[f(43) = FIM] Meu pão com carne
Chegamos oficialmente o fim de Cem chances
Lembrando que a última atualização é dupla, então caso tenham vindo direto para esse capítulo, voltem para o anterior! 💜
J I M I N
🔮
[6 meses depois]
— Sua Belinda contra a minha Pandora. Agora. Vamos ver quem ganha.
Onze palavras.
Cem chances.
Um destino.
Eu lembro claramente das palavras que disse para Jungkook no estacionamento da Hangsang. Lembro de cada expressão dele. Lembro de como, sob sua constante falta de interesse em mim, provocá-lo era a única forma de chamar sua atenção.
Eu sempre achei Jungkook uma gracinha.
Desde a primeira vez em que o vi, ele me encantou.
Eu lembro de vê-lo na MoonMoon com seu pai e seu irmão enquanto eu, do outro lado da lanchonete, esperava sentado, quase escondido, porque tinha medo de ficar sozinho em casa e encontrar meu pai.
Eu tinha medo de que minha mãe saísse do trabalho e, sozinha, o encontrasse também.
Então estava sempre ali. E, antes que me desse conta, observar a contradição das surpresas rotineiras que a família Jeon fazia se tornou meu passatempo favorito.
Junghee era pequeno, tímido e calado.
Jungkook era menor que o que é hoje. Era tão tímido quanto o irmão, e tinha gestos bruscos mesmo nas intenções mais suaves.
Eu lembro de como ele usava a mão para limpar a boca do irmão e, ao fazê-lo, sempre fazia a cabeça de Junghee balançar para trás, de tanta força que usava.
Junghee nunca parecia reclamar. Ele aceitava os gestos do irmão mais velho com tanta naturalidade que, mesmo sem trocar uma palavra com a família, eu sabia que cuidar uns dos outros era o cotidiano deles.
Em algum ponto de minhas observações silenciosas, não lembro quando, Jungkook se tornou a pessoa que eu mais gostava de ver.
E então tudo se torna um borrão nesse ponto da história. Acho que era o destino, desde aquela época, tentando dizer que nossos caminhos nunca estariam juntos.
O acidente de uma das obras da Sohbong & Ryong trouxe, para a minha vida, o peso da culpa. Ao mesmo tempo, tudo mudou. A família de Jungkook parou de aparecer na MoonMoon. Minha mãe pediu demissão. Hajoon fez de tudo para nunca me deixar saber o nome da pessoa que morreu no acidente — talvez acreditando que, ao dar uma identidade a ela, a culpa se tornaria ainda maior.
Os noticiários não faziam mais que uma nota de rodapé sobre a vítima. Era um homem sem poder algum na sociedade, sua morte não importava para a mídia.
Então, contra todas as possibilidades, eu nunca soube que a pessoa que morreu no acidente era o homem gentil e sorridente que sempre levava os filhos até a MoonMoon para surpreender a esposa.
Eu nunca soube que aquele homem era o pai do garoto que fez meu coração acelerar.
Muitos meses depois, sem procurá-lo, eu encontrei Jungkook novamente.
Ele estava completamente diferente, mas a maior mudança não foi a quantidade de tatuagens em sua pele.
Ele já não tinha a expressão tímida no rosto; no lugar, havia raiva. A cada segundo, era isso que estava estampado em seus traços bonitos.
E assim como no começo, ele nunca parecia me notar, não importava se, tanto tempo depois, eu já tinha me tornado mais ousado e tentava chamar a sua atenção.
Provocá-lo foi a única coisa que deu certo, então eu o fazia constantemente.
Diante do nosso passado e de todos os momentos que se interligam, mas ao mesmo tempo apenas nos afastavam mais, eu tinha todos os motivos do mundo para acreditar que eu e Jungkook nunca ficaríamos juntos.
Que erro.
Que delicioso erro.
Ter razão é uma de minhas coisas favoritas nesta vida, mas a única coisa que sinto diante do equívoco de minhas constatações é alívio.
Eu sinto alívio por amar Jungkook.
Sinto alívio por ser amado por ele.
E ele me ama. Meu deus, como ele me ama.
— Ji — Ele chama baixinho.
Eu sinto sua mão grande e firme balançando meu corpo e sei que não são nem sete da manhã, já que meu despertador ainda não tocou.
— Bom dia — Eu digo, sem abrir os olhos, e puxo seu braço que ele se deite comigo em nossa cama.
Nossa cama, na nossa casa, em nossa tentativa de desbravar Seul.
Aqui neste lugarzinho só nosso, ele aceita meu convite e puxa meu corpo pela cintura até apoiar minhas costas em seu peito, encaixando nossos corpos em um abraço enquanto me beija o ombro.
— Acorda — Ele pede entre um beijo e outro, o que me faz sorrir.
É gostoso demais acordar assim.
— Deixa dar sete, amor... — Peço, meio manhoso.
— Seu café da manhã vai esfriar, Ji... — Ele diz, então, o que rapidamente me faz abrir os olhos e ver, na mesa de cabeceira, a bandeja servida.
— Jungkook... — Chamo, usando todas as forças que tenho para ficar sentado e olhar para ele com muita irritação. — Caramba, gracinha...
Ele sorri, todo implicante, já sabendo o motivo do meu incômodo.
— Hoje é seu primeiro dia de descanso do mês — Resmungo. — Eu que deveria trazer seu café na cama.
Apoiado nos cotovelos para manter parte do tronco erguido, ele logo se ergue completamente para ficar sentado e beijar minha bochecha.
— Você está cansado. — Diz. Beija de novo.
Eu suspiro pesarosamente, mas é claro que não impeço o sorriso que nasce logo em seguida, quando abraço o amor da minha vida e deito minha cabeça em seu ombro.
— Você é o melhor namorado do mundo, gracinha.
— Valeu.
Eu sorrio mais, enchendo-o de beijos até o pescoço antes de deixar que ele guie meu corpo até que me sente de costas para ele, recostado contra seu peito, enquanto arrumo a bandeja em nossa frente.
Eu sei que ele colapsou o universo por mim. Eu sei que isso deveria ser a maior prova de amor. Mas... não é.
O que me faz ter certeza do amor de Jungkook por mim é o que ele faz em nosso dia-a-dia.
Quando sua expressão linda, sempre enfezada, se amolece inteira sempre que seu olhar encontra o meu.
É quando, nos dias mais exaustivos para mim, mesmo também estando cansado, ele fica ao meu lado e ouve cada reclamação, ou apenas me deixa deitar a cabeça em seu colo e me faz carinho até que o cansaço ganhe a batalha e me faça dormir.
Aí, no dia seguinte, ele sempre me acorda com o café da manhã na cama. Sempre.
Ele também me traz o café por motivo nenhum. E sempre me acorda com um gesto um pouco brusco, mas a voz inegavelmente carinhosa.
Eu sei que Jungkook me ama porque ele faz amor com meu corpo.
Eu sei que ele me ama porque, entre nós, o amor é sempre inegável e irrevogavelmente muito, tão maior que a dor.
Eu sei que Jungkook me ama porque, quando digo para ele que o amo, todo aquele rosto lindo se ilumina, mas se ilumina muito mais quando eu digo:
— Eu sei que você me ama, amor.
Eu sei do amor de Jungkook por muitos motivos. Ele poderia nunca ter causado colapso algum e, ainda assim, eu saberia.
Agora que moramos juntos longe de nossas famílias, as coisas são um pouco diferentes. Não teria como não ser.
Ele está trabalhando — de dia, como garçom; mais tarde, na limpeza de um hotel. Nas horas livres de trabalho, ele se prepara para a seleção na Universidade de Seul, a que escolheu para seu futuro.
Ele quer voltar para a matemática. É isso o que ele ama, apesar de tão poucos entenderem.
Sua maior preocupação ser em relação à entrevista (ele sempre diz "eu sou burro com palavras, Jimin, vai dar merda"), porque todos nós sabemos que ele vai se dar muito bem na prova escrita.
E, quando não está se preocupando com os próprios estudos, ele ajuda com os estudos do irmão.
Por vídeo chamada, sempre que Junghee precisa, Jungkook estuda com ele.
E é surpreendente que apesar de toda a impaciência natural, Jungkook é um professor extremamente calmo.
Acho que ele ainda não percebeu que caminho seguir com a matemática, mas eu aposto nisso. Aposto que ele será um professor incrível.
Enquanto isso, eu luto por meu próprio futuro. A Academia de dança é um sonho, o que não quer dizer que vem sendo fácil.
Às vezes eu sou levado à exaustão pela cobrança dos professores, mas a pior cobrança é a minha.
Então alguns dias são ruins. Outros são péssimos. Constantemente, a saudade de minha mãe bate forte, mas então Jungkook me faz carinho com suas mãos desajeitadas e eu me sinto em casa. Me sinto seguro, e os dias bons vêm.
Hoje é um desses dias, após a completa exaustão. O pior dia para estar exausto, porque, nas poucas folgas que ele tem, eu gosto de cuidar dele para que possa descansar bem.
Para ele, não importa; ainda que seja seu dia de descanso, ele se atém ao costume que nunca cobrei de sua parte, mas que me faz tão feliz, e traz o café para mim como se eu que merecesse ser presenteado no seu dia.
Jungkook é, com toda a certeza que existe em mim, o amor da minha vida.
Ele é o meu amor porque me ama também, porque me ama demais.
— Gracinha? — Chamo de repente.
— Que?
Eu rio de seu jeito natural. Ele é, de fato, uma tragédia com palavras, tanto na seleção destas quanto na escolha do tom.
— Eu sou muito feliz com você. Sabia?
Jungkook ergue os olhos. Sob os cílios curtos, me analisa lentamente até sorrir sem exagero algum, umedecendo os lábios de desenho tão único antes de se inclinar para roubar um selinho.
Essa é outra coisa que ele gosta de ouvir ainda mais que um "eu te amo".
E é algo que eu digo com toda a sinceridade do meu coração. Eu sou feliz. Não o tempo todo, certamente, pois a vida não é cor-de-rosa.
Para nós, é branco e preto, como Jungkook diz. São nossas cores particulares e suficientes para que sejamos genuinamente felizes mesmo em meio às adversidades inevitáveis da vida.
E no preto e branco, as minhas adversidades são essencialmente emocionais.
O rancor que tenho de meu pai é algo que me persegue até hoje e, no fundo do armário de sentimentos esquecidos, ainda vive o medo que sua existência me provoca.
Eu não consigo perdoá-lo. Não consigo aceitar que ele tente voltar para a minha vida, e ao mesmo tempo tenho medo de que minha mãe o aceite de volta na sua.
Às vezes me preocupo excessivamente sobre isso, e percebo que esse passado mal resolvido é a causa das crises de ansiedade que enfrento em alguns dias mais difíceis.
Para Jungkook, é o oposto. É a ausência de seu pai que o machuca, não o medo de que ele retorne.
Ele ainda não tem coragem de cantar a música que compôs. Quando perguntei sobre isso, ele me disse:
— Eu não consigo pensar em cantar sem poder ver a reação dele. Talvez em uma outra vida.
Então... é. Nós somos um casal, mas, acima de tudo, somos indivíduos e temos nossas próprias batalhas para vencer.
Mas nós estamos tentando. Nós estamos indo bem. Eu sei que estamos.
— Escuta, — Ele diz quando a comida acaba e devolve à bandeja a caneca que Taehyung deu de natal e que é claro que trouxemos para Seul. — quero te pedir uma coisa como presente de dia de folga.
— Não vou assistir Desafio em Tóquio.
Ele realmente gosta daquele filme. E eu realmente não o suporto.
— Não é isso. — Garante, então. — Eu quero assistir Desafio em Tóquio enquanto você me faz um boquete.
— Sério?
— Não.
— Pena. Isso eu poderia te dar.
— Já sabemos o que fazer, então. Mas é outra coisa que eu quero pedir.
— O quê, gracinha?
Jungkook fica tímido. Coça a nuca, desajeitado, e diz:
— Quero te levar em um encontro.
Eu aperto as sobrancelhas, confuso, porque ele faz o pedido como se não fossemos namorados. Namorados que moram juntos.
Para que o nervosismo?
Mas não é uma reclamação. Eu acho uma gracinha quando ele fica todo vermelho assim.
— Nós não tivemos muitos encontros desde que viemos para Seul, Ji.
— Meu amor... é claro que nós podemos ter um encontro. Todos os dias, se você quiser. Eu amo passar meu tempo com você...
Ele sorri, já mais relaxado e aliviado, e rouba outro beijo meu.
— Ok. Então vai se lavar pra tirar o futum de sono. Eu vou lavar a louça.
— Não tem fedor nenhum aqui, Jeon.
— Jeon é o cacete. E tem, sim. Sua cara tá com cheiro de baba.
Eu reviro os olhos, impaciente, mas ele apenas fica de pé e leva a bandeja do quarto depois de literalmente dizer que eu estou fedendo.
É, namorar Jeon Jungkook é assim.
E eu absolutamente amo.
Finalmente fazendo o que ele me pede, eu saio da cama e sigo ao nosso banheiro. Quando me visto depois do banho, escolho a roupa perfeita para um encontro nosso.
Não é uma das blusas de mangas curtas que ele adora porque sabe que eu amo, e que hoje finalmente tenho coragem de usar.
É a blusa listrada, a mesma que ele usou em nosso primeiro encontro.
— Cacete... — É o que ele diz ao me ver pronto.
Eu rio, sem me importar por ver que a cozinha ainda está bagunçada porque, no lugar de arrumá-la como disse que faria, Jungkook parou para brincar com as coelhas.
Nossa casinha é assim.
Graças a ele, definitivamente menos arrumada do que eu gostaria. Ao mesmo tempo, tem um toque seu, um toque nosso, nas pequenas bagunças em meio à organização que tento manter.
Nosso apartamento não é grande. Eu diria que tem o tamanho ideal para um casal apaixonado e duas coelhas enérgicas. Não tem tantas cores, mas não é preto e branco como nós. Tem fotos em todos os cantos; nossas, de nossas filhas, de nossas famílias e nossos amigos.
É literalmente o nosso lugar no mundo. Nosso lar, as paredes que nos protegem do mundo, do universo e do destino.
Então... sim, eu amo ter nossa casa organizada, e Jungkook não liga muito para organização.
Acho que esse é o principal motivo de discussões entre nós dois.
Mas, às vezes, a bagunça faz parte da vida que me faz feliz.
E, agora, a bagunça faz parte das demonstrações impensadas de meu namorado, meu amor, para provar o amor que ele tem por Jungoo e por Ji-ji, nossa caçulinha.
Sim. Ele insistiu nesse nome.
E insiste em termos mais duas coelhas. Uma chamada Gracinha; a outra, Bedora.
— Elas já comeram? — Pergunto, caminhando até sentar ao lado dele no chão da nossa sala de estar.
— Feito duas desesperadas.
— Meu deus, você vai fazer tudo no dia da sua folga? Não vai me deixar te mimar nem um pouco?
— Nope.
— Eu quero te mimar. Por favor, Jeon Jungkook, deixa eu te mimar!
Ele ri do meu pedido forçadamente desesperado e deixa um beijo na cabeça de Ji-ji antes de colocá-la no chão.
Diferente de Jungoo, nossa coelha de pelos castanhos é mansa e nunca usou os dentões para nos morder.
Acho que elas realmente têm o temperamento parecido com aqueles que inspiraram seus respectivos nomes.
O que é bom. Duas Jungoos e esse apartamento viraria um campo de guerra.
Não que eu não ame Jungkook ou nossa primogênita. Só acho que, para a brusquidão, impaciência e braveza dos dois, um pouco de equilíbrio com a minha calma e a calma de Ji-ji é bem vindo.
E eu pareço estar certo, porque o que predomina em nosso lugarzinho no mundo é a paz, o amor e, também com alguma frequência, a safadeza.
Com essas mãos que me deixam louco, Jungkook parece inspirado para o terceiro item da lista e me puxa para sentar sobre suas pernas.
Ele segura minha cintura e puxa suavemente a blusa listrada mais para baixo. Com os botões parcialmente abertos, fica fácil para que ele encontre o que procura, e então o número noventa e nove tatuado logo acima do meu coração se expõe para ele.
Sim.
Noventa e nove.
O número que mudou nossas vidas; que salvou a minha.
Eu o tenho eternizado, agora, para sempre lembrar.
E ele beija o nosso número eternizado em minha pele antes de subir os beijos por meu pescoço, deixando um rastro por minha mandíbula até guiar seus lábios aos meus.
Não é de surpresa que sou beijado e sinto sua língua tomar minha boca quase de imediato, mas um suspiro inevitável escapa de mim assim que recebo seu beijo gostoso.
Com a mão massageando sua nuca, eu mantenho meus olhos fechados, as palavras caladas e minha testa deitada na dele quando paramos de nos beijar.
Os dedos longos me tocam sob a blusa, mapeando as tatuagens em minha pele, e eu ouço seu suspiro antes que ele diga:
— Você é lindo, Ji. Nem a equação da relatividade chega aos seus pés.
— Eu sei. Você disse coisas assim sem parar quando acordou sem memória no hospital.
— E eu tenho culpa? Imagina acordar e descobrir que você está namorando o cara mais lindo que viu.
— Eu tenho essa sensação todos os dias, amor.
Ele fica calado por um instante, mas eu logo sinto seus braços envolvendo minha cintura e seu rosto se afastando para poder olhar em meus olhos.
Assim, com a expressão meio confusa que esboça sempre que tenta procurar as palavras certas (e costuma falhar, ao fim), Jungkook diz:
— Eu também ainda tenho essa sensação sempre que acordo, mesmo lembrando de tudo. Eu nunca me canso de agradecer por ser seu namorado, Jimin.
Eu pisco, absorvendo suas palavras. Ele sempre diz que eu tenho um jeito estranho de piscar, mas eu não entendo. Acho que minhas piscadas são normais.
De qualquer forma, não é agora que vou me importar em avaliar o jeito como fecho as pálpebras.
Não quando, no lugar de esperar uma resposta minha, Jungkook volta a me beijar intensamente, de surpresa, a ponto de me fazer suspirar ainda mais alto.
Aos poucos, ele deita meu corpo no chão e me acompanha, deitado entre minhas pernas, com a boca sempre na minha.
— Mudei de ideia — Ele diz com a boca roçando na minha. — Não quero um encontro. Quero voltar para o quarto com você.
Eu rio de suas palavras, a princípio. Na sequência, rio ainda mais forte ao sentir cócegas com os bigodes de Jungoo quando ela se aproxima e começa a cheirar minha bochecha.
Jungkook olha para ela, fingindo expressão de raiva, e rapidamente se põe sentado, capturando-a entre os braços.
— Park Jeon Jungoo, você acabou com o clima.
Eu rio ainda mais, ainda deitado no chão, e logo sinto Ji-ji pular em minha barriga enquanto Jungkook recebe, de resposta da nossa primogênita, uma bela de uma mordida.
— Meu deus — Ele resmunga quando coloca nossa bola de pelos brancos e pretos no chão. — Se Jungoo parece mesmo comigo, eu sou completamente insuportável.
— Não fale assim. Jungoo só tem o temperamento forte.
— Não. Ela tem uma mordida forte. É diferente. Dor do cacete...
Eu rio ainda mais, segurando Ji-ji com cuidado para poder me sentar, e encho nossa caçula de beijos antes de colocá-la no chão para que ela corra atrás da irmã.
— Sabe qual é a minha preocupação? — Digo, olhando carinhosamente para nossas filhas.
— Que Jungoo nos mate durante o sono?
Eu explodo em uma nova risada.
— Claro que não. Meu medo é que Jungoo morda nossas futuras crianças.
— Vai começar? Sério? Eu ainda tenho dezenove anos, Jimin.
— Mas está cada vez mais perto de fazer vinte, Jeon.
Ele revira os olhos e fica de pé, todo inconformado, mas eu vejo o esforço que faz para conter o riso.
— Anda. Deixa esse papo de criança para depois e vem logo. Você prometeu ter um encontro com seu namorado.
— Qual deles?
— Acordou todo engraçadinho hoje, né?
Eu apenas sorrio, estendendo a mão para que ele me ajude a levantar, e o abraço pelos ombros quando fico de pé em sua frente.
Ele está vestindo um conjunto de moletom, mas eu nem me atrevo a pensar que ele está considerando a possibilidade de trocar de roupa.
Eu realmente acho que ele é capaz de usar moletom em nosso casamento.
E o pior é que eu não me importo.
Por isso, antes das oito da manhã, decido:
— Vamos.
Não importa se é cedo demais e um horário muito pouco convencional para encontros românticos; para um casal que lutou contra o colapso do universo para poder ficar junto, essas coisas perdem a importância.
— Belinda ou Pandora? — Ele pergunta.
— Belinda.
Satisfeito com a minha resposta, ele me dá um beijo na testa e segura minha mão, usando a livre para pegar as chaves e o próprio capacete enquanto eu faço o mesmo.
— Seus pais vão fazer coisa de casal apaixonado. — Ele avisa quando abre a porta. — Não destruam o apartamento.
Eu reviro os olhos, empurrando-o para que saia de uma vez com suas botas esquisitas.
Eu vou logo atrás, apoiando minha mão em sua coluna para guiá-lo ao elevador e, dali, pelo estacionamento subterrâneo até Belinda.
Quando colocamos nossos capacetes e montamos na moto, meu sorriso imediatamente nasce. Nem pergunto para onde vamos. Com ele, eu simplesmente confio, abraço seu corpo como sei que ele gosta e permito que sejamos levados pelas ruas de Seul, envolvidos pelos abraço quente do primeiro verão que vivemos juntos.
Eu fecho os olhos, permitindo que as lembranças invadam minha mente.
E sorrio.
Eu sorrio porque é bom estar vivo. Sorrio porque sou feliz.
Sorrio porque sei que, enquanto pilota, Jungkook sorri também.
Neste instante, abraçado ao corpo do homem que amo, todas as minhas preocupações se tornam pequenas demais e eu sinto o que por tanto tempo desejei.
Sinto paz.
— Ji?
É apenas quando ouço o chamado que percebo a moto parada e, enfim, abro meus olhos.
Jungkook me olha por cima do próprio ombro, ainda com seu capacete, enquanto eu olho ao redor e percebo para onde ele me trouxe, o que me faz rir.
— Não acredito, gracinha...
Ele ri, saltando para fora de Belinda para só então tirar o capacete enquanto faço o mesmo, observando, daqui, o rio que corre sob a ponte Wonhyo.
Seul e seu aglomerado de prédios parece distante, vista daqui, e eu olho para Jungkook a tempo de ver sua expressão ao dizer para mim:
— Não é a nossa ponte. Você sabe, a ponte onde tudo começou... mas ela me faz lembrar.
Eu olho para a calçada por trás de uma pequena mureta que separa a área de pedestres do acostamento onde Belinda repousa, e entendo o que ele quer dizer.
Enquanto meus olhos capturam a imagem do asfalto envelhecido, as memórias invadem minha mente.
Eu lembro de quando Jungkook me encontrou naquela noite quando, achando que tinha enlouquecido ao ver o mesmo dia se repetir de novo e de novo, contemplei, em desespero, a possibilidade de dar fim à loucura.
Eu lembro do alívio que senti ao descobrir que não estava sozinho. Lembro de dormir ao seu lado e lembro de cada coisa que aconteceu depois disso.
Nossa história certamente é incomum, mas é nossa, e eu a amo exatamente como é.
— Vem, Ji — Jungkook chama, entrelaçando nossos dedos em um gesto que já parece instintivo.
Com sua palma na minha, eu o acompanho até a calçada estreita e sorrio quando ele abraça meu corpo e descansa minhas costas contra seu peito antes de dar um beijo em minha cabeça e, por fim, apertar o queixo nela como costuma fazer.
— Sua ideia de encontro é bastante curiosa, amor...
Ele me aperta com mais força e se inclina para beijar meu pescoço antes de dizer com a voz tão baixa que me arrepia inteiro:
— Eu só queria um tempo com você...
Eu sorrio em um gesto conformado, percebendo que, na correria de nossas rotinas, momentos assim se tornaram raros, mas nunca por falta de vontade.
Em seguida, lentamente giro entre seus braços até ficar frente a frente com o homem que ainda faz meu coração acelerar mesmo depois de todos esses meses.
— Nosso tempo não está mais acabando — Relembro, olhando-o nos olhos. — Mas acho que nós deveríamos fazer melhor uso dele...
— Sim. Mais encontros e menos rotina a partir de agora?
— Mais encontros e menos rotina, amor.
Ele concorda suavemente e beija minha testa antes de me abraçar e me deixar deitar a cabeça em seu ombro.
Por um instante, ficamos em silêncio, assim, abraçados, e a sensação é indescritível.
— Ei... — Ele chama, de repente, com a voz baixa.
— Hm?
— Eu acho que nós deveríamos contar sobre as cem chances para Junghee.
Eu me afasto para olhá-lo com estranheza, sem entender de onde vem essa sugestão repentina.
— Por quê?
— Eu estava estudando com ele ontem, mas ele estava no mundo da lua. Quando perguntei o que estava acontecendo, ele hesitou por uma cacetada de tempo até conseguir dizer.
— E o que ele disse? — Questiono, ansioso pelo desfecho.
— Que está tendo sonhos estranhos... como se fossem previsões.
Meus lábios se separam em choque ao perceber.
— Você acha que ele é como você, amor?
— Como eu era. Talvez. Acho que sim.
— E o que você disse?
— Disse que não importa o que aconteça, ele nunca deve pedir para voltar no tempo.
— Deu certo para nós...
— É, mas Junghee é burro para essas coisas. Ele nunca conseguiria dar conta de um colapso temporal.
— Talvez não sozinho. Sozinhos, nós também não conseguimos.
— É... mas ninguém precisa de uma nova loucura daquela. Chega.
Eu aperto meus ombros suavemente em uma concordância que antecede um riso.
— E Yoongi que era o bruxo, não é? Mas olha a família Jeon surpreendendo... coquetéis molotov e colapsos temporais são as suas especialidades.
— Me deixa em paz, Jimin.
Eu rio intensamente, abraçando-o e unindo meus lábios aos seus por um instante.
Quando me separo dele, olho em seus olhos escuros, tão gentis quando pousam em mim, e pergunto:
— Você acha que precisamos nos preparar para lutar contra o destino de mais alguém?
— Eu dou uma surra em Junghee se isso acontecer.
Meu sorriso se mantem, sincero, e eu encolho meus braços entre nossos corpos enquanto ele volta a me abraçar inteiro, até deitar a bochecha no topo de minha cabeça.
— Amor?
— Que?
— Quero pedir uma coisa.
— Diz aí.
— Coloca Meu frango frito para tocar no seu celular. Ainda não ouvi hoje...
Ele revira os olhos como faz sempre que eu peço para ouvir a música que ele fez para mim.
E eu peço todos os dias.
Mesmo com a careta e indisposição forçada, ele pega o celular no bolso e seleciona a música que conta, em tão poucos minutos, a nossa história.
Eu comemoro com um soco no ar, o que faz Jungkook rir.
Eu rio junto enquanto fecho os olhos, apreciando o som da voz do meu amor cantando para mim palavras tão nossas.
Neste instante, ele diz:
— Eu quero passar minha vida inteira com você, Jimin.
Eu me encolho contra ele, abraçado por suas palavras que são tão recíprocas aos meus sentimentos.
É difícil acreditar que um dia ele me odiou quando tudo o que sinto em suas palavras, hoje, é amor.
— Eu realmente entendo por que uma vida só ao seu lado não é o suficiente. Eu quero estar com você em todos os universos, em todas as chances, Ji.
— Meu deus... — Eu suspiro, afetado por sua declaração, que me faz sorrir.
Antes que ele diga qualquer outra coisa que faça meu coração se derreter, eu peço:
— Casa comigo.
Eu sinto o balançar do seu peito quando ele ri em resposta.
— Eu ainda tenho dezenove anos.
— Casa comigo quando fizer vinte.
— Vinte e um.
Eu olho para ele com um sorriso mal contido e vejo que ele também tenta disfarçar a própria vontade de sorrir.
— Vinte e um — Concordo. — Quando você tiver vinte e um anos, casamos no primeiro vinte e um de outubro.
— Beleza.
Eu sorrio, olhando para ele com todo o amor que existe em mim.
É... não importa se o meu destino algum dia seja amar outra pessoa. Eu sempre amarei Jeon Jungkook.
Ele sempre vai ser o meu pão com carne.
Quando toco em seu rosto, ele naturalmente arrasta os lábios sobre as minhas cicatrizes, beijando-as lenta e cuidadosamente no gesto que arranca de mim as palavras que preciso dizer agora.
— Amor?
— Oi, Ji.
Eu sorrio com o apelido que nasceu acidentalmente e nunca mais foi esquecido. Não consigo parar de sorrir.
Eu sou tão sortudo. Tão feliz.
E eu tenho tanta certeza que digo, para que ele nunca esqueça:
— Jungkook, eu colapsaria todos os universos por você.
🔮 F I M
https://youtu.be/kzGksNyHNFc
Foi uma jornada longa, mas chegamos ao fim de Cem chances
Eu tenho tanto a dizer que nem sei por onde começar ou como me expressar, mas o que não posso deixar de dizer é: obrigada. Mil vezes obrigada.
Eu espero do fundo do meu coração que Cem chances tenha um espacinho no coração de vocês assim como tem um espaço imenso no meu
Essa história me fez muito feliz e, como sempre, é difícil dar adeus a esse universo e aos personagens, mas, apesar da saudade que estou sentindo desde já, eu sinto felicidade também porque consegui concluir essa história como sempre quis
Obrigada de verdade por lerem até aqui <3
É a última atualização, então vou usar esse espaço para, pela última vez, conversar com vocês.
Primeiro, o que não é mais segredo: Cem chances terá livro físico
Será uma trilogia, porque a nossa fedorenta é muito grande e não cabe só em um, nem em dois livros. Serão três livros bem gordinhos!
Vocês podem seguir a @editoravioleta no twitter e no instagram para saberem datas e mais informações <3 ela foi a editora responsável pelo meu primeiro livro físico e também está sendo responsável por EROS, que sai ainda no primeiro semestre deste ano <3333
Eu também tenho muitas mudanças previstas, mas vou esperar ter tudo pronto para conversar com vocês. Mas o que posso adiantar é: estou escrevendo meu primeiro romance entre duas mulheres e espero em breve compartilhar com vocês!!
Por fim, queria já compartilhar com vocês os nomes que escolhi para os personagens do Jimin e do Jungkook no livro:
Jimin - Dominic
Jungkook - Killian
E... é isso. Espero de verdade que tenham gostado dessa história tão especial para mim. Obrigada por tudo. Eu amo vocês <3
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