

     – Graças a Deus – Falei. – Foi uma viagem bem tranquila.

     – Claro que foi – Max deu de ombros de jeito cômico. – Dormiu o voo todo.

     Eu ri.

     – É mesmo, tem razão.

     Johanna afivelou o cinto, inquieta. Notei o jeito que Max olhou para ela e para mim, um pouco mais sério que o de costume.

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Pousamos no Aeroporto di Bologna Guglielmo Marconi, a uns 40 quilômetros de Maranello. Meu visto foi aceito novamente e passei na alfândega gritando de alegria por dentro.

     Ferrari, Maranello, Modena, Emilia-Romagna... era um sonho para mim, e lá estava eu, o realizando do jeito mais incrível o possível.

     Na saída, vi um carro familiar estacionado. A moça que estava apoiada em seu capô usava um vestido mostarda modesto, sem tantos babados ou enfeites. Era perceptível que o corte dele lhe caía muito bem, e que não precisava querer chamar atenção para conseguir isso.

     Ela tirou os óculos de sol e deu uma ajeitadinha no chapéu, um bem praiano. Eu a reconheci de longe.

     A moça veio correndo e abraçou Max, os dois se beijando como naqueles filmes de romance baseados nos livros do Nicholas Sparks.

     – Oi, querido – Ela falou, fechando os olhos. – Meu Deus... senti muita a sua falta.

     – Eu também, minha garota – Respondeu, a aninhando nos braços.

     – Te amo.

     Max abriu um sorrisinho travesso.

     – Amo mais.

     – Não, eu amo – Ela entrou na brincadeira.

     Os dois riram.

     Johanna e eu ficamos segurando vela, mas era fofo ver eles. Simplesmente, um dos casais mais icônicos da história estava na nossa frente.

     Carla notou nossa presença e levantou as sobrancelhas.

     – Anna! – Ela logo a abraçou. – Como está?

     – Bem – Respondeu, um pouco sem graça. – E você?

     – Eu estava morrendo de saudades do seu irmão, mas agora que ele está aqui e trouxe a melhor companhia de todas, nossa!

     Johanna abriu um sorrisinho tímido.

     A dama veio em minha direção e me ofereceu um aperto de mãos.

     – E então, você é o tal Micael de que me falaram, correto?

     – Prazer em conhecê-la – Retribui o gesto, animado.

     – O prazer é todo meu, Schultz.

     Assenti com a cabeça. Alguns poucos segundos depois, Max a pegou no colo, de surpresa.

     Doeu lembrar de Esther, das memórias que nunca tivemos juntos.

     – Micael – Johanna disse, num tom de voz baixo. – Poderia me ajudar a pôr as malas no carro, por favor?

     – Mas é claro – Peguei as bagagens que ela segurava e juntei com as que eu já estava nas mãos.

     – Está destrancado – Carla falou, olhando para o Peugeot marrom-terracota.

     Observei a fechadura e me lembrei da parte do sonho em que a dona do veículo a utilizava. Consegui abri-la na primeira tentativa e coloquei as malas lá dentro.

     – Muito obrigada – Disse Johanna, com um sorriso de canto.

     – Não por isso.

     Max colocou a namorada no chão e disse:

     – Vamos para casa.

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Maranello era um lugar lindíssimo. As casas eram construídas à base de pedras ou tijolos, com ou sem acabamento, e seus telhados feitos de telhas de barro vermelho. Os pequenos comércios logo me chamaram a atenção, assim como os carros bonitinhos e as Vespas estacionadas. Fizemos uma parada para comprar pão e simplesmente tive de me segurar para não sorrir feito um idiota.

     – Buongiorno. Come posso aiutare? – Um senhor usando avental falou comigo.

     Travei. Não havia entendido nada, só o Bon-Jovi.

     – Hum... er... – Parafraseei, pensativo.

     Ele esperou pacientemente por uma resposta, com um semblante simpático.

     – Max! – O chamei. – Me ajude aqui, por favor. Meu italiano realmente é uma merda.

     – Va tutto bene? – Perguntou o italiano.

     – Ah! Bene, bene. Tudo bene – Gesticulei, improvisando. – Mi non ser di Itália.

     Ele levantou as sobrancelhas.

     – Oh! Perdonami.

     Schubert chegou e o cumprimentou.

     – Ah, isso explica muita cosa – O senhor disse, num inglês básico e com sotaque bem forte.

     Umedeci os lábios, constrangido.

     – Meu amigo aqui fala três idiomas, mas nenhuma deles é o italiano – Max disse, com um carisma só dele. – Ele está aqui por puro acaso, então nem teve tempo para aprender nada. Primeiro dia, sabe?

     Agradeci a Deus por ele ter me tirado daquela situação embaraçosa.

     – Cosa vorrai? – Ele se dirigiu ao alemão.

     – Pane, pasta, salsa e uma bottiglia di vino, per favore.

     – Considera fatto! Mi scusi.

     O senhor deu as costas educadamente.

     – Olha, essa última eu entendi... pelo menos.

     O piloto abriu um sorrisinho travesso.

     – E o que significa?

     – Considere um fato.

     Ele cortou o contato visual e olhou para o chão. Suas tentativas de se manter sério não foram efetivas e ele logo começou a rir.

     – Como assim!? – Perguntei. – Fatto não é fato?

     – Ai, Mica – Tentou se recompor, respirando fundo. – Fatto é feito.

     – Ah... tá.

     Schubert olhou aos arredores.
     – Posso te fazer uma pergunta?

     “Já está fazendo”, pensei.

     – Claro.

     O senhor colocou a garrafa de vinho tinto no balcão.

     – Posso te chamar de Mica? – Max perguntou. – Se isso não te incomodar?
     Abri um sorriso.

     – Pode ser.

     – Ótimo – Me ofereceu um aperto de mãos, do nada. – Agora é Millie para você.

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E aí? Mais um capítulo na praça e este aqui foi um dos que mais fluiram. Escrevi ele no mesmo dia que o 7°.

Espero que tenham curtido. Estou muito feliz com a recepção e todo o carinho que estão dando para CNC76, sério!!! Vocês são os melhores 🥰💝

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