Capítulo 7

AVISO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM...
Se você estiver de fones e der play na música anexada, há uma chance dela sincronizar com a leitura.

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Max tinha um conhecido que sabia da existência de uma pessoa que era irmã de alguém que falsificava documentos. Entramos em contato, e em questão de alguns dias, eles chegaram nas minhas mãos. Por causa do prazo um tanto quanto duvidoso, logo fiz questão de comparar com os de Schubert.
 
     Okey, talvez o carinha realmente fosse muito bom no que fazia.
 
     Micael Schultz da Nóbrega; pai alemão, mãe brasileira, nascido em 2 de Junho de 1952, em Hürth, Alemanha. Aquela seria minha nova identidade... e passaporte também. E o visto? Bem, com aqueles documentos e o sorriso amanteigado de galã de cinema do Max... foi mamão com açúcar

     Na manhã do dia dez de janeiro, fomos ao aeroporto de Düsseldorf. Não tivemos que pegar quase nenhuma fila, pois o avião era... assim, meio que ele era do Max.

     É óbvio que entrei em pânico quando a mulher da alfândega analisou meus novos documentos, mas a única coisa que ela fez foi levantar as sobrancelhas e dizer “limpo, pode ir”.

     Já dentro do avião de pequeno porte, Max avisou que todo mundo poderia ficar à vontade. Eu me senti um pouco constrangido, mas como estava cansado e escutando música (ele havia enchido o meu saco para ouvir mais algumas), decidi tirar um cochilo após a turbulência da decolagem. Nem desafivelei o cinto de segurança.

     – “Família Ferrari”, “Nosso caro amigo” – Escutei uma voz diferente dizer, em inglês.

     Abri os olhos e me topei com uma visão totalmente diferente do que eu esperava. Cadê o avião? Fui parar em um carro sem nem saber como.

     O clima estava perfeito. O sol me iluminou de forma tão reconfortante que até me fez sentir abraçado pela sensação de calor em minha pele. Nos bancos da frente, haviam dois homens conversando. Estava tocando Sultans of Swing naquele momento.

     – Você é da família e amigo do Il Commendatore desde que vença – Continuou. – Se não ficar no pódio, tchau tchau.

     – Dá para entender – O outro respondeu, virando a cabeça na direção do primeiro. Reconheci que era Max apenas pela voz, pois o mesmo estava usando óculos de sol e eu não conseguia ver seu rosto com muita exatidão.

     – Ah?

     – São negócios. Eu faria quase o mesmo.

     O outro homem suspirou.

     – Mas não são só negócios, não é? O que fazemos? É paixão, é amor, risco, adrenalina, pressão... por isso estamos dispostos a arriscar nossas vidas.
     Max deu de ombros.

     – Para mim, não – Falou, meio seco. – Se eu gostasse de outra coisa que me desse dinheiro para me manter e tivesse talento nisso, olhe... estaria bem longe daqui.

     – E como sabe que vai ganhar dinheiro aqui? Ainda nem entrou no carro direito.

     – Ainda não, mas vou. Se você consegue, eu também posso. Não é?

     O homem ficou em silêncio por um tempo, inquieto. Percebi ele olhando para os retrovisores varias vezes antes de finalmente fitar Max.

     – Tem como você desligar esse seu modo cretino? Pelo menos por alguns minutinhos?

     Schubert levantou os óculos de sol, incrédulo. Logo soltou uma risadinha.

     – Oi!?

     – É incrível essa sua habilidade, sabe? – O outro disse, gesticulando com uma mão enquanto entrava em uma propriedade. – Às vezes, você é a pessoa mais amável do mundo. Em outras, é esse babaca aí.

     – Um babaca que é mais rápido e que consegue ajustar um carro melhor do que você, suprassumo de inteligência. Se não engole isso, o cretino aqui é você.

     Percebi que o homem ao volante estava prestes a parar o carro. O que eu iria fazer em seguida era um grande mistério, mas me contentei apenas em espionar a conversa dos dois. Já era de bom tamanho.

     – Vá à merda, Millie – Ele disse, baixo e grosso.

     Os dois ficaram em silêncio enquanto procuravam uma vaga. Quando o motorista estacionou, antes de Max sequer ter a chance de pegar na maçaneta do carro, ele se aproximou bem do ouvido dele e disse, num tom desaforado:

     – Olhe, eu te trouxe aqui porque você parecia ser um cara meio solitário. Achei que, se eu te apresentasse umas pessoas legais, o influenciaria de forma positiva... mas quer saber? Esqueça! Faça seus próprios amigos, então.

     O homem abriu a porta do carro.

     – Qual é, Jan!? – Falou Max, tirando os óculos de modo descontraído. – Me desculpe!

     Arregalei os olhos ao finalmente perceber que o cara ao volante era Jan Hendricksen, parceiro de equipe do alemão. Eu deveria ter desconfiado que era ele pelo paletó azul-bebê que estava usando, bem parecido com aquele do Daniel Larusso em Karate Kid II; bregamente fofo.

     Hendricksen deixou Max sozinho no carro, olhando para trás uma última vez. Ele aprumou a postura e seguiu seu caminho, logo abraçando um pessoal que estava ao lado da escadaria que dava acesso ao que me parecia ser um casarão.

      Jan deu alguns beijinhos educados nos rostos de algumas pessoas, subiu as escadas acompanhado delas e pegou uma taça de champagne que um garçom lhe ofereceu.

     Max saiu do carro, mas não daria mais tempo. Logo após o outro piloto ter entrado, a porta da frente foi fechada. Ele nem havia subido um degrau sequer para poder reclamar que o garçom poderia ter feito pouco caso dele.

     O alemão suspirou e pendurou seus óculos no bolso do blazer vinho. Começou a dar alguns passos sem destino algum ao redor da casa, atento a qualquer coisa. Abri a porta e fui atrás dele.

     O carro era vermelho, corsa-rosso. Reconheci de cara que se tratava de uma Ferrari apenas ao ver o símbolo do Cavallino Rampante na frente daquela máquina.

     “Uh-la-lá, que lindeza”, pensei, permitindo-me deleitar um pouco daquele momento enquanto caminhava atrás de Max. Nem estranhei o fato de que estava ouvindo Amanda, do Boston, vindo do carro. Apesar da distância que apenas aumentava, a música ainda era muito nítida. Consegui escutar quase que perfeitamente aquela obra de arte ecoar satisfatoriamente por meus ouvidos.

     Ele conseguiu achar uma porta dos fundos e subiu a pequena escadaria que dava acesso a ela. Logo viu as pessoas curtindo a festa no lado de dentro e colocou as mãos na cintura, dando um muxoxo desanimado e arrependido.

     Eu e Schubert ouvimos algo. Uma mulher andava à passos largos até seu carro, estacionado naquele lugar mais reservado da propriedade... logo aonde Max estava se aventurando à procura de uma solução para seus problemas.

     O piloto da Ferrari desceu as escadas em direção a dama, que usava um vestido branco muito delicado e um coque para prender seus cabelos castanhos. Também carregava uma mala de mão, obviamente confeccionada em couro.

     – Está indo embora?

     Ela o fitou, seu semblante um tanto quanto impaciente.

     – Sim.

     Max se aproximou, seu olhar idêntico ao de um cachorro que caiu do caminhão de mudança.

     – Me perdoe pelo incômodo desta pergunta, mas poderia me dar uma carona até a cidade mais próxima? Algum lugar com uma estação de trem?

     A moça ficou pensativa por alguns segundos. Após guardar sua mala e fechar o bagageiro, disse:

     – Ah... claro. Trento fica a meia hora daqui.

     Max abriu um sorrisinho bem discreto.

     – Entre – Ela apontou.

     O louro abriu a porta do carro e agradeceu. Como não quis ficar para trás, me enfiei no banco de trás do Peugeot da moça.

     Crianças, não façam isso em casa. O meu caso é uma exceção, okey?

     Alguns minutos de viagem depois, eu ainda conseguia escutar Proud Mary, do Creedence. Os dois estavam envoltos em um silêncio amistoso, não parecendo se importarem muito com a presença um do outro.

     Isso até Max abruptamente desligar o rádio e fazer o que antes era confortável se tornar sufocante. A mulher logo o fitou, de um jeito indignado.

     – O que está fazendo?

     Ele começou a gesticular.

     – Está escutando isso quando acelera?

     – Não.

     – A correia da ventoinha está solta.

     – Como é? – A moça exclamou.

     Max olhou na direção de seu colo. Me senti envergonhado de estar ali.

     – E quando você freia, seu pé vai até o fundo – Observou, sem segundas intenções. – Significa que tem ar no sistema.

     Ela provavelmente revirou os olhos. A chance era grande.

     – Mais alguma coisa? – Perguntou, com um pouco de sarcasmo.

     – Não.

     A dama pareceu se aliviar um pouco, parecendo comemorar o silêncio dele internamente.

     – ... Fora que os freios traseiros estão gastos, e um dos pneus dianteiros não está bem calibrado – O alemão continuou, irritantemente preciso. – Isso explica o porquê o carro está ziguezagueando de leve.

     – Uau – Ela sorriu, debochando. –, e como sabe disso?

     Max olhou para a frente e disse, como se fosse a coisa mais séria do mundo:

     – Minha bunda.

     A moça quase se engasgou com a própria saliva.

     – Ei!? Como assim?

     – Deus me deu um cérebro bom e agradeço todo santo dia por isso, mas é a bunda que sente tudo dentro de um carro.

     Ela perdeu a paciência e logo rebateu:

     – Não sabe do que está falando. Este carro está ótimo. Saiu da revisão semana passada.

     – Revisão ruim – Max apontou, de jeito um tanto quanto presunçoso.

     – Se realmente é o caso, deve ter sido porque você estava trabalhando nela – Debochou, ácida. – E foi muito cara, aliás. Gastei uma boa grana.

     Schubert deu de ombros.

     – Está praticamente novo – A dama assegurou, soando gentil novamente. – Fique tranquilo.

     O alemão se ajeitou no banco.

     – Okey, se a senhorita diz...

     Ela ligou o rádio novamente. Max ficou quietinho.

     Incrivelmente, por uma ironia do destino, carro deu pau uns três minutos depois. Ele meio que morreu de uma hora para a outra.

     Schubert logo desceu e abriu o capô. Segui ele e a senhorita e vi quando ele fez um sinal negativo com a cabeça.

     Foi aí que Send me a Angel, dos Scorpions, começou a tocar bem alto. Ainda dava para escutar mesmo fora do carro.

〔*Música em anexo*〕

     – Então...

     – Você não está com pressa, está? – Ela perguntou.

     O piloto se virou e deu de ombros.

     – Não, desde que eu esteja em Maranello segunda- feira de manhã.

     Ela suspirou, aliviada.

     – Bem, você tem um forte sotaque. É austríaco?

     – Sou alemão – Assentiu.

     – Podemos falar em nossa língua materna, então?

     Ele levantou as sobrancelhas.

     – E de onde vem, senhorita?

     – Da capital.

     – Legal – Abriu um sorrisinho. – Sou de Kerpen, uns vinte quilômetros de distância de Colônia.

     A dama lhe ofereceu um aperto de mãos.

     – Me chamo Carla.

     – Maximillan – Ele retribuiu, cortês.

     Escutamos um barulho de carro. Max tentou arriscar uma carona, apontando um joínha para o motorista. Ele passou reto.

     – Como você conheceu o Curd? – A moça perguntou.

     – Quem é esse aí?

     – Curd Jürgens, o anfitrião da festa – Explicou, perplexa.

     O piloto deixou bem claro em seu semblante que estava boiando naquele rolê.

     – Ele é... ou era, meu namorado.

     “Por isso a mala... a pressa... o mal humor”, pensei. “Isso explica muita coisa”.

     – Homens mais velhos podem ser bem atraentes, mas quando se comportam como crianças assustadas... nossa, nem sei o que deu em mim – Continuou. – Eu devia estar doida.

     Max se apoiou no carro aberto, com cuidado para não encostar no motor quente. O fez de um jeito carismático, não deixando de olhar para a dama à sua frente.

     O refrão começou a se instalar mais ainda no ambiente, a voz maravilhosa do também alemão Klaus Meine tomando conta de meus sentidos.

     – Okey, deixe-me tentar dessa vez – Ela disse, avistando um carro curvar a estrada. – Ou então nunca sairemos daqui. Afinal, estamos na Itália, não é?

     Carla adentrou um pouco a estrada, de jeito seguro, e estendeu um joínha. Ela diminuiu a velocidade do passo, parecendo tentar adicionar um quê de sensualidade em seus trejeitos.

     O pequeno carro azul-índigo passou pela moça e freou metros adiante. Ela olhou para Max e sorriu, vitoriosa.

     – Hum, nada mal. Três segundos – Riu enquanto o motorista dava marcha ré. – Deve admitir que está impressionado.

     Schubert se desencostou do Peugeot avariado da dama.

     Dois homens desceram do pequeno carrinho azul, vindo na nossa direção.

     – Bom dia, rapazes – Carla disse, com um sorriso.

     – Olá, senhorita – Cumprimentaram brevemente, passando reto pela moça.

     Ela se virou, confusa.

     – Desculpe, mas você é o Max Schubert? – Um deles perguntou.

     – Sim – Assentiu.

     O rapaz que estava usando jaqueta aplaudiu, rindo.

     – Eu disse que era ele!

     – Meu Deus, é mesmo você – O outro explodiu em empolgação, abraçando Max do nada. – Isso é incrível!

     Schubert não pareceu se sentiu muito à vontade ao abordado daquele jeito, mas já que havia passado por coisas piores, nem fez muito caso.

     – Maximillan Schubert... nossa! – O homem de suéter azul disse, se afastando um pouco. – Precisam de uma carona?

     Ele olhou para o Peugeot e seu motor que saia fumaça, de jeito cômico.

     – Meio que sim.

     – Vai ser uma honra, Max – Falou, o conduzindo para seu veículo. – Por favor, vamos. Meu carro é seu carro. Mas olhe... é uma porcaria de carro! Mesmo assim, eu ficaria realizado se você o dirigisse.

     Max quis rir, se sentindo grato.

     – Muito obrigado, mesmo.

     O outro cara pareceu me notar apenas naquele momento. Ele olhou para mim e disse, de jeito descolado:

     – Cabe mais um no banco de trás, não se preocupe.

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Um capítulo um pouquinho diferente para vocês hoje! Incrível como algumas situações ruins às vezes trazem boas novas para nós, não é mesmo?

AHHHHH, GEORGE RUSSELL VENCEU HOJE, VIRAM!?!?!? QUE CORRIDA BOA, MEU DEUS. A MELHOR DO ANOOOOOO! Até agora estou com raiva do Max Verstappen. Aquilo que ele fez com o Lando foi um ultraje.

Obrigada por ler até aqui! No próximo capítulo, veremos mais desses dois e dos rolês aleatórios do Micael. Logo estaremos chegando à Maranello 🇮🇹✨️

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