Cidade do fogo

—Filho, onde você estava? —Disse uma senhora com um belo sorrindo rosto, vendo Kol entrando pela porta feita de palha e bambu. Ela tinha os cabelos prateados e pele clara como a neve, os seus olhos eram esverdeados iguais a grama após a chuva. —Você demorou bastante, conseguiu caçar alguma coisa?

—Consegui algo ainda melhor.—Kol disse com um sorriso enigmático, enquanto sentava na cadeira feita de pedra e coberta de pele de animais.

—O quê? Uma erva mágica?—A senhora olhou para Kol com o olhar cheio de curiosidade. —Diz logo, para quê o suspense?

—Onde o pai está?—Kol disse ainda com o mesmo sorriso no rosto, ele sabia que a sua mãe estava extremamente curiosa naquele momento.

—O que foi?—Um homem alto entrou na sala, ele tinha o cabelo escuro que combinava com a sua pele, os seus olhos também era verdes iguais a da sua esposa. Parecia um pequeno monte devido ao seu físico musculoso e altura, apesar de não ter o seu braço direito.—Porquê que esse atrapalhão tem um sorriso presunçoso no rosto?.—O homem conhecia o seu filho muito bem, e sabia que ele agia assim sempre que arranjasse encrenca.

—Nada disso, olha só isso tudo. —Kol colocou a bolsa de couro, quando a bolsa entrou em contato com a mesa oval de pedra as moedas liberaram o seu som característico.—Hoje eu salvei uma aprendiz de mago.-Nesse momento a expressão de orgulho do Kol estava no ápice, mas sem esquecer de mater o sorriso singelo no rosto.

Os seus pais ficaram atônitos, sem saber o que dizer. Eles estavam mais surpresos pelo facto dele ter salvo uma maga, do que o saco de moedas jogado na mesa.

—Abram o saco primeiro. —A voz de Kol tirou os seus pais do transe, fazendo os dois trocarem olhares antes de se focar no saco de couro.

Sem pensar muito, Bolk abriu a sacola de couro e nesse momento a sua respiração parou por alguns segundos. A sua esposa ficou preocupada devido a reação dele, e de seguida olhou para Kol confusa mas infelizmente para ela o seu filho continuava com a mesma expressão no rosto.

—Querido, o que foi?—Frey questionou diretamente ao Bolk, pois sabia que Kol planeava agir misterioso. Bolk sorriu levemente e sem forças passando o saco de moedas para ela, a Frey recebeu o saquinho casualmente mas após perceber o conteúdo ela ficou estupefata e sentiu como se fosse desmaiar. —Kol, eles deram tudo isso como recompensa?.

—Não só isso, mas ela deu-me isto também.—Kol tirou o pedaço de metal que a Korin lhe entregou, os seus pais ficaram ainda mais chocados fazendo Kol ficar bastante satisfeito. —Com isso eu posso entrar na cidade, e me inscrever no exército.

—Mas...—A Frey ficou surpresa com a intenção do filho, mas ela também sabia que era a vontade dele de ser um soldado e se tornar um oficial. —Com todo esse dinheiro você pode viver sem precisar trabalhar, sem contar que aqui na aldeia não falta mulher bonita...

—Frey, amor.—Bolk interrompeu a sua esposa antes que ela pudesse continuar, ele sabia que eles não poderiam impedir que Kol fosse ao exército especialmente com uma chance dessas.—Eu também preferia que ele vivesse aqui em paz e segurança, mas claramente isso não o fará feliz.

—Mãe não se preocupe, eu sou forte.— Kol falou levantando da cadeira, indo dar um braço na sua mãe que tinha quase a sua altura.—Eu prometo ser tão forte, quanto o guardião do sol.—Nesse momento os olhos profundos de Kol, continham uma luz intensa mostrando o quão ele estava determinado em se tornar poderoso.

Os pais de Kol apenas suspiraram enquanto olhavam sorrindo para ele, pois sabiam que o guardião do sol era quase um deus para Kol. O fanatismo pelo guardião começou quando Kol se perdeu na floresta, e encontrou um tigre de fogo. Uma criatura capaz de queimar tudo ao seu redor com apenas um ataque, Kol ainda lembrava como a criatura devorou um caçador veterano em instantes. O tigre tinha quase dois metros, se movia mais rápido que uma flecha e a cada passo seu fazia a terra tremer, deixando uma poça de terra derretida onde passava. Kol estava a beira do desespero pegando na sua lança feita de bambu e a ponta de pedra, tentando resistir a vontade de chorar e desmaiar antes da fera fazer o seu ataque.
Quando a besta fez o seu ataque, uma luz vermelha passou sobre o tigre e o mesmo caiu imóvel nos pés de Kol.

—Garoto, é perigoso se aventurar nessas partes da montanha pois é onde todas as bestas mágicas caçam.—Um homem magro com a cabeça repleta de cabelos grisalhos e uma barba curta, ele usava um simples traje branco com as calças e botas castanhas.-Você está perdido?. —Nesse momento ele olhou para o jovem Kol que ainda olhava para o tigre que teve a sua cabeça decapitada, mas apesar do choque ele percebeu que foi salvo pela pessoa a sua frente.

—Sim...—Kol mentiu pois estava seguindo o caçador da sua aldeia, e claramente não poderia dizer isso para a pessoa que acabava de salva-ló.

—De onde você é?—O homem apesar de não ser belo tinha um rosto amigável, e nada de extraordinário para além da sua lança que parecia ter sido banhada em sangue devido a sua cor.

—Sou da aldeia pedra, me chamo Kol.—Ele sempre foi eloquente e com a cabeça no lugar, apesar de ser brincalhão.

—Não tem como você voltar até lá sozinho, te levo até a sua aldeia.-—Ele falou colocando a sua mão no tigre, que de seguida desapareceu após criar uma luz dourada.—Segure na minha camisa.—Kol já não conseguia perceber o que estava acontecendo, mas sabia que nunca havia visto ninguém como o senhor a sua frente.

—Como é que o tigre morreu, você não tem nenhum arco e flecha e eu vi que as espadas não conseguiam furar a pele da fera.—Kol tinha os olhos exalando curiosidade e entusiasmo, ele estava intrigado com a morte do tigre.

—Hahah, eu usei a minha lança, nada demais.—O homem falou casualmente, enquanto indicava a sua lança com os olhos.—já está bem seguro, então vamos.— O homem deu um passo, e de seguida Kol sentiu o seu cabelo e rosto indo contra o vento, dando uma sensação inigualável de liberdade.

—incrível, nós estamos voando?. —Kol sabia que voar não era algo que um humano pudesse fazer, apenas aves e anjos poderiam ter tal habilidade. —Mas você não tem assas. —A velocidade era tanta, que a sua voz não se fez ouvir.

—Garoto chegamos, é só seguir em frente que estarás na sua aldeia.—Ele percebeu o quão fascinado o garoto estava, mas não tinha tanto tempo livre para se preocupar com o garoto.

—Desculpa, quem é o senhor?... de onde é?—Kol sabia que poderia ser inconveniente responder a sua questão, mas não conseguiu resistir.

—Eu sou conhecido como guardião do Sol, sou da cidade do fogo.—Ele olhou para Kol antes de colocá-lo no chão.—Cuide-se garoto, se você se tornar forte um dia, venha a minha procura. —Sem esperar que Kol respondesse, ele saiu disparado em direção a norte.

Desde então Kol treinou todos os dias com o dobro de esforço, tanto que se tornou o caçador mais formidável da aldeia, até mesmo os bandidos conheciam o seu nome. Kol não se importava com a fama, pois sabia que ele ainda seria derrotado por uma pata daquele tigre de fogo. Por isso sempre colocou em mente que não poderia ser arrogante e complacente, o único motivo dele não ter ido para o exército até o momento era o fato dele ter de superar a família.

—Com esse dinheiro vocês não precisam trabalhar, sendo assim eu posso me alistar num batalhão sem nenhum problema.—Ele tinha agora um grande sorriso no rosto, diferente do normal pois este era genuíno e repleto de sinceridade.

—Nós não podemos aceitar esse dinheiro, afinal é para você usar na sua viajem.—A mãe de Kol falou passando a mão no seu cabelo, ela olhava intensamente querendo gravar a cara do seu filho na sua memória.

—Mãe é como dizem por aí, "um homem pode ser inocente, mas a jóia o torna culpado".—Kol falou seriamente olhando para o pai, como se pedisse ajuda.—Se vocês usarem esse dinheiro e começarem a vida como mercadores ninguém vai desconfiar, mas se eu viajar com toda essa quantia eu acredito que até mesmo os guardas das cidades ficarão interessados nessas moedas.

—Então você planejar ir para cidade sem nada?. —Mesmo sabendo que o Kol tinha razão ela continuava preocupada, pois não iria suportar saber que o seu filho passou fome.

—Que tal eu levar quatro moedas de prata, e todas de bronze?.—Na verdade ele já imaginava que essa situação iria transparecer, então já tinha uma solução preparada.—Assim conseguirei arcar com os meus custos, até conseguir um lugar no exército. —Kol sabia que deu certo quando o seu pai assentiu, e a sua mãe deu um longo suspiro.

—Está bem, quando você planeja partir?.— Disse Frey sabendo que seria impossível persuadi-ló a ficar.

—Amanhã logo cedo, antes dos outros acordar.—Kol falou com pouco de hesitação pois sabia que a sua mãe ficaria ainda mais preocupada.

—Tão cedo...— Frey e Bolk murmuravam mas no fim não disseram nada, apenas assentiram e começaram a falar sobre a jornada do Kol até a cidade.

O dia passou, e Kol quase não conseguia dormir por causa da ansiedade. Ele rolava na sua cama feita de capim, penas de aves e coberta por pelos de animais. Após várias tentativas Kol finalmente caiu no sono, nesse momento os seus pais estavam conversando sobre algo.

—Você deve contar para ele, se ele souber terá mais chances de sobreviver lá fora. —Frey falou com a cara seria, ela tentava não levantar a voz mas quase não se continha.

—Frey, é melhor assim se Kol conseguir se tornar num cavalheiro não precisará de saber sobre a sua origem.—Bolk falou num tom um tanto nostálgico.

—Se algo acontecer com o meu filho por causa disso, não fale mais comigo. —A Frey foi em direção ao seu quarto deixando Bolk sentado na cadeira, contemplando o silêncio da noite.

—Eu também espero que ele fique seguro, e sem correr grandes riscos. —O seu tom de voz foi normal, mas ele não sabia dizer se falava para si ou a sua esposa.

Os sois mal estavam no horizonte, mas Kol já estava pronto para iniciar a sua jornada. Ele parou na entrada da aldeia olhando o cenário, sendo consumido por uma quantidade absurda de nostalgia. Mas rapidamente virou e seguiu a estrada pois, sabia que se ficasse mais tempo perderia a coragem de deixar a vila. Ele tinha uma lança velha, que encontrou na floresta nos seus dias de caça, a lança estava enferrujada mas era bastante resistente e dura. Usava uma armadura de couro, e um capuz preto feito do mesmo tecido que cobria a sua lança.

—A cidade mais próxima é a Vrlot, ao norte daqui.—Kol conhecia bem os arredores da vila, pois sempre sonhou com o dia que fosse se aventurar pelo mundo. —Só espero que nenhum ladrão apareça.

A sua caminhada era estável, por vezes ele parava para beber água e comer uma fruta. Kol admirava a imagem a sua frente, a imensa floresta separada por uma estrada batida. O contraste entre o verde vibrante dos dois lados, e a areia vermelha que representava a estrada.

—Quem está aí?. —Kol sabia que havia se tornado alvo de bandidos, mas não entendia o porquê pois não parecia ter nada de valioso. —Apareçam qual é a vantagem de continuar nas escuras.

Dois homens e uma mulher emergiram da floresta, olhando para Kol de maneira fixada e ele conseguiu notar a ganância no olhar. Os dois homens tinham manchetes, e a mulher tinha duas adagas nas mãos.

—Garoto, não sabemos porquê mas vimos você recebendo um saco cheio de moedas. —Nesse momento Kol entendeu o que estava acontecendo, os ladrões pensavam que ele tinha mostrado caminho para a realeza e de seguida lhe deram uma recompensa generosa. —Nós iríamos atacar a sua aldeia hoje a noite, mas você veio direto até nós. Isso é tão bom, assim não precisamos dividir os ganhos.

—Se vocês desaparecem daqui ainda tem como manter a vida, a vida de cão que vocês tem. —A frase de Kol enfureceu os três ladrões, que cercavam o garoto mas também acharam engraçado a arrogância dele. —Vamos começar?.—Kol tirou a lança das costas e ficou em posição de combate, a espera do ataque dos ladrões.

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