1 - Apenas nos filmes
Dias atuais
Alice sabia que não deveria estar ali.
E, se havia alguma coisa em si que confiava de olhos fechados, essa coisa era a sua intuição.
Não, o ambiente não era ruim.
A companhia também não.
Mas ela apenas...
Bom, o dia seguinte seria muito importante — deveria estar em sua casa treinando, se preparando, descansando, dormindo.
E não em um barzinho de música ao vivo, petiscos e drinks pela metade do preço para mulheres, tão tarde da noite, com suas amigas da época de escola.
Ora, claro que ela gostava de sair.
Mas não na véspera de algo que poderia mudar sua carreira e seu trabalho para sempre.
Uma carreira que parecia só afundar cada vez mais.
E ela não se permitiria afogar sem lutar com todas as forças que tinha para alcançar a superfície.
— Alice! — Uma de suas amigas estalou os dedos na frente do rosto dela. — Terra para Alice! O que você vai querer beber?
Alice piscou, fitando as moças sentadas na mesa com ela.
— Hã... Pode ser uma água com gás, limão e gelo.
Os rostos de suas amigas se converteram em caretas desgostosas.
— Água com gás? Sério?
— Não quero beber. Amanhã...
— Você tem uma audição importante, já entendemos, mas...
— Ai, gente, deixem a Alice tomar a água dela — Lola as cortou. — Quem está tentando seguir carreira de atriz precisa estar focada sempre.
— Ok, ok, vou pedir nossos drinks e a água da Alice.
Em silêncio, Alice lançou um olhar de gratidão para Lola.
Só estava ali porque Bárbara, uma de suas queridas e melhores amigas dos tempos de escola, viera para Blumenau visitar os pais e quisera reunir todo o grupinho para uma noite de mulheres antes de subir no avião e voltar para Salvador, onde gerenciava uma grande empresa de perfumes.
E, mesmo com a correria da vida adulta e as preocupações do trabalho, sentia falta de Bárbara e não quisera perder a chance de revê-la.
Mas precisava se manter na linha para não exagerar e comprometer sua performance no dia seguinte.
— E como anda a vida, garotas? Estão saindo com alguém?
As meninas riram e reviraram os olhos.
— Está difícil encontrar alguém que vale a pena — Cíntia respondeu, beliscando a porção de batatas fritas com bacon e cheddar. — Acho que o amor é uma ilusão, e só existe nos filmes e nos livros mesmo.
— Não é verdade — Alice interviu. — Minha irmã se casou, e ela e o marido são super apaixonados um pelo outro. O amor verdadeiro existe. Ele está aí, só nos esperando em algum canto.
Bárbara deu um risinho divertido.
— Você vai ser sempre a romântica incorrigível do grupo, né?
— Mas a irmã da Alice tirou a sorte grande! — Lola brincou. — Está casada com um dos Bodini. E tem duas filhinhas.
— Os rapazes da vinícola? — Bárbara fez um biquinho interessado. Alice assentiu. — Fico com calor só de pensar neles. Eu me lembro de quando íamos nas festas dos vinhos que eles organizavam. Não sabia que a Sueli tinha virado uma Bodini. Você não quis um Bodini também, amiga?
Alice riu e balançou a mão no ar.
— Nesse caso, por mais romântica que eu seja, também sei que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Bárbara, Cíntia e Lola assentiram em meio aos risos.
O garçom se aproximou, colocando as bebidas delas na mesa.
— Obrigada.
— Um brinde a nós, e um brinde à Sueli, que conseguiu casar com um dos maravilhosos e deliciosos e perfeitos Bodini — Cíntia brincou, erguendo o copo no ar.
Elas simularam o brinde, e Alice deixou a água gelada descer pela garganta, a mente criando mil e um cenários para o que aconteceria no dia seguinte. Precisava que as coisas começassem a dar certo. Precisava conseguir o papel no filme.
— Quer uma batata, Alice? — Cíntia estendeu a bandeja para ela.
— Não, estou bem.
— Sério? Isso aqui tá divino. Tipo, a oitava maravilha do mundo.
Alice fitou as batatas. Pareciam divinas mesmo. E todo aquele queijo e bacon. Meu Deus, ela amava bacon. Esticou a mão, pegou uma e comeu.
— E aí?
— Está maravilhosa mesmo!
— Eu disse. Ninguém resiste à batata frita.
Sim, ninguém resistia.
Alice fitou a bandeja.
Algo dentro dela se contraiu.
Era só a droga de uma batata frita.
O mundo não ia acabar por causa de uma batata frita.
— Alice! Ei, Alice?
Ela piscou e olhou para Cíntia.
— O que foi?
— Seu celular está tocando.
Alice baixou os olhos, vendo o número de sua mãe no visor do celular. Pediu licença para as amigas e se levantou da mesa, seguindo para fora do barzinho, onde havia menos barulho.
— Sim, sim, mãe. Fique tranquila. Vá dormir. Te acordo na hora em que eu chegar em casa. Pode deixar. Durma bem. Boa noite.
Alice sorriu para si mesma enquanto desligava o celular e o guardava na bolsa. Mães sempre seriam mães, mesmo quando os filhos já tinham completado vinte e seis anos.
— Oi.
Olhou para o lado, vendo um rapaz estilo playboy se aproximando.
— Oi — ela respondeu por educação, fazendo menção de se afastar.
— Por que está sozinha aqui? — O caro se aproximou, quase colando nela, bloqueando o caminho. — Vamos entrar. Te pago uma bebida.
— Não, obrigada, estou esperando meu namorado — Alice respondeu com a primeira desculpa que lhe veio à cabeça. — E minhas amigas estão lá dentro também.
— Acho que você tá mentindo. — Ele deu uma piscada para ela. — Mas gosto de garotas difíceis.
Alice puxou o braço quando ele tentou tocá-la.
Era por isso que, às vezes, odiava ir em bares como aquele. Mulheres não tinham paz para se divertirem.
— É sério. Estou esperando meu namorado.
Sem se importar, o cara deu mais um passo para a frente, quase fazendo Alice colar as costas na parede.
— Garota, se fazendo assim de difícil e me provocando, você me deixa ainda mais...
—Ei, o que você quer com a minha namorada?
Prólogo e capítulo 1 liberados!!!
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E não deixem de acompanhar "Tempero de Desejos", que está sendo escrito pela SamantaGalvao e que contará a história da Giovana, a irmã gêmea do Gustavo ♥
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