[f(33) = 4x - 99] Te prometo

Respirem fundo.

🔮

— Eu amo você.

Três vezes.

— Eu te amo, Jungkook. Me perdoa. Eu amo você.

Quatro, cinco.

Cinco vezes, em um só abraço, Jimin confessou que me ama.

Eu em meu silêncio, diante de seu choro já também silenciado, continuo segurando-o perto. Ele, continua dizendo que me ama e que sente muito.

Mesmo diante de minha reação, ele ainda parece com tanto medo. Suas mãos, pequenas e firmes, dessa vez me seguram pelo moletom não com a segurança de sempre, mas com desespero.

— Ji... — Insisto, deslizando minha palma em suas costas. — Se acalma...

Meu pedido parece ter o efeito oposto. Ele me abraça mais forte, enterra o rosto em meu pescoço e contra ele respira de maneira pesada e tortuosa quando também o seguro com mais força.

— Eu entendo, Ji — E garanto, além de tudo. — Eu entendo por que você teve medo de me contar. Talvez tenha sido melhor não dizer antes, eu podia mesmo reagir mal. Mas não agora, Jimin-ssi.

Por que ele não relaxa?

Por que não adianta nada do que digo?

— Eu não quero que você me odeie, amor...

Por que nada que digo tira dele a ideia de que eu posso voltar a odiá-lo?

— É impossível. — Em voz alta, deixo claro. — Eu te juro, Jimin. Nesse universo, até falhas na linha do tempo são possíveis. Mas eu voltar a te odiar, não. Isso não vai acontecer.

Ele não me solta, nada diz.

— Entendeu, gracinha? — E questiono, mais uma vez chamando-o assim.

Assim como da primeira, o faço para tentar arrancar um riso seu, fazer ele se sentir um pouco melhor.

Porque é isso que me tornei. Um completo viciado no sorriso de Jimin.

Serotonina é o hormônio da felicidade e sua felicidade é serotonina para mim.

Nesse momento, é isso que ele deveria sentir. Alívio, felicidade, amor. No entanto, ser tão falho em compreender sentimentos me traz, ao menos, uma vantagem.

Aceitar que os sentimentos alheios estão além de meu entendimento me permite aceitar e entender, também, que sentimos de maneiras complexas demais para padronizarmos o que deve ser sentido.

Assim, facilmente entendo que alívio e felicidade é o que eu gostaria que ele sentisse, o que eu provavelmente sentiria, e não algo que ele deva sentir.

Antes que as próximas palavras e as próximas emoções sejam verbalizadas, no entanto, meu olhar se atenta a algo a além. A um corpo miúdo de tristeza e derrota descendo as escadas, abraçado à própria mochila, com os olhos grandes e escuros ainda com registros do choro recente.

Oh, cacete.

Junghee, meu deus.

— Hyung, desculpa — Ele diz, sem parar muito perto, até sem me olhar direito. — Mas a gente pode ir pra casa? Por favor...

— Claro que sim, moleque. — Eu respondo, rápido, ainda segurando a cabeça de Jimin contra meu corpo para que um não veja o choro do outro. — Só vou pegar minhas coisas e nós vamos, beleza?

— Tá. Obrigado.

Eu demoro mais um instante de atenção sobre meu irmão antes de beijar a cabeça de Jimin escondida em mim e afastá-lo suavemente. Com a visão de encontro ao rosto sôfrego, eu deslizo meus polegares sobre as bochechas, secando cada lágrima antes de secá-las também em seus olhos, presas aos cílios curtos, e enfim beijar sua testa.

— Vou no seu quarto e já volto.

Antes que eu me afaste, Jimin me segura pelo braço e nega suavemente.

— Eu vou também. — Avisa, com pesar constante, ao que eu apenas respondo com uma breve concordância. Por último, entrelaço minha mão à sua, segurando-o como se fossemos fazer uma longa caminhada juntos.

O percurso é curto, no entanto, e sem demora e sem conversas chegamos ao seu quarto espaçoso, branco, desesperadoramente bem organizado.

— Você vai levar alguma coisa? — Questiono, ao pegar minha mochila e ver que Jimin mal se move.

— Eu não vou com vocês.

Minhas sobrancelhas se comprimem sem demora, porque todas as reações de Jimin estão me confundindo como nunca.

— Por que?

— Junghee precisa de você e eu vou... adiantar algumas coisas da universidade.

Adiantar coisas da universidade agora? Não é por conhecê-lo bem dessa vez. É óbvio para qualquer um com dois neurônios que Jimin está mentindo.

— Pode ficar com Pandora. — E avisa. — Eu pego um táxi quando for na MoonMoon ou... não sei. Mas toma. — Diz, capturando a chave presa ao chaveiro de pelúcia para estendê-lo em minha direção. — Fique com ela hoje.

Eu pego a chave, ainda incerto. Mochila nas costas, coração na mão. Porque nada disso faz sentido.

Porque eu sinto que fizemos tudo que precisávamos fazer, mas nada parece certo. O peso em meu peito é maior. Eu não sinto sequer uma ponta de alívio.

Na verdade, tudo parece ainda pior.

É tudo confuso demais. Mas, sem transformar minha confusão em palavras, olho para o chaveiro de coelho que tenho em mãos, cenho franzido e hesitação, antes de confessar:

— Eu queria ficar mais tempo com você, Jimin.

Jimin respira fundo, parecendo afetado por minha confissão. Eu, no lugar, me afeto por sua aproximação incerta. Por seus passos que o trazem tão para perto, por suas mãos que pousam em meu peito, acariciando-o suavemente antes que seus olhos subam e encontrem os meus.

Mas apenas por um instante. Porque, no seguinte, sua mão me toca a nuca, por ela me segura, e sua boca vem à minha.

Não é um beijo demorado ou feroz, mas a intensidade é inegável.

Logo se encerra, então, para que ele fique nas pontas dos pés e me abrace forte. Facilmente, retribuo ao tocar sua cintura antes de envolvê-la inteira com meus braços, segurando-o assim.

— Mudou de ideia? — Questiono, esperançoso.

Tão fácil quanto surge, a esperança se dissipa. Porque Jimin nega, de rosto mais uma vez escondido em mim.

— Preciso mesmo ficar. — Dessa vez, no entanto, há um pouco mais de sinceridade: — Eu preciso ficar um pouco sozinho. Desculpa.

Eu ainda não entendo. De mesma maneira, ainda sou incapaz de julgá-lo. Por isso, abraço-o ainda mais forte, esmago seu corpo inteiro até arrancar um gemido seu e tirar seus pés completamente do chão.

— Para de se desculpar pelo que não precisa de perdão, maluco.

Finalmente, Jimin me presenteia com a primeira risada depois de seu choro. Ainda é um riso frágil, breve, que se encerra antes mesmo que ele me abrace com mais força quando o devolvo ao chão.

— Eu amo você, Jungkook.

Sexta vez.

E eu não me canso de ouvi-lo dizer.

De mesma forma, não sei que resposta dar. Ele, por outro lado, ainda não parece se importar.

Afrouxa o abraço ao redor do meu pescoço, tocando-o com a mão pequena, com as unhas crescidas, e deita sua testa na minha por um instante que antecede o último selar em meus lábios.

— Vá. — E diz, afastando-se em seguida. — Pode deixar que eu arrumo a bagunça. Seu irmão precisa de consolo.

Eu não tenho como discordar, então aceito seu distanciamento e faço apenas uma coisa antes de ir.

Me aproximo de Jungoo.

Pego o corpo gordo e peludo da maneira que Jimin outras vezes me mostrou e, com sorte o suficiente para não ganhar uma bela de uma dentada por isso, aproximo a coelha de meu rosto. Aí, deixo um beijo na lateral do pescoço sempre quente.

Ela se move em meu toque cuidadoso e pressiona o nariz em meu queixo, curiosamente, por alguns instantes acompanhados de cócegas pelo toque de seus bigodes em minha pele.

— Tchau, xará.

Ela não entende, de certo. No entanto, assim que é devolvida ao chão, bate as patas traseiras em protesto, irritada com alguma coisa.

Provavelmente porque queria mais carinho, mas parte de mim se entristece ao pensar que é porque, talvez, ela perceba que essa não é uma despedida breve. Não é, porque eu não sei quando poderei vê-la novamente.

Não agora que me sinto tão incomodado e sufocado nessa casa, não agora que sei a quem pertence.

Eu não voltarei aqui tão cedo, então não a verei novamente também.

É uma despedida que eu não imaginei que me causaria tanta angústia, mas causa sensação incomparável.

— Dê descanso ao seu pai. — Digo, acariciando seu corpo mais uma vez. — Não morda com muita frequência. Deixe que eu faço isso. Ele gosta quando eu mordo.

Diante do nariz que se move continuamente, dos olhos pretos que já não se atentam a mim, eu suspiro junto a um sorriso que felicidade nenhuma carrega e fico de pé.

Caminho até Jimin. Em sua frente, paro apenas por um instante para tocar seu rosto e deixar um beijo suave de despedida em sua boca enquanto sinto sua mão sobre a minha.

— Até amanhã, Jimin-ssi. Vou tentar não fazer besteira com seu carro.

— Por favor. — Ele pede, com um sorriso sempre frágil. — Até amanhã, Jungkook-ssi.

Eu olho para ele mais uma vez. Coço meu pescoço, incerto, mas enfim me rendo e finalmente saio daqui.

Queria sair. Definitivamente, não queria ficar nesse lugar. No entanto, queria que ele viesse comigo.

E não é carência que me faz ressentir sobre o que acontece, mas sim a situação como um todo.

De qualquer maneira, sigo ao andar de baixo, onde encontro Junghee continuamente de pé, abraçando a mochila, completamente derrotado enquanto olha para os pés.

— Anda. — Eu chamo ao alcançá-lo, com tanta dó do moleque que nem meto um tapão na cabeça dele, ao chamá-lo.

No lugar, seguro sua nuca antes de apoiar meu braço ao redor de seu pescoço e apertá-lo um pouco quando começa a me acompanhar.

Procuro alguma coisa bacana para dizer. Algo para consolá-lo diante da reação de Taehyung depois de sua confissão.

— Você foi corajoso demais, moleque. — Então faço minha escolha, o mais casualmente que posso. — Sabe quanto tempo eu demorei para conseguir dizer que gosto de Jimin?

— Aposto que muito...

— Pra cacete. — E nem é mentira. — Já você... quem diria que a coragem é inversamente proporcional ao tamanho, hein?

Finalmente, Junghee me dá um sorriso ao mesmo tempo em que sua expressão também entrega sua irritação, o que me rende um tapa na barriga logo antes de chegarmos ao carro.

Em retaliação, eu desfaço o abraço e o empurro pela cabeça na direção do conversível.

— Cabeçudo.

— Insuportável.

Eu sorrio um pouco, mais tranquilo por ao menos ver meu irmão um tanto mais recuperado.

E eu não quero que ninguém se engane. Jimin me convenceu a não dar uma surra em Taehyung porque, de fato, é o certo. O que não quer dizer que minha vontade diminuiu.

Ainda cabisbaixo, Junghee se acomoda no lado do carona e nem faz perguntas sobre o porquê de estarmos indo no carro de Jimin sem Jimin.

Eu deixo minha mochila no banco de trás antes de me preparar detrás do volante. Nos instantes iniciais, continuo calado, concentrado demais em dar a ré com Pandora, para então fazer a volta no pequeno círculo de jardim e seguir pelos metros que separam a casa do portão do terreno.

É quando atravesso as largas portas metálicas que vejo um carro de luxo se aproximando para entrar. No lugar do motorista, vejo o rosto do homem que vi apenas uma vez em minha vida, mas em situação tão traumática que basta uma olhadela para reconhecê-lo.

Sohbong Hajoon. O CEO. Também o padrasto de Jimin.

Quando Pandora desliza para a pista e se põe em sentido oposto ao do carro luxuoso como tudo que esse homem tem, eu percebo que ele me lança um instante de olhar imediatamente surpreso.

Talvez por me reconhecer de três anos atrás. Se não, apenas por não entender por que estou pilotando o carro de Jimin. Carro esse que foi pago por ele.

A única coisa que faço é desviar o olhar de imediato e acelerar suavemente, junto a um breve torcer de pescoço para não acabar largando Pandora no meio da rua, decidido a voltar a pé para casa.

Por sorte, de alguma forma ainda relaciono o carro mais a Jimin que à fortuna de seu padrasto, então sigo firme ao dirigir pela via pouco movimentada.

— Pode colocar suas músicas de anime — Digo para Junghee, ao tentar me distrair, e tiro uma mão do volante para ligar o som.

— Tem a música de Desafio em Tóquio.

— Bota essa então.

Ele concorda, deixando a mochila nos pés antes de conectar o celular ao bluetooth do conversível.

— Moleque? — Chamo, de olhos atentos à pista.

— Oi, hyung.

Eu respiro fundo. Tem um furacão de pensamentos torturando minha mente, mas, agora, apenas uma coisa posso dizer:

— Vou te ensinar a fazer coquetel molotov.

— Que? Por que? Pra que?

— Nova tradição da família, eu acho. E é pra você jogar na casa de Taehyung, se ele te magoar.

— Hyung... é crime... deixa de ser doido.

— Se não for você, quem joga sou eu.

Junghee sorri, talvez por acreditar que não há um pingo de seriedade em meu aviso. No entanto, há. Porque, por ele, por meu irmão, eu faço isso e faço muito mais.

Sem mais demora e sem mais conversas que tragam isso de maneira verbal, o remix de Tokyo Drift começa a tocar. E é ao som dela e de uma sequência longa de músicas que voltamos para casa.

Junghee não fala mais nada sobre o que aconteceu com Taehyung, nem mesmo quando minha mãe percebe e pergunta o que houve para ele estar tão cabisbaixo.

Durante os dias que se seguiram, de mesma maneira, ele pouco falou — colocando, nas provas finais da escola, a culpa de sua aflição prolongada.

Meus questionamentos sobre o que Taehyung está fazendo e por que ele parece estar implorando por uma surra não são os únicos que me acompanham ao longo da semana, no entanto.

— Acho que vai ficar bom. — Yoongi diz, enquanto me martirizo por outras questões recorrentes.

Eu apenas aceno, desleixadamente sentado em sua cama enquanto jogo repetidamente uma almofada para cima. Ele gira a cadeira de rodinhas até colocá-la de frente para mim e dar as costas ao computador.

— Parabéns. — Ele diz, então, recostado ao assento giratório. — Você vai ter uma música para dar de presente para seu namorado.

Mais um aceno, sem dizer nada. Dessa vez, no entanto, pouso a almofada entre minhas pernas e olho para ele.

— O que falta?

— Alguns ajustes. — Responde, com um breve dar de ombros.

— Show.

— Já decidiu o nome da música?

Eu respiro fundo. Jogo a almofada para o lado e, no lugar, pego o violão deixado ao meu lado. O mesmo usado para acompanhar a letra da música que escrevi e tão envergonhadamente cantei para poder gravar.

— Não é assim que segura, filhote. — Ele alerta, de braços cruzados.

— Caguei. — Resmungo.

Sem empenho real, deslizo os dedos sobre as cordas até produzir um som indefinido e suspirar novamente, deitando minha cabeça contra a parede atrás de mim.

— É essa boca suja que Jimin beija todos os dias? — Yoongi alfineta, sem falha.

Ele chegou no ponto.

Um dos motivos que tanto me fazem encher a cabeça de questionamentos.

Porque Jimin não anda me beijando tanto nos últimos dias.

— Eu gostaria que fosse — Respondo, então, também deixando o violão de lado. — Mas Jimin mal falou comigo durante a semana, quem dirá me beijar.

Não é que ele esteja me evitando. Juntos, ficamos por quanto tempo é possível. O problema é que minha comprinha não pareceu, nos últimos dias, algo desejado por Jimin.

Ele fica comigo, ao meu lado, mas parece sempre distante. Não conversa, mal me toca, sempre perdido nos próprios pensamentos, sempre tão... assustado.

Parece ter seu lado positivo, se eu me permitir algum otimismo diante da situação.

Antes, Jimin fugia a qualquer sinal de medo. Ele se fechava, me deixava longe, me ignorava como se não sentisse por mim tudo que diz sentir.

Agora, ele fica. Ele não me afasta.

O problema é todo o resto. Todos os infinitos pontos negativos relacionados à sua angústia.

— Percebi que ele parecia meio estranho. — Para provar quão óbvio foi a tristeza de meu Jimin, Yoongi comenta. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu achei que tinha acontecido uma coisa boa. Aquilo... sobre termos feito o que supostamente faltava — Dou uma balançada de ombros, exausto de tudo. — Então estou tão perdido quanto você.

— Supostamente, as coisas deveriam ter voltado ao normal, não é?

— Mas parece que continua tudo errado. Parece... pior.

Yoongi não se surpreende. Obviamente, não se alegra também.

Em minha mente, o aviso se repete, incansavelmente.

O tempo está acabando.

Agora, no entanto, não é a maldita voz sem som quem diz e diz de novo as palavras que mais me apavoram.

É minha própria consciência. Sou eu, em meu medo, assustado ao perceber que é verdade.

— Hobi continua do mesmo jeito. Cansado, fraco... — Diante de minha ponderação silenciosa, Yoongi confessa, parecendo relutar ao fazê-lo. — Cada dia mais.

Isso justifica a ausência de Hoseok durante quase toda a penúltima semana do semestre na universidade. E, sem falha, reforça meu já crescente medo.

Está acabando.

E eu não sei o que acontece com Hoseok quando o tempo acaba. Mas sei o que acontece com Jimin.

— Eu não sei mais o que fazer, Yoongi. Não sei.

Ele se cala porque, no fundo, não há o que possa ser dito.

— Eu cheguei a acreditar que vocês só precisavam se apaixonar. Se amar — Confessa, tempos depois, com os olhos pequenos pensativos. — Para tudo voltar ao normal.

— Não acho que era isso.

— Eu tenho certeza que não era. Porque vocês já se amam. Você ama Jimin, Jungkook. Essa música é a prova. Essa música é amor.

Eu não sei o que dizer, além da verdade.

— Eu sei quase nada de amor, Yoongi. Mas o que sinto por ele é um dos sentimentos mais bonitos que já tive.

— Eu acho que entendo.

— Entende?

— Me sinto assim por Hoseok.

Eu concordo, antes de mais uma vez suspirar e arrastar minha bunda pela cama, até ficar de pé.

— Quem diria que nos renderíamos tanto por rodopiadores, né?

— Estou menos surpreso que você. O que me surpreende é que eles sentem  o mesmo por nós.

— Pois é. Bizarro. Pede logo aquele cara em namoro antes que ele se toque.

Yoongi cerra os olhos em expressão de impaciência, mas acaba por falhar em conter o riso.

Já de pé, eu pego meu capacete deixado em sua escrivaninha e vou até a porta do quarto. Antes de abri-la, olho para Yoongi.

— Valeu por me ajudar com a música.

— É para isso que amigos servem, filhote.

Yoongi responde casualmente, completamente despreocupado em reafirmar nossa amizade, até gira a cadeira para ficar de frente para o computador mais uma vez.

— Te aviso quando estiver pronta.

— Tranquilo.

Eu olho para o violão mais uma vez. Lembro dos acordes tocados, acompanhando a música, e sinto uma coisa... estranha.

Um pressentimento de que acabamos de fazer algo importante.

Sem dar atenção excessiva a isso, eu abro a porta. Com a mão na maçaneta, respondo a pergunta deixada sem resposta até então:

— Aliás, é Meu frango frito. O nome da música é Meu frango frito.

Yoongi poderia ficar calado. Poderia, mas faz questão de dizer:

— Esquisito do inferno.

Talvez esse seja um ponto inexplicável sobre a amizade. Qualquer desconhecido me chamando dessa forma me faria entrar em estado profundo de raiva. Sendo Yoongi, no entanto, eu permito que meu riso se acompanhe do dele.

E por isso fica. Sigo à porta da casa quase silenciosa, com sons apenas de Seokjin digitando mensagens no celular, deitado no sofá, seguido pelo som de seu corpo girando pelo estofado quando me percebe na sala.

Eu olho para ele e logo vejo o sorriso no rosto bonitão, quando ele deita de bruços, com as mãos no braço do sofá e o queixo sobre elas.

Aí, ele diz:

— Era você cantando? Que vozeirão, hein?

— Bem que Yoongi avisou que você ia ficar de butuca.

— Nem fiquei. — Ele garante, novamente girando até deitar com a barriga para cima, devolvendo a atenção ao celular. — Yoongi mente, aquele safado.

Eu não tenho certeza sobre isso de ser mentira. Parece que é mal de irmão, isso de ser curioso.

De qualquer maneira, nem me importo muito.

— Enfim. Já vou. Valeu pelo chá.

— Valeu pelo show de graça!

Sair da casa de Yoongi e Seokjin me faz rapidamente ser envolvido pelo frio de dezembro que finalmente chegou.

Finalmente, o último mês do ano mais bizarro e provavelmente mais significativo da minha existência.

Enfiado em duas camadas de roupa que não me protegem completamente do choque do vento contra meu corpo enquanto sigo de volta para casa, minha atenção se entrega ao trânsito que corto com Belinda; meus planos, se direcionam a Jimin.

No primeiro sábado do último mês, eu espero poder passar algum tempo com Jimin. Conversar com ele. Acalmar seu coração. Beijar sua boca. Amar seu corpo.

Chegar em casa, no entanto, me mostra que os planos não seguirão meu roteiro idealizado.

E não só porque ele sequer respondeu minha mensagem convidando-o a ficar comigo.

— Eu não acredito... — Resmungo, furioso, antes mesmo de desligar o motor de Belinda, que é barulhento o suficiente para fazer os olhos assustados virarem em minha direção.

E ali está ele.

Kim Taehyung.

De pé, ainda do lado de fora de casa, agora de costas para a porta fechada e com o corpo virado para mim.

Nos braços, ele carrega um baldinho de frango frito.

— Bandido! — Dessa vez, quase grito.

Atrapalhado ao simultaneamente saltar de Bee e tirar o capacete, até tropeço, mas isso não me faz interromper as passadas largas e furiosas na direção desse moleque.

— Jungkook-ssi...

— É o cacete!

— Jungkook-ssi... — Repete e, sinceramente, que golpe baixo. Taehyung logo faz a maior cara de choro, com as orelhas empurradas para a frente, pelo boné vermelho virado para trás.

Eu aperto a faixa do capacete que seguro em uma mão, ao invés de puxar Taehyung pela gola da blusa e apertá-la também.

— O que você estava pensando?! — Controlo os gestos, mas não as palavras ressentidas. — Por que você evitou Junghee durante uma semana inteira?!

— Eu tava confuso, Jungkook-ssi... não me bate, por favor...

Eu reviro os olhos. Sinceramente, não é que tenha me faltado vontade, mas é claro que não vou partir para a agressão. Minha expressão, no entanto, deve denunciar o oposto.

Para acalmá-lo, eu desço meus olhos ao baldinho de frango frito antes de olhar para ele mais uma vez.

— Que é isso aí? Acha que vai resolver tudo com uma porção pequena de frango?

Nós gostamos de frango, mas não a esse ponto. E Taehyung parece desolado com a percepção.

— Eu queria comprar a grande, mas não tinha dinheiro suficiente e ainda precisava pagar a passagem de ônibus...

Ele parece tão triste que agora eu quero socar é a minha cara.

— Eu queria trazer alguma coisa que Hee gosta... Você acha que ele não vai me perdoar? A pequena não é suficiente?

Nossa, na moral...

— Não foi isso que eu quis dizer, moleque-ssi — Finalmente, amenizo meu tom, antes de dar um passo adiante e rapidamente girar o boné dele para a frente, antes de abrir a porta de casa.

Aparentemente, minha definição de consolo é implicar.

— Anda — Digo, mantendo a porta aberta para que ele entre. — Junghee vai gostar do frango. Mas mais ainda de você finalmente ter decidido falar com ele.

Taehyung hesita, enquanto eu contenho o impulso de incentivá-lo com um tapão. No fim, não se faz necessário.

Ele entra.

— Bom dia, tia Ga-eul — Ele diz, assim que vê minha mãe arrumando a capa que protege o sofá.

— Oi, Taehyung. — Ela responde, feliz por vê-lo. Só porque não sabe que foi ele o motivo da derrota emocional de Junghee. Se soubesse, já estaria preparando o explosivo caseiro. — Veio almoçar com a gente?

Ele hesita por um instante, mas acaba por apertar os ombros numa concordância vaga enquanto eu deixo as chaves de Bee e meu capacete no aparador da entrada, depois de tirar minhas botas.

— Se Hee quiser que eu fique...

— Claro que ele vai querer! Mas vocês tinham marcado alguma coisa? Junghee ainda está dormindo.

— A essa hora? — O questionamento apavorado é meu, apesar de Taehyung também esboçar completa surpresa.

— Mas Hee sempre acorda cedo... Ele tá bem?

— Sim... eu acho. Na verdade, ele não parecia bem durante nenhum dos últimos dias. Acho que era nervosismo por causa das provas finais, pobrezinho. Mas como você se saiu? Está aliviado por finalmente estar de férias?

Nervosismo coisa nenhuma!

A raiva renasce, porque minha mãe está certa. Junghee não esteve bem. E Taehyung também está certo. Junghee sempre acorda cedo. Sempre.

Esse bandido desregulou até o sono do meu irmão!

Esqueça esse lance de me encher de compaixão. Estou puto.

— Taehyung se saiu muito bem — Sou eu quem respondo, lançando para ele um olhar de aviso que apenas não é seguido por minha mão puxando-o pela gola da blusa porque minha mãe me daria o maior sermão. — E está radiante. Com licença.

— Licença, tia... — Taehyung diz, agarrado ao baldinho de frango quando curva o corpo respeitosamente antes de me seguir.

A porta do quarto de Junghee continua fechada; ele, parece mesmo estar dormindo. Mas é para meu quarto que levo o bandido de boné, imediatamente parando de frente para ele com os braços cruzados.

— Feliz? É quase meio dia e Junghee ainda está dormindo! Você quebrou meu irmão!

Taehyung encolhe os ombros, mas nega antes de suspirar e tomar liberdade de seguir até sentar em minha cama ainda bagunçada. Ali, com essa folga toda, pensa bastante antes de dizer qualquer coisa.

— Jungkook-ssi... há quanto tempo ele gosta de mim?

— Sei lá. Provavelmente desde que te conheceu. Como eu vou saber? Isso aí você pergunta para ele.

Ele não se assusta com meu tom, mas parece muito preocupado com o que dizer a seguir.

— É que eu não menti... Jungkook-ssi, no começo, eu gostava de Junghee...

Eu me mantenho em silêncio, antes de surgir com mais grosseria. E, diante disso, Taehyung vai em frente.

— Mas... eu não sei. Eu estava tão feliz por ter um amigo que não queria estragar tudo. Então eu escondi o que sentia, o que... ainda sinto...

Isso responde uma das minhas dúvidas.

É recíproco.

— É por isso que eu tô tão assustado... porque parece que eu vou estragar tudo de qualquer jeito.

Eu respiro fundo, sonoramente, e caminho até minha cadeira de estudos, girando-a até deixá-la de frente para Taehyung.

Sentado e ainda meio emburrado, tenho em mente que aconselhar não é um dos meus talentos. Mas algumas coisas precisam ser ditas.

— Ele gosta de você há pelo menos algum tempo e isso nunca impediu a amizade de vocês, impediu? A diferença é que agora você sabe e, sei lá, alguma coisa pode mudar. Você pode corresponder, ou não, e talvez as coisas fiquem um pouco esquisitas de início, mas é isso. O que apresenta mais risco pra amizade de vocês é você ignorando o coitado. — Com um arquear de sobrancelhas, completo: — Risco pra sua vida, inclusive. Continua deixando meu irmão triste pra ver se eu não te quebro.

Taehyung até dá uma risada, antes de se mover sobre a cama, procurando mais conforto ou apenas em agonia.

— É que Hee é meu único amigo — Aí, ele diz. — Você sabe que os outros meninos da escola zombavam de mim por ser gay... meus pais nunca se importaram muito comigo... Junghee foi a primeira pessoa que me fez perceber que eu não sou... errado.

Eu relaxo contra o encosto, ainda de braços cruzados, antes de expulsar o ar de maneira arrastada.

— E foi por Junghee que eu conheci você, Jungkook-ssi. E Jimin-ssi e os outros. Também gosto muito de sua mãe, ela me trata melhor que a minha, e aceita seu namoro com um outro menino numa boa. Eu nem tenho coragem de contar pra meus pais que sou gay. Mas com vocês, com Junghee... eu não me preocupo. Vocês gostam de mim do jeito que eu sou. Eu não quero perder nada disso...

A situação de Taehyung sobre os pais não é novidade. Já ficou claro, há muito tempo, que a relação é difícil.

Acho que entendo o quanto é complicado para ele. Por isso, me esforço ainda mais.

— Você não vai perder nada, Taehyung. Junghee é importante pra você. Entendi. Mas você também é importante pra ele, cacete. Junghee não sorria direito há anos e voltou a sorrir depois de você. Vocês dois fazem bem um ao outro. Vai ficar tudo bem.

— Você tá sendo tão civilizado... e tá dando tanto apoio sobre a situação... me faz pensar, Jungkook-ssi...

Lá vem.

— Pensar o que, bandido?

Ele me oferece um sorriso finalmente mais descontraído. Talvez minhas tentativas tenham funcionado, afinal.

Mas aí ele diz:

— Isso quer dizer que eu posso dar umas bitoquinhas em Junghee antes dos vinte e cinco?

Eu respiro fundo, mas apenas para girar e pegar minha borracha na mesa de estudo, antes de lançá-la furiosamente na direção de Taehyung. Talvez já prevendo minha reação, ele explode num grito e numa gargalhada, jogando o corpo para o lado até cair deitado em minha cama antes que a borracha acerte a parede.

O pior é que o bandido não levanta. Ele se acomoda, deita a cabeça no travesseiro e tudo.

Ali, tão despreocupado quanto possível, pergunta:

— Você vai me bater se eu fizer isso? Se a gente namorar?

— Gostaria. — E gostaria mesmo. Mas, pelo bem de Junghee, garanto o oposto: — Mas é claro que não vou.

Taehyung sorri, aliviado e abraçado ao pote lacrado de frango frito, e encolhe as pernas enquanto pondera algo, antes de me chamar:

— Jungkook-ssi?

— Qual foi agora?

— Eu só discordo de uma coisa que você disse.

— Claro que discorda...

— Você disse que Junghee voltou a sorrir depois de me conhecer. Não foi, não, Jungkook. Ele ficava muito triste mesmo depois que nos aproximamos. Quem fez Junghee voltar a sorrir foi você. A família dele.

Minha careta mal humorada se desfaz de imediato, porque não tenho como manter a expressão tão severa diante disso.

E, pondo-se sentado mais uma vez, Taehyung volta a girar o boné para trás e me diz, ainda:

— Hee te ama muito, Jungkook-ssi, e ficou muito feliz quando vocês se reaproximaram. Tipo, ele odeia matemática, mas ficou todo animado porque estava estudando com você. Você é o maior herói dele.

Eu sigo sem saber o que falar, de volta ao meu estado natural, afetado demais por algo que já deveria saber, mas que me desnorteia toda vez que é relembrado.

Para Taehyung, no entanto, é mais fácil seguir falando agora que não está se cagando de medo.

— Mas meu herói é o Capitão América.

Brincadeira, né?

— Como você diz que seu herói é o Capitão América quando pode escolher o Homem de Ferro?!

Taehyung ri, mas logo seus olhos se dirigem à porta aberta do quarto e direcionam o meu de mesma maneira, assim como me atrai o som de batidas suaves na madeira.

— O almoço está pronto. — Minha mãe anuncia, ali parada.

— Posso acordar Junghee? — Taehyung questiona, já de pé e prestes a seguir até meu irmão.

Mas Junghee acorda todo babado e amassado e, em defesa de meu irmão, rolo minha cadeira pelo chão até chegar no moleque e segurá-lo pela blusa, ainda sem ficar de pé.

— Vai acordar ninguém, não. Vá arrumar a mesa.

— Sim. — Me pegando completamente de surpresa, minha mãe diz. — Por favor, arrume.

Para Taehyung, não há nada demais, mas minha mãe nunca em meus dezenove anos pediu para uma visita arrumar a mesa. Então, assim que moleque-ssi sai sem desconfianças, meu olhar confuso recai sobre ela.

— Endoidou, fedorenta?

Ela rapidamente dá uma franzida no nariz, furiosa, e me estala um tapa na cabeça.

— Me respeita, fedorento.

Eu massageio o lugar estapeado, curioso demais para atrasar ainda mais meu questionamento:

— O que foi? A senhora não está normal, não. Mandar visita lavar a louça eu sei que você manda, mas arrumar a mesa? Nunca vi.

Ela respira fundo. Cruza os braços, nessa mesma pose que eu assumo quando falo de coisas sérias. E revela:

— Ouvi sua conversa com Taehyung.

— Meu deus... não existe uma pessoa que não seja fofoqueira nessa família?!

— Se você fosse discreto, eu não ficaria desconfiada, mas sua carranca quando está bravo é muito óbvia. E estava assim para Taehyung. Ao mesmo tempo, tenho outro filho triste há dias e pensei: tem coisa nessa história.

— Oh, cace... caramba. A senhora não é iniciante, não.

— Claro que não. Sou mãe de um gênio da matemática e do melhor desenhista do mundo. Acha que eu sou pouca besteira?!

Eu arqueio as sobrancelhas antes de me desfazer num riso desproposital, enquanto ela se recosta na porta aberta e olha para o quarto de Junghee, ainda fechado. Suspira, ao fim, e me olha com uma expressão lenta, mas tranquila, até.

— Então quer dizer que eu não tenho nenhum filho heterossexual, não é?

Não adianta negar, já que a fofoqueira ouviu a conversa que tive com Taehyung. Também não confirmo o óbvio.

Ela suspira novamente, cansada. E explica:

— Você sabe se defender. Mas Junghee é todo miudinho. Se mexerem com ele...

De fato, o mundo pode ser um lugar perigoso. Até mesmo na escola Junghee já passou por provocações até físicas por desconfianças sobre a sexualidade dele.

Mas...

— Nós três cuidamos uns dos outros, mãe.

Ela acena, sem mais questionamentos sobre. Essa parece sua única preocupação agora que, talvez, meu relacionamento com Jimin parece ter derrubado a frágil barreira de aceitação que ela ainda tinha.

— Vá. — Ela diz, então. — Acorde seu irmão.

Ela sai. Eu saio em seguida, mas para um rumo diferente, e logo abro a porta do quarto do moleque. Mesmo que o dia já vá ao meio, as cortinas continuam fechadas; ele, socado debaixo de uma camada de cobertores.

— Levanta. — Digo, puxando o travesseiro de debaixo de sua cabeçona.

— Sai. — Ele resmunga, quase sem voz, quando tenta puxar de volta, mas é claro que não consegue.

— Levanta logo, cabeçudo. — Insisto, jogando o travesseiro longe para deixar as mãos livres e puxar as cobertas, que ele segura com mais afinco.

Há algo, no entanto, que sei ser capaz de convencê-lo.

— Taehyung está aqui.

Por um momento, eu penso que a informação matou meu irmão, porque ele fica quieto, parado, meio morto mesmo.

No entanto, alguns segundos são suficientes para que o cenário mude drasticamente e ele sente sobre a cama em velocidade inigualável, com a cara cheia de marquinhas de lençol e o cabelo todo de pé.

— Que?!

— É. — Respondo, simplesmente, já dando as costas para sair do quarto. Antes de ir, aviso: — E vamos almoçar com ele.

A parada seguinte é o banheiro. Mas, antes que possa lavar as mãos para ir comer, Junghee vem correndo atrás de mim, olhando ao redor como um criminoso para garantir que não será visto pelo bandido número dois.

Aí, se enfia aqui dentro comigo e fecha a porta com a maior cara de pânico.

— É mentira, não é?

O coitado está apavorado, mas eu não consigo evitar um revirar de olhos quando seguro sua cabeçona e uso meus polegares para limpar a remela seca.

— É verdade. — Garanto, então, antes de bagunçar ainda mais seus cabelos e dar uma empurradinha no cabeção. Já virando para lavar minhas mãos, aviso: — Lave o rosto e arrume o cabelo.

Junghee continua sem reação. Com as mãos lavadas e secas, eu me preparo para sair, mas paro antes de fazê-lo.

É. Tem outra coisa a ser dita.

— O que? — Rapidamente, ele percebe minha expressão. — O que mais aconteceu enquanto eu dormia? Meu deus, eu não posso dormir um pouco mais que acontece de tudo!

Eu gostaria de fazer esse anúncio assim como fiz o anterior. No entanto, não consigo revelar algo como isso com a mesma despreocupação. Assim, pondero meu tom e minha expressão, para revelar:

— Eu meio que conversei com Taehyung.

— O que você conversou com Taehyung? Hyung, você brigou com ele?! Você bateu em Taehyung?!

— Não, cacete.

— Então o que foi?!

— Falamos um pouco sobre você. Moleque-ssi está inteiro, por enquanto. O que eu quero te dizer é outra coisa.

— Diz!

— Mãe ouviu.

Pela segunda vez no dia, Junghee para de funcionar. Ele fica quieto, com expressão nenhuma além dos olhos crescendo gradualmente, em surpresa e pavor.

Ainda ponderando meu tom, esclareço de uma vez:

— Ela sabe que não colocou nenhum filho heterossexual no mundo.

— E... — O pavor começa a se alastrar no rosto ainda sonolento. — Mãe ficou brava? Ela tá decepcionada? Meu deus, e se...

Meu processo de descoberta e entendimento sobre minha sexualidade foi um pouco mais tardio que o de Junghee. E, antes que eu pudesse sequer pensar em como seria a reação de minha mãe, ela me viu aos beijos com Jimin.

Para Junghee, no entanto, é diferente. Ele esconde há algum tempo, mesmo tempo durante o qual sempre teve medo de nossas reações. Por isso, entendo que ele ainda esteja assustado, mesmo que nossa mãe tenha deixado claro que nunca nos amaria menos.

Mas, antes que ele se perca em possibilidades pessimistas, o interrompo. E digo:

— Claro que ela não ficou brava, nem decepcionada. Nem muito surpresa, na verdade. Pode ficar tranquilo, moleque. Quem tem que se preocupar é quem achar que pode fazer alguma coisa contra você por causa disso porque aquela mulher... Ga-eul é doida. Só deus sabe o que ela vai fazer com uma pessoa dessas, pra te proteger.

Sua expressão continua nervosa, apesar de minha garantia verdadeira, e os olhos grandes e arredondados parecem conter questionamentos não verbalizados.

Junghee ainda está em agonia e não há nada no mundo que me afete tanto quanto isso.

Então, sem que seja planejado ou sequer comum de minha parte, eu o puxo um pouco mais para perto e deixo um beijo demorado em sua cabeça.

E garanto:

— Você sempre vai ser nosso cabeçudo, Junghee. Nada vai mudar isso.

Eu sinto suas mãos nervosas apertando meu moletom. Quando me afasto, vejo seus olhos cheios de lágrimas.

— Não chora, moleque. — Peço, de imediato. — Você fica feio demais depois de chorar.

A reação dele é rápida, dessa vez. Ele mete um soco na minha barriga e, apesar de não machucar, é mais forte que o comum, então me provoca um rápido arquear de sobrancelhas.

— Parece que começou a ganhar força, hein, cabeçudo?

Ele tenta continuar com a expressão brava, mas eu vejo que finalmente existe um sorriso querendo nascer. Satisfeito por isso, eu dou um tapa no ombro dele, antes de finalmente sair do banheiro.

— Anda logo. — E digo, para deixá-lo sozinho.

Na cozinha, eu vejo a mesa já arrumada, Taehyung inquieto enquanto ocupa um dos lugares e minha mãe espremendo umas laranjas.

Meio desleixado, eu sento em uma das cadeiras livres e permaneço quieto, imerso no silêncio quase completo. Nada é dito. O suco fica pronto. Eu checo meu celular para ver se Jimin respondeu minhas últimas mensagens, mas nada dele.

E nada de Junghee.

Espero que não esteja entupindo o vaso.

Mas aí, depois de todo esse desconforto, eu suspiro no exato momento em que meus olhos recaem em Taehyung. Assim, vejo o instante em que ele olha, cheio de nervosismo, para o arco da cozinha.

É ali que Junghee para.

Os dois se olham, sem dizer nada. Meu irmão começa a ficar completamente vermelho.

Eu troco um olhar silencioso com minha mãe, que suspira e, depois de secar as mãos, gesticula para que Junghee se aproxime dela.

Todo nervoso, apavorado mesmo, nosso caçula vai.

Assim que para na frente dela, nossa mãe toca em seu rosto antes de beijar a cabeça dele e abraçá-lo por um instante.

— Dormiu bem, filho? — É tudo que pergunta.

— Sim... — Ele responde, nervoso.

Ela sorri. Acho que percebe, por todo o receio dele, o que eu já contei. Talvez por isso, para garantir que está tudo bem, ela diz, abraçando-o ainda mais forte:

— Eu te amo mais que tudo, viu? Você e seu irmão.

Junghee se encolhe inteiro, abraçando-a de volta, e eu e Taehyung nos fazemos plateia silenciosa.

Observando-os nesse momento tão necessário e esperado por meu irmão, eu finalmente percebo. Ele está crescendo. Literalmente. Já está quase do tamanho de nossa mãe.

E, sei lá por que, isso me faz sorrir.

— Jura que a senhora não tá brava? — Baixinho, nosso caçula cada vez maior pergunta.

Minha mãe o afasta, com essa expressão mansa. Mas eu disse. Ga-eul é doida. De uma hora para a outra, a feição dela se enche de irritação e ela dá um cascudo na cabeça de Junghee.

— Claro que estou brava. Quem já viu acordar meio dia, Jeon Junghee?!

— Ai... — Ele cobre o lugar fracamente golpeado, mas o que faz é rir, ao perceber que nada mudou.

Nem teria por que mudar. Ainda é nosso Junghee, não importa com quem venha a se relacionar.

E não importa com quem venha a se relacionar, será, no mínimo, depois dos vinte e cinco.

O problema é que ele e minha mãe vêm à mesa. E Taehyung está aqui. Junto, o lembrete de que depois dos vinte e cinco coisa nenhuma.

— Oi, Hee... — Moleque-ssi diz, tenso, com as mãos trêmulas quando segura o pote de frango que comprou pensando em meu irmão. — Eu trouxe pra você...

Junghee aceita o agrado, tremendo de mesma maneira, mas mal consegue olhar para o próprio amigo.

Também não consegue dizer nada.

O silêncio se prolonga, desconfortável a ponto de sequer começarmos a nos servir. E é claro que a tarefa de mudar o cenário se torna responsabilidade de minha mãe.

— Taehyung. — Ela chama, suave, mas séria. Quando ele olha para ela, é avisado: — Se você deixar meu filho triste novamente, Jungkook te dá uma surra.

— Mãe! — Junghee quase grita, horrorizado.

— Esteja avisado. — Sem voltar atrás diante do horror do filho mais novo, ela finda com um sorriso: — Aproveitem bem a comida.

Apesar do aviso dado, Taehyung acaba por rir. Parece mais confortável, finalmente, um pouco mais com seu astral de sempre. E, assim, olha para Junghee, para dizer:

— Depois do almoço, quer assistir anime, Hee?

— Hm? — Meu irmão se atrapalha, pego de surpresa.

— Depois de almoçar e de conversar — Taehyung explica. — Pra saber como vai ser daqui pra frente...

— Ah — Ainda atordoado, Junghee murmura. Parece querer dizer mais alguma coisa, mas acaba por desistir e apenas balança a cabeça em concordância.

Taehyung sorri para ele. Meu irmão também sorri um pouco. Eu, mais tranquilo por vê-los começando a se resolver, começo a me servir. Mas não deveria.

Porque quase derrubo tudo no chão quando, de repente, Taehyung olha para minha mãe e diz:

— Eu acho que vou beijar seu filho.

— É o que?! — Sou eu que grito.

Isso lá é coisa de se dizer?!

— Tae! — Apesar de saber bem que Junghee quer, ele também grita, apavorado, e minha mãe apoia os cotovelos na mesa para sustentar as mãos no alto e esconder o rosto nelas.

— Você é doido, bandido?!

— Se Hee quiser! Eu não vou forçar nada, não!

— Cala a boca!

— Mas, poxa, eu quero beijar Junghee desde que a gente começou a se aproximar... e eu fiquei nervoso quando ele disse que gosta de mim, mas Jungkook-ssi me deu a maior força e agora eu acho que nós devemos nos beijar, Hee!

— Não foi nada disso que eu disse! Deixa de ser maluco!

Enquanto eu penso seriamente em prolongar a discussão, Junghee fica vermelho como eu nunca o vi na minha vida e minha mãe finalmente exibe o rosto outra vez.

Aí, diz:

— É isso. Porta dos quartos abertas para sempre, agora. De todo mundo!

— Mãe!

— Tia, mas quem faz safadeza é Jungkook-ssi!

— Cacete, eu vou te moer na porrada se você não parar de falar!

— Portas. Abertas. — Ela repete, pausadamente, mas eu sei que não é definitivo. Isso aqui é apenas o prenúncio de uma conversa em um futuro próximo que envolverá novamente todo aquele pesadelo de conselhos sobre responsabilidade no sexo.

Que horror, meu deus. Puta que pariu, de novo, não.

— Agora comam!

Eu só me calo porque não quero ouvir grito, mas não impeço um olhar furioso na direção de Taehyung. Ele, por outro lado, parece feliz da vida, o bandido.

— Tia? — E chama. Com o sorriso que em nada combina com minha irritação, ele diz: — A senhora é uma mãe muito boa. Muito mesmo.

A expressão de minha mãe amolece aos poucos, até que ela sorri e faz um carinho suave no braço de Taehyung.

Que manipulador.

Ele, ainda sorrindo, finaliza:

— Um dia eu vou ter mais dinheiro e vou comprar um monte de frango frito como agradecimento por vocês três me acolherem tão bem.

Minha mãe sorri mais. Com esse seu jeitão que às vezes me faz querer morrer, mas que também amo incondicionalmente, ela dá um tapinha em Taehyung, para dizer:

— Eu prefiro peixe.

Taehyung explode numa risada que, apesar de todas as possibilidades, se torna uma de várias. Porque, ao longo do almoço, compartilhamos incontáveis risos e incontáveis pequenas discussões também.

Foi um desses momentos. Um dos simples, mas intensos, nos quais somos levados a nos afastar por um instante durante o qual nos tornamos apenas espectadores, com o coração sorrindo, contemplando a sensação de que, afinal, a vida pode ser boa.

A alegria das pessoas que tenho ao meu lado tem efeito direto em mim. E, depois de tanto tempo de solidão, eu tenho tantas ao meu redor. Depois de tanta raiva e tristeza, eu sinto tantas coisas boas.

Sinto, também, medo. Proporcional à minha felicidade, crescente, intenso, o medo de perder tudo isso. De não somente me devolver a um estado inicial ao qual desejo nunca mais pertencer, mas de fazer o mesmo com eles. De tirar essas memórias boas de seus corações.

Quando o tempo acaba e nós falhamos, tudo volta para o início, para o vinte e um de outubro. Todas as nossas memórias se vão. Todos os nossos sorrisos e amores.

Agora, minha certeza é crescente. Algo ainda está errado. Eu não sei o que é. Mas sei que, ainda que o tempo acabe, não será como nas noventa e oito vezes anteriores.

É impossível apagar de mim o que sinto agora. Disso, eu sei.

Talvez essa tenha sido uma das grandes mudanças. A esperança que por tanto tempo me faltou. Porque é isso, afinal. Amar as pessoas que amo, ter os amigos que tenho... tudo isso é esperança.

E eu não vou deixar universo ou destino algum tirar isso de mim.

— Anda, Ji... — Eu peço, já em meu quarto, diante da conversa ainda sem respostas.

Apesar da minha esperança, ainda sinto medo. O afastamento emocional dele ainda me causa nervosismo inigualável.

Do quarto de Junghee, vêm risos. Eu suspiro, bloqueando a tela do celular antes de me deitar, tomado por frustração.

Mal a cabeça descansa contra o travesseiro, no entanto, e acontece.

A campainha toca.

— Finalmente. — E digo, para ninguém além de minha própria consciência, porque já sei. É ele.

Chave gira no trinco, coração palpita no peito, porta se abre.

— Ei... — Ele diz, assim que me vê.

Eu suspiro com pesar, diante de sua expressão ainda tão abatida quanto esteve durante os últimos dias.

Na verdade, parece um pouco pior.

— Vim devolver sua jaqueta. Ficou comigo esse tempo todo.

Eu olho para a jaqueta de couro que ele me estende e a aceito de volta, dando importância alguma a ela. Assim que a tenho em mãos, jogo para o móvel aparador ao lado e, de mãos livres, puxo Jimin pelos braços até tê-lo inteiro para mim e abraçá-lo pelos ombros.

Contra meu corpo, ele parece relaxar e me envolve pela cintura, antes de deitar a testa contra meu pescoço.

Seu cheiro é gostoso, suave, familiar. Seu abraço é incerto, mas ainda é meu favorito.

— Ji — Eu o chamo, cuidadoso, segurando-o assim.

Preciso saber.

— Oi...

— Você também está sentindo, não é? Que algo está muito errado.

Ele hesita por um instante, antes de balançar a cabeça numa confirmação que antecede o aumento da força de seu abraço em mim.

— Isso não é justo, amor...

Eu tenho esperança. Jimin, não. Isso parece justificar a amplitude entre os altos de nossas angústias.

Mas, no meu caso, não é somente esperança.

É uma certeza.

E cada mínima ação minha, consciente ou inconsciente, é como um caminho a ser percorrido para garantir que nossa chance noventa e nove será definitivamente diferente.

Por isso, sem resposta direta à confissão que ele me faz, eu digo:

— Quero te levar em um lugar, Jimin-ssi.

Ele recua, sem me soltar, ainda perto o suficiente para aproximar a própria testa de minha boca e me pedir, silenciosamente, por um beijo nela.

Acariciando os cabelos já mais crescidos que estavam no início de tudo isso, eu faço o que ele me pede. Dou um beijo demorado, enquanto ele pergunta:

— Que lugar?

— É surpresa. — Respondo, agora com seus olhos castanhos, bonitos e entristecidos em ligação aos meus.

— Sério, Jungkook? — Ele pergunta, visivelmente confuso. — Surpresas agora?

— Não posso mais fazer uma surpresa para meu namorado?

A expressão de Jimin suaviza um pouco, enquanto acaricio seu rosto bonito, e ele nega suavemente ao dizer:

— Não me chama de "meu namorado". Você não sabe como me tira a reação.

— Não quero reação. — Garanto, empurrando a porta para que se feche quando o puxo para dentro sem esperar que ele tire os sapatos. — Vamos pegar uma coisa antes de ir. — E explico, passando-o para minha frente para poder me posicionar atrás do corpo que hoje tanto amo.

Posicionado em suas costas, eu venço de vez qualquer relutância que ele possa apresentar ao prendê-lo com uma chave de pescoço que, como em todas as outras vezes, o faz rir.

Dessa vez, não com tanta força. Não com toda aquela vida, aquele seu jeito de dar risada e se jogar para trás para ser amparado por meu corpo.

— Aqui — Apenas solto seu corpo quando chegamos em meu quarto, onde ele vê a cama ainda bagunçada e suspira.

Quando sigo ao armário, diante do espelho que então fica de frente para mim, eu vejo, pelo reflexo, Jimin se aproximando para dobrar os lençóis, porque sei que absolutamente odeia bagunça.

Eu me demoro um tempo admirando-o pela imagem refletida. Mesmo triste, ainda é tão ele.

Jimin é tão único.

E eu quero que ele saiba disso. Por isso, recupero meu foco e pego o que preciso.

— Aqui. — Eu digo, caminhando de volta para ele com um moletom limpo em mãos. — Veste.

— Quantas ordens, Jungkook-ssi...

Apesar do tom de reclamação, ele devolve à cama o travesseiro já com a fronha arrumada e me oferece um sorriso frágil, quando acata meu pedido e veste mais um moletom meu.

— Vamos para algum lugar frio, então? — Ele questiona, já vestido, com as mangas compridas cobrindo completamente suas mãos.

— Isso. E também gosto de te ver vestindo minhas roupas.

— Por que fica reclamando comigo quando demoro para devolver, então?

— Não é assim — Resmungo e junto já dou uma revirada brutal de olhos, antes de segurar sua mão para que ele venha comigo mais uma vez. — Eu não me importo que você fique com um ou dois de cada vez. Só peço de volta quando vejo que vou ficar sem moletons limpos, ué.

Ele sorri. Apenas isso. Apenas um sorriso que não ilumina seu rosto como sempre, que não faz seus olhos se fecharem daquele jeito que me conquistou como se algum dia pudesse não me apaixonar por ele.

Mas ainda é um sorriso. O sorriso dele. O sorriso pelo qual darei tudo de mim para preservar.

— Tô saindo! — Assim que chegamos à porta, eu grito para anunciar.

Entrego o capacete extra a Jimin e pego o meu, a chave de Bee e meto os pés nas botas antes de acompanhar meu namorado para o lado de fora.

— Jungkook. — Ele chama, com a voz tensa assim como é o toque de sua mão contra a minha.

Eu paro de andar quando percebo que ele fez o mesmo e, sem demora, viro para olhá-lo.

Jimin parece querer dizer algo. Nada diz, no entanto.

Mas eu espero. Em silêncio, paciente como nunca imaginei que poderia ser em torno dele, aguardo até o momento em que a confusão se instala tão furiosamente em sua face a ponto de se tornar impossível de não perceber.

As sobrancelhas contraídas, os olhos confusos e assustados, a mão no peito.

— Por que? — E, finalmente, a pergunta. Mas não acho que era isso que ele queria dizer. — Por que eu sinto tanto medo?

— Ji... eu também ando me cagando há muito tempo. Olha o que nós estamos vivendo... como poderíamos não sentir medo?

— Não. — Ele nega, apertando ainda mais o tecido que recobre o próprio peito. — É como se esse medo sequer fosse meu.

Minha confusão não se iguala à sua, apesar de ser tão grande. Não acredito que haja, no mundo, nada que se compare ao que toma conta de cada mínimo traço de expressão de Jimin.

— Toda vez que eu tento falar... isso acontece. Esse medo, Jungkook... Isso não é normal. É como se meu coração fosse explodir.

Ainda confuso, eu me aproximo. Solto sua mão para tocar seu braço, no qual ele mantém o capacete pendurado. E, cada vez mais confuso, questiono:

— Quando tenta falar o que, Jimin-ssi?

Ele nega, em dor profunda. É visível. Me machuca também, faz meu coração acelerar, quando percebo.

É isso? É isso que ainda está errado?

Eu aperto o braço de Jimin em apoio, antes de subir a mão ao seu queixo para guiar seu rosto até trazer seu olhar tempestuoso ao meu. Nele, reconheço todo o medo que ele diz sentir.

E entendo, dolorosamente, que ele não conseguirá superá-lo nesse instante.

Por isso, me agarro à minha ideia inicial. A ela, entrego minha esperança.

— Vem. — Então, sem insistir no que sei ser em vão, chamo. — Vem comigo, Ji.

Ele olha para a mão em seu braço, demoradamente. Sem afastar a atenção do toque singelo, ele diz:

— Eu confio em você, Jungkook.

Eu não entendo sua declaração repentina. Sem me dar tempo para questionar, Jimin é mais rápido:

— Eu juro que confio em você. Eu te amo e quero te dizer. Você merece saber. Por que não consigo falar? Por quê?!

— Jimin... — Meu chamado, agora, é assustado. Porque é assim que ele ainda se porta. Cheio de medo.

E raiva.

— Qual o problema dessa merda de universo? Qual o problema comigo, Jungkook?! Há tanto tempo eu tento e nunca consigo. Eu não consigo.

— Ei — Eu o chamo, ao percebê-lo tão agitado. — Ei, Jimin... Jimin-ssi... — Insisto, largando meu capacete de qualquer jeito para poder, então, ter mãos completamente livres para segurar apenas meu Jimin.

— Vai dar tudo errado e a culpa é minha, não é? Eu vou perder você, nós vamos perder tudo e a culpa é minha!

— Ei — Tento mais uma vez, tocando-o nos braços, puxando-o, até abraçá-lo mesmo que ele continue inquieto em meu abraço. — Respira, por favor.

— Jungkook, isso não é justo... — Inconstante, sua voz oscila entre raiva e tristeza.

— Respira. — Eu peço mais uma vez, sem outra resposta para dar. — Do jeito que você me faz respirar quando fico ansioso e meu coração acelera. Respira comigo, Ji, por favor.

Ele se cala, mas não acata meu pedido. Não até que eu peça tantas outras vezes para que ele inspire devagar, antes de soltar todo o ar no mesmo ritmo de minha própria respiração.

É difícil ser a pessoa que precisa manter o controle. Mas eu mantenho, porque não posso vacilar.

Por ele, por nós, por todas as pessoas que quero e vou preservar, eu preciso ser firme. Preciso me manter forte.

— Me deixa te levar a esse lugar — Quando percebo o ritmo da respiração de Jimin mais constante e seu corpo menos agitado, peço novamente. — Eu preciso fazer isso por você, Jimin.

Ele nega, com a cabeça contra meu pescoço.

Eu suspiro.

Hora de ser o Jungkook de sempre. Com ele, sempre funciona.

Não é com grosseria que digo. Não é com impaciência. É com o oposto. Com toda a paciência que existe em mim, com tudo que aprendi sobre Jimin, a ponto de saber que não irá magoá-lo, eu digo o que não poderia ser mais eu:

— Anda logo, cacete.

Não é surpresa. Funciona.

Ele ri contra minha pele, quase em surpresa, ainda que eu sinta seu coração tão acelerado.

Com cuidado, afasto sua cabeça de meu peito, segurando-a para beijar sua testa, depois sua bochecha, onde deixo também uma mordida suave.

— Anda. — Insisto, limpando a baba desproposital. — Hora de montar em Belinda.

Jimin inspira profundamente. O riso já se foi como se sequer tivesse acontecido, fugaz, efêmero e frágil assim como parece ser esse momento.

Eu me abaixo para pegar o capacete. Seguro sua mão em seguida, num último convite silencioso. A esse, ele finalmente responde com um sim.

Então vamos.

Eu subo em Bee, primeiro. Ele sobe em seguida, sem todas as dificuldades da primeira vez. Me abraça apertado, ainda que não seja necessário, e eu cubro sua mão com a minha por um instante, antes de dar partida em direção ao lugar ao qual sinto que preciso levá-lo.

A ausência de conversas ao longo do caminho talvez seja boa coisa. Agora que tudo parece tão carregado, a desobrigatoriedade de falar nos dá alívio, ainda que momentâneo.

De mesma forma, me impede de perceber as reações de Jimin quando, depois de fazer caminho entre tantos carros, nos levo ao lugar que desejava visitar com ele hoje.

Faço Bee parar no acostamento como outra vez, tanto tempo atrás, fiz.

Certamente, não é um destino previsível. Mas essa é minha surpresa.

A ponte.

Quando ainda não entendia por que o dia vinte e um de outubro se repetia incansavelmente, enquanto mais ninguém percebia o que estava acontecendo, o desespero me trouxe a essa ponte. Prestes a fechar os olhos enquanto acelerava Bee, no entanto, eu vi o que mudaria minha vida ainda mais que a repetição inexplicável dos dias.

Eu vi Pandora.

Eu vi Jimin. Tão perdido, acreditando que estava louco, prestes a buscar a mesma solução que eu estava buscando.

Eu o acusei. Joguei nele a culpa de toda aquela loucura. O odiei mais que nunca, naquele momento.

E, sem saber, também foi naquele momento que abri portas para o absoluto oposto de ódio. E é isso que sinto por ele, hoje.

Então foi aqui. O início de tudo, o meu início com Jimin, o início do fim de tanto ódio... foi aqui.

E é aqui que quero estar para dizer tudo que preciso.

— Romântico, não é? — Eu questiono, com humor, quando saltamos de Belinda e deixamos os capacetes sobre ela.

Jimin permanece parado por um instante, quando saltamos a pequena mureta que separa a calçada do acostamento. Os olhos ferinos observam com atenção o destino escolhido, sem esboçar reação imediata.

Até que ele diz:

— Foi aqui.

Eu sorrio aliviado por ele tão facilmente perceber.

— Foi aqui, Jimin-ssi. — Assim como nossos caminhos se entrelaçaram nesse lugar, eu entrelaço nossos dedos. — Exatamente aqui que tudo começou.

Ele olha, quase nostálgico, para o que nos cerca.

Os carros correm livres nas pistas. Dentro deles, estão pessoas que sequer nos percebem aqui, ou que veem nossa cena como algo que não merece atenção. No entanto, esse momento é único.

— Lembra do quanto eu te odiava naquela época?

Parado ao meu lado, dedos fortemente entrelaçados aos meus, cabelos esvoaçando sob as rajadas frias de vento, Jimin confirma com um movimento, de início.

— Me odiava e acreditava que eu te odiava também, quando na verdade eu já era perdidamente apaixonado por você.

— Jimin?

Ele não me olha. A expressão parece quase anestesiada, atenta ao horizonte, enquanto sei que, em seu âmago, o caos é infinito.

Em resposta, para mostrar que me ouviu, apenas murmura algo preguiçoso.

Ele olha para a imensidão da cidade, do violento rio abaixo da ponte, do céu coberto por nuvens acinzentadas. Eu, olho para a imensidão do meu sentimento mais bonito.

Ele.

E digo:

— Eu nunca mais vou te odiar outra vez.

O sorriso dele é tenso, triste, carregado.

— Nunca mais nessa chance, talvez... — E diz, desesperançado.

— Nunca mais. — Corrijo, certo do que digo. — Eu nunca mais odiarei você, Jimin. Nem nessa, nem em qualquer outra chance.

— Jungkook...

— O universo pode me tirar tudo quantas vezes quiser. Mas meu coração... ele é seu, Ji.

Ele finalmente me olha. As íris brilham de maneira indistinta, confusas, desacreditadas. Mas eu... eu sigo firme.

Ainda seguro sua mão, quando me movo até me colocar de frente para ele. Me sinto nervoso, isso é inegável. Nesse momento, mais que nunca, sou obrigado a verbalizar coisas que, em outras situações, seriam ditas do jeito mais desastrado possível.

Agora, eu preciso ser claro. Preciso ter coragem de dizer.

— Eu acho que nosso tempo nessa chance já acabou, Jimin.

Talvez não definitivamente. Mas tenho certeza de que já chegamos a um ponto a partir do qual é impossível fazer dar certo. Pela ausência de surpresa nos olhos de Jimin, percebo que ele também sabe disso.

— Eu sonhei — E diz, com a voz trêmula. — Sonhei com isso, Jungkook. Com você me dizendo que nós falhamos mais uma vez.

Nós definitivamente ainda não conseguimos.

— Mas nós não falhamos, Jimin-ssi.

— Como não, Jeon? — Seu questionamento é genuinamente agonizante, carregado do medo que parece nunca mais deixá-lo. — Nós vamos voltar tudo de novo. Vamos esquecer tudo. Eu vou esquecer que amo você. Como isso é não falhar?

Eu solto sua mão, mas somente para que minhas palmas livres o segurem pelo rosto. Não quero que seu olhar fuja do meu. É para esses olhos que um dia odiei, como se pudesse sentir algo além de amor por eles, que juro:

— Eu causei tudo isso, Jimin. Eu quebrei o universo inteiro para ter uma chance de ficar com você. E agora eu entendo. Eu entendo, mesmo sem lembrar. Por você, vale à pena.

Nada é dito com palavras, mas o suficiente se expressa com os olhos bonitos que, sempre tomados por intensidade, agora são tomados também por uma camada de lágrimas que ainda não escorrem.

Eu puxo Jimin. Deito minha testa sobre a dele, mãos ainda em seu rosto quando suas palmas ansiosas me seguram na altura dos pulsos, sem tentar me afastar. É respiração sobre respiração, medo conjunto, esperança que desejo compartilhar.

— Não vai ser igual — Então, garanto. — Eu não vou deixar que seja. Não vou deixar que o tempo volte, mas também não vou deixar que você seja tirado de mim.

O silêncio de sua parte se prolonga. As lágrimas escorrem. Talvez minhas. As dele, também.

— Você só deixará de ser meu Jimin quando assim desejar, Ji. Nenhum outro motivo do mundo muda isso.

Ele arrasta a testa sobre a minha, ao mover a cabeça de um lado ao outro, em breve negativa. Para garantir, eu inclino meu rosto até beijá-lo na bochecha. Na boca. No pescoço e no peito.

Minha garantia não são beijos, no entanto. Porque logo findam.

No lugar, em sua frente, eu faço aquilo que genuinamente transparece quão sério estou sobre cada promessa feita aqui.

Eu me ajoelho em sua frente.

— Jimin-ssi — E digo. — Eu te trouxe aqui para te garantir que esse lugar vai ser para sempre a última lembrança de que um dia eu pude odiar você. Não importa o que aconteça agora, isso eu te prometo.

Quando ele pisca, uma nova lágrima escorre. Junto, escorre sua confissão atordoada:

— Por um momento, achei que você ia me pedir em casamento.

Ainda de joelhos, eu nego com um sorriso, apesar de, por dentro, sentir constrangimento crescente ao perceber como a escolha do gesto de me ajoelhar foi errônea.

Sei que, apesar do momento e do frio, fico vermelho.

Mas digo:

— Ainda não, Jimin.

Ele pisca mais uma vez, nesse jeito característico, e me pega de surpresa ao se mover até se ajoelhar em minha frente também. Suas mãos vêm ao meu rosto e ele me acaricia a bochecha com o polegar, ao ponderar:

— Uma coisa de cada vez, amor.

Eu balanço a cabeça em concordância, devagar, percebendo que, um dia, essa história de casamento vai me causar mais pânico que o colapso do universo.

No entanto, o momento de pânico não é agora. Por isso, eu toco em sua mão. Como tantas vezes fiz, direciono meus lábios a suas cicatrizes. Sobre elas, deixo um beijo.

E deixo, também, minha última promessa:

— Amor sempre acima da dor, Jimin. Eu te juro.

Ele suspira de maneira demorada, arrastada, lânguida. Suas mãos correm ao meu peito, onde reivindicam lugar. Seu nariz toca o meu. Seus dedos apertam o tecido de meu moletom e o tempo passa.

São longos instantes, até que ele diga:

— Amor sempre acima da dor, meu pão com carne.

Eu sorrio para ele, ao concretizar nossa promessa.

Com as pernas cansadas, não me importo de deixar meu corpo se mover até que sente de uma vez sobre o chão de cimento, assim como Jimin não se importa de atender meu chamado quando o puxo suavemente para que sente ao meu lado.

Eu abraço seu corpo assim como o frio abraça nossas existências nesse momento. Aceito e aprecio o carinho que ele me faz na nuca, em meus cabelos crescidos além da conta, e vejo a vida que não para logo à frente. Com todos os carros que vêm e vão, ocupados por pessoas que não entendem o que estamos passando.

Que não entendem a dimensão do que sinto por Jimin.

Alguma delas causaria um colapso no universo inteiro somente para tentar estar com a pessoa que amam?

Eu amo Jimin?

— Gracinha... — Ele chama. Sem dúvidas, repete: — Eu amo você.

É.

Eu também.

Eu amo Jimin.

— Ei — Chamo, ao mover meu olhar em sua direção. Logo, ele me olha de volta.

— Oi...

Eu sinto meu coração bater forte. Aperto meus lábios, quase de maneira conformada, ao perceber quão difícil é colocar tudo isso em palavras. Mas eu tento, porque ele merece saber.

— Eu ainda não entendo isso de amor, Jimin.

— Eu sei, Jungkook. Não estou te cobrando uma resposta... eu só gosto de dizer.

Eu continuo olhando para ele. Nego, enfim, ao sentir o calor de meu rosto combater o frio de dezembro.

Digo, a seguir, o que a essa altura não passa de algo óbvio:

— Você é meu frango frito, Park Jimin.

Mais uma vez, suas sobrancelhas se contraem no centro. Os olhos se abrem, os lábios também. Ele parece não acreditar.

Eu também não acredito que consegui dizer.

— Eu ainda não entendo — E digo mais. — Mas disso eu sei. É você, Ji. Sempre foi você.

As reações de Jimin, ou a ausência delas, se prolongam por instantes durante os quais o calor em meu rosto cresce exponencialmente. Me faz ter certeza do quanto estou vermelho e isso, por sua vez, me faz voltar o rosto para a frente.

Sem olhá-lo, digo as últimas palavras que consigo dizer, nesse instante.

— Enfim. Beleza. Só queria que você soubesse.

Jimin ainda não diz nada. Mas seu toque vem. Por minha perna. Hesita na barriga, sobe ao peito, pescoço, até a linha de minha mandíbula, onde toca para me fazer olhar para ele mais uma vez.

Eu vejo, então, o primeiro brilho de esperança nos seus olhos, que são meus favoritos.

E ele me beija.

Beijar Jimin é sempre uma experiência inigualável. É sempre frio na barriga, paixão, descoberta e entrega.

Nesse momento, é amor.

Com todas as letras, pela primeira vez, nosso beijo é amor.

Promessa, é o que novamente fazemos a seguir. É o que fazemos quando ele para de me beijar e fecha os olhos, mais uma vez com sua testa contra a minha.

— Promete de novo que nunca mais vai me odiar.

— Nunca mais. É impossível, Jimin.

Ele respira com dificuldade. Sua mão busca a minha. Ao encontrá-la, guia meu toque ao próprio peito, lugar onde pressiona minha palma para me fazer reconhecer o batimento descontrolado de seu coração.

— Isso é quanto medo eu sinto, Jungkook.

Eu acaricio seu peito em busca de alívio para seu coração que bate forte e machuca o meu.

— Mas minha confiança em você precisa ser maior que o medo, amor.

Ele confessa, como para a própria consciência e não para mim.

De repente, no entanto, Jimin recua. As mãos tremem furiosamente quando ele desliza a mão para dentro do bolso de sua calça e tira, dali, seu celular.

— O seu ficou em casa, não foi? — E pergunta, com a respiração quebradiça.

— Ficou... — Sem entender, respondo. E Jimin faz um movimento de concordância desesperado, nervoso, apavorado.

Ele parece digitar algo. Os lábios tremem, acredito que não por conta do frio, quando enfim finaliza o que parece tentar fazer, bloqueia a tela do telefone e o oferece para mim.

— Eu não consigo dizer em voz alta, então não me deixa voltar atrás. Você vai saber quando chegar em casa.

Eu olho para a tela escura do celular. E nego, ao invés de aceitá-lo.

— Eu confio em você, Jimin.

Ele fecha os olhos, em sofreguidão, e eu vejo seu peito subir e descer em desespero quando volta a guardar o telefone.

Silêncio. É barulho de água corrente, é trânsito, rajadas sonoras de vento, batidas de coração ecoando em meus ouvidos. Mas, entre nós dois, se faz silêncio até que dou fim à inércia de ausência de palavras, completamente ansioso.

— Podemos ir para minha casa agora?

Posso saber a verdade que você esconde, Jimin?

Ele hesita. Parece prestes a chorar novamente, dessa vez com ainda mais força.

— Sim. — Mas é isso que diz, apesar de seu corpo inteiro implorar pelo contrário.

Eu apenas concordo. Hesito. Mas fico de pé. Estendo a mão para ajudá-lo a levantar, então seguro a sua completamente encoberta pela manga de meu próprio moletom em seu corpo.

Ele me olha com tantas coisas a dizer, mas nada diz.

Voltamos a Belinda. Ele me abraça com ainda mais força quando montamos, como se essa fosse a última vez que poderá me abraçar.

Antes de ligar o motor, eu ouço Jimin dizer:

— Me desculpa.

Meu peito parece ser esmagado por uma mão invisível, mas de força incomparável. As batidas parecem ricochetear aqui dentro, enquanto minha mente se acelera ainda mais que Bee sobre a pista.

O caminho parece longo como nunca. É tortura. Me leva esforço indescritível para nos fazer chegar inteiros em casa, mas eu consigo.

Trememos os dois, no entanto, quando descemos na porta de minha casa.

Quando Jimin tira o capacete, vejo que ele chorou por todo o caminho.

Eu não sei o que me espera a partir do momento em que entrar em casa e pegar meu celular, onde parece me aguardar a confissão final que ele não teve coragem de fazer antes, nem em voz alta. Ainda assim, não desisto. Ele também não desiste.

Juntos, sentimos medo. Juntos, seguimos em frente.

Dentro de casa, agradeço por Junghee e Taehyung ainda estarem no quarto. Minha mãe parece ter saído. Pelo menos, assim, não preciso explicar para ninguém o motivo de nossas expressões destruídas quando seguimos da entrada ao meu quarto.

Meu celular está sobre a mesa de cabeceira, no exato lugar em que Jimin deixou depois de arrumar minha cama.

Eu olho para meu namorado. Olho para o celular à minha espera.

Dou o primeiro passo adiante, mas sou obrigado a parar quando a mão de Jimin segura a minha com força e desespero.

— Jimin... — Chamo, cada vez mais nervoso.

Para minha surpresa, ele diz:

— Se eu pudesse voltar no tempo, Jungkook...

— Eu desejei isso. — Consigo dizer. — É mais complicado que parece.

Jimin nada mais diz. Ele me solta. Eu finalmente sigo em frente.

Apenas percebo o quanto tremo quando falho duas vezes em desbloquear a tela do telefone, na qual tão fácil percebo a notificação de uma mensagem sua.

Quando finalmente consigo, meu coração parece prestes a rasgar meu peito, de tão forte que bate.

Assim que abro a mensagem, no entanto, ele parece prestes a dilacerar de dor.

O celular quase escapa de minha mão. Meus olhos crescem em tamanho, meu peito parece diminuir, tornando-se pequeno demais para minhas batidas violentas e descompensadas.

Então eu olho para Jimin.

Estamos os dois a ponto de quebrar.

E, em voz alta, ele diz exatamente o que diz a mensagem que acabei de ler.

— A culpa foi minha, amor.

Eu recuo com um passo, visão embaçada demais ao ser tomada por lágrimas que se formam de imediato, mente agitada demais para corretamente processar o que, em desespero, ele tenta explicar.

— Hajoon ficou assustado quando Seon Yeong disse que aconteceria um acidente. Ele quis suspender as obras no dia seguinte. Ele quis, Jungkook. Fui eu quem o convenci do contrário. A culpa foi minha, amor.

Eu recuo com mais um passo. Jimin treme, da cabeça aos pés, à voz.

— Se eu tivesse ficado calado... Jungkook...

Algo estranho acontece. Coisas estranhas parecem acontecer a todo o tempo, desde o vinte e um de outubro.

Dessa vez, no entanto, é algo dentro de mim. Algo em meu coração, que pulsa forte como nunca, ao perceber.

Foi por isso. Sempre foi isso.

O motivo pelo qual eu sempre odiei tanto Jimin.

Por isso parecia não haver explicação. Porque eu não lembrava.

Agora, é como se memórias de todas as chances anteriores invadissem minha mente. Eu lembro de descobrir, em cada uma delas, que culpei Jimin. Que o odiei por isso.

A cada nova chance, mesmo sem memórias das anteriores, meu ressentimento por ele foi preservado.

Eu nunca soube explicar por que o odiava tanto. Mas finalmente entendo.

Eu o odiei porque o culpei em todas as noventa e oito vezes.

Porque as memórias foram levadas; o sentimento, não.

De mesma maneira, entendo por que as lembranças de tantas chances anteriores parecem ser subitamente retomadas. Entendo, porque Seon Yeong já havia me avisado.

Suas memórias retornam quando o tempo acaba.

No inferno de sensações dilacerantes que recaem em minha consciência, Jimin implora:

— Me perdoa, amor...

E, mais forte que sua voz fraca e assustada e desesperada, ressurge a voz sem som.

Dessa vez, para anunciar o que já sei.

O tempo acabou.

Continua no próximo capítulo.

Como vocês estão?

O tempo acabou...

E agora?

Eu quero muito mesmo ver o quanto vocês confiam nas promessas do Jungkook. Acho que posso ver o nível de confiança a partir do nível de desespero com esse final :x

Tenho algo a dizer: as respostas finalmente estão chegando. Jungkook lembrou de todas as 98 chances. Isso nos dará respostas, certo?

Ah, uma resposta já tivemos: o ódio do Jungkook, lá no começo, não era tão injustificado assim. Ele só não lembrava.

Mas vamos deixar mais esclarecimentos, mais chororô, mas emoção e quem sabe mais soluções pro próximo capítulo!!

Acho que o próximo é o que mais se aproxima do clímax da história (mas, na verdade, eu considero que cem chances tem 2 clímax e os 2 ainda vão acontecer)!

Mas ATENÇÃO! Importante!!! Não parem de fazer stream na patroa dynamite!

Uma musica com uma vibe daquela era o que eu tava precisando e eu não me canso de ouvir meu deus do céu!!! Os meninos são tudo, tudo, tudo 💜

Teorias: se o tempo acabou, o que exatamente acontece agora? Nos vemos no próximo capítulo ou na #BelindaEPandora. Um beijo!

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