Capítulo 6

AVISO: Este capítulo contém menções à alguns temas sensíveis (luto).

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Cinco de janeiro de 1976 era a data que o calendário indicava. Eu estava a dois dias no passado.

     Quando acordei naquela manhã, até imaginei ter voltado para casa, mas toda aquela ilusão se desfez quando abri os olhos.

     Era inacreditável. Tal coisa me fascinava ao mesmo tempo que me fazia sentir uma revolta enorme. Queria ficar, mas no fundo, eu só desejava que as coisas voltassem a ser como antes.

     – Guten Morgen! – Max sorriu, vendo que eu havia acordado mais cedo que ele. – Por que está lavando a louça?

     – Porque está suja, e não quero mais atrapalhar.

     – Oh, Micael – Riu. – Não está dando trabalho.

     – Sim, eu estou – Coloquei um prato no escorredor, engolindo em seco quando senti minhas mãos tremendo com a temperatura da água.

     Ele se sentou à mesa, olhando para mim.

     – Hum, er... talvez esteja. Mas olhe só, saiba que não me importo com isso.

     Não tive nenhuma ideia do que responder, então apenas agradeci.

     Escutei um barulho que me fez ficar mais alerto. Era o telefone tocando.

     – Já volto – Max se levantou e foi até lá, à passos largos.

     Fiquei curioso, mas continuei a lavar a louça. Seria muita falta de vergonha na cara perguntar quem era.

     Me senti ainda mais deslocado quando percebi que ele estava falando em italiano com a pessoa no outro lado da linha.

     Mas era claro! Schubert havia me falado que o primeiro Grande Prêmio seria em Interlagos, no dia 25 de janeiro. Não era qualquer um que estava ligando... era a Scuderia Ferrari.

     Voltei a lavar o último prato de louça. Quando menos esperava, escutei:

     – Hallo – Ouvi Johanna dizer. – Guten Morgen.

     Até estranhei. Geralmente, ela não era a mais receptiva comigo.

     – Oi, tudo bem?

     – Sim, obri...

     Naquele momento, Max entrou quase voando pela porta.

     – Ei, pessoal! – Ele exclamou. – Preciso falar uma coisa com vocês... vocês dois.

     Me prontifiquei para escutar, desligando a torneira e pondo o prato na pia novamente. Johanna permaneceu de pé, confusa.

     – Trago fofocas de Maranello – Falou, sério. – Acabaram de me vazar uma possível lista de substitutos para o Emerson.

     Fittipaldi havia deixado a McLaren para se juntar a Copersucar, a escuderia do irmão mais velho, Wilsinho. Isso foi tão abrupto que o time neozelandês dos kiwis nem tinha um plano B. Emerson tinha conquistado o primeiro título mundial da equipe e via potencial para o futuro, mas a família e a pátria falaram primeiro.

     Eu acho que o que ele fez foi imprudente, mas heroico. Largou tudo para investir no que acreditava. Me dá orgulho falar que compartilho minha nacionalidade com ele e com muitas outras lendas, tanto do esporte quanto da história.

     Santos Drummond inventou a porcaria do avião e pronto, sem discussão.

     – Quem está nela? – Johanna perguntou.

     – Jackie Stewart, Jacky Ickx e o Jameson. Também dizem que podem promover o Jochen para primeiro piloto, mas isso é uma chance meio remota. Tenho quase certeza de que vão contratar o Ickx. Stewart já falou que não quer voltar, e eu entendo. Todo aquele lance do François...

     Me arrepiei ao escutar todos aqueles nomes juntos... aquele tanto de “J”. Sabia o que iria dar, quem iria pegar a vaga.

     Max viu isso na minha cara.

     – E ah... Anna, podemos discutir uma coisa em particular?

     Notei que ela deu uma última olhadinha em mim antes de seguir o irmão. Quando fiquei totalmente sozinho na cozinha, suspirei e servi a mesa. Ainda não sabia muito bem o que os alemães comiam no café, mas estava aprendendo que eles caprichavam bastante naquela refeição.

     Me sentei e os esperei. Fiquei pensando em coisas aleatórias por alguns minutos até que eles voltaram.

     Max ainda parecia animado, mas Johanna havia se encostado na parede de um jeito desanimado.

     – Micael, então... – Schubert puxou uma cadeira. – terei de voltar para Maranello.

     Fiz um muxoxo. Já esperava algo do tipo. Me senti aflito por nem poder ser independente. Não tinha contatos lá, nem documentos legítimos e muito menos uma casa para ficar. Logo fiquei ansioso.

     – Mas olhe – Ele continuou. –, não se preocupe com isso. Já arranjei um lugar para você.

     Fiquei um pouco chateado ao pensar em ter de me despedir. Já tinha me apegado aos dois, mas era inevitável.

     – Muito obrigado, Max – Falei, sincero. – Sério, o que fez por mim...

     Os dois irmãos se entreolharam.

     – Espere, tenho só uma perguntinha – O piloto serviu um pouco de café para si.

     – E qual seria ela?

     Ele abriu um sorrisinho travesso.

     – Além de alemão e português, fala algum outro idioma?

     – Ah, inglês? – Beberiquei o café, perplexo.

     – Hum, isso é bom. Não o ideal, mas bom.

     Pisquei várias vezes, sinalizando que não estava entendendo nada.

     – Nós três vamos para Maranello – Johanna me fitou firmemente e disse.

     – Isso é sério!? – Me levantei, surpreso. Estava sorrindo.

     Ele riu.

     – Acho melhor colocar as aulas de italiano em dia.

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Quando Max foi arrumar as malas, ele separou algumas roupas que eu poderia usar por enquanto. Tinha muita coisa bacana, mas só o fato dele ter tido compaixão comigo me fez agradecê-lo tanto que o piloto da Ferrari me pediu para parar de me preocupar e ir assistir televisão. Não o julgo, pois não é legal se desconcentrar e esquecer as coisas.

     Não fui assistir TV coisa alguma. Na verdade, consegui tomar coragem para fazer uma gambiarra com o carregador. Assim, talvez eu poderia prolongar a vida útil do meu celular naquele ambiente além dos dois dias que a bateria dele aguentava.

     Perguntei a Johanna sobre a voltagem e ela deu de ombros. Mesmo assim, tentou me ajudar falando um pouco sobre como funcionam as tomadas.

     Decidi dar uma fuçada nos eletrodomésticos, à procura de uma etiqueta informativa. 220v foi o que achei.

     Okey... o único jeito de conseguir algo do tipo era arriscando. Consegui uma forma de improvisar um adaptador e, quando tudo estava na tomada, conectei o cabo USB C na entrada do meu celular. Estava preparando para o pior caso ele decidisse explodir.

     Apareceu um círculo verde na tela, indicando 2% de bateria. Suspirei aliviado.

     – E agora? – Johanna perguntou.

     – Esperamos um tempo, aí ele vai carregar certinho.

     Percebi que a escrita “Carregamento rápido - 1h 41m para carga total” apareceu. Fiquei meio perplexo e ri, tentando entender o sentido daquilo.

     Logo depois, foi a hora de ajudar Max a separar alguns discos para levar. Me encantei com o tanto de bandas boas encontramos ali.

     – Creedence Clearwater Revival – Sorri. – Adoro.

     Dei mais uma olhadinha e logo me surpreendi mais ainda.

     – Minha Nossa Senhora... o primeiro álbum do Lynyrd Skynyrd! Não acredito!

     – Curte Country Rock? – Falou. – Caramba, por essa eu não esperava.

     – Gimme three steps, gimme three steps on me – Cantarolei enquanto analisava cada detalhe da capa, encantado.

     – Won't you fly high, free bird?

     Quando escutei Max cantando o refrão da minha música favorita daquele disco, soube logo o que fazer. Tinha que reproduzir aquele solo.

     – Tchamnaram namnam, tchamramnana namnam. Tchanaram nâ-râ nâ-râ nâránârâ.

     Ele tentou segurar, mas foi questão de poucos milésimos de segundo para o mesmo soltar uma gargalhada.

     – Meu Deus – Johanna disse, nós dois tomando um susto ao ver que ela estava ali. A moça segurava uma fita VHS. – Er... vai levar?

     – Oi!? – Max se levantou e foi em sua direção. – Sim, claro. Não consigo viver sem isso no momento.

     – Você e seus filmes americanos – Revirou os olhos, com um sarcasmo saudável.

     Ele colocou a fita no chão, junto dos discos.

     – Já viu O Poderoso Chefão?

     – É um clássico – Sorri. – Um dos meus favoritos.

     – Ótimo – Max retomou sua tarefa de separar mais discos. – Já ganhou mais uns pontos comigo.

     Assenti com cabeça, animado. Em seguida, olhei para Johanna. Ela andava pela casa, devagar, tateando as paredes e alguns móveis de jeito delicado. Parou quando ficou na frente da parede com os quadros.

     Schubert, vendo aquilo, largou tudo o que estava fazendo e a abraçou por trás. Quando ouvi soluços, suspirei agoniado.

     Eu sabia o que Johanna sentia. Tal coisa me dava vontade de chorar também.

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BOM DIA!!! TARDEI, MAS NÃO FALHEI!

Sinto muito em avisar que irei ficar algum tempo afastada do Wattpad. Meus pais acham que estou passando muito tempo no celular e bem... não vou discutir, pois eles querem apenas o melhor para mim.

Ainda vou dar meu jeito de escrever na escola (geralmente termino as atividades antes da maioria) e etc. Também darei meus pulos para responder vocês e tudo mais, viu!? Não vou embora em definitivo ❤️

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