[f(17) = 3x - 34] Entrelaçados

 🔮

Raiva.

Tristeza.

Definitivamente, esses foram os únicos sentimentos cultivados dentro de mim durante três longos anos.

Agora, meu coração acelera por outro motivo.

Bate tão forte e tão rápido que me assusta a possibilidade de vê-lo fugir de meu peito. E ainda que não o faça, eu desconfio que todos ao redor podem escutar seus sons desastrados. Mas enquanto eu sinto minhas palmas suadas, os batimentos taquicárdicos e a boca seca, ninguém nessa cafeteria parece perceber o que está acontecendo.

Ninguém parece perceber que, por baixo da mesa, o dedo de Jimin continua entrelaçado ao meu.

Enquanto Hoseok olha o cardápio com atenção, Jimin e Yoongi já parecem ter decidido seus pedidos, atentos a outra coisa que não meu colapso iminente.

Por ser uma cafeteria nos arredores da universidade, nós todos já estamos habituados com o menu, ainda que nunca tenhamos vindo todos juntos. O local é aconchegante, movimentado, mas silencioso, e certamente cada um de nós já esteve aqui nos momentos em que precisávamos parar para recuperar a energia que parece sempre ser sugada pelo meio acadêmico.

Em outra ocasião, eu facilmente escolheria meu pedido. Pararia no balcão, pediria um chocolate quente com pouca espuma e uma porção de mini croissants sem recheio. Ali, eu sentaria sozinho, cercado por outros universitários que, diferente de mim, estariam dividindo a mesa e conversa com seus amigos.

Hoje, eu finalmente sou uma dessas pessoas. Eu finalmente deixei de ser o cara esquisito que senta sozinho. Agora, eu sou o cara esquisito que senta com os... amigos?

Sei que é pretensão demais chamá-los assim, mas a circunstância atual me priva de encontrar um substituto mais brando. É impossível tentar escolher a palavra certa para me referir a eles quando Jimin interdita todo o meu pensamento ao manter seu indicador enrolado ao meu mindinho.

— Chá de ameixa? — Hoseok sugere, sentado em minha frente, deslizando os olhos do cardápio em suas mãos até deitar sua atenção em mim. — Ou de gengibre? O que você prefere? Lembre que seu hyung vai pagar!

Minhas duas mãos estão escondidas debaixo da mesa. Uma, em contínuo contato com a de Jimin; a outra, quase rasgando minha calça de tanto apertá-la.

— Ameixa. — Finalmente respondo, precisando de um esforço descomunal para não gaguejar.

— Você está bem? — É Yoongi quem pergunta, com o braço apoiado no encosto da cadeira de Hoseok, ao seu lado. — Você está suando frio.

— É dor de barriga? — Hoseok pergunta, preocupado. — É melhor não pedir o de ameixa, então. Vai soltar mais. Uma vez eu comi um doce com ameixas e o banheiro foi meu melhor amigo por um dia inteiro.

Jimin está surpreendentemente calado, ao meu lado. Sua mão, a que não toca a minha, sustenta seu queixo ao mesmo tempo em que seus dedos escondem um sorriso discreto e nervoso em seus lábios. Seu rosto está suavemente virado para o outro lado, seus olhos parecendo evitar os meus desde que nos sentamos.

Quando eu nego a suposição de Hoseok, ele e o piromaníaco continuam me olhando com desconfiança. É óbvio que eles percebem que algo está estranho, mas não sabem o motivo. Porque ele está escondido debaixo da mesa. Ele é um segredo compartilhado apenas entre Jimin e eu.

— O de ameixa está bom. — Garanto enquanto, simultaneamente, me pergunto se Jimin está sentindo o suor em minha mão.

— Um chá de ameixa, dois cafés pretos e um capuccino, então. — Hoseok repassa cada pedido para o garçom, para então pousar os olhos cansados, mas suaves, em mim: — Quer mais alguma coisa, Jungkook? — Eu nego timidamente, o que logo faz Hoseok passar o cardápio para o atendente. — É só isso. Obrigado.

Nós ficamos os quatro em silêncio, até que o garçom está suficientemente afastado e Jimin volta a nos dar sua atenção, trazendo junto uma risada leve.

— Você está levando a sério essa coisa de ser um bom hyung. Pare com isso. Desse jeito eu vou deixar de ser o favorito de Jungkookie.

Ah, meu deus...

— Caramba — Hoseok ofega com surpresa, rindo ao olhar para mim. — Jimin realmente te deixa todo vermelho.

Eu desvio o olhar com puro nervosismo, mas não deixo de perceber a risada que o próprio Jimin deixa escapar suavemente. Ainda mais improvável seria deixar de perceber o que ele faz, sob a mesa, enquanto ri.

Ele solta meu dedo.

Assustado por meu primeiro reflexo ser olhá-lo com surpresa, e deus que me ajude por não sentir sequer uma pontada de alívio, ele nem mesmo olha em minha direção quando volta a me tocar, dessa vez entrelaçando dois de seus dedos a dois dos meus.

Eu rapidamente volto a abaixar meu olhar, mas não ouso afastar minha mão da sua.

No entanto, não deixo de pensar: se continuar assim, até o fim da manhã... nós estaremos de mãos dadas?

A ideia me faz suar ainda mais apenas pela antecipação e tudo que eu peço aos céus é para que Jimin não perceba a camada úmida em minha mão.

— Isso é desconfortável. — Eu poderia facilmente ser a voz a anunciar, mas é Yoongi quem diz.

Eu olho para ele, encontrando-o com os braços cruzados e os olhos pequenos mirados num ponto qualquer na lateral da lanchonete. Talvez ele nem perceba que está quase fazendo um bico emburrado com os lábios.

— Não é. — Hoseok logo se agita. — Vamos conversar. Sobre coisas normais! É para isso que estamos aqui! Está desconfortável porque ninguém está falando nada...

— Sobre o que você quer falar? — Jimin pergunta, atencioso. — Talvez... Música é um bom tópico?

— Sim! — O veterano de dança responde, alegre. — Para Yoongi também é, com certeza, já que ele tem graduação mista em astrofísica e música!

— É, sobre isso... — Jimin pergunta, parecendo segurar o riso: — Sempre fiquei dividido entre te achar corajoso ou louco.

Yoongi parece olhá-lo prestes a rebater com fervor, mas eu sou obrigado a deixar de dar atenção à conversa quando meu celular vibra em meu bolso. No bolso direito. O bolso que fica do lado da mão que está presa à de Jimin. Incerto, eu não demoro muito tempo para decidir que não quero soltá-lo, então faço um verdadeiro show de contorcionismo para usar minha mão esquerda para puxar o telefone para fora.

Coisa que, invariavelmente, chama a atenção de todos os outros três na mesa, que até interrompem a conversa para me assistir.

— Podem continuar — Eu peço, completamente constrangido ao perceber que eles ignoram minha instrução e Jimin tenta me tirar toda a concentração ao mordiscar o próprio lábio cheio para tentar esconder o sorriso que percebo no canto de seus lábios mesmo assim.

Sem perceber que eu mesmo umedeço meus lábios num gesto de reação, logo minha atenção recai no que realmente importa.

Porque quem está me ligando é Junghee, que nunca me liga durante o horário da aula. Quando finalmente o faz, é no dia em que eu deixo claro que ele deve me ligar caso qualquer coisa aconteça. Naturalmente, eu me sinto agitado pelas possibilidades.

— O que foi, moleque? — Disparo assim que deslizo o dedo pela tela para aceitar sua ligação e posiciono o celular contra minha orelha.

Apesar do tom ríspido, não é grosseria. É preocupação.

Você pode vir me pegar, hyung? — Ele responde, lá do outro lado, falando bem baixinho. — Por favor...

— Fizeram alguma coisa com você? — Apesar da pergunta, eu não espero resposta para ficar de pé. Por isso, sem que tenha planejado ou desejado, meus dedos se separam dos dedos de Jimin.

Não. Eu só quero ir... você vem? — Ele insiste enquanto eu me atrapalho para pegar a mochila sob os olhares confusos dos outros três.

— Já estou indo. Me espere. — Garanto, logo finalizando a ligação para não perder mais tempo.

— Você já vai? — Hoseok pergunta, dividido entre chateação e preocupação. — Nem me deixou ser um bom hyung...

— Eu quem preciso ser um bom hyung, agora. — Respondo, tateando meu bolso em busca da chave de Belinda. — Era meu irmão mais novo. Eu preciso ir até a escola dele.

— Aconteceu alguma coisa com ele? — Jimin questiona, genuinamente em alerta. Os olhos de felino se arregalam e seus lábios rechonchudos se contraem. É de derreter o coração de qualquer um.

Até o meu, se eu não estivesse com tanta pressa.

— Ele disse que não, mas eu não sei se acredito. — Respondo, sem saber como me despedir. No fim, depois de hesitar duas vezes, eu mostro meu polegar, erguendo-o na altura de meu queixo, antes de rapidamente voltar a abaixar a mão para contrair minha expressão em uma suficientemente desesperada pelo constrangimento de um gesto de despedida tão ridículo: — Até mais...

Eu escuto Jimin perguntar se eu não quero que ele venha comigo, mas já estou abrindo passadas largas em direção à saída da lanchonete e não paro para responder.

Montado em Bee, eu posiciono meu capacete e logo acelero em direção à Haeundae Godeunghaggyo, incerto sobre a necessidade de parar em algum lugar para comprar material para fazer um coquetel molotov e um megafone para evacuar a escola antes de explodi-la.

Nunca se sabe quando precisaremos atear fogo no colégio de um irmão caçula.

No entanto, eu opto por ir direto e não me arrependo da ausência de um explosivo caseiro porque, quando chego, eu logo vejo Junghee sentado num banco no pátio frontal. Ao seu lado, vejo um outro aluno sentado com as pernas bem abertas, ocupando mais da metade do banco branco de madeira.

Folgado.

— Moleque! — Eu o chamo, o que o faz levantar o rosto para cruzar seus olhos grandes com os meus.

— Hyung... — Lá ao longe, ele responde antes de ficar de pé e caminhar apressado em minha direção. Então para em minha frente, com um sorriso: — Você veio!

— Eu disse que estava vindo. — Digo em tom de obviedade, sem olhar para ele. Eu olho para o garoto no banco, que, apesar da posição espaçosa, tem a expressão bastante tímida enquanto olha para mim e para meu irmão. Volto a olhar para Junghee e aponto para o outro com o queixo, para perguntar: — Quem é aquele?

No entanto, meu irmão não parece sequer cogitar a possibilidade de me responder. Talvez porque nem tenha escutado minha pergunta, já que toda sua atenção está além de mim.

Seu sorriso aumenta, e só então ele volta a falar comigo: — Você trouxe Jimin hyung!

Antes de perguntar sobre o que ele está falando, eu viro para olhar na mesma direção que seus olhos seguem. É inevitável, minhas sobrancelhas se contraem e meus lábios se entreabem quando eu vejo Pandora estacionada em frente à escola e Jimin de pé ao lado dela, enquanto Hoseok e Yoongi, de dentro do conversível, olham curiosos em nossa direção.

Ao perceber que estou olhando para eles, Hoseok sorri e ergue um copo térmico que tem em mãos, ao que o não-bruxo grita: — Seu chá que dá diarreia!

Eu pisco, completamente desorientado, mas balanço minha cabeça para tentar recuperar meu foco. Ao fazê-lo, ainda que precariamente, olho para meu irmão mais novo.

— Você pode ignorar esses caras. — Anuncio, sendo o primeiro a fazer isso. — Então? O que aconteceu? — Junto à pergunta, eu seguro seu rosto pelo queixo, movendo-o de um lado para o outro em busca de um novo machucado ou qualquer coisa assim. — Mexeram com você?

— Hyung! — Ele resmunga, precisando usar as duas mãos para afastar a minha. — Eu já disse que não aconteceu nada comigo.

— Então você só quer matar aula?

Ele aperta os lábios finos enquanto seus olhos se agitam, desajeitados, ao que ele parece ponderar a resposta. Ao fim, ele suspira e me segura pelo pulso para me puxar na direção do menino ainda no banco. Este, ao nos ver caminhando até ele, rapidamente se senta de maneira mais comportada e sua expressão parece subitamente mais tensa.

Ao pararmos em sua frente, Junghee me deixa de frente para o menino e anuncia: — Esse é meu irmão mais velho, Jeon Jungkook.

O garoto espaçoso quase dá um salto para ficar de pé, curvando o corpo exageradamente.

— É um prazer, Jeon Jungkook-ssi.

Eu aperto os olhos e cruzo os braços, quase exigindo uma resposta: — E quem é você?

Ele ergue o corpo apenas curvá-lo novamente. Só então, finalmente descubro.

— Meu nome é Kim Taehyung!

— Ele é do último ano, hyung. — Junghee explica, pegando a mochila que tinha deixado sobre o banco e então pendurando-a nas costas com as duas alças, segurando-as nervosamente. — Ele pode ir com a gente?

— Ir para onde? E por que você está andando com alguém dois anos mais velho?

— Junghee pode ser mais novo, mas ele cuida muito de mim, Jeon Jungkook-ssi!

Eu analiso o tal Kim Taehyung, ainda desconfiado quando volto a olhar para meu irmão, e é para ele que pergunto: — Que?

Junghee parece nervoso sobre como responder, mas Taehyung mais uma vez assume essa responsabilidade. E, quase num disparo, diz: — Eu sou gay, Jeon Jungkook-ssi.

Repito: — Que?

— Não "que". Gay, Jungkook-ssi.

— Jesus. Pare de me chamar assim, pelo amor de deus. E eu entendi. Não entendi por que você está me dizendo isso.

— Os outros alunos da escola não gostam de gays, Jungkook-ssi. Junghee foi o primeiro a me defender. E ele nem me conhecia, na época. Então eu não me importo se ele é mais novo. Ele é meu único amigo aqui dentro e eu gosto muito dele!

Junghee está todo desajeitado. Nisso, somos parecidos demais — ainda que suas bochechas, por sorte, tenham menos tendência a mudarem de cor.

É como se ele fosse uma versão melhorada da versão teste. Eu sou a versão teste.

Por isso, eu não me surpreendo com o relato de Kim Taehyung. Junghee intervir em favor de um desconhecido é algo que combina com sua natureza mais evoluída que a minha.

— Tudo bem. Isso está esclarecido, então. — Ainda com os braços cruzados, eu pergunto diretamente a Taehyung, já que é ele quem parece mais disposto a me responder: — Mas por que me chamaram?

— Alguns garotos estavam mexendo comigo, no intervalo. Junghee apareceu para me salvar, como sempre, mas nem precisou dizer nada. Assim que o viram, os meninos pareceram mudar de ideia e recuaram com medo. Todo mundo estava falando sobre o irmão assustador do Junghee, então ninguém quis mexer com ele. Mas eu queria saber se você viria mesmo ajudá-lo, caso ele chamasse, por isso nós ligamos. Nos desculpe, Jungkook-ssi.

Eu pisco demoradamente, respirando com lentidão. Ao abrir os olhos, questiono: — Vocês me chamaram só para provar que eu viria?

— Sim. Nos desculpe mesmo. E me desculpe também pela sinceridade, mas você não é assustador, Jungkook-ssi. Nadinha assustador.

— Eu disse... — Junghee quase sussurra, ao lado

Eu reviro os olhos, segurando a alça superior da mochila do moleque e puxando-o comigo quando começo a abrir passadas largas em direção à entrada do prédio principal da escola. Junghee sequer tem tempo de se posicionar adequadamente, tropeçando nos próprios pés enquanto eu o forço a caminhar de costas.

— Já provaram o que queriam. — Resmungo, inconformado. — Agora voltem para a aula.

— Não, hyung! — Ele implora, ao que Taehyung vem atrás e pede "Por favor, Jungkook-ssi." Santa paciência.

Eu paro de andar bruscamente. Junghee tropeça violentamente, quase cai no chão, e Taehyung se choca contra minhas costas.

— Vocês querem mesmo matar aula? — Pergunto, desacreditado.

— Por favor, hyung! Você já está aqui! E até Jimin hyung veio. Podemos sair todos juntos! — Eu estou prestes a negar, mas Junghee é mais rápido: — Por favor!

— Por favor, Jungkook-ssi!

Eu vou gritar com esse moleque. Juro por deus.

— Nós já fomos na enfermaria dizer que estávamos passando mal. — Meu irmão mais novo anuncia, dando um tapinha na mochila em suas costas. — Já fomos liberados. Por favor?

Minha nossa. Junghee é um criminoso.

Pelo visto, também é obstinado demais.

Eu respiro fundo, deslizando meu olhar para Taehyung. Logo, aviso: — Diga aos seus pais que você está indo comigo.

— Eles não se importam comigo, Jungkook-ssi.

Apesar de vir acompanhada de um sorriso, a resposta tem um peso grande demais. Por isso, meu olhar mais uma vez recai em meu irmão, que implora silenciosamente pelo fim da minha resistência. Diante de seus olhos ansiosos, eu coço minha nuca e olho para trás, na direção dos outros três. Ao fim, suspiro, rendido.

— Só dessa vez, e vai ter que estudar o dobro quando chegar em casa. Você não pode continuar matando aula assim, Junghee.

— Só dessa vez! E vou estudar muito, prometo! — Ele jura, fazendo um "x" com seus indicadores antes de beijá-lo de um lado e do outro.

Mais um suspiro, claramente de desistência. Junghee então sorri para mim, depois para Taehyung. Seu amigo esquisito sorri de volta, até seus lábios assumirem um desenho quase retangular e seus olhos se fecharem em meia-lua.

Sabendo que já não adianta mudar de ideia, eu deixo um som cansado escapar ao estalar a língua e gesticular para que eles me sigam.

— Mudança de planos. — Assim que me aproximo do carro onde os outros três me esperam, eu anuncio. — Estão dispostos a cuidar de dois moleques?

— Três. — Hoseok corrige. — Eles dois e você.

Eu o fuzilo com o olhar, mas Taehyung até cobre a boca com a mão para esconder um novo sorriso. Era só o que me faltava.

Ainda sem sua primeira manifestação, Jimin continua de braços cruzados, agora recostado no capot de Pandora. Depois de analisar meu irmão cuidadosamente, ele pergunta: — Para onde vamos?

— Hm... — Taehyung murmura, hesitante. — Vocês gostam de boliche?

— Só quando eu ganho. — Respondo, ainda contrariado sobre deixar que os dois fujam da escola assim.

— Você vai amar jogar se me tiver no seu time, então. — Jimin anuncia, desencostando de Pandora para caminhar de volta até o banco do motorista. Antes de entrar, diz: — Vamos. Tem um boliche aqui perto.

— Quem mais vem no carro? — Hoseok pergunta, deslizando pelo banco para deixar espaço de sobra para que mais um dos moleques sente. Em resposta, Junghee empurra Taehyung pelas costas, em direção ao carro, e diz, todo envergonhado:

— Eu vou com meu irmão. Vai você aí.

— Eu posso mesmo? — Kim Taehyung pergunta, desacreditado. Mesmo assim, ele já vai entrando no carro, passando por cima da porta e pisando no banco de couro antes de sentar com um pulo empolgado. — Wow! Eu nunca andei num carro desses!

Se o carro fosse meu, eu certamente estaria em chamas furiosas. No entanto, Jimin apenas parece se divertir com a empolgação inocente do garoto.

Depois de esfregar a mão para sentir o couro sintético, ele levanta o rosto e exibe um sorriso, para anunciar. — Aliás, meu nome é Taehyung!

— É um prazer, Taehyung. Eu me chamo Jimin e vou dirigir com cuidado, mas coloque o cinto por garantia, ok?

— Sim, Jimin-ssi!

Eu rolo os olhos, apoiando o braço ao redor do ombro de Junghee para puxá-lo comigo antes que eu mude de ideia e jogue o tal Taehyung de volta para dentro da escola para que os professores que aguentem todo esse "Sei-lá-quem-ssi" para cá e para lá.

Já em Belinda, nós esperamos que Jimin vá na frente para nos guiar até o boliche, e eu piloto enquanto minha mente se agita ao pensar na improbabilidade de toda a situação. No entanto, eu não quero questionar. Ainda que não os possa chamar de amigos, a sensação de estar indo jogar com tantas outras pessoas é calorosa demais.

Acho que esse é o maior efeito da solidão. De tanto viver sozinho, o simples fato de estar acompanhado é o suficiente para desencadear toda uma infinidade de sentimentos novos.

Por isso, quando chegamos ao boliche, pegamos nossos sapatos e pagamos por duas horas de jogo antes de nos dividirmos em dois times, eu ainda olho para cada um deles com alguma sensação de estranhamento.

— Seu chá, Jungkook. — Hoseok avisa, batendo a mão suavemente no fundo do copo de isopor que, agora, eu seguro. — Vai esfriar.

Eu pisco antes de olhar para ele. Pisco mais uma vez e olho para Junghee, que está rindo com Jimin e Taehyung. Yoongi é o último, ajeitando o cadarço do sapato velho do boliche. Ao fim, eu dou um gole em meu chá de ameixa já morno.

— Certo! — Jimin diz animadamente quando o placar é ligado para exibir os pontos das duas equipes. Eu, Junghee e Jimin contra Hoseok, Yoongi e Taehyung. — Quem quer ter as honras?

— Eu, Jimin-ssi! Quero ser o primeiro!

Jimin faz um gesto exagerado para que o mais novo siga em frente, o que faz ele e meu irmão caírem na risada.

Eu nunca vi Junghee sorrir tanto quanto sorri perto de Jimin.

Acho que esse é o efeito natural dele sobre as pessoas.

É único. Eu acho que Jimin é isso. Único.

— Admita. — De repente ele está ao meu lado, ocupando o assento à direita do meu. Só então percebo que, mais uma vez, me perdi em meus próprios pensamentos enquanto olhava para ele. — Você se sente muito atraído por mim, Jeon.

— O que? — Sem dúvidas, meus olhos arregalam e minha voz engancha na letra "q".

A risada de Jimin é alta, sincera, gostosa.

— Você está sempre me encarando. — Ainda com resquícios de riso, ele explica o motivo de sua desconfiança. — Eu sou tão bonito assim, gracinha?

Eu o encaro em silêncio, mortificado. Quando finalmente consigo fazer algo além de balbuciar em busca de uma resposta, eu solto um pigarro e desvio meu olhar, em desespero.

Para piorar, sou estúpido o suficiente para confessar: — Não era para você perceber.

Mais uma vez, Jimin ri com vontade.

Cacete.

— Não se preocupe, Jeon. — Ele então diz, ainda sorrindo, intercalando um breve umedecer de lábios antes de prosseguir: — Eu também adoro olhar para você.

Eu o olho. E já é certo que não é novidade, mas sou completamente incapaz de dizer algo. Por isso, apenas me esquivo ao desviar o olhar para Taehyung arremessando a bola e inclino meu corpo para a frente, com os cotovelos apoiados quase nos joelhos e uma mão massageando minha nuca.

Jimin continua relaxadamente recostado sobre seu assento e, com uma olhadela furtiva, percebo que também está assistindo Taehyung surpreendentemente derrubar quase todos os pinos de uma só vez.

Ao lado, Hoseok e Yoongi comemoram. Mas, apesar do sorriso, Jimin fala outra coisa:

— Eu fiquei preocupado. — Confessa, de repente. Junghee se aproxima para escolher a bola, o primeiro de nosso time a arremessar. Minha atenção, no entanto, se divide também para ouvir Jimin: — Quando você disse que precisava ir embora por causa de seu irmão. Achei que tinha acontecido alguma coisa, de novo. Minha agonia foi grande, então Yoongi e Hoseok acabaram me seguindo. Hoseok nem mesmo pensou em ir pegar o próprio carro. Ele está mesmo determinado a ser um bom hyung. — Jimin suspira junto a uma risada, voltando seu olhar para mim. — Eu não queria agir como um esquisito ao te seguir daquele jeito, mas... não sei. Eu realmente fiquei nervoso. Me desculpa.

— Você não precisa se preocupar tanto. — Digo, ainda na mesma posição; agora, repuxando os fios longos que nascem no limite da nuca. — Eu... eu estou tentando cuidar bem dele. Mas eu acho que não sou muito bom nisso, então... obrigado por tentar cuidar dele também.

Jimin se cala por um momento, para assistir meu irmão avançar pela área de arremesso. Ao ser lançada, a bola acerta o chão com um estrondo desastrado e rola pela pista até cair na canaleta, o que faz Junghee soltar um gemido inconformado. Ao lado, Taehyung, Hoseok e Yoongi comemoram o fracasso do adversário.

— Não se preocupe, Junghee, nós recuperamos! — Jimin grita para ele, batendo palmas para tranquilizá-lo. Ainda insatisfeito, meu irmão se arrasta de volta até as cadeiras para deixar que, agora, seja Yoongi a arremessar. Quando isso acontece, Jimin volta a falar comigo: — E Jeon... eu acho que você é o melhor para cuidar de Junghee. Ele tem muita sorte de ter você.

Eu não diria isso, já que sou, talvez, o pior tipo de irmão mais velho que existe. Mas apenas assinto suavemente.

Mais uma vez, desvio meu olhar — a tempo de ver Yoongi derrubar seis pinos, o que faz Junghee cruzar os braços junto a uma expressão emburrada.

Assim como o irmão mais velho, ele não é fã de derrotas. Por isso, eu logo fico de pé para ser o próximo a arremessar e tentar recuperar os pontos de nosso time.

— Eu confio em você, hyung! — Junghee diz assim que escolho a melhor bola para mim. Eu olho para trás, então Taehyung faz um gesto de motivação.

— Boa sorte, Jungkook-ssi!

— Ele é do time adversário! — Yoongi resmunga, contrariado. — Pare de desejar sorte ao inimigo!

Eu aperto meus lábios para conter uma risada, voltando minha atenção para a pista. Com a bola próxima ao meu rosto, eu escolho o melhor ângulo. Depois, avanço três passos pela área de arremesso e lanço a bola, que rola com velocidade até acertar o pino central. À medida que os outros vão caindo e derrubando os vizinhos, Junghee e Jimin gritam energicamente para comemorar o strike.

Eu giro sobre os pés para ficar de frente para todos eles, impulsivamente me vangloriando com um soquinho no ar enquanto solto um "yes" alegre demais.

— Eu me sinto um péssimo hyung por precisar acabar com sua alegria. — Hoseok anuncia, ficando de pé e caminhando até a prateleira de bolas. Depois de testar três, ele escolhe a que parece mais leve, com uma careta.

Eu me afasto para que ele tenha a área de arremesso livre, mas não tenho tempo de chegar ao meu banco antes que Hoseok avance e solte um gemido de dor quando a bola escapa de sua mão, batendo com força no chão antes de rolar sem velocidade para a canaleta.

Diferente do desastre com Junghee, que claramente apenas não tem habilidades no boliche, eu, Jimin e Yoongi nos calamos diante do que aconteceu com Hoseok.

Ele perdeu a força para segurar a bola.

Seus sorrisos mais frequentes talvez tenham encoberto um pouco de suas feições cansadas e dos efeitos colaterais em seu corpo. No entanto, mais rápido do que desapareceu, a preocupação volta a nos remoer.

Apesar disso, Hoseok vira com um sorriso amarelo e diz: — Poxa. Que arremesso ruim.

Jimin logo tenta substituir a expressão preocupada por um sorriso, ainda que não seja sincero. Aí, brinca: — Parece que você é um hyung bom demais para tentar vencer o time de seu dongsaeng.

— É. — Hoseok concorda, com uma risada tão pouco sincera quanto o sorriso de Jimin. — Acho que sim.

Quando o veterano de dança senta ao lado de Yoongi, que continua olhando-o com a expressão tomada por preocupação e medo, Jimin aproveita sua vez para lançar a bola, deixando apenas dois pinos de pé.

Nós não comemoramos com tanta energia, ainda que isso nos coloque à frente do adversário.

— Muito bem, Jimin-ssi! — Taehyung é o único a comemorar.

— Ele continua torcendo para o time adversário... — Hoseok resmunga, mas não sem uma risada. Diante disso, Yoongi ri um pouco. Jimin também. Eu mesmo sorrio.

Ele vai ficar bem. Hoseok tem que ficar bem.

Como se todos acreditássemos ou pelo menos tentássemos acreditar nisso, o clima pouco a pouco ganha mais leveza entre arremessos, comemorações e lamentações.

— Certo. Como graduando do curso de música, eu me sinto no direito de perguntar! — Yoongi eleva o tom de voz para sobrepor a conversa caótica que se desenrola em um dos intervalos que fazemos para beber água. — O que vocês mais gostam de escutar?

— "O almoço está pronto" — Jimin responde, bem humorado.

Enquanto todos caem na risada, eu passo o maior vexame por precisar segurar o riso bem na hora em que enchi a boca de água. Aí, acabo cuspindo um monte. Eles riem mais.

— Eu gosto disso que Jimin-ssi disse! E daquelas músicas que dá pra ouvir no escuro do quarto e se sentir em paz... sabem?

— Eu gosto de aberturas de anime — Junghee confessa, cobrindo a boca para esconder o riso envergonhado. — E, ah! De ouvir Jungkook hyung cantando! Ele canta muuuito bem.

— Mesmo? — Jimin questiona, arqueando as sobrancelhas. — Quando eu terei a honra de ouvir?

— Eu não canto mais. — Anuncio, de repente sentindo todas as atenções em mim. Sem perceber, dou de ombros num gesto constrangido. — Só cantava quando ficava distraído. Não era nada demais.

— Era muito bom de ouvir, eu juro. — Junghee, no entanto, me contradiz. — Ele até escreveu uma música, uma vez, para nosso... — Ele para ao perceber o terreno perigoso no qual está se aventurando.

Porque a primeira e única música que escrevi foi para nosso pai.

Nunca tive a chance de mostrar a ele.

— Jungkook hyung sempre foi muito artístico. — Desistindo de completar sua declaração anterior, Junghee opta por uma nova abordagem. — Ele gostava de criar coisas tanto quanto gostava de matemática. Ele é muito talentoso de verdade.

— Por que não explorou esses caminhos também, Jungkook? — O não-bruxo questiona, genuinamente curioso.

Eu apenas dou de ombros mais uma vez, como se não houvesse resposta. Mas há. E a resposta é que a arte precisa de cores, não importa quais. E eu passei a viver em preto e branco desde minha primeira canção que nunca foi ouvida.

— Nunca é tarde demais. — Hoseok diz, soando encorajador.

— Eu realmente acho que você deveria aproveitar seus talentos, Jungkook-ssi!

Eu aperto os lábios, desconfortável.

Não é assim fácil. Não é fácil ouvir mensagens encorajadoras quando não se tem coragem alguma. É sufocante.

Talvez percebendo todo meu súbito desconforto, Jimin fica de pé.

— Ok. Já está tarde e eu estou com fome! Tem um Panda express a uns quinze minutos daqui, podemos pedir delivery de lá — Sua sugestão vem acompanhada de seu olhar, que recai em mim como um salvador.

Eu rapidamente faço que sim, mais aliviado quando os outros quatro se deixam levar pela intervenção de Jimin e parecem perceber a própria fome que, até então, não pareciam sentir.

Ele olha para mim mais uma vez e sorri num gesto de reconforto, diante da distração de todos os outros. Eu sequer preciso pensar antes de soltar um "obrigado" mudo no ar.

Ao lado, os outros quatro se amontoam ao redor de um celular para avaliar o menu online do restaurante, e os folgados levam todo o tempo do mundo para escolherem seus respectivos pratos. Quando o pedido é finalizado, Jimin aponta com a cabeça em direção à entrada do boliche: — Podem me dar o dinheiro. Eu espero o entregador lá na frente. Você vem comigo, Jeon?

Junghee até se assusta com a velocidade com a qual eu fico de pé, antes de responder com um "sim!" afetado demais.

— Viu? Jungkook-ssi não é assustador! Ele é todo desajeitado! — Taehyung aponta, ao que Jimin ri.

— É verdade. — Então concorda, parecendo se divertir demais com a observação do moleque. — Ele é uma gracinha, não é?

Taehyung apenas cobre um novo sorriso, e essa sequência de comentários e reações me faz precisar usar toda a minha força para não perecer ao rosto vermelho mais uma vez.

— Eu pago o seu. — Decidido a ignorar isso tudo, eu digo para Junghee quando ele começa a revirar a própria mochila para pegar seu dinheiro.

Não é como se eu tivesse de sobra. Com a manutenção de Belinda e as compras de casa que ajudo a pagar, o seguro desemprego vai quase todo embora. Mas se eu tenho pouco, Junghee tem menos ainda.

Então ele nem discute. Apenas apoia as mãos sobre a mochila, facilmente cedendo e dizendo, junto ao sorriso que me faz questionar como é possível existir alguém tão bonitinho assim: — Obrigado, hyung.

Que cacete. Meus pais merecem menção honrosa por terem feito uma coisinha dessas.

Claro que tem suas falhas (o problema com os vasos sanitários que o diga), mas eles realmente acertaram. Ao menos com esse filho.

Mas diferente de Junghee, Taehyung não tem um irmão mais velho para pagar seu almoço. Ao menos não aqui. Por isso, ele continua revirando a própria mochila, buscando wons suficientes para pagar a porção de asinhas de frango que pediu.

— O que você está fazendo? — Hoseok questiona, abrindo a própria carteira recheada. — Nós pagamos o seu.

— Não precisa, Hoseok-ssi...

— Claro que precisa. Que tipo de hyung eu seria se não pagasse a refeição de um dongsaeng?

Jesus. Ele realmente leva a sério essa coisa de idade.

Ainda assim, poucos têm o privilégio que ele tem. Existem hyungs pobres por aí.

— Um hyung que não limpa a bunda com dinheiro, provavelmente. — Sem pensar, eu resmungo. Quando todos olham para mim, divididos entre segurar o riso e me repreender, eu suspiro e gesticulo: — Anda. Dá logo o dinheiro.

Quando eles finalmente repassam todo o dinheiro, eu junto todos os wons à quantia que retirei de minha própria carteira, devolvendo-a à mochila antes de colocar apenas o valor certo no bolso. Aí, Jimin gesticula para que eu o siga, o que logo faço.

Da nossa mesa até a entrada do boliche, não falamos nada, cercados apenas pelos sons dos poucos jogadores que estão aqui a essa hora. Quando chegamos à calçada e nos deparamos com a rua movimentada, ele se recosta relaxadamente à parede colorida, usando a mão para jogar os cabelos para trás.

Sem muito jeito, eu me recosto ao seu lado, estalando meus dedos para tentar aliviar a sensação de desconforto provocada pelo silêncio. Ao ouvir o som repetitivo, Jimin me olha de canto, antes de rir.

— Está nervoso, Jeon? — Ele para, então corrige com um sorriso muito mal contido. — Me desculpe. Eu quis dizer Jungkook-ssi.

Eu paro de estalar meus dedos quando chego à metade, porque preciso parar para olhar para Jimin, também para tentar segurar a súbita vontade de rir.

— Não começa. — Eu peço. Já me basta Taehyung me chamando assim.

Jimin mordisca o lábio, balançando seu pé quando volta a olhar para a frente.

— Eu gostei dele. É engraçado e tem energia de sobra — Jimin pondera, ainda sorrindo. — E eu estou gostando do dia de hoje, de estar aqui com vocês todos.

Eu não olho para ele, porque não tenho coragem suficiente para fazê-lo. Então eu balanço a cabeça uma vez, em concordância, antes de confessar: — É esquisito. Eu nunca fiz isso antes.

— Nunca jogou boliche com os amigos? — Jimin pergunta suavemente, movendo o rosto para me encarar mais uma vez.

Eu abaixo meus olhos, sem perceber que meu impulso de ser sincero com ele é maior que minha vergonha de confessar: — Nunca tive amigos.

Talvez um gesto de estranhamento ou julgamento seja tudo que eu espere, mas Jimin apenas aperta os lábios antes de suspirar e deitar a cabeça para trás, recostando-a à parede assim como nossas costas.

Com os olhos bonitos mirados no céu bonito de Busan, ele diz:

— Várias vezes você disse que ninguém gosta de mim de verdade. Que só se aproximam por meu dinheiro.

Eu tenho a lembrança clara, em minha mente. Não só a lembrança de ter dito tais palavras, mas de acreditar nelas. Hoje, percebo o quanto estou errado. Não é difícil gostar de Jimin. Não é difícil mesmo.

— Sobre isso... — Eu começo, constrangido e arrependido.

— Você estava certo. Eu era sozinho. Depois que eu passei a ter todo o luxo que tenho hoje, muita gente começou a se aproximar. — Surpreendentemente, Jimin sorri. Quando seus olhos recaem em mim, ele completa: — Você foi o único que não me notou nem quando eu era pobre, nem depois que fiquei rico.

Eu olho diretamente para ele, surpreso ao perceber que está tendo muita dificuldade em segurar uma risada. Não era essa a expressão que eu esperava encontrar em seu rosto.

Por um segundo, eu pondero a possibilidade de confessar que o notei ainda nas primeiras semanas de aula. Que me senti completa e vergonhosamente hipnotizado depois de vê-lo dançando pela primeira vez.

No entanto, Jimin é mais rápido:

— Eu tentei chamar sua atenção de todas as formas e você só me percebeu quando eu comecei a te provocar. Eu só queria me aproximar, mas quando percebi, você já me odiava como se eu fosse o responsável pelo massacre do clã Uchiha. — Ele narra, liberando a risada aos poucos. — Mas olha só. Tudo que eu precisava era de um colapso do universo. Se eu soubesse antes que era só destruir todo o conceito de tempo para ganhar você, Jungkook-ssi...

Meus olhos se abrem em surpresa antes que algo inesperado demais aconteça.

Eu gargalho.

Não é um riso contido ou uma risada sincera, mas discreta. É um som explosivo, desengonçado e incontrolável que nasce da combinação da inesperada referência a Naruto, à sua leveza em brincar sobre algo tão sério para reafirmar seus sentimentos por mim e ao maldito apelido que não creio que será esquecido tão cedo. Então eu começo e não paro mais.

Gargalho e gargalho e gargalho, como não lembro de já ter gargalhado antes.

Tipo, nunca. Não apenas nos últimos três anos. Nunca mesmo.

Eu sequer tenho coragem de olhar para ele, preso em meu próprio riso que me faz sentir a barriga doer, com os braços envolvendo-a como se pudesse amenizar a sensação. Logo, por questões de sobrevivência, eu preciso me conter ou sou capaz de morrer sem ar.

Ainda ofegante, com um riso frouxo escapando aqui e ali, eu uso uma mão para secar o canto dos olhos. E ofego mais, até conseguir dizer:

— Você é surpreendentemente idiota, Jimin-ssi.

É sua vez de rir pelo troco do apelido e seu corpo se mexe tanto enquanto ele ri que eu falho em continuar contendo uma nova gargalhada, apesar de tentar. Ao fim, meus lábios fazem um barulho constrangedor demais quando se torna impossível continuar refreando a vontade de rir e logo me junto a ele num riso sincero.

Quando sua risada perde força, seu corpo para de se balançar e ele volta a apoiar as costas na parede colorida do boliche, nós dois continuamos ofegando violentamente, ainda rindo um pouco em intervalos cada vez mais longos.

Certamente, somos vistos como estranhos por todas as pessoas que passam pela calçada ou na rua, dentro dos carros que não param de vir de um lado e do outro. Mas eu não me importo.

— Jungkook-ssi... — Jimin chama, mantendo a cabeça apoiada na parede quando vira o rosto em minha direção. Eu faço o mesmo, sem fugir de seu olhar. — É surpreendentemente bom ser surpreendentemente idiota, se for essa a causa dessa sua risada tão gostosa.

É natural que eu me sinta um pouco intimidado por seu olhar intenso, que não vacila sob o meu. Ainda assim, eu luto para não deixar de olhá-lo.

E com a voz baixa, tímida demais, eu respondo: — Nossa regra.

— O que?

— Eu te disse uma ofensa.

— Hm... certo. É verdade. — Ele sorri, vitorioso, mas também ansioso. — Agora você tem que dizer algo que gosta em mim. Então? O que é, Jungkook-ssi?

Meu coração batendo furiosamente parece implorar para que eu diga qualquer coisa além do que pretendo dizer. No entanto, eu o silencio com minha voz:

— Eu te notei muito antes do que você acha. Assim que entrei na Hangsang, eu te vi treinando por acaso. Vários alunos tinham parado para te ver dançar e eu estava entre eles, porque não conseguia parar de olhar para você. — Minha voz segue baixa, insegura demais. Com um dar de ombros desajeitado, eu escondo as mãos nos bolsos da calça, para só então confessar de vez: — Sua dança é uma das coisas mais bonitas que já vi. É disso que eu gosto em você, desde o início.

Jimin não esboça nenhuma reação, a princípio. Ele parece confuso sobre o que sentir, até que surpresa e felicidade se misturam no sorriso mais gentil e alegre que ele já me mostrou.

— Obrigado, Jungkook-ssi. Por ter dito isso. Por ser tão sincero.

Mesmo ainda constrangido, eu devolvo: — Não tem de que, Jimin-ssi.

O silêncio vem em seguida, mas não é desconfortável como o primeiro, nem tão longo quanto.

— Hoje é dia 23 de outubro, não é? — Ele pergunta. Eu faço que sim. — Então que fique registrado... — Recomeça, manso. Seu olhar volta a se fixar no movimento na rua à frente; por isso, eu não espero sentir o toque de sua mão direita em meu antebraço esquerdo. Mas ele toca, deslizando os dedos até guiar minha mão para fora do bolso. Suas digitais descem, suaves, através da pele que recobre a parte interna de meu braço. Não demora, seus dedos tocam minha palma. — No dia 23 de outubro, — Seu indicador envolve meu mindinho, entrelaçando-os como da primeira vez. — depois do colapso do universo, — Ele afasta seu dedo, apenas para entrelaçar dois dos seus a dois dos meus, retomando o ritmo que foi criado e interrompido na lanchonete. — e depois de uma série de acontecimentos estranhos demais, — Três de seus dedos se entrelaçam a três meus. — eu, Park Jimin, — Sua mão se afasta para separar nossos dedos. Quando volta, os quatro de uma mão estão unidos aos quatro da outra. — fiz Jeon Jungkook gargalhar pela primeira vez. — Por fim, seu polegar cobre o meu.

E assim, se oficializa.

Nós estamos de mãos dadas.

Ele sorri, deslizando o olhar felino em minha direção novamente. E finaliza, de uma vez: — E no dia 23 de outubro, eu, Park Jimin, segurei a mão de Jeon Jungkook pela primeira vez.

É claro que meu coração dispara. Ele bate como um louco, como um boxeador furioso golpeando meu peito. Como sempre bate, sempre que Jimin me toca.

Na rua Daecheon, recostados à parede do boliche, nós continuamos de mãos dadas, à espera do entregador que já está atrasado. E secretamente, sob o caos da cidade e de meu coração, eu desejo que ele demore muito mais.

No entanto, ele chega. A bicicleta para em nossa frente e o garoto, que não parece ter mais que nossa idade, logo pergunta:

— Entrega para Park Jimin-ssi?

Nós dois precisamos lutar contra a nova vontade de rir, o que gera um leve tapa de repreensão em minhas costelas quando eu falho por um momento e Jimin sorri para o entregador, fazendo que sim.

Com a minha mão livre, eu tiro o dinheiro do bolso. Com a sua mão livre, Jimin aceita o engradado com os refrigerantes que o garoto retira da mochila térmica. Entre nós dois, as outras mãos continuam discretamente unidas.

Talvez o plano seja continuarmos de mãos dadas até que não seja mais possível, e eu gosto do desafio.

Mas então o entregador retira também as duas sacolas com as porções de comida e, antes sequer que eu processe a informação de que essa é a hora em que precisamos de todas as mãos disponíveis, meus olhos e meu coração saltam quando o engradado de bebidas escorrega da mão de Jimin e estoura no chão, espalhando refrigerante por toda a calçada.

— Jimin-ssi? — Eu o chamo, ainda com algum humor por acreditar que foi apenas um acidente. No entanto, quando encontro sua expressão corrompida por pavor e os olhos pousados em algo do outro lado da rua, eu entro completamente em alerta. — Jimin? O que foi?

Eu não sei o que está acontecendo, mas também não me é dado tempo para entender.

Porque sob meu olhar desesperado e preocupado, Jimin recua com um passo. E, antes de correr para longe, ele solta minha mão.

Continua no próximo capítulo.

Olá! Eu queria terminar o capítulo assim? Não queria! Mas foi preciso... (mentira, queria sim)

Mas essa é a deixa para que na próxima atualização a gente finalmente conheça um pouco mais do passado do Jimin!

E vocês pediram capítulos maiores! Então o capítulo cresceu! Esse tamanho tá bom pra vocês? Tá pequeno? Grande? Podia crescer mais 20k e vcs não se importariam??? 

Por favor, me digam que eu não sou a única COMPLETAMENTE boiola pelo Jungkook começando a ficar boiola pelo Jimin :/

Aliás, já percebi que: no começo, ele dizia um "a" e todo mundo ficava CARALHO CALA A BOCA SEU INÚTIL!! Agora, ele diz um "a" e vocês já ficam iti malia meu bebê *-* HAHAHAHA o Jungkook é um bebê SIM! Vocês não estão errad@s! E todo mundo na fanfic tá começando a perceber isso também <3

E aaaah! Finalmente tivemos o debut do Tae aqui na fanfic! E, sim, ele é mais novo que os meninos, mas eu não resisti à vontade de inserir um taehyung bebê aqui ):

Aliás, tivemos debut também da risada do Jungkook. Nosso bebê tá evoluindo, gente <3

Ok, essa é a última atualização antes do natal então (pra quem comemora): FELIZ NATAL! pra quem não comemora: FELIZ FIM DE ANO! Espero que essa reta final de 2019 seja maravilhosa pra cada um de vocês!

E ah! Talvez esse seja o último capítulo do ano ): como já falei nas notas de EROS, eu irei viajar e talvez isso bagunce um pouquinho o padrão de uma postagem a cada 15 dias. Em todo caso: feliz ano novo! Mas caso a atualização aconteça ainda esse ano, eu informo tudinho lá no twitter (@eucatastrophia) e na hashtag #BelindaEPandora

Nossa bebê já passou de meio milhão de visualizações! Obrigada, obrigada e obrigada a todos que leem e interagem com ela, de uma forma ou de outra. Eu já disse, mas repito: CC é uma experiência muito nova para mim, mas eu estou amando escrever e ver tanta gente gostando dela me deixa feliz num tanto que nem sei explicar!

Para não perder o costume: último parágrafo reservado para teorias! Quem vocês acham que o Jimin viu? Como vocês acham que o Jungkook vai reagir? Beijos e até mais! <3

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