[f(22) = 4x - 66] Preto e branco

13k de Cem chances pra distrair vocês nessa quarentena!

🔮

Às vezes, nossas intenções pouco importam. Nós somos julgados pelos atos, enquanto nossas motivações por trás deles se perdem em meio às interpretações de tudo que fazemos.

Tocar Woo-ri enquanto ainda estávamos na festa foi um movimento involuntário para impedi-la de despencar pela escada. Ouvir suas lamentações embriagadas não foi uma decisão tomada com base em minhas preferências naquele momento — porque estava claro, para mim, que eu preferia estar com Jimin.

Ainda assim, Woo parecia verdadeiramente magoada e mesmo que eu não tenha culpa, tenho participação no contexto por trás da causa. Eu não podia deixá-la falando sozinha, se menosprezando daquela forma.

Não reagir quando ela me beijou não foi por pensar, durante aqueles segundos, que talvez eu desejasse seu beijo. Eu não desejei. Só estava embriagado demais para fazer uma leitura rápida da situação e afastá-la de mim.

Então eu a trouxe para minha casa, porque seu pavor diante da possibilidade de ser vista pelos pais naquela situação era óbvio demais, enquanto eu sei que nem todos os pais são sequer minimamente compreensivos ou justos. Existem pais e mães agressivos por aí, que aplicariam punições descabidas e inescusáveis por deslizes que sequer são graves de verdade.

E ela estava suja de vômito, então emprestei minhas roupas para que usasse depois do banho. Deixei que dormisse na minha cama, tendo a certeza de sequer dormir no mesmo quarto que ela para não deixar espaço para uma nova confusão.

Tudo que fiz, desde o momento em que a toquei pela primeira vez naquela maldita festa, até o momento em que a deixei deitar em minha cama, foi para tentar ajudar Woo-ri. Em nenhum momento houve desejo. Em nenhum momento pensei em me envolver com ela mais uma vez.

Para Jimin, nada disso importa.

Para ele, a única coisa que deve ser levada em consideração é ter visto Woo saindo de meu quarto, vestindo minhas roupas.

E então, não pela primeira vez, ele foge.

Não que eu o culpe inteiramente por estar magoado e por interpretar o que parece óbvio na situação. Ainda assim, ver o desenrolar de tudo enquanto me é negado o direito de falar me irrita e me enche de agonia.

— Jeon? — É Woo quem me chama quando, depois de tentar e falhar em impedir Jimin de entrar em Pandora para ir embora, eu volto para dentro de casa mais uma vez.

— Espera, Woo. — Eu peço, talvez um pouco brusco, quando empurro a porta para que ela se feche e logo corro para pegar meu celular.

Enquanto ela continua no mesmo lugar, confusa e desajeitada, meus dedos se atrapalham ao digitar uma mensagem para Jimin.

Jimin-ssi (07:35)

Não aconteceu nada entre Woo-ri e eu (07:35)

Ela só precisou dormir aqui. Yoongi e Hoseok viram o estado dela ontem (07:36)

Me encontra na universidade, por favor. Pode ser no estacionamento entre nossos departamentos. Eu te espero lá (07:36)

Com as mensagens enviadas e nenhuma previsão de resposta, eu volto a guardar o celular enquanto percebo os olhos de Woo ainda me avaliando silenciosa e vergonhosamente.

— Eu te causei um problema, não foi? — Depois de me olhar por novos segundos, ela acaba por questionar.

Sim, cacete.

Mas nem é culpa dela.

— Não precisa se preocupar, não. — Então garanto, ainda que minha agonia seja óbvia. — Mas eu preciso ir. Você já pode ir para sua casa?

— Meus pais já devem ter saído para trabalhar. — Ela responde, brincando com a barra da blusa que fica tão grande em seu corpo.

— Certo. Eu te deixo lá.

— Jeon... — Quando eu começo a abrir passadas largas e apressadas em direção ao quarto, ela me chama. Sei que meu olhar é impaciente, porque sua expressão parece ainda mais carregada quando pouso minha atenção em sua imagem constrangida.

— Diga, Woo. — Tentando amenizar o que passo através do olhar, meu pedido vem em tom mais brando.

Ela pisca desajeitadamente e arruma uma mecha do cabelo comprido antes de juntar coragem para dizer:

— Desculpa mesmo por ontem. Eu passei e muito da conta, mas você não precisava me ajudar e ajudou mesmo assim. Então obrigada também. E se eu causei algum mal entendido por isso... eu te ajudo a esclarecer... tá certo?

Eu aperto meus lábios antes de fazer um movimento único de concordância.

— Vou lembrar disso. — Digo para ela, simultaneamente apontando para trás, na direção dos quartos. — Vou pegar minhas coisas e nós saímos.

— Ok... ok.

Recuando com um passo, eu vou até meu quarto para pegar minha mochila, a chave de Bee e o capacete extra, com tanta pressa que quase me passa despercebido que, mesmo de ressaca como parece estar, Woo teve o cuidado de arrumar a cama inteira.

Uma pausa breve é necessária para que eu respire fundo e internalize que não devo mesmo sentir raiva dela.

Alguém que arruma a cama antes de fazer qualquer outra coisa durante uma ressaca não pode ser mal intencionada. Esse universo está todo errado, mas não é possível que esteja tão errado assim.

Finalmente com tudo em mãos, a última coisa que faço é entrar no quarto de minha mãe, onde a encontro arrumando o cabelo, já vestida com o uniforme da MoonMoon. Com duas batidas suaves na porta, atraio sua atenção.

— Vou levar Woo em casa. A senhora pode levar Junghee só hoje?

Minha mãe sorri para mim, voltando a olhar para o espelho de sua penteadeira. Com os olhos escuros me observando pelo reflexo, ela arruma os últimos fios desalinhados do cabelo, os da frente, no limite entre a testa e o couro cabeludo, que sempre ficam mais arrepiados.

— Uma semana atrás você faria um inferno se eu te pedisse para levar seu irmão na aula. — Enquanto se arruma, ela faz questão de lembrar. Seu sorriso até aumenta. — E hoje você já está assumindo que a responsabilidade é sua? Não sei que bicho te mordeu, fedorento, mas eu gostei.

— A senhora pode? — Insisto.

— Claro que sim, Jungkook. Já aproveito e fico direto para a reunião com o diretor, antes de ir trabalhar. — Ela gira em torno do próprio eixo para virar para mim mais uma vez, acho que pronta: — O que você diz? Pareço uma mãe que vai detonar aquela escola caso não façam nada para impedir que meu filho continue sofrendo nas mãos dos colegas?

— Ah... é hoje? — Sem querer, acabei esquecendo. Ainda assim, analiso-a cuidadosamente.

Minha mãe é doida, eu tenho um medo danado das ameaças dela, mas sua aparência não denuncia nada de sua personalidade maluca. Quem vê na rua até pensa que é uma mulher normal e equilibrada.

— A senhora não mete medo em ninguém com esse tamanho. É melhor eu ir junto.

Com um suspiro, confessa:

— Eu nunca gostei de você se encher de tatuagens, mas te deixa com menos cara de besta. Assusta um pouco também, se a pessoa não te conhecer, mas não. Você vai ser minha carta na manga. Se ele não me der uma resposta satisfatória hoje, eu volto lá com você do meu lado e um coquetel molotov na mão. Quero ver não me levar a sério.

Eu suspiro. Nem sei o que dizer em resposta, então:

— Beleza.

Ela sorri mais uma vez. Há muito tempo minha mãe não sorria, quem dirá sorrir tanto quanto vem sorrindo nos últimos dias.

Me entristece saber que eu fui a causa de sua tristeza prolongada, mas me alivia ser capaz de mudar agora, porque não existe sorriso no mundo que eu ame mais que o dela.

Eu a amo inteira, para ser sincero. Amo até seu jeito maluco e a possibilidade de que ela realmente vá destruir Belinda usando o meu notebook caso eu não siga suas regras.

E ainda bem que seu sorriso voltou. Assim o meu encontra força para permanecer aqui.

— Vá com cuidado, fedorento. — Ela diz, com os olhos carinhosos ainda pousados em mim. — E diga para sua amiga beber com mais cuidado da próxima vez.

— Valeu pela ajuda com ela também. — Lembro de dizer, antes de gesticular em despedida, todo duro. Eu tenho um problema com meus gestos. Sempre são esquisitos demais. — Até.

Ela acena de volta antes que eu saia do seu quarto e me apresse em direção a Woo, que agora está parada na frente do móvel da TV, com o corpo curvado enquanto vê o único porta-retrato ali em cima.

Sem dar atenção, eu passo para pegar suas roupas ainda úmidas, felizmente não mais de vômito, e passo direto até a porta.

— Venha, Woo. — Chamo, já enfiando os pés nos coturnos e na sequência abrindo a porta. Ela se adianta para fazer o mesmo, um pouco atrapalhada ao precisar amarrar o cadarço do tênis.

— Obrigada. — Ela diz quando passo o capacete extra e a sacola com suas roupas limpas. — Eu devolvo as suas depois.

— Sem pressa. — Garanto, atravessando o pequeno jardim ao seu lado, até chegarmos em Belinda. — Foi mal por não ter te dado nada para comer.

— Tudo bem. Eu nem tomo café da manhã direito. Só sinto fome perto de meio dia.

— Hm-hum. — Ela que não me julgue por ter um total nulo de interesse nessa informação. Ainda por cima, estou com pressa.

Enquanto ela tenta colocar o próprio capacete, então, eu checo meu celular para ver se a causa da minha agonia chegou a me responder, mas é claro que não. No entanto, Jimin visualizou as mensagens.

Cacete, toda vez isso?!

— Aquele homem da foto é seu pai? — Com o capacete muito mal posicionado, Woo pergunta. — Ele não está em casa?

Ela podia simplesmente não perguntar. No entanto, mais uma vez mentalizo que não adianta ficar com raiva dela por uma pergunta sem qualquer motivação ruim.

É difícil, já que eu aparentemente funciono à base de ódio.

— Ele não está mais aqui. — Com esforço, consigo responder sem muita grosseria na voz, simultaneamente arrumando seu capacete.

Nem era a intenção ser brusco, mas meu toque parece ser assim naturalmente e ela acaba resmungando baixinho quando dou uma firmada no negócio antes de prendê-lo.

— Obrigada. — E diz, visivelmente desconcertada.

— Nem foi nada. — Sem perder mais tempo, eu posiciono meu próprio capacete e subo em Bee, em seguida gesticulo para que ela faça o mesmo. — Vai. Monta.

Desajeitada, Woo-ri prende a bolsa com as roupas e monta em Bee. Aí, a nova confusão da vez é seu óbvio receio para se segurar em mim.

Só não perco a paciência porque agora acho que entendo um pouco como ela se sente. Eu também sempre penso desnecessariamente antes de tomar qualquer ação quando se trata de tocar em Jimin.

Não que isso me deixe feliz ou confortável.

— Segura no apoio atrás. — Para poupá-la do drama e evitar contato desnecessário, eu dou a instrução, já aquecendo o motor de Belinda enquanto Woo se firma atrás de mim.

Ao perceber que ela está posicionada bem o suficiente para não voar da moto como uma fruta madura pronta para cair do pé, o motor canta um pouco mais alto antes que os pneus rolem pelo asfalto, ganhando mais velocidade à medida que refaço o caminho até sua casa.

Enquanto piloto, talvez não o faça com atenção e cuidado o suficiente, mas me forço a sobreviver ao trânsito até parar diante do jardim com o vômito seco de Woo-ri.

Quando ela desce de Bee, eu faço o mesmo para pegar o capacete e guardá-lo no baú embutido enquanto Woo arruma a roupa que, além de enorme para ela, agora está toda desalinhada.

Com o visor do capacete levantado e vendo seu estado, eu deixo uma risada acontecer, sem querer. Ao invés de se ofender ou se constranger, ela suspira antes de rir um pouco também, usando a mão para tentar realinhar o cabelo arrepiado.

— Pelo menos agora eu tenho certeza de que não tenho chance nenhuma com você. — Aí diz, em tom de brincadeira.

Espero que ela saiba que é sério e não tem chance mesmo.

— Não tem nada a ver com o que os babacas da Hangsang dizem. Espero que saiba disso. — No lugar, é o que eu digo, tentando afirmar a veracidade de sua brincadeira sem deixá-la para baixo ou se sentindo insuficiente por isso.

Ela assente com um sorriso tímido, mas conformado.

— Vou tentar lembrar disso. — Ela promete, até dando um pouco mais de força ao sorriso. — Posso fazer só mais uma pergunta que provavelmente não deveria ser feita?

O som de minha nova risada não é nada além do som do ar escapando por minhas narinas quando eu faço que sim. Com uma careta suave e adorável, ela vai em frente:

— Foi bom só para mim? Quando nós... você sabe.

Eu não sei se estou gostando de perceber o quanto minha tendência a enrubescer é seletiva.

Se fosse Jimin me perguntando algo como isso, eu provavelmente estaria prestes a explodir em vermelho. Com Woo-ri, o constrangimento é menor, e me leva muito menos esforço para responder naturalmente:

— Foi bom, Woo.

Ela suspira com o que me parece alívio, antes de rir.

— Foi? Ok. Eu fiquei um pouco insegura, eu acho. Mas tudo bem agora. Vou tentar não dar tanta atenção ao que os outros estão falando.

— Me avisa sobre o próximo que for encher seu saco. — Peço, segurando o visor para puxá-lo para baixo, mas ainda não o faço. — Eu mesmo me resolvo.

Woo-ri dá mais uma risada envergonhada. É melhor vê-la assim.

E podíamos encerrar por aqui. Eu adoraria que ela virasse as costas agora e entrasse em sua casa. Mas o que ela faz, é dizer:

— Jimin tem muita sorte.

Eu deveria ter reajustado o visor de uma vez. Deveria, assim cobriria o rosto que, dessa vez, não escapa da avalanche rubra.

— Como é? — Questiono, nervoso.

— O jeito como ele reagiu depois de me ver mais cedo e como você reagiu a isso... — Ela pondera, com os ombros se encolhendo num gesto desajeitado. — Espero mesmo não ter causado nenhuma confusão muito grande. E lembre de me avisar caso eu precise explicar para ele o que aconteceu... ok? É o mínimo que eu posso fazer...

Eu ainda estou vermelho demais, atordoado demais para responder.

Woo-ri percebeu o que está acontecendo entre Jimin e eu?

Mesmo que eu sequer saiba definir que inferno está acontecendo, já é tão perceptível assim às pessoas de fora?

Sem responder as perguntas que sequer chego a verbalizar, ela anuncia:

— Eu vou entrar. Obrigada de novo, Jeon. — E vai.

Ainda atordoado, sem saber o que pensar sobre tudo isso, eu vejo Woo-ri se afastar ao passo em que uma sequência de questionamentos bombardeiam minha mente.

"O que está acontecendo entre Jimin e eu" é o que mais desejo responder.

No entanto, também parece ser a questão mais difícil, martelando continuamente em minha consciência quando volto a montar em Bee para seguir até a Hangsang. Da mesma forma, a resposta não é necessária para que eu saiba o que mais quero fazer agora.

Eu quero garantir para Jimin que nada aconteceu. Eu quero encontrar um jeito de mostrar para ele o que descobri horas atrás.

Eu quero beijá-lo.

Mesmo sem qualquer resquício de álcool guiando meus desejos e ações, eu quero beijar Jimin novamente. Beijar de verdade.

O resto, descubro depois.

Por isso, assim que estaciono Bee numa das vagas entre seu departamento e o meu vejo que Pandora já está ocupando um dos espaços, eu tiro o capacete e puxo meu celular.

Estou aqui, perto de seu carro (08:02)

Dessa vez, eu não tiro os olhos da tela. Quando ela começa a se apagar, eu dou um toque rápido para que permaneça acesa. Assim, não perco o momento em que Jimin fica online, em seguida visualiza a mensagem e, mais alguns segundos depois, começa a digitar.

E ele digita. Parece voltar atrás. Começa a digitar novamente. Ansioso, parece passar uma eternidade até que a resposta finalmente chega.

Você já está atrasado para sua aula e eu estou na minha. Você não precisa me explicar nada (08:06)

Só esquece o que aconteceu entre nós dois ontem e hoje, Jungkook (08:06)

Por favor. (08:07)

? (08:07)

Jimin, você leu o que eu mandei antes? Eu não fiz nada com Woo-ri (08:07)

Mais uma vez, ele começa a digitar. Apaga. Digita. Apaga, digita, envia.

Eu acho que não acredito em você (08:08)

Mas não tem problema. Eu disse ontem que você não me deve nada e não deve mesmo... ok? Essa é a única coisa que você não precisa esquecer. (08:08)

Meu deus? Para com isso! Nem parece você (08:08)

Jimin? (08:14)

O contador do relógio continua avançando, progride, até mostrar que já se passaram vinte minutos desde o envio de minha última mensagem. E Jimin não voltou para visualizar.

Agora, sim, é impossível controlar.

Eu estou puto.

Eu não fiz nada. E ele sequer tenta me escutar.

Sem outra opção, já que não posso forçá-lo a acreditar em mim assim como não posso me forçar a expulsar a sensação ruim provocada por sua falta de confiança, eu sigo até minha aula, que é tão improdutiva quanto as seguintes.

Nem mesmo as alfinetadas de Jang Jitae conseguem mudar o foco de minha frustração, que aumenta quando, ao fim de sua aula, uma nova mensagem faz meu celular vibrar e, por um momento, eu acredito que é Jimin.

Já beijou Jimin hyung? (É Junghee) (12:49)

Agora que estou infinita e insuportavelmente sóbrio, as percepções do que fiz ainda alcoolizado me fazem querer morrer.

Eu não acredito que disse para o moleque que Jimin me pediu para beijá-lo.

Não vai rolar, moleque. Esquece. (12:51)

E para de se identificar, cacete, eu já disse que tenho seu número (12:51)

Por que?? Você não quer beijar ele??? (12:52)

E, na sequência, para piorar:

Por que não vai rolar???? (Oi, é Taehyung! Já salvou meu número, Jungkook-ssi???) (12:53)

Avise ao fofoqueiro que ele está MORTO. (12:53)

Ótimo. Essa é a cereja no topo do bolo: meu irmão sendo o fofoqueiro que é.

Enquanto isso, Jimin continua sem visualizar minhas mensagens e eu nem sei se isso é pior que quando ele visualiza e não responde.

Ainda frustrado, mas também com o estômago prestes a doer de tão vazio, eu guardo todas as minhas coisas e saio do auditório para seguir até o refeitório, onde enfrento sozinho a fila quilométrica para, ao finalmente chegar minha vez, receber mais uma derrota para a coleção do dia.

O frango agridoce acabou.

Com a carne vermelha que me é servida no lugar, eu saio da fila com a bandeja em mãos para sentar em qualquer lugar e jogar a comida para dentro antes de decidir o que fazer com minha vida, mas paro no lugar quando escuto a voz familiar assumindo um tom mais alto no meio de todas as vozes do refeitório.

— Ei! Filhote de brutamontes!

Não demora para que eu encontre o piromaníaco acenando para mim, já ocupando uma das mesas no salão lotado de estudantes. Sem pensar muito, eu desfaço minha trajetória inicial para guiar minhas passadas até ele, também sem refletir demais sobre a novidade inesperada de ter com quem sentar no almoço.

Eu simplesmente vou até ele, precisando me aproximar um pouco mais para ver que Hoseok está ao seu lado.

E Jimin em sua frente.

Meus dedos apertam as bordas da bandeja com mais força quando finalmente o percebo. Desse instante em diante, eu continuo olhando para ele. E em nenhum momento Jimin me olha de volta.

Ele apenas continua comendo, olhando para a própria comida e nada além dela.

— E aí — Eu faço questão de dizer apenas para anunciar minha chegada, ainda antes de ocupar um dos assentos.

Dessa vez, pelo menos, meu objetivo é alcançado quando não só Hoseok e Yoongi me cumprimentam: Jimin finalmente desliza seu olhar em minha direção. No entanto, o instante de um sorriso morno exibido apenas por educação é o tempo que leva para que sua atenção me abandone outra vez.

— Não acredito que estávamos errados — Provavelmente ainda sem perceber a forma como Jimin reagiu a mim, Hoseok exclama assim que eu apoio minha bandeja sobre a mesa: — Você pegou a carne e não o frango? Não é você que ama frango?

— Acabou. — É tudo que digo, desconfortavelmente ocupando o lugar ao lado de Jimin.

— Quer o meu? — Hoseok oferece, com o canto da boca um pouco sujo de molho.

— Tá tranquilo. — Respondo, para logo em seguida enfiar uma cacetada de arroz na boca enquanto uso todas as minhas forças para impedir meu olhar de sequer viajar na direção de Jimin, já ciente de que ele deve estar fazendo o mesmo para ignorar minha presença.

Não olhar para alguém é algo completamente natural, pressuponho. Nós não precisamos olhar a cada segundo para as pessoas que nos cercam, certo?

No entanto, eu e Jimin estamos empenhando tantos esforços para não nos olharmos que, se tinha passado despercebido até aqui, logo fica claro para Yoongi e Hoseok:

— O que foi que aconteceu? — É Hoseok quem questiona, com mais cuidado que curiosidade, ainda sem limpar o canto da boca.

Até aqui, acho que já ficou claro que às vezes eu falo sem pensar; às vezes, penso demais antes de dizer qualquer coisa. Dessa vez, é a impulsividade quem ganha a batalha, quando a frustração acompanha minha voz na sequência do anúncio:

— Jimin acha que eu transei com Woo-ri.

Apesar de nada ser dito nos segundos que sucedem minha fala impensada, o som dos hashis de Jimin sendo apoiados com força sobre a bandeja ecoam ao redor de nossa mesa, mas eu sequer olho para ele.

Apenas pego um pedaço de carne para socar na boca com a força do ódio.

Quer saber? Eu falei completamente movido por impulso, mas se parasse para pensar antes, provavelmente diria exatamente a mesma coisa. Yoongi e Hoseok sabem o que aconteceu, então Jimin vai saber a verdade querendo ou não.

— Woo-ri é aquela menina de ontem? — É Yoongi quem pergunta, com receio. — A que deixou Hoseok histérico por causa do vômito?

— Não lembra... — O veterano de dança quase choraminga com a lembrança, mas essa não é minha preocupação agora.

— Sim. — Apenas me preocupo em responder. Com mais uma porção de arroz à espera, eu pergunto, antes: — Vocês lembram por que ela foi para minha casa?

— Hm... ela estava bêbada feito uma desgraçada, não foi?

— E acho que estava com medo dos pais quando fomos deixar ela em casa — Yoongi completa a resposta de Hoseok, com o olhar passando de mim para Jimin, lentamente. Com um dar de ombros, finaliza: — Não sei, não entendi direito o que aconteceu depois do vômito, mas ela não tinha para onde ir e foi para a sua casa.

— E antes deixou meu carro podre — Hoseok se lamenta, encolhendo o corpo ao fazer uma careta. Ao fim, no entanto, diz: — Tadinha... Ela sobreviveu?

Um movimento positivo é tudo que faço para responder seu questionamento preocupado, porque minha atenção, agora, se direciona a procurar o olhar de Jimin. No entanto, como antes, ele não me olha.

A diferença é que, agora, seu corpo parece ainda mais tenso e ele sequer consegue continuar comendo.

— Quer ouvir a versão de minha mãe e de meu irmão também, para acreditar em mim? — Eu pergunto, muito mais magoado que irritado.

Jimin puxa o ar pela boca antes de fechar os olhos por um instante. Sem ação por segundos que se prolongam demais, ele finalmente desliza as mãos pela mesa e se torna receptor de toda a minha confusão quando fica de pé.

— Eu preciso ir. — E diz, contra todas as minhas expectativas.

— Você ainda não acredita? — Meu questionamento foge antes que eu pense se devo fazê-lo ou não, diante do movimento seguinte que Jimin faz para pegar sua mochila no chão.

— Eu só preciso ir, Jungkook. — Ele repete, sem que me passe despercebida a angústia em sua voz, menos ainda em sua expressão inteira, principalmente nos olhos que aprendi a achar tão bonitos.

E mais uma vez eu não entendo.

Se ele estava magoado por acreditar que eu transei com Woo-ri, por que parece ainda mais ressentido agora que sabe que nada disso aconteceu?

Meus olhos se arregalam sem que eu tenha controle sobre isso, acompanhando seu último movimento para usar os hashis e passar sua porção de frango de sua bandeja para a minha.

— Aqui. Pode ficar com o meu — É o que diz. Com as mãos agarrando as laterais da bandeja, ele umedece os lábios antes de recuar com um passo. — Depois eu falo com vocês.

— Jimin, está tudo bem? — Hoseok ainda pergunta, mas não recebe resposta. Tudo que Jimin faz é deixar a bandeja no aparador antes de seguir até a saída com passos apressados.

Com nada além da confusão que ele me faz sentir agora, soterrando até mesmo a frustração e chateação, meus olhos viajam até Hoseok e Yoongi, que me devolvem olhares tão confusos quanto o meu.

— Eu não estou entendendo. — Apenas para firmar meu sentimento, verbalizo-o.

Sem qualquer resposta imediata, eu vejo o dançarino e o bruxo trocando olhares silenciosos, parecendo tomar alguma grande decisão através deles. Quando Yoongi suspira, os olhos pequenos voltam a deslizar em minha direção antes que sua voz me alcance:

— Nós precisamos perguntar, Jungkook... o que exatamente está rolando entre vocês dois?

Incapaz de continuar encarando-os sem perder completamente a naturalidade da cor de meu rosto, eu entrego toda a minha atenção ao pedaço de frango que Jimin deixou em minha bandeja. Cutucando-o com meus hashis, a primeira parte da minha resposta é um dar de ombros.

— Não sei. — E esse é o complemento. Ainda sem coragem, confesso: — Quando vocês se olharam... achei que iam me acusar de fazer algo ruim de novo.

— Ei... — É Hoseok quem diz, parecendo ressentido por meu pensamento inevitável.

Quando percebo, ele já saiu de seu lugar para sentar ao meu lado, onde Jimin estava, e me toca o ombro enquanto eu pego um dos cubos de frango e o enfio inteiro na boca. Mesmo com minha bochecha estufada e a mastigação nervosa, Hoseok segue com o tom manso:

— Nós sabemos agora que esse seu jeito meio bruto não faz de você uma pessoa ruim. Na verdade, — Ele pausa, à espera de algo. Quando minha atenção curiosa busca seu rosto, Hoseok sorri para mim com tanto carinho que meus olhos até se arregalam um pouco, surpresos. E ele diz, ainda sorrindo: — você tem um jeito muito especial de ser uma pessoa boa, Jungkook. E eu sei que nos aproximamos há pouco tempo, mas foi tudo muito intenso e eu já gosto muito, muito, muito, de você. Eu quero muito que você me aceite como seu amigo e seu hyung, então espero que você possa me perdoar por ter duvidado de você antes.

O frango em minha boca está meio nojento.

Com sua sequência de palavras e a confissão inesperada, eu perdi o impulso de mastigar e apenas deixei o bolo alimentar aqui dentro, amolecendo sob a saliva.

Ainda desajeitado e surpreso com o que Hoseok me disse, eu engulo a comida de uma só vez e acabo me engasgando um pouco, o que faz ele rir.

— Fofo. — Ele diz, junto a tapinhas em minhas costas.

Do outro lado da mesa, Yoongi mantém um braço dobrado sobre a superfície limpa, enquanto usa a outra mão para levar pedaços de cenoura à boca. Um suspiro seu me faz olhar em sua direção, e ele devolve a tirinha laranja à bandeja, apertando os lábios.

— Eu não sou carismático como Hoseok, mas penso tudo que ele disse. — O não bruxo diz, erguendo as sobrancelhas suavemente enquanto me oferece um sorriso tão miúdo quanto seus olhos: — Espero que você possa me ver como um amigo, brutamontes.

Eu pisco sem muito jeito, encarando-o demoradamente antes de voltar a olhar para Hoseok, que ainda me mostra o mesmo sorriso carinhoso.

Não era isso que eu estava esperando. Não era mesmo.

Foram dezenove anos sem ter a quem chamar de amigo.

Foram dezenove anos me sentindo sozinho, me sentindo insuficiente, estranho e incapaz de despertar, em outro alguém, o desejo de se aproximar de mim por qualquer motivo além de atração.

Agora dois dos alunos mais geniais e admirados do campus dizem que querem ser meus amigos?

— Então? — Hoseok chama. Seu sorriso cresce ainda mais, iluminando seu rosto inteiro, ofuscando até mesmo a palidez já característica: — Posso dizer para todo mundo que eu sou seu amigo, não é?

Como se minha boca ainda estivesse abarrotada de comida não mastigada, falar se torna impossível e tudo que consigo fazer é gesticular o sim mais sincero de minha vida.

Hoseok me puxa pelo braço, tão de supetão que eu me atrapalho e quase caio da cadeira, desmontando contra seu corpo enquanto ele abraça e comemora como se tivesse ganhado na loteria.

— Vou considerar que a resposta vale para mim também. — Yoongi diz, do outro lado da mesa.

— Eu vou ser o melhor hyung do mundo. — Enquanto isso, Hoseok promete. — Você vai ver.

Eu até rio um pouco, apesar de todos os pesares, e tento arrumar meu cabelo quando me livro do abraço desajeitado para sentar apropriadamente mais uma vez, constrangido por continuar sendo alvo dos sorrisos dos dois.

— Parem de olhar assim para mim, cacete. — Peço, envergonhado.

— Olha, — O veterano de dança começa a dizer, junto a uma risada. — vou parar, mas só porque quero muito mesmo saber sobre você e Jimin. Como seu amigo, eu tenho o direito de perguntar!

Eu nego, abocanhando mais uma porção do almoço que já começou a esfriar. Ainda com a boca cheia, confesso:

— Eu não sei o que estava acontecendo, mas pelo visto não vai mais acontecer, então esquece.

— E deixar para lá é uma opção para você? — É Yoongi quem pergunta, agora. — Seja sincero... está tudo bem simplesmente esquecer o que quer que existe entre você e ele?

Entender meus próprios sentimentos é sempre complicado demais.

Agora, pela primeira vez, não é.

Mesmo que eu não saiba o que sinto por Jimin, menos ainda consiga definir o que acontece entre nós dois... eu não quero que acabe. Eu não quero mesmo.

— Olha... — Hoseok volta a falar, sempre com mansidão. — Pelo visto foi só um mal entendido. Não precisa ser tão pessimista. O que você precisa é conversar com ele. Uma conversa sincera resolve e até evita muitos conflitos, então... conversem.

Parece fácil, até. No entanto, eu não sei o que poderia dizer, se mostrar a verdade para ele não pareceu suficiente. Não sei se saberia usar o tom certo e resolver as coisas ao invés de piorá-las.

Mas Hoseok parece determinado a me convencer, então logo vem com um exemplo para tentar me convencer:

— Por exemplo, — Ele gesticula para Yoongi. — eu e Yoongi saímos uma vez há meses. De lá para cá eu sempre achei que ele tinha odiado, mas ele só estava com medo. Se tivesse sido sincero e conversado comigo, nós teríamos aproveitado tanta coisa nesse tempo perdido, mas não aproveitamos porque não teve comunicação. Viu? Conversar é importante!

Certo. Conversar é importante e ele sequer precisava do exemplo que fez Yoongi ficar todo vermelho, para me convencer.

Eu vou tentar conversar com Jimin, se ele quiser e deixar.

— Aliás, — Mas, para me tirar do foco da conversa antes que fique constrangedor demais, eu jogo a bomba para eles dois: — já saíram de novo?

— Não, neném. — Hoseok nega como se fosse óbvio. — Só quando você levar Jimin para um encontro, esqueceu?

— Nós não temos coisas mais importantes para nos preocupar? — Sem aguentar agora que é o foco da discussão, Yoongi logo se esquiva.

— Como...?

— O universo colapsando? — Seu tom vem com obviedade, ainda esquivo demais.

Talvez eu entenda por que Jimin sente tanto prazer em me afetar como sabe que afeta, agora que é divertido ver Yoongi todo afetado por Hoseok.

— O lance das tatuagens. — Sem perder tempo, o piromaníaco continua, retomando o relato que eu e Jimin fizemos a ele depois do que descobrimos: — Alguma novidade?

— Nada. — Reforço, ainda segurando o riso por ver as bochechas avermelhadas que ele parece tentar disfarçar. — Nós procuramos, mas são só aquelas. A serpente em mim, a equação da relatividade em Jimin. Nossa teoria ainda é a mesma.

— Já que estamos falando de algo sério para Yoongi fugir do assunto nós dois, me diz... — Hoseok começa. Yoongi explode em vermelho. Bem vindo ao meu mundo, cara. — Não aconteceu mais nada estranho?

Graças a deus, não.

Quer dizer, nenhuma estranheza nova.

— Só os sonhos. Sonhei de novo com outras versões de nós dois.

— Como eram essas versões? — Hoseok parece genuinamente curioso, como se essa fosse uma conversa normal, uma fofoca sobre outros amigos. — Eram iguais à primeira?

— Não. Nessa nós tínhamos uma porralhada de cactos e todos tinham nome. Bizarro.

— E teve a mesma sensação? — Ainda suavemente rubro, Yoongi volta a questionar. — De estar assistindo a vida de pessoas que existem de verdade?

— Sempre. É estranho feito o cacete. E quando eu falo, é como se eles me escutassem. É... nem sei. É coisa de doido.

— Eles te escutam? — Yoongi questiona, tão surpreso que só então percebo que não revelei esse detalhe depois do primeiro sonho narrado.

— Sim? — Respondo, confuso sobre o quão impressionado ele parece. — Sonhos sempre são esquisitos, mas esses superam todos os limites imagináveis e inimagináveis.

Hoseok é o primeiro a concordar. Yoongi o faz depois, ainda com o olhar denunciando uma desconfiança que não entendo e que, por ora, ele não justifica.

Nós apenas seguimos por outras conversas, conversando banalmente sobre multiversos, microuniversos, erros temporais e teorias enquanto almoçamos juntos.

Nenhuma nova grande descoberta é feita ao longo dessas conversas. Quer dizer, nenhuma descoberta sobre tudo o que está acontecendo. No entanto, existe uma coisa que percebo.

Descobrir os sentimentos e sensações que Jimin me desperta, poder chamar essas duas pessoas de amigos e poder estar aqui com eles enquanto também me reaproximo de minha família... tudo isso só é possível graças a tudo que deu errado no universo.

Então talvez seja uma percepção apressada e irresponsável, mas parte de mim agradece por tudo que aconteceu desde aquele acidente.

Está tudo errado. Ao mesmo tempo, parece que está certo pela primeira vez.

E para sentir que cada coisa está definitivamente onde deveria estar, eu preciso falar com Jimin. Não somente sobre o que aconteceu com Woo-ri.

Sobre tudo. Sobre nós dois.

Por isso, assim que me despeço de Yoongi e Hoseok depois do almoço, eu envio uma nova mensagem para ele.

Jimin-ssi, quando estiver mais calmo, me responde... Eu quero conversar com você. (13:53)

Ciente de que não devo esperar resposta imediata por mais que esse seja meu desejo movido pela ansiedade, eu tento ter paciência e me focar em outras coisas. Assim, meu próximo destino é a biblioteca, onde gasto as duas horas seguintes fazendo meu trabalho de Redes — que deveria ser feito em dupla, mas, tendo Jinhei como meu parceiro... é melhor fazer sozinho.

Pouco antes das quatro da tarde, o alarme de meu celular me indica a hora de arrumar minhas coisas para ir pegar Junghee na escola, então encerro meu login na carroça que eles chamam de computador, jogo tudo de volta na mochila e vou até Belinda.

Antes de dar partida, procuro uma resposta de Jimin. Com um suspiro frustrado e ansioso diante de sua total ausência, eu arrasto o visor do capacete para baixo e acelero em direção à Haeundae.

Um pouco atrasado, eu vejo alguns poucos alunos no pátio da escola quando estaciono em frente a ela. Não demoro para encontrar Junghee, sentado na grama enquanto gargalha de algo que Taehyung está fazendo, de pé, em sua frente.

— Hyung! — O moleque chama assim que me vê, quase engasgando com a própria risada.

— O que foi? — Sem negar minha curiosidade, eu me aproximo para entender o motivo de todo esse riso.

— Taehyung estava imitando a conversa entre você e Jimin hyung antes do beijo!

Cara...

— Eu já disse que você está morto, moleque! — Brado, furioso. Ele parece prestes a rir mais, mas se cala com a surpresa quando eu puxo a alça superior de sua mochila presa às costas e o forço a ficar de pé, logo em seguida puxando-o em direção de Bee.

— Jungkook-ssi! — Taehyung se abaixa para pegar a mochila no chão antes de nos seguir, correndo e rindo. — É mentira! Eu estava tentando imitar um cantor e me empolguei tanto forçando uma nota que acabei soltando um pum muito alto!

— Não importa. Eu ainda vou descer o cacete nesse fofoqueiro de satanás.

— Hyung!

— Jungkook-ssi!

— Hyung e Jungkook-ssi é a porra! — Eu finalmente solto meu irmão para poder pegar o capacete reserva, socar na cabeça gigante desse moleque e acabar com a vida dele quando chegarmos em casa.

Ele e o moleque-ssi ficam parados lado a lado, se encolhendo um contra o outro, continuamente com a pachorra de continuar soltando risadinhas.

— Eu nunca mais te digo merda nenhuma, Junghee. — Empurrando o capacete contra seu peito, eu seguro o meu apoiado sobre o banco de Belinda. — Valeu por explanar minha vida e ainda fazer piada sobre isso.

E só então ele percebe que eu não estou de brincadeira. Dessa vez, ele me deixou puto de verdade.

Logo seu riso morre, dando lugar a uma expressão nervosa, preocupada e arrependida.

— Hyung, eu não fiz pensando em te chatear...

— Tanto faz. Sobe logo.

— Hyung... — Ele insiste, segurando meu braço quando tento colocar meu capacete. Os olhos pretos parecem ainda maiores agora que se arregalam com o medo de ter passado dos limites. — Desculpa, hyung, por favor...

Ao lado, Taehyung apenas continua calado, com a expressão quase tão carregada quanto a de meu irmão.

Eu solto todo o ar, incapaz de impedir o gesto negativo que faço com minha cabeça quando percebo que talvez não precisasse reagir assim. Não precisava, porque eu sei que Junghee nunca diria a outra pessoa algo que sabe que me causaria incômodo real. E não me causa, na verdade. Apesar de todas as ameaças e a irritação quase fingida, no fundo eu acho que me divirto com as provocações que ele e Taehyung fazem.

Eu só não estou com o melhor humor para isso agora que Jimin está tão determinado a me evitar e eu sequer entendo o porquê.

— Foi mal. — Peço, diante dos olhos arrependidos dos dois. — Eu não precisava falar assim.

— Não, hyung... a culpa foi minha. Eu não sabia que te incomodava de verdade, então eu... desculpa. Eu não faço mais.

— Relaxa. Eu que não estou bem agora. — Tento tranquilizá-lo, ainda vendo sua expressão toda culpada.

— Aconteceu alguma coisa? — Seguindo arrependido, ele pergunta. — Você quer conversar com a gente?

Ao seu lado, Taehyung parece pensar em algo quando puxa sua mochila para a frente e procura algo num dos bolsos. Pouco a pouco, ele vai juntando alguns trocados nas mãos, até sorrir satisfeito quando conta tudo o que tem.

— Você gosta de chocolate quente, Jungkook-ssi? Eu pago um pra você! Pra te deixar mais feliz!

— Guarda seu dinheiro, moleque-ssi. — Peço, subitamente angustiado ao vê-lo juntar o que parece ser toda a sua economia para me comprar algo. — Não precisa.

— Eu faço questão, Jungkook-ssi! Tem uma cafeteria muito gostosinha aqui perto!

Puta merda.

Eu me sinto um bosta por ter gritado com eles agora.

Ainda relutante sobre deixar que ele gaste seu pouco dinheiro comigo, mas também para garantir que não estou chateado de verdade e deixar que se livrem da culpa que parecem estar sentido, eu checo o aplicativo do banco para ver se tenho o suficiente para gastar agora, sem tirar do dinheiro para a manutenção de Bee e para ajudar com as contas de casa.

Aí, guardo o celular mais uma vez, tiro a chave da ignição de Bee e penduro o capacete no braço.

— Então me levem lá. Mas eu pago.

Eles dois se entreolham por um instante, antes de voltarem a olhar com sorrisos imensos para mim. Taehyung corre em minha direção, me abraça pelas costas e começa a me guiar pela calçada, enquanto Junghee aperta o passo para nos acompanhar.

— Jungkook-ssi, você é o melhor!

— Solta, moleque-ssi. — Eu peço, mas em resposta ele me abraça ainda mais forte, implicante como é, e eu acabo falhando em conter uma risada desacreditada.

Cara de pau. O moleque não tem medo de morrer.

Guiado por esses dois, que agora parecem mais relaxados e animados, nós logo chegamos a uma cafeteria simples de bairro, numa rua de pequeno comércio nos arredores da escola.

Sentados numa das mesas plásticas, já com nossos pedidos feitos, Junghee e Taehyung comemoram feito loucos quando eu deixo que peçam uma fatia de torta para dividirem.

São fofos, os dois. Bonitinhos que só.

— Você quer falar agora, hyung? — Junghee pergunta quando faz uma pausa na lambeção que estava fazendo no garfinho do bolo.

— Sobre? — Pago de doido mesmo.

— Sobre o que te chateou, Jungkook-ssi. Sobre o motivo de você dizer que não vai rolar com Jimin-ssi... — Taehyung diz, cuidadoso. Depois, ergue as mãos como em rendição: — E juro que não estou sendo curioso e fofoqueiro agora! Eu só quero tentar te ajudar!

— Quer dizer, — Junghee pondera, apertando os olhos e as sobrancelhas: — você quer ajuda? Você queria... beijar... Jimin hyung?

Eu me recosto no assento, tocando continuamente na caneca preenchida com chocolate quente, roubando o calor para minha palma enquanto meus olhos recaem na espuma leve no topo da bebida.

É constrangedor dizer em voz alta que, sim, eu queria beijar aquele cara. Que, cacete, eu ainda quero.

— Ele está chateado sobre uma coisa, mas foi um mal entendido. E eu fiquei chateado por ele desconfiar tanto de mim, enfim. Eu já tentei explicar a verdade, mas ele está me evitando.

— E por isso você acha que não vai mais rolar? — Taehyung pergunta, apertando o próprio garfo contra o lábio inferior enquanto descansa o queixo sobre a palma da mão.

— É. — Respondo sincera e seriamente. Aí, os dois caem na risada.

Por que eles estão rindo?!

— Hyung... — Junghee começa, ainda se divertindo bastante. — Ele pode ter ficado chateado, mas você esqueceu? Jimin hyung olha pra você assim — Numa pausa, ele me mostra o que só pode ser um olhar apaixonado. — Ele é doidinho por você.

— Chega dando um beijão que ele esquece esse tal mal entendido!

— Não, Tae. — Junghee se opõe, reticente. — Eles têm que conversar pra resolver de verdade. Mas depois dá o beijão, hyung!

— Eu não vou ficar aqui ouvindo conselho de dois moleques. — Constrangido com toda essa história de beijão, eu desconverso. — Vão comer logo a torta ou eu pego e como sozinho.

— Está muito gostosa, Jungkook-ssi. — Taehyung anuncia, sorridente. — Obrigado por pagar!

Eu apenas assinto, fraco demais para esconder o sorriso quando eles dois voltam a dividir o pedaço de bolo como se fosse o melhor doce do universo.

Não demora e nós saímos da cafeteria, caminhando pela calçada da pequena rua comercial de volta até a escola. Sem qualquer intenção, eu vou passando meus olhos pelas vitrines das lojinhas, até que uma delas me faz parar por um item específico.

— Hyung? — Junghee chama quando me vê parado na frente da loja de presentes.

Eu continuo olhando para um único item, sorrindo ao perceber a estranha semelhança. E então, pela primeira vez, eu me sinto tão impulsionado a comprar algo para alguém.

— Esperem. — É tudo que peço antes de entrar na loja para pegar o chaveiro com a pelúcia pequena e levá-lo diretamente ao balcão. Para o atendente, anuncio: — Vou levar.

— Para quem é? — Junghee pergunta, e só assim percebo que os dois moleques me seguiram loja adentro.

Eu sorrio, vendo o bichinho sendo guardado dentro de uma sacola da loja. Aí, respondo:

— Para Jimin.

Enquanto eu pego meu celular para anunciar para ele, Junghee e Taehyung aparentemente se emocionam como se comprar uma pelúcia barata para alguém fosse um grande gesto.

Eu tenho uma coisa para te dar (17:22)

Depois de pagar, eu guardo o presente em minha mochila e dou um tapão na nuca de Junghee, depois um na nuca de Taehyung para eles pararem com a comoção e me seguirem.

— Ele dá muito tapa. — Junghee reclama, massageando o pescoço.

— E você entope muita privada, mas eu não estou reclamando, estou?

Meu irmão revira os olhos quando Taehyung começa a rir e revela:

— Ele já entupiu o da escola!

— Meu deus, moleque... — Murmuro, rindo enquanto caminho com eles pela calçada pouco movimentada. De repente, lanço uma olhadela desconfiada, e juro que a pergunta que sucede é séria: — É por isso que os outros alunos implicam com você?

Ele fica um pouco emburrado, acho que desconfortável, e só dá de ombros como se sequer soubesse dar uma resposta. Aí, Taehyung intervém mais uma vez:

— Jungkook-ssi... — Ele chama, parando de andar. Quando eu e meu irmão paramos também e meu olhar pousa curioso em seu rosto, ele anuncia como quem confessa um crime: — É por minha causa.

— Hm? — Murmuro, um pouco desentendido.

— Eu disse para você. Eu sou gay. Muita gente me destrata por isso e quando Junghee começou a me defender... todo mundo começou a maltratar ele também. Junghee sofre lá na escola porque é meu amigo.

— Eu já disse que não é só por isso. — O moleque diz, claramente para livrar a culpa que o amigo parece sentir. — É porque eu sou esquisito, Tae.

Ele é esquisitinho, sim, mas é bonitinho demais. Fofo mesmo. Não entra na minha cabeça que consigam maltratar Junghee.

— Os dois motivos são uma bosta e não justificam nada. — Aí, anuncio. — Espero que nossa mãe tenha dado um jeito nisso hoje. Mas caso contrário, na próxima vez que alguém triscar o dedo em você, Junghee...

— Eu sei, hyung. Eu te chamo.

Eu assinto. Olho para Taehyung.

— Você também, moleque-ssi. Você já tem meu número.

Ele abre um sorrisão, todo feliz, o mesmo sorriso quase retangular, acompanhado de um barulho de risada inocente.

— Obrigado, Jungkook-ssi! Aliás, você salvou meu contato? Colocou um emoji bonitinho? Coloca um coração roxo!

— Salvei como "Moleque-ssi" e uma carinha entediada. E se dê por satisfeito assim.

— E o coração roxo?

— Pede para o seu futuro namorado usar.

— Jungkook-ssi, eu estou encalhado! Vai demorar muito para namorar alguém! Coloca o coraçãozinho, vai!

Eu reviro os olhos antes de virar as costas para ele, o que o impulsiona a me seguir, continuamente com a tortura de Jungkook-ssi para cá e Jungkook-ssi para lá.

O moleque é chato, mas eu gosto dele. Por isso, quando voltamos à escola, eu e Junghee esperamos com ele no ponto até que seu ônibus passe. Só depois vamos para casa.

Quando chegamos, a primeira coisa que faço é procurar uma resposta de Jimin.

Nada.

Um suspiro vem, seguido de um pedido interno por mais paciência.

No entanto, minha paciência começa a se esgotar e meu nervosismo se intensifica quando ele me ignora no dia seguinte.

Na quarta, ainda me evita.

Minhas mensagens não são lidas, quiçá respondidas. Sempre que o encontro na universidade, ele se esquiva. Diz que tem treino e precisa ir, ou então inventa qualquer outro compromisso e foge.

Eu tentei dar o presente a ele. A pelúcia que encontrei por acaso. Jimin não aceitou.

Ele está me cortando completamente, eu continuo sem entender o porquê e, a pior parte, estou entrando em desespero.

Hoseok e Yoongi também não entendem o que está acontecendo. Junghee e Taehyung não têm mais sucesso que meus outros dois amigos. Eu sou o mais fracassado de todos, em tentar entender.

Se eu já provei que nada aconteceu, por que ele ainda me evita? Por que ele continua me torturando assim?

Eu não acho que, dentro de mim, resiste sequer uma parte do Jungkook que o odiava. Não existe mais a mágoa infundada que o desejava tão longe quanto possível. Porque agora que ele está se afastando, eu percebo que o quero perto.

Durante os dias desde que tudo isso começou, sua presença foi uma constante em minha vida. Eu achei que tinha me habituado a isso, à sua companhia. Agora, percebo que estava errado. Eu não me acostumei a ter Jimin por perto. Eu passei a adorar sua presença.

Os olhos únicos, simultaneamente gentis e intensos. O jeito de me provocar e se divertir com as reações involuntárias que tenho, com toda a gagueira e vermelhidão no rosto. A forma como seu raciocínio parece em sintonia com o meu até sobre os assuntos mais improváveis, seu jeito de reparar em meus detalhes, de me dizer ofensas rasas para logo depois revelar mais um motivo que o fez gostar de mim. Seu riso gostoso, sincero e espontâneo e seu jeito fácil de me fazer rir da mesma forma... tudo isso me faz falta, muito mais do que eu poderia me sentir confortável para admitir.

— Nada? — Junghee pergunta, ao meu lado na minha mesa de estudos, quando massageio minha nuca num gesto nervoso depois de checar mais uma vez que não há qualquer sinal de Jimin em minhas notificações no celular.

Ainda é quarta à tarde. Ele está me evitando desde segunda pela manhã. São pouco mais de quarenta e oito horas e eu já não aguento a agonia intensificada pela incerteza da situação, por imaginar se, e quando, ele vai voltar a falar comigo.

Com um gesto negativo em resposta à pergunta de meu irmão, eu viro a tela do celular para baixo e olho para o seu caderno.

— Deixa eu ver sua resposta — Digo, puxando-o para avaliar o desenvolvimento dos cálculos da última questão que pedi para ele fazer.

No meio da agonia, sorrio com orgulho ao perceber que ele acertou todo o raciocínio de primeira.

— Esse é meu irmão! — Digo em tom igualmente orgulhoso, juntamente lascando um tapa em seu ombro.

— Sério?! — De tão feliz, ele nem reclama.

— Sim. — Ainda orgulhoso, mostro a penúltima linha dos cálculos. — Você só se atrapalhou aqui, no sinal. Mas a parte mais difícil, acertou inteira.

Mesmo com o pequeno deslize, Junghee sorri orgulhoso do próprio desempenho. Nós estamos há dias revisando os mesmos assuntos e, para ele, é realmente difícil assimilar o raciocínio matemático, então dá uma sensação boa demais ver que o esforço dele está dando resultados, no seu próprio ritmo.

— Chega por hoje? — Ele sugere, então.

— Nós começamos agora, moleque. Não enrola.

Ele balança a cabeça para os lados, puxando o próprio celular.

— Você está me ajudando muito, hyung. — Ele diz, simultaneamente digitando algo no teclado touch. — Então eu vou te ajudar também.

Eu levanto minhas sobrancelhas num gesto desconfiado, tentando tomar seu celular e também sendo impedido quando ele faz sua cadeira rolar para longe de mim, segurando o telefone com as duas mãos enquanto mantém os olhos fixos na tela.

Pouco tempo se passa até que ele sorri, satisfeito.

— Pronto! — E anuncia.

— O que você fez, Junghee? — Meu questionamento desconfiado é feito. Ainda todo satisfeito, ele vira a tela para mim e eu vejo que ele enviou uma mensagem para Jimin. — "Jimin hyung, onde você está? Eu preciso de sua ajuda"? — Leio em voz alta o que ele enviou, então olho para sua expressão bandida. — Deu pra ser mentiroso agora, moleque?

— Não estou mentindo. Eu preciso da ajuda dele para ajudar meu irmão! — Se defende, balançando o celular para que eu devolva minha atenção à tela. — Lê a resposta dele!

— "Estou na MoonMoon. O que aconteceu? Me manda sua localização, eu já vou até aí" — Ao longo da leitura, minha voz vai perdendo força.

Ele é atencioso pra cacete.

E babaca também.

Ele responde meu irmão imediatamente e nem visualiza as minhas mensagens!

— Vou dizer que ele não precisa ir até onde estou, que eu vou até a MoonMoon. — Junghee anuncia, novamente digitando algo. Quando eu continuo parado, seu olhar sobe até meu rosto e ela me mostra uma expressão impaciente e inquisitiva: — Vai ficar aí parado ou vai lá tentar conversar com ele?!

Eu umedeço meu lábio num último instante de hesitação antes de levantar da cadeira e caminhar até minha mochila para pegar a chave de Bee.

Aí, a sacola da loja parece ofuscar ali dentro e, tomando apenas três segundos para decidir, eu pego o maldito chaveiro de pelucia e o guardo no bolsão frontal do meu moletom.

Quando saio do quarto, Junghee grita: — Boa sorte, hyung!

E aí eu faço tudo o que preciso fazer agora. Subo em Bee. Começo a pilotar em direção ao destino tão familiar em minhas lembranças. Estaciono numa das vagas ao lado da lanchonete, sobre o piso recoberto de pedregulhos, me livro do capacete assim que salto para o chão e... paro.

Diante da fachada da lanchonete que evitei por três anos, meu corpo para.

Pelas grandes janelas, eu vejo o interior. De lá para cá, pouco mudou. Vejo minha mãe atendendo uma das mesas, dessa vez com um sorriso pequeno. Ainda não tão grande quanto costumava sorrir sempre que meu pai nos trazia aqui para vê-la trabalhando.

Depois, meus olhos logo distinguem a silhueta de Jimin ocupando um dos assentos próximo ao vidro. Antes mesmo que eu o encontrasse, ele já parecia ter me percebido aqui fora.

Ao menos é o que seus olhos surpresos, vidrados em mim, me fazem pensar.

Jimin está na MoonMoon. O lugar que eu evitei ainda mais que o cemitério onde o corpo de meu pai foi enterrado.

Três anos depois, eu também estou aqui. E eu não volto atrás, por mais que tenha medo de ser esmagado pelas lembranças que a lanchonete me traz.

Três anos depois, eu faço a sineta no topo da porta anunciar minha chegada. E eu entro.

Meus olhos buscam os de Jimin sem demora. Os seus continuam arregalados, mirados em mim quando eu paro ao lado da entrada.

— Filho?

Aí, antes que eu comece a caminhar na direção do motivo que me fez vir aqui depois de todo esse tempo, meus olhos são arrastados para outra direção assim que ouço a voz surpresa de minha mãe.

Ela está parada um pouco distante, virada para mim com uma bandeja vazia ao lado do corpo. O uniforme alinhado, o cabelo preso no mesmo rabo de cavalo de sempre, exatamente como era sempre que meu pai me trazia aqui. Mas o sorriso... ele, é diferente.

O sorriso é maior.

Minha mãe nunca sorriu tão grande, quando a surpresa semanal era feita. Agora, ela está sorrindo tanto que a pele ao redor de seus olhos exibe rugas intensas, mas isso só a deixa mais bonita.

— Eu não acredito que você voltou aqui... — Quando deixa a bandeja sobre o balcão e se aproxima, ela diz.

Eu sorrio um pouco também, desajeitado quando sua mão me acaricia o braço depois de um abraço.

Eu tinha medo de enfrentar as lembranças felizes que esse lugar guarda, sabendo que não poderia construir novas boas memórias aqui. Mas eu estava errado. Esse sorriso de minha mãe é a melhor memória de todas.

— Você quer alguma coisa? — Ela pergunta, ainda completamente feliz. — Quer aquele sanduíche? Eu peço para fazerem o seu com uma porção extra de batata frita!

Eu nego, deixando meu olhar viajar para Jimin por um instante. Assim, percebo que ele já voltou a evitar até olhar em minha direção.

Aí, confesso para minha mãe:

— Eu vim falar com Jimin e não estou com muita fome. — Ainda assim, ela sorri. Tão feliz que, num impulso para prolongar sua felicidade, eu digo: — Depois... depois eu posso vir com Junghee aqui. E aí você pode socar batata frita de graça no meu pedido.

— Toda a batata frita que você quiser, meu amor — Ela garante, ainda tão feliz que me desregula inteiro.

— Ok. — Para firmar minha promessa impensada e, sinceramente, inesperada, eu digo. Ela sorri mais e me acaricia o braço mais uma vez, antes de dar um tapinha motivacional.

— Vai, pode ir falar com seu amigo. Me chame se quiser qualquer coisa!

Eu faço que sim, sorrindo um tanto envergonhado com o último carinho que ela me faz na bochecha antes de se afastar para voltar ao trabalho. No entanto, o faz ainda com o mesmo sorriso.

Eu, no entanto, sinto o meu desfalecer quando percebo que Jimin está pegando sua bolsa para ir embora.

— Eu preciso ir agora, Namoo. — Quando me aproximo, ele diz para o senhorzinho, que continua sentado na mesa até então compartilhada pelos dois. — Termine de comer com calma, sim? E depois vá para o abrigo. Eu já deixei dinheiro para um dos funcionários chamar um táxi para te levar lá.

O senhor franzino, frágil e com roupas puídas parece constrangido.

— Eu já disse que não precisa fazer isso, menino...

— E eu já disse que vou continuar fazendo. Está ficando muito frio, o senhor não vai passar a noite na rua. — Jimin garante, incapaz de dirigir o olhar até mim mesmo que eu esteja parado ao lado de sua mesa. De pé, ele mostra um sorriso pouco natural para o velho ainda sentado: — Se cuida, Namoo. Até depois.

E aí ele se afasta. Parece disposto a passar direto por mim, mas já chega.

Eu seguro sua mão, impedindo que ele vá.

— Você vai continuar fugindo? — Pergunto, já completamente desiludido.

— Me solta, por favor.

Eu não consigo esconder a decepção quando meus olhos transbordam o sentimento. Jimin, por outro lado, parece ainda mais magoado que antes.

— Ah... você voltou. — Namoo diz, só então me percebendo e me reconhecendo. Eu gostaria de forçar um sorriso para cumprimentá-lo, mas não consigo.

Por sorte, ele parece lembrar de algo antes de se ofender por minha expressão pouco amistosa, e é para Jimin que direciona seu questionamento:

— Isso me lembra de perguntar... e aquela pessoa de quem você gosta, Jimin?

Jimin sorri. Puxa seu braço para se livrar de seu toque. E, antes de se despedir do senhor com um último gesto, confessa:

— Eu desisti dele.

No instante em que Jimin segue caminho para fora da lanchonete, os olhos de Namoo se enchem de confusão. Certamente, não tanto quanto os meus — que, além de confusos, carregam uma dose conjunta de desespero e impaciência.

— Puta que pariu — É o que exclamo, talvez não tão baixo quanto deveria, quando abro passadas longas e apressadas em direção à saída, seguindo pela calçada em direção ao estacionamento.

Quando vejo Jimin se preparando para entrar em Pandora, eu penso seriamente se mando toda essa merda para o inferno ou se tento uma última vez. Antes que decida, no entanto, acontece novamente.

A tontura é repentina. Minha cabeça lateja por segundos de uma dor dilacerante, enquanto a mesma voz sem som reverbera em minha mente.

Noventa e nove.

O tempo está acabando.

São apenas breves instantes, mas o impacto da dor que relampeja por meu corpo se prolonga até mesmo quando ela se esvai, impulsionando a necessidade de me apoiar na parede da lanchonete para não desabar no chão enquanto resfolego intensamente.

— Jeon? — Depois da voz que ecoa em minha mente, é a de Jimin quem me alcança. Não demora para que seu toque chegue a mim quando ele se apressa sobre os pedregulhos e apoia a mão em meu peito, com a expressão apavorada. — Jungkook, o que aconteceu?!

Ainda ofegando pela surpresa, eu seguro seu pulso apenas para afastar seu toque, repelindo-o como se fosse sua culpa.

E talvez seja.

Por que esse maldito aviso voltou agora, justo quando Jimin começa a me evitar com todas as suas forças?

— Você pode desistir de mim, se quiser — Eu digo, olhando-o com ressentimento. No entanto, não pelo motivo que anuncio a seguir: — Mas nós ainda temos uma merda de universo colapsado por nossa causa e não sabemos como consertar, então pare de agir como se eu não existisse!

A expressão de Jimin, antes apenas preocupada, agora está preocupada e surpresa.

— Jeon...

— Me deixa. — Eu peço, recuando para depois tentar avançar até Belinda. — Me procure quando estiver disposto a parar de agir como um otário.

— O que você está fazendo? — Ele insiste, me segurando quando me vê caminhar até Bee. — Você vai pilotar? Depois disso?!

— Então de repente você voltou a se preocupar comigo? — Questiono, amargurado.

Me irrita porque nada disso é justo. Eu não fiz nada de errado, Jimin sabe disso e continua agindo como se eu fosse um nada. Então já não basta lidar com a confusão de tudo que está acontecendo, dos sentimentos que venho descobrindo e tentando entender, eu também ainda preciso lidar com sua atitude injustificável durante dias?

Essa é a primeira vez que eu sinto tanta raiva de Jimin e sei dizer exatamente por que estou tão irritado.

— Jeon, por favor... — Ele pede, aflito. — Você não entende...

— Não entendo! — Garanto para ele, ainda furioso. — Eu não entendo nada do que você está fazendo durante os últimos dias, mas não foi por falta de tentativa! Eu tentei conversar com você mais de uma vez e você me afastou em todas elas, então não venha com essa merda de que eu não entendo se é você quem não me deixa entender!

Ele fecha os olhos diante da minha confissão frustrada e cansada, respirando fundo como quem tenta controlar o próprio desespero.

— Por favor — Insiste, algum tempo depois, falhando até em me olhar. — Só me deixa te levar até sua casa em segurança. Por favor, Jeon.

— Você vai me explicar que merda aconteceu, se eu deixar? — É a resposta que vem antes que eu possa impedir.

— Eu explico. Eu converso com você. Só não pilota agora, por favor.

Eu umedeço meus lábios mais uma vez. Me dá uma sensação esquisita, ruim, ver Jimin aflito dessa forma. No entanto, eu também ainda estou frustrado, então tudo que faço é ceder ao seu pedido, sem ceder na postura. Eu não consigo, agora.

Assim, sem dizer mais nada, eu me solto dele, caminho até seu conversível e pulo para o banco do passageiro, permanecendo calado até mesmo quando Jimin, com passos mais lentos e receosos, se aproxima para ocupar o lugar ao meu lado.

Desse momento até o instante em que Pandora para na frente de minha casa, nada é dito. Quando o motor é desligado, eu não me movo, não falo. Continuo olhando para o lado oposto, sem coragem para direcionar meu olhar para Jimin.

— Jungkook-ssi...

Eu aperto meu lábios ao ser chamado assim, em seguida balanço minha cabeça para os lados.

— Você mentiu. Você não vai conversar. — E aponto o que me parece a percepção mais óbvia diante de seu tom.

Ele fica em silêncio, por um instante, e essa é a confirmação que me é dada. De minha parte, uma risada amarga, sem qualquer humor.

— Entendi. — Digo, sem outra opção a não ser me conformar. Finalmente, me livro do cinto de segurança. Mas, antes de descer, lembro de outra coisa e abro o bolso de meu moletom, tirando a pelúcia pequena daqui de dentro. Por um instante, olho para ela com nada além de frustração e, por fim, coloco-o sobre as pernas de Jimin. — Isso era pra você. — E anuncio, logo em seguida descendo do carro.

Um chaveiro de pelúcia. De coelho. Um coelho preto e branco, que me fez lembrar de Jungoo.

Preto e branco, que me fez lembrar da arte de Jimin.

Agora, não importa.

Não importa enquanto eu atravesso o meu jardim em direção à porta de casa, aumentando a distância que Jimin parece ter exigido durante os últimos dias. Me distanciando a cada passo, a cada pensamento que martela em minha mente, a cada desejo recém-descoberto e não concretizado.

Me distanciando mais e mais, até que ele volta a nos aproximar. Até que eu ouço o som da porta de Pandora sendo apressadamente aberta e logo em seguida, fechada. Até que seus passos são escutados na sequência. Até que me viro, surpreso, e vejo Jimin já aqui, com a pelúcia na mão e a expressão corrompida por arrependimento.

— Eu fiquei com medo. — E assim, ele dispara. — Eu fiquei com muito medo do que estava sentindo, Jungkook, e eu fugi porque é isso que eu faço quando sinto medo. Eu fujo.

No silêncio que sucede sua confissão repentina, eu não consigo fazer nada além de olhá-lo com surpresa, talvez inconscientemente à espera de alguma continuação. Antes de seguir, ele aperta a pelúcia na mão, olhando para ela como se o presente lhe causasse ainda mais dor.

— Eu gosto tanto de você há tanto tempo, Jungkook. Tanto que nem consigo acreditar... mas nunca foi assim. Nunca foi como está sendo agora. Meu coração fica louco quando te vê e toda vez que nós estamos juntos eu fico tão feliz que me enlouquece. Você sabia disso? Que a cada segundo eu me apaixono ainda mais por você? Que te conhecer melhor me fez perceber que você é diferente do que eu sempre acreditei e que essa versão, a versão de verdade, é a minha favorita?

— Se é sua favorita, por que é essa a versão que você está afastando? — Infelizmente, falho em conter o questionamento frustrado. — Por que é ela que te faz sentir medo, Jimin?

— Porque... — Ele hesita por um instante, antes de confessar. — Porque agora eu sinto ciúmes, Jungkook. Porque antes tudo que eu sentia por você era bom, mas agora... agora eu descobri esse sentimento ruim, que me fez desconfiar de você e agir como um idiota. É desse sentimento que eu tenho medo, porque eu vi minha mãe sofrer a vida toda por um homem que dizia sentir amor, mas tudo que ele sentia era ciúmes e raiva, tudo que ele fazia era acusar, gritar e infernizar nossa vida. E eu não quero ser como ele. Eu não quero ser para você e para ninguém nem um pouco do que esse homem foi para nós, Jungkook.

Acho que essa é a primeira vez que Jimin compartilha algo tão íntimo do seu passado. Uma confissão que, ao mesmo tempo em que esclarece, me enche de dúvidas também. Mas esse não é o momento de fazer essas perguntas, porque ele já parece estar se esforçando tanto para me dizer o que disse. Então, no lugar, eu faço minha própria confissão:

— Eu também senti ciúmes de você com Jinhei, Jimin. Quando ele ficou falando sobre como é estar com você, meu sangue ferveu. Isso me faz tão ruim quanto esse homem é?

— Claro que não, Jungkook... É um sentimento. Nós não controlamos o que sentimos, só controlamos como reagimos. E você não reagiu mal como eu reagi.

— Mas eu já reagi mal em vários outros momentos. E você sempre mantém a calma, mesmo quando eu erro. Você sempre acerta, Jimin. Sim, você errou dessa vez, mas se eu posso ter outra chance depois de errar, se eu posso aprender com os erros que cometi, por que você não pode?

— Porque talvez esteja no meu DNA. Talvez seja mais forte que eu.

— Então você vai me excluir completamente de sua vida por isso? Por uma possibilidade que parece mais fruto do seu medo que qualquer outra coisa?

Ele respira fundo, com os olhos bonitos ainda carregados com essa confusão de sentimentos.

— Eu não vou me deixar ser nem um décimo do que aquele homem é. E foi por isso que eu fugi de você. Porque eu achei que conseguiria fazer isso a qualquer custo, mas... — Olhando para a pelúcia em suas mãos, Jimin parece prestes a desmoronar sob os próprios sentimentos. — Mas desistir de você não é uma opção. Não pode ser.

— Então você está desistindo de desistir?

— Se você deixar. Eu vou fazer tudo que puder para não ser alguém que não quero ser. Eu vou aprender a lidar com os sentimentos novos, mas não posso abrir mão de tudo de bom que você me faz sentir para conseguir isso. Então... se você puder me dar mais uma chance, se eu puder tentar de novo, eu...

Ele é louco por pensar que existe a possibilidade de não receber uma segunda chance.

Logo de alguém como eu, que errou tanto na vida e, mesmo assim, recebeu um voto de confiança.

Ele é louco por acreditar que um mal entendido, um deslize ao lidar com os próprios sentimentos faz dele um monstro.

Ele é louco, por isso não deixo que nenhuma outra insanidade seja dita por sua boca. Não deixo, porque tem algo melhor que ele pode fazer com ela.

Ele pode me beijar.

E eu sei que ele não esperava. Eu também não esperei ser tão impulsivo assim, mas se o tempo está acabando, eu quero aproveitá-lo fazendo o que sei que nós dois queremos.

Então eu vou em sua direção. Eu vejo seus olhos se arregalando em surpresa quando a voz morre no meio do seu pedido pela chance que não será negada. Quando minhas mãos seguram sua cintura, o corpo dele parece se desequilibrar, tropeça em algum obstáculo invisível, e eu o seguro apenas por um segundo, para logo depois puxá-lo de vez para mim. No último instante, eu subo minha mão até seu pescoço e acaricio sua bochecha com meu polegar, usando o outro braço para mantê-lo firme enquanto ele parece ter perdido toda a firmeza nas pernas e usa as mãos para se segurar em meus braços, com o chaveiro agora pendurado num dos dedos.

E para dar fim definitivo à sua loucura momentânea, peço:

— Você está me devendo um beijo, Jimin-ssi. Então para de falar e me beija.

Eu não sei se meu pedido é inteiramente verbalizado. Não sei, mas não me importo. Porque ele entende e atende.

Jimin me beija.

Sua mão vem até minha nuca. Seus lábios vem até os meus. Ele me puxa, enterra os dedos entre meus cabelos, as unhas em meu braço, sua língua em minha boca. Jimin me beija. Como se fosse a coisa que mais desejou por toda sua vida, ele me beija. E na mesma intensidade é beijado de volta.

Seu corpo se curva mais para trás quando eu me inclino em sua direção, sua cabeça muda de direção quando a minha se move, sua língua busca e encontra a minha mesmo quando nossos lábios não se tocam por completo. E quando se tocam, ele lambe e chupa o meu inferior, me puxa os cabelos, me agarra o músculo do braço.

Jimin me sente inteiro, me mantém refém de seu desejo. Do nosso desejo, do nosso beijo.

Ele me puxa, me faz inclinar ainda mais, abraçar sua cintura com os dois braços para impedir que ele caia.

E cair não é o problema. O problema é precisar parar de beijar sua boca caso isso aconteça.

De todas as dúvidas que eu tive, essa está definitivamente descartada.

Beijar Jimin é surreal. Sua boca é deliciosa. Seu jeito de beijar é inacreditável. Seu coração disparando contra o meu é coisa de outro mundo.

Cada detalhe, cada sensação me faz pensar que talvez essa tenha sido mesmo a causa para tudo que está acontecendo. Talvez o universo tenha colapsado para que chegássemos até aqui, porque seria errado, criminoso, não beijar Jimin.

E enquanto as sensações físicas são enlouquecedoras no melhor e mais desejado sentido que possa existir, tem algo a mais.

Tem essa sensação aqui dentro. Esse calor único, como se o sol estivesse condensado dentro de meu corpo, no interior de minha alma. Não como o calor insuportável do verão, nem ameno como o da primavera. É o calor intenso, vivo e bem-vindo que se sente quando tudo está no seu devido lugar.

É o calor das coisas acontecendo como devem acontecer.

Jimin e Jungkook juntos, como em todas as outras realidades.

— Meu deus... — Ele ofega quando o beijo é subitamente interrompido, evidenciando nossa falta de ar conjunta.

Meus olhos se abrem, mas eu continuo completamente desnorteado quando sorrio pequeno, apenas o canto dos lábios contemplando tudo isso que estou sentindo agora.

— Eu também senti. — Revelo para ele, porque seu tom de surpresa só pode ter sido causado pela mesma sensação que eu tenho aqui dentro. Aí, uso suas próprias palavras: — Meu deus, Jimin...

Ele sorri com esse quê de preguiça, devagar e fraco.

Em seguida, se aproxima para deixar um selar suave em minha boca, fechando os olhos mais uma vez quando beija meu queixo e sorri com as cócegas que meu nariz faz em sua testa.

— Era isso? — Ele pergunta enquanto, sem pensar, eu arrasto a ponta de meu nariz em sua pele. — O que nós precisávamos fazer para tudo isso acabar?

— Não sei — Honestamente, nem me importo.

Jimin sorri. Afasta um pouco o rosto para poder me olhar nos olhos e dizer:

— Então, por garantia, nós deveríamos nos beijar de novo. E de novo, depois. E mais uma vez...

Eu não posso me opor. Desejo menos ainda.

Porque talvez eu não esteja salvando o universo, mas pelo menos estou beijando Jimin.

Continua no próximo capítulo.

E finalmente: nada de bitoquinha! Dessa vez foi BEIJÃO mesmo! E com o Jungkook tendo total certeza de que queria isso. Deixe aqui o seu AMÉM!

E eu quero muito falar sobre isso com vocês no twitter, então pra não dar spoiler a quem ainda não tiver lido, vamos usar um código pra falar sobre o beijo na #belindaepandora?

Ao invés de dizer "os jikook se beijaram" vamos dizer "os jikook comeram frango juntos". Ou, no lugar de "o jungkook beijou o jimin", dizemos "o jungkook comeu frango com o jimin". E assim vai, pode ser? hahahaaha

Agora saindo um pouco da alegria... gente... na última vez que atualizei cem chances, há duas semanas, as coisas estavam muito diferentes. Eu nunca imaginei que a vida mudaria tanto pra todo mundo em tão pouco tempo

Agora é um tempo difícil, que nenhum de nós nunca vivenciou. Por favor, se cuidem. Não botem a mão perto do rostinho e lavem direitinho, sempre! evitem sair de casa quando não for extremamente necessário, se alimentem bem e bebam muita água. Principalmente, tentem conscientizar as pessoas ao seu redor, as de mais idade estão sendo muito teimosas e a gente precisa cuidar delas. Procurem informações de fontes confiáveis, mas ocupem a mente com outras coisas também. Vamos todos tentar ficar bem, ok? Física e mentalmente.

O medo é inevitável. Eu particularmente estou sentindo muito, mais por minha família que por mim. Mas vamos tentar manter a calma tanto quanto o possível e nos cuidar. Por nós e por todas as pessoas que nos cercam ):

Como estou com muito tempo livre em casa (só preciso fazer uns ajustes para finalizar um trabalho da universidade), eu preciso me cuidar para não deixar a cabeça vazia e me encher de pensamentos ruins. E pra tentar ocupar vocês também, eu estou pensando em usar a única coisa que sem fazer (escrever) pra tentar dar esse apoio pra gente agora nessa fase difícil. Se quiserem participar e acompanhar, fiquem de olho aqui no perfil ou lá no twitter (eucatastrophia)

E ah! Eu postei uma nova longfic. Chama "Hemisférios" e vocês podem encontrar aqui no meu perfil! É jikook, com mistério e drama, jimin com tatuagem no pescoço e jungkook com long hair loirinho!

Esse aqui é o booktrailer dela:

https://youtu.be/VxIotUlzlCo

Por enquanto é isso, nenéns. Fiquem bem. Eu vou tentar ficar também. Vamos passar por isso juntos, ok?

Último parágrafo para teorias. Dica: um ponto narrado nesse capítulo é o ponto chave 

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