[f(26) = 78 - 2x] Meu frango frito
Esse é o maior capítulo de Cem chances até então! Boa leitura!
🔮
Sinceramente, eu sequer lembro qual a última vez em que fui ao cinema.
O dinheiro nunca foi abundante em minha vida; os ingressos, são caros. Logo, nunca foi o tipo de programa que normalizei em minhas folgas. Talvez, por isso, eu tenha criado uma falsa impressão de que nunca gostei muito de assistir filmes nesse ambiente.
Agora, acho que estava errado. Porque, nesse exato momento, a experiência é boa.
Ou talvez seja a companhia. Talvez esteja me sentindo bem porque estou aqui com Jimin.
Com Jimin, uma pipoca da grande, um copo enorme de refrigerante e quatro embalagens de chocolate. Não estou brincando. Ele comprou quatro barras de chocolate no snack bar, porque não conseguiu escolher uma só.
Então temos chocolate branco, ao leite, com cookies e com amêndoas.
O total de suas compras equivale a um total que eu provavelmente só seria capaz de pagar se vendesse Junghee. E moleque-ssi junto.
— Eu não sei se deduzo que você realmente gosta de chocolate ou que realmente gosta de gastar dinheiro. — Pondero assim que ocupamos nossos assentos na sala pouco iluminada.
Jimin ri, apoiando sua bolsa no assento ao lado e deixando os chocolates sobre ela, enquanto eu seguro a pipoca e encaixo o refrigerante no suporte ao meu lado esquerdo — porque o direito é o que faz divisória entre meu assento e o dele, então... provavelmente, não demorará para que o braço saia do caminho.
— Eu gosto muito de chocolate. — Jimin garante, voltando a me olhar. — Isso não é novidade. Foi uma das primeiras coisas que eu te falei.
— Eu lembro. — Pondero, mais uma vez arrastado para as memórias do início de tudo. Para quando eu não suportava sua presença, sua voz. E agora me percebo aqui, cada vez mais rendido por sua companhia.
— Se eu perguntar... — E com o tom cuidadoso, ele questiona. — Você vai ficar ofendido?
— Perguntar o que?
— Dinheiro realmente não é mais um problema para mim, então eu gasto sem me preocupar. E, honestamente, não é que eu não me importe em pagar as coisas para você. Eu gosto de pagar. Mas não sei se te incomoda, então...? Você está ok sobre tudo isso?
Já que ele perguntou...
— Não é minha coisa favorita no mundo, Jimin.
— Entendo...
— Não é só por meu orgulho. É meio desproporcional. Eu gostaria que o próximo encontro fosse mais acessível, mas as coisas acessíveis para mim devem ser vergonhosas para você, então, sei lá.
— Próximo encontro? — É a primeira coisa que ele percebe.
Não tem sequer uma pitada de provocação em seu tom. É apenas um questionamento genuinamente surpreso, satisfeito, seguido por um sorriso espontâneo e bonito.
— Você já decidiu que quer um próximo encontro comigo, Jungkook-ssi?
— É que... — É que o que, Jeon? — Eu sei que você vai pedir.
— Claro que vou. — Sem vergonha alguma, ele garante. Se move sobre a poltrona até sentar de lado, de frente para mim, e apoia a mão em meu braço antes de se inclinar para me dar um beijo suave na bochecha. — E não vai ser nada vergonhoso. Podemos fazer o que te deixe mais confortável, porque eu não tenho problema em usar dinheiro, mas também não faço questão de gastar. Eu só faço questão de estar com você, gracinha.
Eu viro meu rosto um tanto mais, até encobrir o beijo que ele me deu na bochecha ao roubar um diretamente de sua boca, que logo me faz sentir seu sorriso contra meus lábios ultimamente sempre tão ansiosos pelos seus.
— Agora... — Ele diz baixinho, fazendo o que eu já esperava, e levanta o braço que separa nossas poltronas.
O que me surpreende é que ele se aproxima, sim. Tira a pipoca de meu colo e cuidadosamente apoia suas pernas sobre uma das minhas. Também deita a cabeça em meu ombro e joga uma pipoca na boca, antes de se inclinar e me dar um beijo no pescoço.
Ele está todo encolhido contra meu corpo. Parece confortável, apesar da posição, e eu constantemente sinto seu sorriso mesmo que não possa vê-lo. Mas é isso que acontece. Jimin sorri com o corpo inteiro, nesse momento.
Cada reação sua a cada pequeno momento entre nós dois me faz lembrar: ele desejou tudo isso por três anos.
Jimin me desejou por três anos, cacete.
E não me desejou apenas pelo corpo, como cheguei a acreditar. Agora que estamos aqui, no escuro, numa sala de cinema quase vazia, prestes a ver um filme do qual ele sequer gosta, ele poderia se aproveitar e me beijar por duas horas inteiras. Mas ele apenas se encolhe em mim, completa e intensamente satisfeito por poder ficar... assim.
Isso me faz sorrir também. Me dá coragem para apoiar minha mão em sua coxa e deslizar meu polegar sobre a pele coberta pelo moletom, acariciando-o suave e envergonhadamente antes que, num gesto nervoso, mas cheio de vontade, eu me permita descansar minha bochecha contra o topo de sua cabeça.
E ele diz, assim que a sessão de trailers chega ao fim:
— Hora de assistir nosso primeiro filme juntos, gracinha.
Eu sorrio, dividido entre senti-lo contra meu corpo, devorar a pipoca e aceitar os chocolates que ele come comigo, ao longo do longa.
Ainda bem que Jimin aceitou assistir Jurassic World, ainda que não seja grande fã. Mas o que percebo, a cada segundo que dividimos aqui dentro da sala escura e fria, é que poderíamos escolher até um dos filmes de terror que ele gosta, e eu não. Porque não são as cenas reproduzidas na tela que me fazem guardar cada segundo que passamos aqui dentro.
É Jimin. É ele, seu corpo contra o meu, seu cheiro suave, os carinhos despropositais, os encontros acidentais de nossas mãos buscando pipocas e o riso bobo que ele não esconde diante das cenas que julga cafonas.
— Vão precisar vir nos tirar daqui... — Ele pondera, ao fim do filme, quando todos já saíram da sala e apenas nós continuamos aqui, diante dos créditos finais. Seu braço envolve meu corpo com mais força e ele confessa, com o tom baixo: — Eu não quero sair, Jungkook-ssi...
Eu sorrio diante de sua confissão, subindo minha mão de sua coxa à sua nuca, segurando-a com cuidado até trazer seu rosto ao meu, sua boca à minha, e mordiscar seu lábio antes de dar um beijo suave.
— Se esse foi seu jeito de tentar me convencer a ir, sinto muito... falhou miseravelmente, Jeon...
Eu pressiono nossos lábios juntos mais uma vez, antes de me afastar e apoiar minha mão em sua perna, pressionando-a suavemente para tirá-la de cima das minhas.
— Vamos, Jimin-ssi. São oito horas. Ainda dá tempo de fazer mais alguma coisa.
— Oito? — Ele repete, subitamente surpreso e incomodado por algo, ao checar as horas no celular. — Droga...
— O que foi? — Questiono, percebendo sua mudança de postura quando fica de pé e me ajuda a juntar todo o lixo das embalagens que usamos ao longo do filme.
— O jantar de Jungoo — Explica, seriamente preocupado enquanto juntamos tudo no saco da pipoca. — Minha mãe está num evento com meu padrasto, então não deve ter colocado a comida dela. Essa coelha vai me matar durante o sono, hoje. Ela odeia esperar pela comida.
Eu pressiono os lábios para esconder a risada diante da lembrança do temperamento difícil de Jungoo, que me rendeu até mesmo uma puta de uma dentada na mão.
— Eu te levo lá. — Sugiro, então. — Podemos encerrar o encontro por aqui.
— Ou...
— Hm? Ou o que?
— Você pode me levar e nós continuamos o encontro em minha casa...
Meu corpo tensiona, não com a discrição desejada, assim que percebo o possível futuro a partir da concordância com sua sugestão.
Diante do meu silêncio e da minha expressão, Jimin explode numa gargalhada gostosa. Na moral mesmo. Essas suas risadas são tão gostosas quanto seu beijo, ainda que eu não entenda o motivo do riso dessa vez.
— Não seja safado assim, gracinha. Eu não estava pensando nisso. Só quero ficar mais tempo com você.
— Eu não pensei nisso também — Devolvo, tomando o copo vazio de sua mão e deixando-o para trás quando sigo até o grande lixeiro ao lado das portas da sala.
Jimin vem logo atrás, com a bolsa de treino atravessada em seu corpo. Não demora para que ele me alcance e sua mão pequena se apoie em minhas costas, guiando meus passos pelas escadas que nos levam de volta ao saguão do cinema.
— É sério, Jungkook. — Ele diz, com o tom calmo acompanhando o ritmo de nossos pés nos degraus. — Não estou planejando nada. Mas se você ainda não estiver confortável o suficiente, eu sirvo o jantar de Jungoo e nós vamos para outro lugar. Para onde você quiser.
Eu lanço uma olhadela breve em sua direção, mas logo volto a olhar para a frente. E garanto:
— Ficar sozinho com você não é um problema, Jimin.
Ele sorri, sem malícia alguma.
— É bom ouvir isso, gracinha. Então ficamos por lá.
Eu faço um breve gesto de concordância, sentindo sua mão deslizar por minhas costas até encontrar minha palma e entrelaçar nossos dedos quando chegamos ao calçadão, agora sob o céu escuro e iluminado por todas as luzes coloridas das lojas.
Seguimos de volta ao lugar onde deixamos Bee, sem que o novo destino não planejado carregue nossas conversas com qualquer tensão extra, porque acho que nós dois temos consciência.
Estaremos sozinhos, em sua casa. Muita coisa pode acontecer. Também pode acontecer nada e só conversarmos enquanto Jimin testa meus limites antes de explodir em tons de vermelho com suas provocações — e eu me arrisco a descobrir a mesma cor em seu rosto, agora que estou encontrando os caminhos para lhe causar tais reações.
No fim, não estamos indo com intenções definidas, então tento não me precipitar diante das possibilidades.
Minha virgindade foi perdida há um bom tempo, para ser sincero. Mas o que está acontecendo com Jimin é totalmente diferente, e não me refiro somente ao fato de que ele é um homem e eu nunca me envolvi com um, então não sei quão diferente é, não sei se vou naturalmente entender como fazer com ele.
As diferenças residem também na forma como estamos nos relacionando. Eu nunca me envolvi dessa forma com alguém, antes do sexo. Sequer cheguei ao sexo em verdadeiros momentos de intimidade.
Com Jimin, os beijos são mais intensos, íntimos e satisfatórios que todas as minhas transas casuais.
Então são vários pormenores, mas mantenho cada um deles silenciados, por ora.
E, talvez, o que me permite manter parte da calma é saber que pode acontecer, mas sentir que não chegaremos lá. Não hoje.
— Aqui. — Eu digo, entregando o capacete a ele, ainda mantendo a sensação leve entre nós dois.
— Obrigado, gracinha. — Ele devolve. Dessa vez, enfrentando menos dificuldade que da primeira, para montar em Bee, atrás de mim.
Ainda assim, ele não deixa de me abraçar forte. E eu não o repreendo ou interrompo seu toque.
Então o motor de Belinda canta alto. Os pneus deslizam pelo asfalto e a sensação do vento contra nossos corpos ganha intensidade à medida que nossa velocidade aumenta. E o frio da noite, combinado ao corpo de Jimin colado ao meu, me faz arrepiar até a nuca.
A blusa que ele me comprou me aquece mais que a pavorosa blusa listrada e fina, desabotoada além da metade.
Ainda assim, não acho que existe qualquer peça de roupa capaz de anular a sensação que toma meu corpo a cada segundo do percurso. Aliás, eu sequer desejo evitar os pelos arrepiados, o frio na superfície e o calor que irradia por dentro, criando uma camada contraditória em minha própria pele.
Quando estaciono em frente à sua casa luxuosa, no espaço ao lado de Pandora, Jimin propositalmente desliza as mãos por minha cintura antes de descer. Está sorrindo, quando tira o capacete e discretamente usa as pontas dos dedos para realinhar os cabelos. E diz:
— Eu gostaria de fazer isso mais vezes, Jungkook. Andar de moto com você.
Eu desligo Bee, desço dela, tiro meu próprio capacete e digo, em resposta:
— Eu e Belinda estamos à disposição, Jimin-ssi.
Ele sorri, gesticulando brevemente para que eu o siga depois de deixar os capacetes.
Jimin logo abre a porta e nós somos recepcionados pelo interior luxuoso e silencioso de sua casa, enquanto tiramos nossos calçados e os deixamos ainda na entrada.
— Eu vou lavar as verduras de Jungoo — Ele anuncia, acendendo a luz principal. — Pega o vasinho da ração e o bebedouro dela no meu quarto, gracinha.
— Quando você ficou tão folgado assim? — Respondo, mas não faço cerimônias em seguir pelo caminho já conhecido, escada acima, em direção ao seu quarto surpreendentemente impessoal, surpreendentemente branco e surpreendentemente organizado.
Ao chegar, tateio a parede em busca do interruptor e acendo a luz, que logo me faz encontrar Jungoo na maior folga, deitada sobre a cama de Jimin com as patinhas traseiras para o lado, as orelhas para cima e o nariz movendo-se no ritmo acelerado de sempre.
Bonitinha demais.
— Boa noite, xará — Eu digo para ela, fazendo uma pequena parada só para acariciar o corpo gordo e peludo.
Quando interrompo o toque e sigo ao cantinho reservado só para ela no quarto de Jimin, vejo que ela logo salta da cama e vem para o chão. Tudo bem. Coelhos saltam. O problema é quando ela se aproxima de mim, cola o nariz ao meu pé por um tempo e logo começa a correr e a pular de um jeito completamente esquisito, como se estivesse sendo eletrocutada.
— Jungoo...? — Chamo, assustado.
A coelha parou de funcionar?
Seria engraçado, se não fosse desesperador. Mas ela continua com esses pulos desajeitados por longos segundos, correndo de um lado ao outro, e eu sigo com os olhos arregalados.
— Acho melhor levar num veterinário — Digo ao além, rapidamente me abaixando para pegar a coelha gorda antes de me adiantar para fora do quarto, descendo as escadas às pressas até encontrar Jimin na cozinha, lavando um pedaço de cenoura e algumas folhas verdes.
Assim que me vê, ainda com as mãos sob o jato de água da pia alocada na ilha de granito, as pequenas fendas que abrigam as íris escuras se contraem sob as sobrancelhas, em puro estranhamento.
— Eu pedi para trazer o vaso da ração e o bebedouro de Jungoo, não a Jungoo.
— Ela estava esquisita. — Disparo, com o coração igualmente acelerado em meu peito. — Acho que precisamos ir num veterinário.
— Esquisita como? — Sem demora, a expressão de Jimin viaja até expressar preocupação genuína, no lugar da confusão, e ele fecha a torneira antes de secar as mãos na calça e se aproximar, aflito. — O que aconteceu?
Eu não enfrento resistência em passar o corpo pequeno, cheio de manchinhas pretas naturais, quando ele estende os braços para tirá-la de mim e segurá-la com o cuidado de quem segura uma jóia rara.
— Pulando. Tipo se contorcendo. — Explico, ainda nervoso. A cada palavra dita, no entanto, a expressão de Jimin vai metamorfoseando mais uma vez, tomada por um súbito entendimento e um riso contido. —...e correndo de um jeito esquisito, como se estivesse levando choque... — Finalizo, sem entender como ele consegue rir agora.
— Filha... — Ele diz, esfregando o nariz pequeno na cabeça de Jungoo, a cada segundo mais incapaz de conter o riso que parece sincero. — Você ficou feliz por ver Jungkook-ssi, foi?
— Por que cacete você está rindo? — Questiono, verdadeiramente ultrajado.
— Jungkook... não tem nada de errado com ela. — Ele garante, sempre segurando-a com cuidado e destreza, enquanto ela estica o pescoço e curiosamente aproxima o nariz do queixo de Jimin. — Jungoo só ficou feliz, provavelmente por ver você. É assim que coelhos mostram felicidade.
Pouco a pouco, minha expressão vai neutralizando-se do espanto para que outro sentimento domine minha feição.
Ela ficou feliz só por me ver?
— Você deixou Jungoo feliz, Jungkook. — Jimin parece fazer questão de reforçar, agachando-se sobre o chão para soltá-la, antes de deslizar o indicador sobre a testa cheia de pelos. Dali de baixo, ele me olha: — Parece que eu não sou o único que sente o coração disparar sempre que você aparece.
Eu olho de Jimin para a coelha, da coelha para Jimin. E, sinceramente, não sei dizer qual dos dois é o maior responsável por essa sensação gostosa que carrego aqui dentro, agora.
Sem pensar demais, sem refrear o impulso, eu sinto o sorriso nascer com força e sinceridade.
— Eu adoro quando você sorri assim... — Jimin revela, só então me forçando a perceber a forma como ele me olha. Com esse carinho e admiração silenciosos expressos em sua feição suave a cada segundo de movimento de seu corpo até que ele volte a ficar de pé, pare em minha frente e segure cada lado de minha cintura em seus dedos gordos e pequenos. — Seus olhos ficam cheios de rugas. É estranhamente adorável.
— Pelo menos eu consigo enxergar enquanto sorrio. — Devolvo, sem tempo de retribuir seu toque carinhoso, porque logo Jimin dá fim a ele para revidar com um soco suave e brincalhão em meu peito.
— Eu sei que você gosta dos meus olhos, Jeon.
— Não só deles.
Sabe quando as palavras simplesmente escapam, de tão sinceras e naturais? Antes que sua mente consiga filtrar o que será dito, a boca já fez a revelação e a confissão escapa pela garganta, vibrando em cada corda vocal, desenhada pelos lábios numa resposta espontânea mais significativa que qualquer discurso ensaiado.
É o que acontece nesse exato instante. A resposta impensada, mas de forma alguma carregada de inverdade, preenche a cozinha luxuosa antes que o silêncio reivindique seu lugar.
Porque Jimin não é o único a ser pego de surpresa diante da confissão fácil. Eu mesmo sequer pude me prevenir.
Eu coço minha garganta com um pigarro pouco natural, obviamente desconfortável, e desvio meu olhar para a comida de Jungoo ainda sobre o balcão da pia.
— A comida dela. Não vai colocar?
Jimin desvia o olhar por um instante de mansidão, assentindo suavemente quando organiza as folhas e a cenoura num prato plastico estampado com desenhos de coelhos brancos e se abaixa mais uma vez, cuidadosamente deixando a comida perto de Jungoo.
— Eu estava pensando... — É quando volta a ficar de pé que ele diz. — Já estamos aqui. Você está com fome?
— Um pouco.
— Quer me ajudar a preparar algo para jantar? — Ele oferece, ansioso, ao recostar o quadril no balcão atrás de seu corpo.
Eu olho para ele, cuidadosamente.
É verdade que eu sou uma falha recorrente quando se trata de interpretar as ações alheias. É verdade também que Jimin foi resistente, até hoje, em me deixar conhecer seus gostos pessoais. Mas também é verdade que, mesmo assim, nas entrelinhas, eu fui capaz de desvendá-lo um pouco mais.
Porque nesse exato momento, eu tenho certeza de que sua primeira opção seria pedir comida. E, diante disso, sei que ele está sugerindo prepararmos o jantar nós mesmos para respeitar a conversa que tivemos no cinema e a minha confissão de que prefiro fazer algo que seja igualmente acessível para nós dois.
Jimin se esforça. Essa é minha terceira certeza.
Ele realmente se esforça por mim.
Apesar de todas as suas investidas propositalmente nascidas em busca de me provocar a vermelhidão que tão facilmente surge em minhas bochechas, ele parece determinado a me fazer sentir bem em sua companhia.
Hoje, honestamente... ele não precisa de esforço algum para que eu me sinta assim ao seu lado.
Mas saber que ele cuidadosa e sutilmente expressa seu zelo, talvez até desejando que eu sequer o perceba por trás de cada ação, me faz sentir ainda melhor. Não somente quando estou com ele. Quando penso nele, também.
Jimin inteiro, perto e longe, me faz bem.
Por cada percepção mínima que me acomete, eu sinto. Não a obrigação, mas o desejo, de retribuir.
Então quando ele diz: — Eu acho que tem asinhas de frango no congelador. Podemos fritar. — não me leva esforço, para sugerir:
— Frango frito é a minha comida favorita, Jimin-ssi. Nós podemos fazer a sua, dessa vez.
Não é algo surreal. Não é como se eu estivesse sugerindo viajarmos ao outro lado do mundo, para desfrutarmos de uma refeição cinco estrelas — algo que, aliás, não deve ser tão absurdo para ele.
Ainda assim, basta isso, uma sugestão pequena e bem intencionada, para que seus olhos se arregalem em surpresa. Mas apenas por um instante. No seguinte, ele sorri suavemente.
— Você não sabe qual é minha comida favorita, Jungkook-ssi.
— Estou tentando descobrir.
Ele continua parado por alguns instantes, até que respira fundo e desencosta do balcão junto a um sorriso suspeito. Quando abre a geladeira que provavelmente custa mais que minha casa e deve dar bom dia em dezenove idiomas diferentes, ele diz:
— Se prepare para descobrir algo mais gostoso que frango frito, gracinha.
Já descobri. O beijo dele.
Felizmente, dessa vez o pensamento sincero assim permanece. Somente como um pensamento, e nada me provoca a sensação familiar de bochechas vermelhas enquanto Jimin tira um pequeno depósito de vidro e despeja tudo que tem dentro dele em uma frigideira.
Parece carne. Bulgogi. Nada demais.
— Seu prato favorito é bulgogi requentado? Ou coisas requentadas em geral? No último caso, você seria muito feliz morando em minha casa...
Jimin ri suavemente, girando o controle do fogão ao mínimo. Na sequência, ele pega dois pratos e coloca duas fatias de pão em cada. Ao longo do processo, diz:
— Bulgogi é um prato tradicional, Jungkook-ssi. Olhe para mim. Você acha mesmo que eu gosto de coisas tradicionais?
— Eu acho que você gosta de coisas esquisitas. Eu, por exemplo.
— Não gosto muito de como você diz isso. Parece que é sempre um jeito de se colocar para baixo.
Não há muito o que eu possa dizer agora, então apenas fico calado, silenciosamente observando Jimin usar uma espátula para mexer a carne na frigideira. Leva alguns instantes até que ele traga sua atenção até mim mais uma vez. Ao fazê-lo, sorri suavemente. E repete, como tantas vezes já disse:
— Você é perfeito, gracinha. E esse seu complexo meio bruto, meio tímido e meio desajeitado que você acha estranho, é o que te faz tão perfeito assim.
Eu desvio meu olhar na direção de Jungoo, por não conseguir sustentar a atenção intensa de Jimin. Não depois do que ele diz.
— Nem minha autoestima baixa posso ter, perto de você. — E reclamo, mas não verdadeiramente incomodado.
Jimin gargalha, negando suavemente.
— É. Não perto de mim. Espero que longe também não. — E anuncia, antes de desligar o fogão e fazer o segundo anúncio: — Está pronto!
Eu não faço nenhum julgamento verbal enquanto vejo Jimin dividir a carne entre os dois pratos, montando um sanduíche em cada antes de bater uma mão na outra, orgulhoso e satisfeito com o resultado.
— Isso é sua comida favorita? — Segurei até agora, mas aqui está. O julgamento. — Pão e carne requentada?
— Pão com carne. — Ele corrige. — A carne estar requentada é só um complemento.
Eu percebo a risada nascendo em mim, enquanto ele pega uma jarra de suco na geladeira, duas taças e gesticula para mim.
— Vem. Vamos comer.
Com um breve movimento suave, eu faço uma negativa silenciosa e mantenho meu sorriso quando pego os dois pratos e o sigo até a mesa de jantar, na sala.
— Eu acreditei que sua comida favorita seria algo tão luxuoso que eu nem saberia pronunciar o nome. — E confesso, sentando ao seu lado.
— Eu fui pobre por mais da metade da minha vida, Jungkook. Eu também não sei pronunciar o nome da maioria dessas comidas.
Eu tento não fazer nenhum comentário sobre como é difícil de acreditar que Jimin já viveu uma vida como a minha e, hoje, vive assim.
No lugar, ocupo minha boca ao despretensiosamente dar a primeira mordida no sanduíche que ele preparou, sem deixar de notar seu olhar ansioso à espera.
— Perfeito, não é? — Ele diz, enquanto mastigo. E eu nem me dou ao trabalho de engolir a comida, antes de responder:
— É pão com carne. É normal.
— Saia da minha casa agora.
Eu sei que ele está apenas provocando. Sei que é humor. Mas ele fala numa seriedade tão convincente que logo explodo numa risada capaz de provocar um enorme acidente, caso eu não cobrisse a boca com a mão a tempo.
— Eu nunca desrespeitei seu frango, Jeon. — Ele insiste, dessa vez perdendo o tom sério e se desmanchando num riso gradualmente mais intenso, ao me empurrar suavemente pelo ombro. — Então respeita o meu pão com carne.
Eu balanço a cabeça numa concordância ainda fragilizada pelo riso, simultaneamente usando meus dedos para pegar um pedaço de carne que escapou do sanduíche e levando-o diretamente à boca.
— Ainda acho que não deveria ser a comida favorita de ninguém. Mas é bom finalmente poder desvendar você, Jimin-ssi.
A risada de Jimin perde força, ancorando num sorriso suave e sincero enquanto ele desliza os dedos por sua taça.
— O que mais você quer saber? — E pergunta, com a voz mansa, alguns instantes depois.
— Você realmente vai me deixar te conhecer melhor? Logo você, que tem tantos segredos?
Ele encolhe os ombros, sutilmente.
— Deixar que você me conheça melhor e ver suas reações a cada descoberta me faz apaixonar ainda mais, Jungkook.
— Parece arriscado.
— Muito.
Eu umedeço meus lábios, percebendo a curvatura suave nos cheios de Jimin, que brilham sob a fina camada de molho manchando-os. Ele parece perceber, então não demora em usar a língua para limpá-los. E isso basta para vencer a barreira cada vez mais frágil que me cerca e me faz hesitar cada vez menos antes de fazer coisas como a que faço a seguir, ao apoiar minha mão sobre a mesa e me inclinar para o lado, segurando seu queixo com cuidado para colar minha boca à sua.
Antes de me afastar, garanto:
— Eu quero correr o risco, Jimin-ssi.
Jimin pisca, preguiçosamente. Desse jeito característico, desajeitado, que sempre me impacientou tanto e hoje me faz querer sorrir a cada vez que consigo antecipar suas piscadelas únicas.
E, da mesma forma, antecipo o sorriso que volta a nascer. Antecipo seus olhos fechando-se sob os efeitos dele. E quase consigo antecipar o que ele diz, na sequência:
— Eu também quero, gracinha.
Meu próprio sorriso ganha forma e força, antes de encontrar o seu em mais um selar de lábios que parece selar também nosso acordo não verbalizado.
Estamos, os dois, abaixando a guarda. Estamos cedendo um ao outro. Completa e verdadeiramente.
E é com essa permissão que finalmente posso descobrir:
— Então me diz... qual foi sua primeira tatuagem?
Jimin sorri, simultaneamente usando as pontas dos dedos para arrancar um pedaço de seu sanduíche. Ainda de boca cheia, ele bate uma mão na outra para limpar os farelos e estende seu braço esquerdo em minha direção. Ao puxar a manga comprida de sua blusa, aos poucos são reveladas, mais uma vez, as cicatrizes em seu pulso. Por último, logo acima destas, ele exibe um outro tipo de cicatriz. Em tinta preta, formando desenhos simples de hangul sobre sua pele.
— So-hui? — Questiono, ao perceber que forma um nome.
— Minha mãe. — Ele diz, com um sorriso morno nos lábios enquanto olha para a tatuagem. — Minha primeira tatuagem foi o nome dela.
Não me leva grandes instantes de análise para perceber o local em que ele tatuou o nome da própria mãe, assim como facilmente lembro de suas palavras ao garantir que não ficaria ofendido, ao me ver questionar sobre as marcas que carrega no pulso.
É por isso que, cuidadosamente e até um tanto receoso, questiono:
— Você tatuou acima das cicatrizes para lembrar dela? E não se machucar mais?
Assim como me garantiu da primeira vez em que se abriu o suficiente para falar sobre suas marcas comigo, Jimin não se ofende. Ele apenas nega, num gesto frágil.
— Eu aprendi a não me machucar por mim, Jungkook-ssi. Pelo meu bem. É em mim que penso e é por mim que aprendi a resistir ao impulso.
Eu posso insistir? Tentar buscar qualquer outro significado?
Várias de minhas tatuagens têm significados profundos, mas não é sempre que me sinto confortável para desdobrá-las em palavras para justificar a outro alguém o que significam, por que foram escolhidas e eternizadas no local em que cicatrizaram.
Na maioria das vezes, perguntas assim me impacientam. Mas, novamente, muitas coisas nessa vida me tiram a paciência.
Por isso, falho em fazer um paralelo e delimitar os limites de Jimin, para reconhecer se devo seguir com minha curiosidade ou se devo buscar outras conversas. Porque, de certo, dúvidas sobre ele não me faltam.
— Você quer saber por que eu tatuei aqui, não é? — E diante de minha hesitação duradoura, ele pergunta, com um riso suave.
— Se você não se incomodar de falar sobre isso. — É minha resposta.
Jimin nega mais uma vez, suave, manso, sem se ofender ou impacientar.
— Essa é minha dor, Jungkook — Ele explica, pousando os dedos sobre as cicatrizes paralelas. Depois, arrasta as digitais mais para cima, até pousar sobre o nome da mãe: — E esse é o meu amor. O maior de todos. Tatuei o nome dela tão perto das minhas cicatrizes para lembrar que eu tenho dores, mas tenho amor também. E tatuei acima, para lembrar que o amor é maior.
Eu me percebo preso a um breve momento em que reação nenhuma é esboçada, atento ao instante em que Jimin volta a cobrir até o pulso, com a manga comprida.
Acho que é no agora que percebo por que não gosto de falar sobre minhas tatuagens para qualquer um que se veja curioso sobre elas. Porque algumas são íntimas demais para serem traduzidas para pessoas que não se importam em nos conhecer além das marcas de tinta.
Explicar uma tatuagem com um significado tão pessoal é como se abrir e se mostrar profundamente para alguém que se importa somente com a superfície.
Às vezes, é só preguiça de explicar, também.
Mas não é o que acontece aqui. De bom grado, Jimin faz sua confissão. E de bom grado, eu me percebo ainda mais impulsionado a conhecê-lo profunda e intensamente.
— Posso perguntar mais alguma coisa? — E questiono, então.
— Já disse que sim, gracinha. — Jimin sorri, alegre. — O que quer saber agora?
— Não... sei? — Confesso. Nem sei por onde começar. — Escolhe algo para me dizer. Algo que eu ainda não saiba. Eu só acho que quero te conhecer melhor.
Eu vejo a breve aparição que sua língua faz entre os lábios, umedecendo-os antes que ele se desfaça numa risada e abaixe o olhar, entregando-o ao sanduíche já comido pela metade, em seu prato.
E é quando volta a olhar para mim, que ele confessa:
— Eu já estou mais apaixonado que estava no início do encontro, Jungkook-ssi... cuidado...
— Eu já disse que quero correr o risco, Jimin-ssi.
— É sério... se continuar assim, até o fim da noite você vai ser o meu pão com carne.
— Eu vou ser uma comida completamente comum?
Ele me repreende com esses olhos bonitos, rasgados, intensos, mas não me repreende com a voz mansa e sorrateira.
— Considere que pão com carne é um eufemismo para amor, gracinha.
O eufemismo foi explicado cedo demais, então não ameniza absolutamente nada. E eu, em toda minha qualidade desastrada, pago de doido.
— Então, eufemisticamente, a pessoa que eu vou amar é o meu frango frito? — Devolvo, sob sua filosofia cafona.
— Exato. — Ele diz, suavemente tamborilando os dedos sobre a mesa, ansioso, até questionar: — Você acha que eu posso ser o seu frango frito, Jungkook?
Jimin está literalmente perguntando se eu posso amá-lo.
Não importa se está usando uma metáfora, ao fazê-lo. Não ameniza a sensação que eu tenho ao ter uma questão como essa feita, tão de repente. Porque assuntos assim são entraves naturais para mim. Não sei me expressar sobre eles.
E eu não sei a resposta.
Eu gosto da companhia de Jimin. Gosto do seu beijo, dos seus toques, do seu riso e da sua voz. Eu gosto de conversar com ele, de descobri-lo e entendê-lo, e das palpitações que ele me provoca, sempre que nos vemos.
Mas amor?
As únicas pessoas que amo são meus pais. E meu irmão. É o sentimento mais genuíno que existe em mim, intenso, nascido, criado e reforçado por laços de sangue, por anos de cuidado mútuo.
É possível amar outro alguém? Nessa mesma intensidade, mas numa natureza essencialmente distinta e romântica?
— Ei. — Eu acho que Jimin percebe a forma como sua pergunta tão facilmente me provocou o que precede um curto circuito humano. E ri, divertido. — Não precisa responder, gracinha. Desculpa por ter perguntado. Sei que você não fica tão confortável em conversas assim.
— Eu só... — Tento buscar uma justificativa para minha reação. Ou para a ausência de uma. — Eu não sei o que te dizer, Jimin.
— Tudo bem. De verdade. — Ele garante. Parece sincero. E sorri, cuidadosamente esticando sua mão até me alcançar, tocar o rosto, acariciar a bochecha.
Eu sinto seu polegar deslizar suavemente sobre a pequena cicatriz que tenho, antes que seus olhos reencontrem os meus e sua voz traga uma nova confissão:
— Mas só para você saber, Jungkook... eu acho que é você. O meu pão com carne, acho que vai ser você.
É estranho, não é? Jimin me compara a um pão com carne e de repente eu me vejo completamente sem reação, sentindo o calor característico nascer em meu pescoço e se espalhar não só pelas bochechas, mas até as orelhas também. Eu estou completamente vermelho.
— Aliás... — É ele que diz, talvez tentando amenizar a situação. — Quer saber mais um motivo? Dos que me fazem gostar tanto de você.
— Você não me disse nada de ruim.
— Não preciso mais. — Ele garante, sem me provocar qualquer satisfação ao afastar seu toque. — Eu tinha um motivo para revelar cada razão somente depois de te dizer coisas ruins, Jungkook.
— E qual era?
— Deixar claro para você que eu sei que você tem suas falhas. Todos nós temos. Não é por não perceber suas atitudes fora de hora que eu me apaixonei. Eu me apaixonei e continuo me apaixonando por você inteiro, Jungkook-ssi. E eu quero que você saiba disso. Que assim como qualquer pessoa, você tem seus defeitos. E isso não te torna menos admirável, nunca.
A justificativa inesperada me pega meio de surpresa, é impossível negar. Mas diferente de tantos outros momentos, em que situações como essa me provocam nada além da falta de reação imediata, agora, algo acontece.
Porque eu percebo que a recíproca é verdadeira.
Eu venho dizendo coisas que gosto em Jimin há tempos. Sempre tem algo a ser dito.
Acho que é assim para todo mundo. Nossos defeitos estão aí. Mas, para cada um deles, podemos sempre listar algo de bom em nós mesmos.
E é por isso, pela percepção tardia, mas certeira, que me percebo vítima de um impulso do qual não me arrependo. Sem precisar apontar absolutamente nada de negativo em Jimin, eu digo:
— Eu gosto do seu jeito de pensar, Jimin. Gosto de verdade.
— E eu gosto de como você se preocupou com Jungoo.
É. Definitivamente, acho que prefiro dessa forma. Sem precisar escorar em comentários impacientes para dizermos algo de que gostamos um no outro.
— Certo. — Jimin decide, com um sorriso verdadeiramente feliz. — Eu quero fazer uma pergunta também. Te conhecer melhor.
— O que? Pode mandar.
— O que você quer fazer no futuro? Supondo que nós vamos conseguir solucionar as coisas a tempo... o que você planeja?
Eu gostaria de dar uma resposta cheia de certeza. Mas esse não sou eu. Eu estou perdido quanto ao futuro, não sei o que será de mim nele.
— Não sei. — Assim, sou dolorosamente sincero. — Meu futuro é uma incógnita.
— Você pretende continuar em Busan?
— Meu pai... — Merda. Ainda me sobe um nó na garganta ao citá-lo. Então respiro fundo, sob o olhar paciente de Jimin. — Ele sempre me disse que eu poderia conquistar o mundo inteiro, se quisesse. Que eu deveria ir para Seul, talvez para fora do país. E eu gostava de pensar nisso, mas desde que ele morreu eu me sinto... preso. A Busan e à memória dele, que pertence à cidade.
Jimin ouve com atenção. Eu percebo sua entrega a cada palavra dita. Seus olhos atentos, sua expressão, o impulso para voltar a me tocar, mas recuando no último instante.
Não precisava recuar, Jimin-ssi.
— Eu ainda não consigo falar sobre ele. — Suspiro, massageando minha nuca para tentar aliviar a tensão. — Foi mal.
É estranho. Trazer meu pai à tona não foi culpa de Jimin. Ainda assim, ele parece se sentir culpado.
— Tudo bem, Jungkook-ssi. — Ele diz, mais uma vez. Com a voz tensa e um sorriso sem sinceridade alguma, anuncia: — Eu também tenho algo sobre o que não consigo falar.
— Acho que todos nós temos. — Percebo, sem muita satisfação. Mas Jimin nega.
— Isso é algo que eu preciso te dizer, Jeon. Mas eu ainda não consigo.
Meus olhos se contraem em estranheza sincera, diante de sua confissão. Tenho vontade de perguntar a que ele se refere, mas é estupidez. Jimin acabou de dizer que não irá revelar. Não agora.
— Eu vou deixar de ser covarde. Eu vou juntar coragem e vou te dizer o que precisa ser dito. — Ele promete, antes que eu diga algo. — Eu prometo que vou dizer.
As contradições se firmam, mais uma vez. Jimin está abertamente revelando que esconde algo que eu preciso saber e, ainda assim, o que consigo pensar é que confio nele. Eu confio. E acredito que ele me dirá, quando estiver pronto.
— Beleza, então. — E essa é a magnífica resposta. — Eu espero.
Jimin não sorri. Por um instante, não faz nada. Quando faz, ele arrasta sua cadeira até encostá-la na minha, toca minha coxa e se inclina. Me beija a bochecha. Uma, duas vezes, suspirando contra minha pele. E diz:
— Obrigado. Mas só para você saber... — Com sua mão escalando até meu peito, ele diz: — Acabei de me apaixonar um pouco mais.
— Seu pão com carne que se cuide.
Que?
Sério, Jungkook?
Minha sorte é que Jimin ri mais uma dessas risadas gostosas que, hoje, não entendo como um dia fui capaz de odiar.
— Mas ok. Sua vez. — Eu tento seguir, para nos livrar de vez do que foi trazido pelas últimas confissões. — O que você pretende fazer, se conseguirmos solucionar tudo a tempo?
— Você já sabe, gracinha. Sair da Hangsang e iniciar meus estudos numa academia de dança. Mas... — Pondera, de repente. — Tem outra coisa. Que você provavelmente sabe, também, mas que ainda não revelei.
— Hm? — Murmuro, curioso, movendo meu rosto o suficiente para olhá-lo melhor, dividindo-me entre ele e o sanduíche. — Sou adivinho, não. O que é?
Jimin sorri e os olhos suavizam, até se tornarem tão mansos quanto a carícia contínua que ele faz em minha coxa.
— Se nós conseguirmos, Jungkook, eu quero ser seu namorado.
Oh, cacete.
— Eu sei que altura não é sua característica mais marcante, mas você realmente deveria sonhar mais alto, Jimin.
Sua mão continuamente em minha coxa aperta meus músculos em uma repreensão suave, acompanhada da expressão séria que ele tenta sustentar antes de se render a uma risada incrécula.
— Eu sou quase tão alto quanto você. — É o que ele diz, então.
— Se você realmente acredita nisso... quem sou para negar.
Mais uma repreensão, dessa vez em um tapa brincalhão, mas sonoro, que estala assim que sua palma se choca contra minha perna.
É bonitinho. Jimin, de fato, tem a estrutura física menor que a minha — na largura dos ombros e do quadril, principalmente. Perto de mim, ele parece pequeno, meio miúdo, mas não em questão de altura. Não sou tão mais alto que ele.
Ainda assim, esse parece um tópico que lhe tira do sério, numa maneira inocente da qual pretendo tirar vantagem agora que descobri como provocá-lo assim como ele adora me provocar.
Antes que eu propriamente insista na terceira provocação consecutiva, Jimin se adianta, revertendo o rumo de nossa conversa de volta para aquele que quase foi evitado:
— E não mude de assunto, Jungkook-ssi. Eu estou falando sério. Se tudo der certo, eu quero namorar você. Oficialmente.
Meus pontos fracos, pelo visto, são muito mais expostos que os seus, e Jimin não tem moderação ao atiçá-los. Porque acontece novamente. A falta de jeito, a aceleração no peito, sobrepostas com uma resposta muito mal calculada:
— Se der certo, ok. Eu namoro você.
Não é mal calculada porque é mentirosa. A ideia de namorar Jimin, apesar de parecer precipitada, não me desperta verdadeira resistência como a ideia geral de namorar, sem pensar em alguém específico, me provocava.
Mas é um plano para o futuro que sequer sabemos se algum dia se concretizará, menos ainda quando. Tudo que sabemos é que o tempo está acabando, mas não sabemos se temos dias, semanas ou meses até a contagem regressiva findar.
E, pior, é uma promessa que me parece um tanto inconsequente. Como eu, que nunca namorei uma pessoa que seja, estou me prometendo como namorado de alguém?
— Eu vou lembrar disso, Jungkook. — Jimin diz, com a expressão séria ao aproximar sua mão e erguer o dedo menor, que é inusitadamente pequeno, para mim. — Prometa do jeito certo.
Eu olho para o mindinho oferecido, depois para ele. E suspiro, antes de expulsar uma risada pelas narinas e cobrir a mão inteira de Jimin com a minha, fechando minha palma ao redor de seu punho.
Por último, e reconheço a impulsividade do gesto, aproximo meu rosto do seu até pressionar minha boca em sua bochecha num beijo demorado.
E digo, quando me afasto e vejo seus olhos surpresos porque, é, essa é a primeira vez que beijo algo além de sua boca:
— Sem promessas de mindinho, dessa vez. Você vai ter que acreditar em mim, Jimin-ssi.
Ele pisca lentamente, não sei se atordoado dessa forma pelo repentino beijo carinhoso ou pelo pedido negado. No fim, apenas move os lábios indefinidamente, atrapalhado, até conseguir dizer:
— Certo... eu vou acreditar... Jungkook-ssi.
São poucas as vezes em que isso acontece, mas sempre me provoca reações muito provavelmente desproporcionais. Quando vejo que não sou eu, mas Jimin, quem perde a fala e se atrapalha inteiro.
Mas nada disso se prolonga por muito tempo, porque não demora para que sigamos por um novo caminho para desvendar o mistério que sempre foi Park Jimin.
São revelações leves, talvez até banais, mas que rendem conversas fáceis enquanto nos dividimos entre as palavras e os sanduíches. Revelações que não carregam qualquer cunho de profundidade real, mas que me levam inevitavelmente a conhecer melhor Jimin e seus gostos, e que o fazem sentir mais confortável para revelar cada um deles, numa sequência descontraída e despreocupada.
Eu descubro que, apesar de ser amante fiel de filmes de terror, o filme favorito de Jimin é uma animação, A viagem de Chihiro.
Descubro, em leve tom de julgamento, que seu chocolate favorito é o branco e que ele odeia milho, o que me faz questionar seriamente que tipo de pessoa consegue odiar milho.
Ele revela, através de fotos em seu celular, que seu gosto para sapatos consegue ser mais estranho que meu apreço inegável por botas assassinas e que, apesar dos fios escuros atuais, já teve o cabelo de várias cores diferentes.
E que, posso tomar essa como uma percepção pessoal, ficou bem com todas elas.
Jimin se mostra um pouco mais de verdade ao longo do jantar, depois quando voltamos à cozinha e eu lavo a louça suja para que ele seque e guarde.
E apesar de em vários momentos pensar, até verbalizar, o quanto algumas de suas revelações são esquisitas, a mesma sensação existe sob cada uma delas, continuamente. A de alívio por, finalmente, perceber Jimin confortável o suficiente para parar de se esconder de mim.
— Foi mal, mas você não tem mais credibilidade desde que revelou que gosta de ervilhas, mas odeia milho. — Pondero, rapidamente secando as mãos no pano de prato deixado por ele, enquanto ele guarda a panela de volta no armário.
— Ervilha é bom, milho é ruim. As coisas são assim, Jungkook.
— Não faz sentido. — Insisto, recostando meu quadril no balcão assim que viro para ver Jimin fechar a porta do armário à frente e virar sobre os pés para me olhar diretamente.
Com o olhar ferino e os lábios pressionados num gesto que entrega sua falta de concordância sobre minha declaração, se aproxima com passos sorrateiros até parar frente a frente com meu corpo. Enquanto eu me empertigo pela proximidade e até arrumo minha postura para estufar o peito abaixo dos braços cruzados, Jimin se inclina um tanto mais e me mantém cativo na frágil prisão criada por seus braços, quando eles se esticam para que suas mãos se apoiem na superfície de granito, uma de cada lado de meu quadril.
Ele não fecha os olhos, tampouco eu o faço, quando aproxima sua boca e pressiona a minha num beijo demorado enquanto miro meu olhar na direção do seu, um pouco mais abaixo.
Ao se afastar, ele diz, com toda a seriedade do mundo:
— Milho é ruim.
Sua insistência e todo o seu teatro para repetir o que é uma mentira me faz rir e me faz puxá-lo com cuidado, pelo cós da calça. Segurando-o por aqui, eu envolvo seu pescoço com meu outro braço, apenas esse, e devolvo o beijo suave em sua boca, para insistir que:
— Ervilha que é.
Jimin gargalha, desmanchando seu corpo contra o meu até deitar seu queixo em meu ombro e pressionar um beijo em meu pescoço quando escorrega as mãos do balcão até me segurar pelo quadril, com esses dedos curtos relembrando do quão firmes podem ser.
— Quando tiver ervilha em sua comida, pode colocar no meu prato, então.
— Eu definitivamente vou fazer isso.
Jimin se afasta, sorrindo brevemente, e pega sua bolsa de treino deixada sobre o balcão. Quando pendura a alça no ombro, estende a mão, segura a minha e diz, quando começa a me guiar para fora da cozinha:
— E eu te pago com todo o milho e todo o pimentão que estiver na minha.
— Pimentão eu entendo. — É o que digo, sem resistência ao segui-lo em direção às escadas, com seus dedos entrelaçados aos meus. — Eu gosto, mas entendo que você não saiba apreciar. Mas o milho é inaceitável.
— É melhor você começar a se acostumar, Jungkook-ssi. Porque é um cara que não gosta de milho que você vai acabar namorando.
— Quanta segurança, Jimin-ssi. Nem parece que acredita que não vamos conseguir.
— Tenho meus momentos.
Eu sorrio mais um tanto, aceitando o silêncio que nos acompanha até chegarmos ao seu quarto, que continua com a luz acesa depois que eu saí em disparada com Jungoo nos braços.
Sem fazer grande caso, Jimin solta minha mão e deixa sua bolsa sobre a cama, antes de seguir ao cantinho da coelha e pegar o vaso da ração e o bebedouro que, na agonia, acabei deixando para trás.
— Vou só trocar a água dela e trazer a ração. — Ele avisa, seguindo para fora do quarto. — Já volto.
Eu só respondo com um murmúrio, tomando a liberdade de sentar em sua cama e olhar ao redor não pela primeira vez, para confirmar como Jimin é surpreendentemente organizado e como tem um quarto surpreendentemente impessoal.
Sem muito para me entreter, e definitivamente sem coragem para me aventurar por seu banheiro novamente, eu pego meu celular e apoio meus cotovelos sobre as coxas, quando leio as últimas mensagens de Junghee.
Mãe tá perguntando que horas você volta pra casa (é Junghee) (21:52)
Tá aproveitando o encontro?? Tô esperando você chegar pra me contar como foi!!! (21:53)
Não sei que horas volto, moleque. Não espere acordado. (22:09)
— Pronto. — Jimin anuncia, ao voltar ao quarto e seguir ao cantinho de Jungoo. — Acho que ter visto você compensou o atraso no jantar. Talvez ela não me mate hoje à noite.
— Cadê ela? — Pergunto, ao perceber que ele trouxe a água e a ração, mas não trouxe a coelha.
— Ficou lá embaixo. Ela gosta de passear pela casa, às vezes. Volta sozinha para o quarto quando cansar.
Ela sabe o caminho?
— Fofa. — Murmuro, sem refrear o impulso.
— Ela é. A coelha brava mais fofa do mundo. — E Jimin facilmente concorda, com esse sorriso rendido.
— É fofo, também. Como você é todo derretido por ela.
Jimin se aproxima mais uma vez para pegar novamente a bolsa deixada na cama. Antes de se afastar, segura meu queixo, apertando-o num carinho desastrado quando pressiona os lábios num sorriso.
— É. E tem outro coelho que também me deixa rendido assim, gracinha.
É só isso. Ele me chama de coelho, aperta meu queixo uma última vez e se afasta, caminhando ao armário enquanto eu fico para trás, sentado em sua cama, tentando limpar a falta de jeito com um pigarro forçado.
Enquanto isso, Jimin paciente e cuidadosamente retira cada item guardado em sua mochila e metodicamente os devolve ao lugar correto no enorme armário de portas de correr espelhadas.
E é com uma delas aberta que percebo, depois de vê-lo pendurar sua nova blusa do Itachi em um dos cabides.
— Você tem muitas blusas de manga curta, Jimin-ssi.
— Hm?
— Seu armário está cheio delas, mesmo que você só use blusas de mangas compridas — Comento, percebendo que estas últimas também ocupam boa parte dos cabides. No entanto, a proporção é esquisita.
A última coisa que Jimin faz é tirar a minha blusa listrada que guardamos junto às suas coisas e pendurá-la no ombro antes de deixar a bolsa, vazia, junto a tantas outras.
Ele não diz nada, até que senta ao meu lado, de frente para o armário ainda aberto, e espalma as mãos atrás do quadril, reclinando-se um tanto mais, umedecendo os lábios e inclinando a cabeça para o lado. Tem um sorriso pequeno, com os cabelos escuros emoldurando a face como cortinas abertas que evidenciam uma pintinha na testa.
— É. Mais uma descoberta para você... — E diz, olhando para a barra suspensa cheia de blusas. — Eu amo camisas assim. Estampadas, de botões, com mangas curtas. São minhas favoritas.
— Mas nunca usa.
— Nunca uso. Você sabe por que. — Comenta, com as mangas longas e brancas da blusa que veste cobrindo o que ele tanto quer esconder. — Mas eu continuo comprando mesmo assim.
Meus olhos abandonam sua imagem reflexiva, acho que um pouco frustrada, e voltam às blusas à frente.
Não penso muito, antes de pedir:
— Veste pra mim.
Eu acho que Jimin é pego de surpresa por meu pedido sincero. Ele murmura algo com alguma confusão, enquanto eu peço mais uma vez:
— Deixa eu ver como você fica vestindo sua favorita. Só estamos nós dois, aqui. Assim você consegue vestir, não é?
Jimin umedece os lábios, antes de sorrir num misto incoerente de felicidade genuína e malícia.
— Eu visto por você, gracinha — E diz, ao ficar de pé. Deixa minha blusa listrada sobre o colchão e na sequência cruza os braços para puxar sua blusa branca até tirá-la do corpo, exibindo os braços, abdômen, peito e costas cobertos por tatuagens. Já seguindo ao armário, ele avisa: — Mas se prepare. Eu fico irresistível com ela.
Eu não tenho dúvidas. Mas, honestamente, Jimin fica irresistível vestindo qualquer coisa, eu acho. Inclusive, e reafirmo enquanto observo suas costas nuas, quando não está vestindo nada além de uma calça.
Deve ser irresistível quando não veste nada, também.
Felizmente alheio aos pensamentos que atravessam minha mente, Jimin tira uma das camisas de mangas curtas do cabide, encaixando-a nos braços antes de virar e me encontrar sentado no mesmo lugar, reclinado para a frente e com meus antebraços apoiados nas coxas e minhas mãos pendendo entre minhas pernas.
Ainda com a blusa aberta, Jimin dá o primeiro passo de volta, sem se importar em fechá-la. Volta assim, com ela inteira desabotoada, o tecido preto estampado com flores brancas abraçando a estampa de sua própria pele exposta, até que ele para em minha frente e me faz reerguer o corpo, ainda sentado sob seu olhar que, agora, vem de cima.
— Essa é minha favorita, gracinha.
Eu deslizo a língua entre os lábios sem propositalmente desejar fazê-lo. Em seguida, faço um movimento de concordância.
— É bonita, Jimin-ssi.
— É? Você acha que eu deveria me vestir mais assim?
— Quando se sentir mais confortável... sim. Acho que sim. — Mais uma vez, uma resposta sincera, seguida por um complemento igualmente verdadeiro: — Você fica bonito de qualquer jeito.
Jimin pisca lentamente, num gesto demorado e carregado, com os lábios cheios pressionados sem qualquer sorriso, apesar da minha confissão.
O nariz pequeno e delicado é o centro de sua expressão impenetrável, mas é entre seus olhos pequenos e seus lábios cheios que minha atenção se alterna, quando a mão de Jimin cuidadosamente pousa em minha bochecha, acariciando-a suavemente.
— De novo, gracinha... — Tanto tempo depois, ele diz, em tom indefinido, que flutua em ondas sonoras suaves desenhadas por sua boca que me torna cada vez mais cativo.
Eu luto para manter meus olhos nos seus, resistindo ao impulso de derramá-los em seus lábios, mas me entrego ao desejo de tocar sua coxa com minha mão, deslizando minha palma acima, até pousá-la em seu quadril enquanto ainda o tenho aqui de pé, entre minhas pernas.
— De novo o que, Jimin? — E finalmente questiono, ainda que, por alguma razão, consiga antecipar a resposta que logo é dada:
— Me apaixonei ainda mais por você.
Silêncio vem na sequência em que nossos olhos se reencontram e não fogem mais. Nem mesmo sua boca me atrai, novamente, quando nossas atenções recaem inteiramente nas íris à frente um do outro. E é com meu olhar capturado pelo seu que meu corpo age, nem sei dizer se conscientemente, e minhas duas mãos agarram as pontas soltas da blusa aberta de Jimin, puxando-o em minha direção num pedido incerto que, com certeza oposta, é facilmente atendido.
Ele vem, sem pressa, quando chamo. Faz afundar um lado do colchão, quando apoia o joelho sobre ele. Depois sobe o outro. Envolve meu quadril com suas pernas dobradas. Eu chamo mais uma vez, puxando-o pela blusa um tanto mais. E ele vem. Ele senta sobre minhas coxas.
As mãos pequenas sobem ao meu pescoço, segurando-o com carinho. O polegar alcança meu rosto, deslizando sobre a linha de minha mandíbula, lentamente indo e voltando numa carícia mansa e intencionada.
Sua testa toca a minha; a ponta de seu nariz se arrasta sobre o meu. Há alguma distância entre nossas bocas, mas eu sinto suas palavras sussurradas contra meus lábios, quando Jimin pede:
— Diz mais uma vez. Que me acha bonito. Repete, Jungkook...
A proximidade não nos impede de ainda prender nossos olhos uns nos outros; nos olhamos, tão de perto, com mais intensidade. Como se pudéssemos ver mais que a superfície.
Mas eu fecho essa janela quando lentamente fecho também minhas pálpebras e deslizo meu nariz sobre sua pele, até fazer seu rosto virar um pouco mais para o lado, deixando sua bochecha macia sob minha boca. E eu o beijo bem aqui. Na bochecha, enquanto minhas mãos soltam sua blusa e correm sob ela, tocando-lhe diretamente a pele tatuada até que minhas palmas estejam pressionadas em suas costas.
Ainda sentindo a bochecha gorda sob minha boca, eu atendo seu pedido:
— Você é lindo, Jimin.
Jimin sabe. É impossível que não saiba a verdade. Ainda assim, ele suspira, aperta os dedos em meu pescoço e aproxima seu peito como se fosse a primeira vez a ouvir.
Ele volta a mover o rosto. Sua boca desliza sobre a minha e sua respiração aquece minha pele antes que todo o resto em mim sinta o calor dos lábios de Jimin capturando o meu superior, sugando-o enquanto sinto, ao mesmo tempo, sua língua massageando-o.
Eu não me oponho. Aceito o toque, que se prolonga enquanto eu retribuo ao alcançar seu lábio inferior com minha própria língua, deslizando-a sobre a maciez da boca volumosa e única.
Jimin suspira durante o toque intenso, deslizando as unhas por meu pescoço, arranhando a pele sensível.
— É por isso que você me olha? — Com a respiração lenta, o beijo interrompido e sua boca se desenhando contra a minha a cada palavra, ele pergunta. — É por me achar tão bonito que você não conseguiu parar de olhar para mim enquanto eu trocava de roupa ao seu lado?
Ah, esse é um novo recorde.
Jimin realmente demorou para trazer esse assunto à tona, mas eu deveria saber que, apesar de não me provocar no exato momento em que aconteceu, ele não deixaria passar batido.
— Você pode me olhar, Jungkook. Eu quero que você olhe.
A surpresa não é a ausência de qualquer provocação em seu tom. O que me surpreende é minha reação.
Talvez seja toda a atmosfera que rapidamente mudou entre nós dois, talvez seja o desejo pulsando forte. Mas eu reajo. Eu pressiono minha boca contra a de Jimin, mas recuo quando sinto seus dedos correndo até minha nuca, entrelaçand0-se aos meus cabelos. Me afasto minimamente, beijo seu queixo.
Me afasto, beijo a linha da mandíbula.
Me afasto.
Deslizo meu nariz por seu pescoço.
Deslizo meus lábios sobre a pele, sentindo a reação imediata de Jimin quando ele puxa meus cabelos com mais força.
Deslizo minha língua de baixo a cima. Volto a pressioná-la no ponto de união entre pescoço e ombro. Toco-o com a língua mais uma vez e finalizo ao pressionar meus lábios, sugando a pele logo ao fim.
— Jungkook-ssi...
É apenas isso que ele diz. Parece um pedido incompleto, que pode ser tanto um apelo para que eu interrompa o toque ou um apelo para que continue. Por seus suspiros, seus dedos puxando minha cabeça de encontro à sua pele, deduzo que ele quer mais.
E dou mais.
Mas, antes, afasto minha boca, vencendo o desejo de seus dedos me segurando da mesma forma. Afasto, apenas o suficiente para poder ver sua pele.
Uma de minhas mãos permanece espalmada em suas costas, com meus dedos contraindo até pressionar minhas unhas em sua pele, marcando-o sobre as marcas das tatuagens.
A outra sobe por sua barriga e peito, até segurar a gola de sua blusa aberta e deslizá-la por um lado, até que escorregue para o braço e deixe livre o ombro estreito sobre o qual dou o primeiro beijo. Depois, o segundo. E o terceiro, todos seguindo uma trilha que me leva do pescoço ao limite oposto.
Eu acaricio seu braço e desço um beijo até seu peito.
Ele suspira a cada novo beijo, enquanto curvo meu corpo para me devotar ao seu.
Sem roteiro, deixo beijos até a altura de seu coração; depois, percorro o caminho de volta ao seu ombro, pescoço, mandíbula. Quando beijo sua bochecha, sinto sua mão esquerda tocar meu rosto, na altura da maçã. Me afasto, sentindo seus dedos em minha pele, vejo seus olhos fechados suavemente, seus lábios entreabertos. Me faz querer beijá-lo novamente, unir minha boca à sua, mas, antes, preciso beijar outro lugar.
Eu movo meu rosto contra sua mão, até pressionar um beijo em sua palma. Toco no dorso com meus dedos, puxando-a um pouco mais até beijar a linha do punho.
Jimin resfolega.
Meus lábios descem um pouco mais. Deslizam sobre as cicatrizes. Acariciam, suavemente, e eu beijo também suas marcas.
Eu beijo a dor de Jimin.
Eu beijo, não tentando apagá-la. Beijo para que, assim como o nome de sua mãe, ele tenha o lembrete de que pode sentir muito além de dor. Ele pode sentir amor e pode sentir o que estou aqui, disposto a fazê-lo sentir.
E é a esse beijo especialmente sensível que ele mais reage. Jimin geme baixo, um som manhoso e arrastado que ainda não tinha conhecido e que se encerra quando ele se aproxima e beija minha pálpebra fechada.
Um suspiro vem primeiro. Em seguida, um questionamento.
— Tudo bem? — Pergunto, cuidadosamente segurando seu pulso e deslizando meu polegar sobre as cicatrizes paralelas. Tenho medo de ter passado dos limites ao beijá-las.
A confirmação de Jimin me toca, em sentido literal, quando sua cabeça se move para cima e para baixo, com seus lábios arrastando suavemente sobre meu olho fechado.
— Eu nunca me senti tão bem antes, Jungkook... — Ele volta a me segurar pelo pescoço. Move seu corpo. Sua cabeça paira acima da minha, seus lábios viajam aos meus. Antes de me beijar, ele repete: — Nunca...
Não há como negar seu beijo. Como resistir ao toque de sua língua deslizando sobre meus lábios antes que ele pressione meu queixo, me estimule a abrir a boca e a receber o músculo úmido sobre o meu.
Meu peito sobe e desce devagar a cada oportunidade que tenho de chupar seus lábios com força e puxar o ar, para não precisar parar de beijá-lo.
Minhas mãos descansam em sua cintura, que sempre parece tão pequena sob meus dedos, mas logo correm para sentir as coxas grossas que ladeiam meu quadril enquanto sinto sua boca se mover tão devagar sobre a minha.
Jimin é inacreditável. Cada pedaço dele, cada segundo de beijo que só me faz desejar beijá-lo ainda mais, cada som entregue que nasce em sua garganta e morre ao se derramar em minha boca. Tudo é inacreditável.
Tão inacreditável quanto é o efeito de seu corpo no meu e a possibilidade de que ele não percebesse. Mas ele percebe. Sua mão desliza de meu pescoço para meu peito. No abdômen, rotaciona a palma, os dedos apontam para baixo, descem mais um pouco.
Sobre a calça, ele sente a manifestação física de meu corpo reagindo a ele inteiro.
Sua mão roça a ereção intensa, fácil, que se sufoca sob a calça apertada.
Quando ele aperta com mais força, é impossível conter um gemido baixo, que mal sobe pela garganta, mas se torna presente o suficiente para provocar um sorriso de Jimin contra minha boca.
— Me sente também, gracinha... — Ele pede, contra meus lábios.
Meus dedos se enterram em suas coxas, pressionando-as com força, incertas sobre o que fazer.
Sem me dar instruções ou esperar que eu decida por minha própria conta, Jimin arrasta sua bunda sobre minhas pernas, encaixando suas nádegas sobre o volume sensível dentro de minha calça e finalizando com um movimento de impulso para a frente que pressiona sua própria dureza contra o baixo de minha barriga.
Eu mordo seu lábio ao percebê-lo assim, tão duro, por mim.
Jimin segura em meus braços e se move mais uma vez, criando pressão sobre minha ereção num movimento tão certeiro que me faz estremecer antes de ceder ao impulso e segurar sua blusa mais uma vez, agora para tirá-la completamente de seu corpo.
Quando a peça cai no chão, meus dedos deslizam sob as laterais externas das coxas de Jimin, até chegar na altura de suas nádegas e empurrá-lo para cima para abrir espaço para que minhas mãos se encaixem uma em cada lado de sua bunda.
Segurando-o assim, enquanto ele se segura ao redor de meu ombro, eu impulsiono nossos corpos até ficar de pé somente para virar para trás e deitar seu corpo com as costas no colchão.
Eu me ajoelho entre suas pernas. Jimin me segura pela nuca com uma mão, me puxando até reencontrar nossas bocas em um novo beijo, que se inicia e se mantém enquanto ele se apoia no quadril e, com a outra mão e os pés, vai recuando sobre a cama enquanto eu sigo engatinhando, com meu corpo acompanhando o seu até que ele alcance os travesseiros e deite com a cabeça sobre eles.
Ao fazê-lo, sua boca se afasta da minha e suas mãos se aproveitam do momento para segurar a barra de minha blusa, deslizando-a para cima num gesto que entendo e finalizo quando eu mesmo arranco-a de mim.
Mais uma vez, meu corpo se mostra para ele. Cada tatuagem, desvendada ou não, sob seus olhos que me avaliam com mais que desejo. Tem carinho, também. No olhar. Na forma como os dedos deslizam por todo o caminho de meu abdômen até meus ombros, onde me segura e me puxa de volta.
Assim que meu corpo cai inteiro sobre o seu, com meus braços amparando o peso, as pernas de Jimin abraçam meu quadril, sua mão toca meu rosto e ele pisca lentamente.
E sorri.
Me faz sorrir de volta, num gesto mínimo, que me faz desejá-lo ainda mais. E desejo, e tenho, e sinto, quando volto a tocar sua boca com a minha, enterrando minha língua entre seus lábios, sentindo-a ser capturada gentilmente por seus dentes.
Quando minha boca se afasta da sua, eu movo minhas pernas até dobrá-las para me dar mais equilíbrio, e continuo com meu peito sobre o de Jimin ao arrastar meus beijos até sua bochecha. Meus dedos afastam os fios em sua testa e é até ela que sigo beijando.
Pressionando-a com meus lábios, eu movo meu quadril, derrapando minha ereção contra a sua num movimento que parece pegá-lo de surpresa, de tão alto que é seu gemido.
Minha boca continua na testa de Jimin. As mãos dele apertam cada lado de minha bunda, me forçando a simular outra estocada. Meu nariz alcança a raiz de seus cabelos e eu sinto o cheiro suave. Ele pressiona os calcanhares contra minhas coxas, enquanto as suas pressionam meu quadril.
Mais um beijo em sua testa. Mais um movimento de meu quadril contra o seu.
No quinto, meus lábios se entreabrem contra sua pele, resfolegando suavemente enquanto descubro a sensação de sentir Jimin dessa forma, de sentir minha dureza contra a sua.
Mas Jimin não parece satisfeito com a forma limitada do toque. Ao menos é isso que penso, ao sentir suas mãos correrem até se enfiarem no espaço restrito entre nossos corpos, com seus dedos agitados desabotoando minha calça e descendo o zíper antes de deslizar sua palma para me tocar diretamente, a pele quente de sua mão contra a pele de meu pau, pressionando tão deliciosamente que me faz meter contra sua palma, sem pensar.
— Quer sentir, gracinha? — Ele pergunta, deslizando os dedos de cima para baixo, repetidamente. Chupa a tez de meu pescoço, antes que questionar: — Quer me tocar assim também?
É certamente a primeira vez que experimento algo como o que está acontecendo nesse exato instante; no entanto, seja pela vontade ou curiosidade, não hesito como normalmente hesitaria.
Eu sigo seus passos, afasto meu corpo um tanto mais, mordiscando meu lábio para tentar me manter centrado enquanto Jimin me masturba lentamente. Minha mão puxa o cós de sua calça de moletom para baixo; levo junto sua cueca, apenas para exibi-lo para mim, para dar vista ao desejo pulsando em sua rigidez.
Tantas vezes me toquei, para aliviar a tensão acumulada em meu corpo. Mas nunca fiz o mesmo em outro, o que me faz titubear por um instante que se encerra quando Jimin usa suas pernas para rotacionar nossos corpos.
Eu caio deitado de costas no colchão.
Ele se move, usando uma mão para afastar minhas pernas antes de se encaixar entre elas.
— Vamos fazer assim, Jungkook-ssi... — Ele diz, deitando completamente sobre meu corpo, encaixando seu rosto em meu pescoço e beijando-o no ritmo das investidas de seu quadril contra o meu.
Eu trinco meus dentes ao sentir a pele fina de seu pênis deslizar diretamente sobre a minha e dobro as duas pernas ao redor de seu quadril, respirando profundamente enquanto deslizo minhas mãos por suas costas, fecho os olhos e relaxo a cabeça sobre os travesseiros.
— Você gosta? — Ele expulsa a pergunta contra minha pele, com a voz macia se desenhando num tom que carrega desejo.
Eu umedeço meus lábios, aproveitando cada sensação de pele contra pele, tatuagens derrapando umas sobre as outras a cada movimento seu, a cada ondulação certeira de seu corpo, dos beijos que ele me dá.
Mas seu rosto se afasta; sua boca deixa de me tocar, para pairar acima da minha, perto o suficiente para me fazer abrir os olhos até me deparar com os seus e com o sorriso depravado em seu rosto.
— Responda, Jungkook. Você gosta?
Eu agarro seu quadril, enterrando os dedos profundamente quando tento estimulá-lo a se mover com mais força, criando a fricção enlouquecedora que me faz expulsar a resposta num tom grave:
— Assim, Jimin...
Ele umedece os lábios. Sorri, em seguida. Por último, beija minha boca.
Eu deslizo meus dedos para dentro de sua calça, escorregando-os até capturar cada lado de suas nádegas entre minhas mãos, pressionando cada uma delas, sentindo, com vontade.
Jimin me enlouquece em mais de um sentido. No toque entre cada parte de nossos corpos, no cheiro de sua pele, nos sons de seus gemidos arrastados, na visão interrompida por pálpebras fechadas, entregues ao desejo, no gosto de seu beijo.
Ele me enlouquece em todos os sentidos e mais. Enlouquece meu coração, que pulsa desesperado a cada instante nosso, como se o universo não estivesse prestes a colapsar. Não, não nesse instante. Porque aqui, alinhando nossos movimentos, gemidos e beijos, eu sinto que tudo finalmente está certo como nunca esteve.
E é assim, no estímulo ao corpo e à alma, que me vejo chegar ao limite pela primeira vez, com ele. É no calor de seu toque que me rendo e me derramo mais que num orgasmo. Me derramo também num gemido abafado contra sua boca, que continua me beijando mesmo que a sensação do gozo que vaza por ele me faça perder o impulso de qualquer movimento.
Ao sentir a textura viscosa que une nossos corpos, Jimin me beija com mais desejo, mais língua, mais saliva.
Me ter entregue dessa forma parece levá-lo a um estado ainda maior de prazer que acelera seus movimentos e intensifica o aperto de suas mãos em minhas coxas.
— Caralho, Jungkook... — Ele quase rosna contra minha boca, gozando em meu corpo, sujando ainda mais nossas barrigas, se derramando por mim assim como me derramei por ele.
Seu peito empurra o meu, com a respiração acelerada. O meu, se expande, contaminado por uma sensação que até então não tinha experimentado. A mesma que me faz subir minhas mãos por suas costas, até entrelaçar meus dedos aos seus cabelos e puxá-lo de volta para um novo beijo.
A sensação se espalha por todo o meu corpo, chega ao meu rosto, aos meus lábios, e me faz sorrir contra sua boca.
Jimin também sorri, ao perceber.
O toque de suas mãos, antes tão intenso em minhas coxas, suaviza. Ele me acaricia, ali, e me acaricia ao mover sua cabeça suavemente de um lado ao outro, deslizando sua boca sobre a minha.
— Eu sempre te quis tanto, gracinha... — Ele diz, numa confissão baixa.
Eu desço minha mão por seu rosto, acaricio sua bochecha, percebendo a forma como Jimin se inclina contra minha palma, pedindo mais do carinho.
E sorrio, porque tenho certeza.
— Eu também te quero pra cacete, Jimin-ssi.
Ele se desmancha num sorriso enorme, diante da confissão que, fosse em outro momento, não viria tão fácil. Mas eu me sinto anestesiado, agora, e a verdade sai sem demora e sem arrependimento.
Nós nos encaramos aqui, no silêncio de seu quarto, sob a luz acesa que nos permite enxergar um ao outro. Que me permite enxergar seus lábios avermelhados por todos os beijos, seus olhos preguiçosos, os cabelos desalinhados.
Que me permite enxergar, não pela primeira vez, que Jimin é lindo.
Essa confissão, no entanto, não me escapa. Porque, antes que a frase tome forma em minha boca, meus olhos percebem o movimento estranho no quarto.
A bola de pelos brancos, manchados por outros pretos, que passa pela porta aberta e, sem nos destinar qualquer atenção, segue com saltos suaves até o banheirinho na varanda. Ali, Jungoo começa a mijar.
— Eu não acredito que ela voltou só pra mijar no lugar certo — Murmuro, em contraste a todas as coisas que poderia dizer nesse momento.
Jimin percebe a causa de minha surpresa e me beija a bochecha, apertando seus lábios grossos contra ela.
— Minha filha é educada, gracinha — Ele garante, atraindo de volta minha atenção quando meu olhar se torna inconformado ao perceber que Jimin está se afastando de mim.
Sentado na ponta do colchão, ele arruma a própria calça, até cobrir o pau novamente.
— Vou pegar uns lenços.
Quando fica de pé, Jimin parece meio bambo. De verdade, ele perde o equilíbrio por um instante curto, mas o suficiente para me fazer explodir numa risada mesmo sabendo que, provavelmente, estou tão mole quanto ele.
E enquanto Jungoo segue para beber água depois de terminar de mijar no próprio banheirinho, eu espero Jimin voltar enquanto arrumo minha calça.
Quando ele vem, já com a própria barriga limpa, eu continuo deitado e dobro um braço sob a cabeça, enquanto ele senta ao meu lado com as pernas cruzadas e se estica para limpar meu abdômen.
— Posso te dizer uma coisa? — Ele pergunta, tão carinhosamente cuidando de mim.
— O que?
Ele sorri, sem me olhar.
— Acho que eu ainda tinha medo de você acabar percebendo que não me desejava de verdade.
Ele deixa os lenços sujos sobre a mesa de cabeceira. Ao voltar, se inclina um tanto sobre meu corpo, apoiando uma mão ao lado de meu quadril enquanto os dedos da outra deslizam sobre os desenhos das minhas tatuagens. E seu sorriso cresce, quando seu olhar volta ao meu.
— Mas agora eu não duvido mais, Jungkook. O jeito que você me toca e me beija é... — Ele suspira, ao se interromper. — Acho que é um problema, porque eu nunca mais vou querer ser tocado por outra pessoa.
Isso não é um problema para mim.
Meio preguiçoso, eu me apoio em minhas mãos para poder sentar. Fico de frente para Jimin, vejo seu corpo como uma tela preenchida por tinta preta e aprecio a arte de suas feições pouco depois de um orgasmo.
Ele sorri ao perceber minha atenção devota à sua existência, talvez já sem esperar resposta verbal à sua declaração e, certamente, sem esperar o som de meu celular vibrando em algum lugar da cama. Mas, assim como eu não destino muita atenção à chamada, ele não o faz.
Por outro lado, puxa as próprias pernas, abraçando-as e apoiando o queixo sobre os joelhos. Seus olhos pequenos, agora preguiçosos, percorrem cada centímetro de minha pele exposta e seu sorriso se reduz a um gesto um tanto entristecido.
— Eu não quero esquecer o dia de hoje, Jungkook-ssi...
É impossível não perceber toda a sua preocupação por trás da confissão. E a esperança, que há tempos não se fazia presente em minha vida, parece renascer.
Uma vez Jimin disse que ter esperança é perigoso. E talvez seja. Nesse momento, no entanto, é a ela que me agarro.
— Nós vamos dar um jeito, Jimin. Eu não vou abrir mão de tudo que aconteceu nessa chance.
Ele sorri um pouco mais, instantes antes de meu celular voltar a vibrar. Eu suspiro, decidindo parar de ignorar a ligação, e me estico pela cama até pegar o telefone, sem surpresa ao ver que a chamada é de minha mãe.
— Acho que minha mãe ficou um pouco agoniada sobre nosso encontro. — Comento, rejeitando a chamada para enviar uma mensagem dizendo que não demoro para voltar.
— Ela sabe?
— Junghee tem a boca grande.
Jimin assente, junto a uma risada miúda e frágil, da qual acompanho apenas o som enquanto capturo minha blusa sobre a cama para voltar a vesti-la. Depois, me aproximo dele novamente, tocando em sua cintura antes de me inclinar para deixar um selinho em sua boca.
— Tudo bem se eu for agora? — Pergunto, ainda tocando-o.
— Sim. Eu preciso de um pouco de privacidade para dar soquinhos vitoriosos no ar.
Eu me perco numa risada genuína e sonora antes de pressionar nossas bocas juntas mais uma vez, sem resistir a ele e à imagem de sua comemoração desajeitada, enquanto perco a força sob o carinho que ele me faz na bochecha.
— Lembre da sua blusa listrada. — Ele diz quando, um último selinho depois, começo a me afastar.
— Lembrar de jogar no lixo, esse cacete horroroso. — É o que digo, me movendo até ficar de pé, ajustando minha calça e meu novo blusão do Itachi.
— Você ficou lindo com ela, gracinha. — Jimin relembra, também ficando de pé e cuidadosamente pegando a blusa que vesti no início do encontro.
— Mas foi coisa de Junghee. — Garanto. — Eu não me visto assim.
Ele sorri, apertando o lábio sob os dentes como quem tem uma grande ideia. No momento seguinte, vejo Jimin deslizar o braço para dentro de uma das mangas, antes de vestir a blusa completamente. Diferente da sua, essa ele abotoa, sem se importar por ficar tão grande em seu corpo.
— E agora? — Ele pergunta, com os braços perdendo-se dentro das mangas dobradas. — Você gosta dela, quando sou eu que visto?
— Ficou bem melhor em você, Jimin-ssi.
— Então estou confiscando. É minha, agora. Vou dormir com ela.
Eu pisco desajeitadamente, antes de balançar a cabeça num gesto negativo acompanhado de uma risada.
— Está me fazendo um favor. — Garanto, lançando uma última olhadela para Jungoo antes que Jimin tome a frente e nos leve para fora do quarto, depois pelas escadas, até a porta, onde enfio os pés em minhas botas e sorrio para ele, antes de, mais uma vez, perder o jeito.
O que eu faço agora? Eu não sei encerrar um encontro.
Ele ri, acho que percebendo minha confusão, e me segura pela gola da camisa ao ficar na ponta do pé e me dar um beijo na bochecha.
— Obrigado pelo encontro, gracinha. Foi o melhor da minha vida.
Não é como se eu tivesse muito com o que comparar, mas tenho a certeza de que, ainda que carregasse um longo histórico de encontros, esse com Jimin seria meu favorito.
E quando saio de sua casa e caminho em direção a Bee, eu percebo que queria ficar.
Ainda assim, arrumo meu capacete e olho para Jimin mais uma vez, que continua de pé no mesmo lugar, com um sorriso bonito e minha blusa listrada.
Agora que a vejo em seu corpo, percebo que não foi má ideia usá-la no início do encontro. Não foi má ideia mesmo.
E então monto em Belinda, lançando um último olhar para Jimin, que acena para mim antes que o motor faça seu anúncio sonoro e me leve de volta para casa, sem que o frio mais intenso da noite me faça arrepiar da mesma forma que me arrepiei quando tinha Jimin me abraçando enquanto eu pilotava.
E é só nisso que penso durante todo o caminho de volta. Em Jimin. Em seu beijo. Em seu corpo. Em seu sorriso. Em suas tatuagens. Nele inteiro, com seus gostos estranhos revelados ao longo da noite.
Quando chego em casa e abro a porta, ainda penso nele.
— Chegou tarde... — Minha mãe diz, assim que me vê. Eu tiro as botas, percebendo seus olhos um pouco acanhados.
— Sim. Foi mal.
— Desculpa por ter ficado ligando... é que... — Ela suspira, sentada ali no sofá, com uma xícara de chá nas mãos. — É a primeira vez que um dos meus bebês tem um encontro...
Eu sorrio, caminhando pela casa, e paro atrás do sofá apenas para bagunçar seus cabelos num gesto implicante.
Eu sei que é um pouco mais que isso. Ela está lidando bem sobre eu estar me envolvendo com outro homem, mas sei que fica preocupada sobre o mundo lá fora. Por isso resolvi voltar para casa mesmo querendo mais de Jimin ao longo da noite. Não quis deixar minha mãe ainda mais tensa.
E, para relaxá-la, digo:
— Relaxa, fedorenta.
— Jeon Jungkook! — Ela repreende, facilmente livrando-se do tom envergonhado para expor toda a sua raiva, enquanto eu sigo sem pausas até voltar ao meu quarto.
— Fala sério... — Resmungo ao acender a luz e ver Junghee em minha cama, todo descoberto e meio torto. Acho que estava me esperando para perguntar sobre o encontro e acabou dormindo.
Então eu me aproximo, pego seu corpo magro com cuidado e o coloco mais para o lado, cobrindo-o com meu lençol antes de deitar ao seu lado, com preguiça de ir ao banho.
Talvez também com medo de lavar a sensação que ele deixou em meu corpo.
Com o olhar preso ao teto e com Jimin continuamente em minha cabeça, eu cubro meus olhos com meu braço, me sentindo tonto por sorrir sozinho.
E suspiro, com alívio por Junghee já estar dormindo e não poder me fazer perguntas. Porque depois de hoje, depois de tudo, essa é a nova certeza que eu tenho.
Jimin é mentiroso.
Ele mentiu porque disse, no começo de tudo, que esperaria que eu estivesse pronto antes de tentar me conquistar. E eu não sei se estou pronto.
Mas, definitivamente, estou me apaixonando por ele.
↬ Continua no próximo capítulo.
Quem tá surpreso por ver que o jk ta se apaixonando pelo jimin? :o
Mas enfim boiolinhas com um pouquinho de safadeza. Estão bem alimentados com frango e berinjela! A primeira cena mais explícita de Cem chances debutou! Espero que tenham gostado ): 🍗🍆
Eu tentei focar mais na boiolagem que no tesão propriamente dito, porque láá no capítulo de avisos eu disse que esse tipo de conteúdo não é muito relevante na história. Ele existe mais como forma de explorar a relação que tá se construindo entre o Jimin e o Jungkook, então são poucas cenas assim planejadas. Mas essas poucas que existirem aqui espero que sejam gostosinhas de ler, porque é muito gostoso de escrever ):
E tivemos uma pequeeena referência a uma irmãzinha de CC. Quem identificou de onde veio o desgosto do Jimin por milho?
Mas vamos lá!! Viram a capa nova da nossa bebê? Tá LINDA, né? obrigada @btspectacle (user do twitter!!) pelo presente lindo lindo lindo
Eu me pergunto o que faço podendo usar uma capa só. De verdade, me machuca precisar escolher ): então provavelmente vou ficar alternando entre essa e a anterior (CookielovJM ) que vou até deixar registrada aqui:
E como teve edit com a blusa listrada, teve também com a blusa do Itachi (mais um mimo de @Jikookhips)
Sobre a famigerada blusa listrada: sim, ela voltou. E sim, vai ser o pijaminha do Jimin. Vocês não escolheram em vão!! Sem ela, a cena do provador não existiria, aliás. Porque pra respeitar os gostos do Jungkook, ele precisava se sentir meio desconfortável, mas no fim deu certo pra todo mundo <3
ok to falando demais, então encerro convidando vocês a lerem Solteiro em Produção, outra shortfic minha que vocês podem encontrar em meu perfil!!
Último parágrafo para teorias: quando vocês acham que o jk vai admitir que jimin é o frango frito dele? beijos e até o próximo! <3
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