[f(14) = 3x - 28] Primeiros laços
🔮
— A pessoa de quem eu gosto é você, Jungkook.
[...]
Ser socialmente inapto, naturalmente, me faz não saber o que fazer diante de toda sorte de situações.
As restrições de me relacionar com meus iguais é algo com o que convivo desde o início de minha vida. De início era perturbador, me fazia suar frio somente com o pensamento de interagir com pessoas de fora do meu ciclo social.
Com o passar do tempo, no entanto, se tornou apenas um inconveniente esquecido por baixo de meu desprazer pela vida.
O pavor de me relacionar com outras pessoas deixou de existir porque eu deixei de me importar com o que qualquer uma delas pensa. A grosseria substituiu o nervosismo, a acidez substituiu a vergonha.
O acúmulo da falta de interações bem sucedidas, seja pela incapacidade de me socializar ou pela posterior absoluta falta de vontade de fazê-lo, resultou no que sou hoje.
Dezenove anos, nenhum amigo.
Minha família é o único vínculo de longa data que consegui preservar — e até isso, durante os últimos três anos, deixei enfraquecer.
Então é apenas natural que, em decorrência da tragédia social que sempre fui, eu não tenha vivenciado muitas coisas.
Envolvimentos sexuais de uma noite só, absolutamente todos sempre resultantes de álcool circulando em minha corrente sanguínea, é tudo que consta em meu histórico de relacionamentos não-platônicos.
Ninguém nunca disse com todas as letras que gosta de mim. Honestamente, eu nunca esperei ouvir.
Ainda pior, eu nunca esperei ouvir isso de Park Jimin.
Mas ele deu os sinais. Apesar de usar tudo de mim para ignorá-los sem saber que o estava fazendo, agora eu percebo quão cego fui por me deixar enganar por minha própria consciência relutante.
A cada vez que suas investidas me fizeram gaguejar ou corar infernalmente, a cada vez que ele venceu a barreira do Jungkook de hoje e trouxe um pouco do Jungkook socialmente inábil de antes, Jimin esteve deixando claro que nossa inimizade sempre foi unilateral.
Estava deixando claro que ele, logo ele, sentia por mim o que eu achei que ninguém nunca sentiria.
Agora, eu me sinto completamente desprotegido enquanto Jimin continua com os olhos intensos entregando toda sua atenção a mim. A grosseria parece ter evaporado completamente de meu corpo e tudo que me resta é uma bagunça de bochechas quentes e incapacidade de falar ou de me mover, enquanto vejo que suas próprias bochechas gordas parecem avermelhadas.
Certamente, não como as minhas. Talvez nenhum homem na história da humanidade tenha ficado tão vermelho quanto eu estou agora.
— Vocês estão bem? — Subitamente, a voz de Hoseok interrompe nosso silêncio rubro.
Eu mal me lembro de quando ele foi ao banheiro. Eu sequer lembrava que estamos no meio do refeitório lotado, conversas e hashis se chocando contra as bandejas em todos os lados. É como se, a partir do momento em que as palavras deixaram a boca de Jimin, eu tivesse sido levado a outro lugar. Mas eu continuo parado, exatamente onde perdi o ímpeto de me mover quando ele se confessou.
Subitamente, eu quero correr. Quero ir para bem longe dele, para não precisar lidar com o que acabou de acontecer.
Mas enquanto o desejo invade meu peito e Hoseok espera uma resposta que nunca vem, Jimin me implora com o olhar.
— Não fuja, por favor. — E então sua súplica encontra sua voz, que soa ansiosa como nunca.
Hoseok ainda espera. Eu ainda quero correr. Mas meu corpo anseia pelo contrário. E, sem força nas pernas, eu caio sentado no mesmo lugar de antes, a cadeira metálica amparando meu corpo quando a decisão é tomada. E eu não fujo.
— O que aconteceu? — Mais uma vez, Hoseok pergunta. Com o rosto escondido em minhas mãos enquanto eu curvo meu corpo com meus cotovelos apoiados na mesa, eu não vejo a expressão de Jimin quando é ele quem responde.
— Não foi nada. Como você está?
— Melhor que vocês, pelo visto.
Dessa vez, resposta nenhuma vem. O silêncio volta a nos dominar até que o som de uma cadeira sendo arrastada o invade, seguido pela voz de Yoongi.
— Então... — Ele começa, receoso. — Péssimas notícias.
— Sua avó morreu? — Hoseok questiona, horrorizado.
— Não! Não, deus me livre, não. — O bruxo logo descarta a possibilidade, suspirando antes de prosseguir. — Mas é sobre ela. Ela não aceitou liberar a entrada de vocês como visitantes porque... bem, ela não quer falar com vocês.
Ainda soterrado pelas sensações prévias, eu me sinto ainda mais espantado ao ouvir o que o piromaníaco tem a dizer.
— Como assim? Depois de tudo que ela nos disse? — Pergunto, inconformado. — Eu sabia que essa velha era doida!
Yoongi me olha prestes a pular em meu pescoço. Sem perceber, eu também espero uma repreensão de Jimin, mas ele nada diz.
— Ela disse que não pode interferir mais do que já interferiu ou o resultado será tão desastroso quanto das últimas vezes. — Yoongi logo revela, ainda me olhando com impaciência. — Seja lá o que isso signifique.
Jimin não está mais olhando para mim, e descubro isso quando reúno coragem para olhá-lo e o encontro com os olhos pousados em Yoongi, as íris acastanhadas manchadas por desespero.
— Então isso realmente não acabou e a única pessoa que poderia nos ajudar está se recusando a dizer qualquer outra coisa? — Ele pergunta, um tanto de irritação por trás de seu medo.
— Vocês acham que o dia de hoje vai começar a se repetir? — É Hoseok quem pergunta, apavorado. — Nós saímos do dia 21 para começar a repetir o 22?
Os olhos de Jimin voltam a pousar em mim, a língua deslizando pelos lábios cheios e os cílios curtos batendo num gesto nervoso.
Você sabe o que precisa fazer.
As palavras de Seon Yeong reverberam em minha mente, arrastando as imagens de todas aquelas cenas onde diferentes versões de Jimin estavam ao lado de diferentes versões minhas.
Por mais que sua mensagem pareça clara, ainda não faz sentido.
Eu e Jimin podemos ter aceitado nossa primeira trégua, mas nós não estamos juntos — e isso, invariavelmente, anula a possibilidade de que estarmos juntos é a solução do problema.
A não ser...
— E se a cada dia nós tivermos que dar um passo? — Subitamente, questiono. — Como missões que precisam ser cumpridas para que o dia chegue a um fim definitivo e o próximo possa começar?
Jimin já esqueceu completamente sua comida, seus dentes agora ocupados em mordiscar a ponta da unha de seu polegar esquerdo.
— Faz sentido. Mas se for assim, qual o prazo final? — Ele pondera, os olhos vagando pela mesa como se observassem as peças soltas de um quebra-cabeça imaginário. — Seon Yeong disse que o tempo está acabando, então existe um prazo.
— E se existe um prazo, existe um objetivo maior a ser alcançado. — Sou rápido em dizer, meu raciocínio mais uma vez surpreendentemente em sintonia com a mente de Jimin.
Então ele me olha, o polegar repousado sobre o lábio inferior carnudo e o cotovelo apoiado sobre o outro braço dobrado na altura de suas costelas.
— Eu acho que nós já sabemos o objetivo — Jimin diz, o olhar afiado dilacerando minha coragem de continuar olhando-o de volta.
— Ainda assim, não faz sentido. — Contraponho, nervosamente coçando minha perna por baixo da mesa. — Por que precisamos alcançá-lo? Um objetivo sem razão por trás é vazio, não tem força.
Jimin não parece ter uma resposta rápida para isso. Depois de pensar silenciosamente com o barulho de seu dente quebrando a unha permeando nossa conversa em pausa, ele olha para Yoongi.
— Sua avó pode não querer nos ver novamente, mas ela disse que você deveria nos ajudar. — Diz, de súbito. — Então você deve saber de algo.
— Eu mal entendi sobre o que vocês estão falando, colega. — Yoongi responde, sobrancelhas apertadas.
— Eu honestamente acredito que você é nossa única saída, Yoongi — Hoseok diz, o olhar parecendo receoso demais em encontrar o do bruxo.
Os olhos miúdos do piromaníaco se mantêm repousados no veterano de dança, os lábios se contraindo como se criassem uma barreira para prender as palavras. Instantes depois, ele diz:
— Vamos sair daqui. Num lugar mais reservado, vocês irão me dizer absolutamente tudo que aconteceu e eu vejo o que posso fazer a partir daí.
— Ok. — Eu rapidamente concordo, apoiando minhas mãos sobre a superfície da mesa para me apoiar e ficar de pé.
Quando todos se levantam, minhas mãos nuas recolhem todas as iscas de frango que sobram sobre a mesa e eu enfio dois pedaços de uma vez na boca.
— Cruzes. — Yoongi brada, assustado.
— Ele é grande. Precisa de mais energia. — Jimin parece se apressar em justificar minha cena horrenda.
Quando eu penduro a mochila no ombro e cedo a um reflexo, deixando meu olhar encontrar o seu, até perco o impulso de continuar mastigando os pedaços de frango enfiados na boca. Como resultado, minhas bochechas ficam estufadas como as de um hamster até que Hoseok dá um tapa leve em meu ombro para que eu comece a andar.
Em silêncio, nosso grupo desajustado segue para fora do refeitório em direção à biblioteca. Ninguém diz absolutamente nada, a atmosfera que nos circunda é desconfortável e meu frango acabou antes de sequer poder me distrair da sensação, então tudo que me resta é lamber os dedos para capturar os restos de gordura.
— Ei... — Jimin me chama assim que entramos no prédio pretensiosamente chamado de biblioteca central. — Vá lavar as mãos. Eu te espero.
Eu o olho em silêncio, inconscientemente usando minha língua para capturar qualquer resto de comida que tenha ficado ao redor de minha boca, porque me deixa constrangido a possibilidade de Jimin me ver todo sujo.
Sem dizer nada, eu apenas fujo de seu olhar e caminho em direção ao primeiro banheiro, onde lavo as mãos, a boca e me olho no espelho, prestes a desmaiar quando vejo uma remela fugindo de meu olho direito.
— Há quanto tempo isso está aí, cacete? — Vocifero, sozinho.
Jimin viu? Isso já estava aqui quando ele disse que gosta de mim?
Ele se declarou para uma pessoa com remela no olho?
Com um grunhido envergonhado, eu faço minhas mãos de concha e jogo água no rosto, esfregando-o furiosamente para que nenhuma outra secreção permaneça aqui.
Ainda pouco recuperado, eu saio do banheiro secando minhas mãos na calça e encontro Jimin parado no mesmo lugar, me esperando enquanto seu pé brinca com algo no chão.
— Anda — Eu o chamo ao passar ao seu lado em direção às mesas, sequer parando por um segundo para olhá-lo.
Eu não vou dar a ele a chance de perceber que eu tirei a remela, porque talvez não vê-la mais aqui o faça lembrar de quando esteve e honestamente eu já quero explodir de vergonha o suficiente.
Algumas passadas depois, nós chegamos à mesa longa, de madeira escura, onde Hoseok e Yoongi se acomodaram. E então Jimin diz, colocando sua bolsa de treino numa das cadeiras livres:
— Que bom que você limpou seu olho.
Certo.
Então talvez esse seja o mais próximo que um ser humano possa chegar de ter uma síncope antes de ter uma síncope.
Diante de minha reação certamente desajeitada, ele ri um pouco. — Fofura.
— Isso aqui, uma fofura? — Yoongi questiona, apontando para mim com uma caneta. Então ele ri com um som rouco e debochado escapando pela garganta. — Tá certo.
— Nós não temos coisas mais importantes para nos preocupar? — Pergunto, arrastando a cadeira pelo chão para poder me sentar. Pelo barulho alto, o bruxo me olha prestes a me atear fogo, mas antes de ouvir sua reclamação sobre estarmos numa biblioteca, já adianto: — Ca-guei.
— Encantador. — Ele diz, ironia escapando por cada poro de sua existência.
De braços cruzados, eu vejo quando ele abre um caderno e vira a caneta, batendo a cabeça de mola na mesa para liberar a ponta de escrever.
— Jimin e Hoseok, por favor, me descrevam tudo, até o que não parecer relevante. Jungkook, você pode... sei lá, ir se arrombar. Mas em silêncio, por favor. Estamos em uma biblioteca.
Eu reviro os olhos furiosamente, estalando a língua no céu da boca antes de virar o rosto para o lado, ignorando os outros três.
À medida que o tempo passa, cada mínimo acontecimento é revelado para Yoongi. Nosso caminho foi feito em ziguezague, atrapalhado, voltas sendo dadas para acrescentar detalhes esquecidos pelo percurso. Entre um e outro, nós também brigamos, acidez se derramando em todo lado.
Aparentemente, nós quatro somos completamente incompatíveis.
— Eu não sabia que vocês têm tanta energia para discutir e ainda conseguem usar a massa encefálica como monstros. — Quando acabamos, Hoseok diz, ainda sentado enquanto nós arrumamos nossas coisas em silêncio.
Se precisar ser sincero, ele foi o único que não se envolveu em qualquer conflito desde que sentamos nessa mesa. Sempre tentando apaziguar os ânimos, sempre tentando substituir as ironias trocadas por toques de humor.
— Fala sério. — Yoongi diz. Apesar de tudo, com um toque impressionado na voz. — Nós não somos nada perto de você.
— Uai, meu filho, fale por você. — Devolvo, já de pé. — Eu, hein.
Surpreendentemente, Hoseok ri. Quando estamos todos de pé, ele é o único ainda sentado, e parece inseguro sobre dizer algo, ou não.
— Vocês não querem fazer alguma coisa juntos, agora?
— Preciso pegar meu irmão na escola. — Aviso, já dispensando sua oferta.
— Eu também tenho compromisso. — Jimin é o segundo, com muito mais pesar enquanto arruma a alça de sua bolsa. — Talvez uma outra hora?
— E eu preciso tentar entender tudo isso e encontrar uma saída — Yoongi mostra a caderneta onde anotou todas as nossas explicações detalhadas, mas acaba apertando os ombros. — Se quiser, pode vir comigo.
Hoseok pondera, os dois trocando olhares que, como um expectador, não consigo interpretar. Parecem carregados demais, cheios de um contexto que eu não acompanhei.
— É melhor ir para casa — Ao fim, o veterano de dança responde.
Eu ainda lanço uma olhadela para Yoongi, que tenta mostrar conformidade quando obviamente gostaria de ouvir outra resposta.
A forma como eles agem desde o começo me faz pensar que essa não é a primeira vez que se aproximam. Yoongi desde o primeiro momento demonstra uma preocupação por Hoseok que não se sente por um desconhecido.
Mas, sinceramente, eu não poderia estar mais desinteressado em entender.
— Enfim. — Eu aceno, já virando de costas para sair da biblioteca. Antes de me afastar demais, grito: — Me liguem se descobrirem alguma coisa.
— Nós estamos em uma biblioteca, babaca! — Ao longe, Yoongi grita de volta.
O canto de meus lábios se desenha num sorriso miúdo, que some assim que eu paro ao lado de Belinda e percebo que Jimin me enviou uma mensagem.
Você não me deu uma resposta (16:07)
Você sabe qual a resposta, Jimin. (16:15)
Eu não me sinto desse jeito por você (16:18)
E é por não se sentir desse jeito por mim que você demorou 3 minutos para conseguir me dizer isso? (16:18)
Eu não sabia se devia dizer diretamente, ou não. É sério, Jimin. Eu te odiava até ontem, não força a barra... (16:18)
Eu sei, gracinha (16:19)
Você se preocupar sobre ser direto ou não sobre seus sentimentos já mostra que estamos um passo à frente que quando começamos. Vou me dar por satisfeito, por enquanto. (16:19)
Pilote com cuidado, ok? (16:20)
Eu respondo com um emoji mostrando o polegar, porque não sei mais o que dizer.
Jimin me faz sentir como o Jungkook desajeitado de antes e eu odeio isso.
Mas não o odeio mais.
Com a certeza silenciosamente instalada em meu coração, eu guardo meu celular e me preparo para montar em Bee, checando todos os detalhes antes de ligar seu motor para ir até a escola de Junghee.
Como chego um pouco antes do horário em que ele é liberado, eu não estranho a demora. Com Belinda desligada, em me recosto a ela e, sem o capacete, alterno minha atenção entre meu celular e a entrada da escola através do pátio bem cuidado.
Mas então a demora começa a ser incomum quando eu percebo todos os alunos saindo e não vejo meu irmão mais novo entre eles, até que o último grupo sai e Junghee não deu qualquer sinal.
Impaciente, eu ligo para ele. Depois de alguns toques, a ligação é recusada. Ligo novamente. Dessa vez, a chamada cai direto na caixa postal.
— Que merda é essa? — Questiono sozinho, ainda tentando uma última vez. Nada.
Com a agonia guiando minhas pernas, eu logo corto o pátio com passadas longas até a entrada da escola, onde sou barrado por uma professora.
— Me desculpe, senhor, não é permitida a entrada na escola — Ela diz com falsa cortesia.
Exatamente a mesma merda de quando eu também estudei aqui. Mas diferente do tempo em que eu abaixava a cabeça para os professores autoritários, agora eu mantenho o rosto muito bem erguido.
— Se você não quer que eu entre à força nesse lugar, é melhor me dizer onde meu irmão está.
— Todos os alunos já saíram.
— Meu irmão não, e eu também não vou sair sem ele. Jeon Junghee, primeiro ano e cabelo castanho escuro meio ondulado. Onde ele está?
A professora aperta as sobrancelhas tão suavemente que quase me passa despercebido. — Ele está em minha turma, mas não apareceu para o último horário.
— Ele não o que? E vocês não notificaram ninguém da família?! — Questiono, furioso porque se minha mãe tivesse sido informada, ela me diria.
— Ele frequentemente foge das aulas. Não é mais surpresa — Ela diz, dando uma passada para dentro. — Com licença.
E assim, sem me dar qualquer outra informação, ela fecha as portas da entrada e me deixa trancado do lado de fora, ainda sem saber onde meu irmão caçula está.
Agora preocupado por saber que ele constantemente anda matando aulas, eu apresso o passo de volta até Bee e não sou cuidadoso ao arrancar com ela em direção à minha casa. Eu entro gritando o nome de Junghee. Ele não está. Mais uma vez, corro até minha moto e piloto até a MoonMoon, mas pelo vidro vejo que ele também não está na lanchonete.
Sem querer preocupar minha mãe, eu rodo a cidade por todo lugar onde meu irmão poderia estar, mas não o acho em canto algum.
— Merda, Junghee... — Vocifero, parado diante da biblioteca onde ele costuma pegar alguns livros. Com o celular em mãos, eu tento ligar mais uma vez, mas o resultado é o mesmo.
Sem saber o que fazer, tudo que eu mais quero é a ajuda de alguém. Eu gostaria de ter alguém a quem chamar agora, mas a ausência de amigos se mostra ainda mais clara e dolorosa quando precisamos de um e não temos ninguém.
Perdido, preocupado e já começando a suar de desespero, eu quase desacredito na improbabilidade do que estou prestes a fazer.
Mas ele é o mais próximo de um amigo que eu tenho agora.
Então eu inicio uma nova chamada, que dessa vez logo é completada.
— Jeon? — A voz de Jimin soa surpresa, do outro lado, mas principalmente ofegante.
— Junghee sumiu — Eu disparo, subitamente percebendo minha estupidez. E o que Jimin poderia fazer sobre isso, afinal?
O que ele poderia querer fazer? Isso não tem nada a ver com ele.
— Sua respiração está ofegante. — Ele percebe, com sua própria voz entrecortada pela respiração errática. — Pressuponho que você já procurou em todos os lugares que podia.
— Sim. — Respondo, olhos fechados e mão deslizando pela testa quando me dou conta do quanto isso é inconveniente e estranho. — Eu não sei por que te liguei.
— Shh. Deixa de ser bobo, Jungkook. Eu já estou indo até Pandora e vou ajudar a procurar, certo?
Eu aperto os olhos com mais força, balançando a cabeça como se ele pudesse me ver. — Obrigado...
— Não é nada. Nós logo vamos dar um puxão na orelha dele pelo susto que nos deu. Até lá, respire comigo. — Ele pede, a voz ainda ofegante, mas de alguma forma suave. — Eu não tenho como segurar suas mãos agora, mas respire devagar como eu te ensinei, lembra?
— Sim.
— Muito bem. — Parabeniza, mesmo sem poder ver meus esforços para respirar devagar. — Viu que você é um bom menino, Jeon?
Eu nem tenho força para revirar os olhos, apenas respirando tão devagar quanto possível, lutando para reestabelecer o ritmo da oxigenação.
— Já estou em Pandora. — Ele avisa, algum tempo depois. — Te ligo quando encontrá-lo, tudo bem?
Talvez não tenha sido proposital, mas ouvir Jimin dizer quando ao invés de se, de alguma forma, aliviou o peso em meu peito.
Mais uma vez, eu não entendo por que ele tem tanta influência sobre mim. Mas, dessa vez, eu fico feliz que tenha.
Porque Jimin me agita e me bagunça, mas quando preciso, ele me acalma como ninguém.
— Ok. Obrigado. Eu sei que isso não tem a ver contigo, então obrigado mesmo, Jimin.
Seu silêncio se prolonga, do outro lado. Quando penso que a chamada já foi encerrada, sua voz soa baixa antes que ele realmente finalize a ligação:
— Eu disse que gosto de você, Jungkook. Então eu me importo. E se eu me importo, isso tem a ver comigo, também. Não ouse pensar o contrário.
Eu não tenho a mínima ideia de como responder a uma declaração dessa. E diante da ausência da minha voz, a ausência da sua se consolida quando eu afasto o celular e vejo que a tela já indica o fim da chamada.
Em meu peito, meu coração acelera ainda mais — por Junghee, em sua maior parte.
Mas uma parte do descompasso pertence a Jimin, e eu não posso negar.
Sozinho, eu me forço a continuar respirando com calma, o eco da voz de Jimin guiando minha respiração ainda reverberando em minha mente, tentando preencher o vazio que arrisca ser preenchido pelos piores pensamentos sobre onde Junghee pode estar, sobre o que pode ter acontecido com ele.
Ele não é assim. Junghee não foge da escola, não some sem dar satisfações e não nos interdita quando tentamos falar com ele. Junghee é um bom garoto, o filho que eu sei que minha mãe nunca se arrependeu de ter colocado no mundo, diferente de mim.
Então eu não entendo. Eu não entendo, me assusto, mas também me culpo, nem sei exatamente pelo quê.
Quando tempo demais já se passou para que eu me mantenha são, meu próximo impulso é ignorar todos os alertas de meu corpo e montar em Belinda para voltar a procurá-lo. Mas no exato momento em que minhas mãos suadas pegam o capacete sobre o assento, meu celular toca.
É Jimin.
— Jimin? Junghee está com você? — Disparo assim que atendo a chamada, esperança disputando espaço com o medo.
— Sim. — Ele fala baixo, do outro lado. Apesar da resposta positiva, sua voz está carregada. — Me encontre em sua casa. Vou levá-lo até lá.
— Por que você está falando assim? Aconteceu alguma coisa com ele?
— É melhor não ter essa conversa agora. Me encontre em sua casa, Jungkook.
— Jimin, o que aconteceu com meu irmão? — Insisto, desesperado.
— Ele está bem, ok? Confia em mim. Por favor. Eu só acho que preciso te contar uma coisa e por telefone não é o melhor jeito.
Meu peito aperta como se todas as vias se fechassem para receber o ar, minha voz se perdendo dentro de meu corpo até que Jimin se manifesta outra vez:
— Junghee vai chegar bem em casa, então garanta que você também vai chegar.
— Eu já estou indo. — É a única coisa que digo antes de encerrar a chamada e montar desajeitadamente em Bee, mochila nas costas, capacete na cabeça, coração na mão.
Por todo o percurso, é difícil me concentrar no trânsito enquanto minha mente continua tão apegada ao que Jimin disse.
Porque eu sei que ele estava mentindo. Junghee não está bem.
Então eu acelero, ultrapasso sinais, faço o motor cantar até machucar meus ouvidos. Quando finalmente vejo minha casa e o carro de Jimin na frente, eu quase caio de Belinda ao saltar dela para o chão e correr pelo pequeno jardim, até passar pela porta de entrada e encontrar Junghee sozinho no sofá.
É tudo tão rápido. Meus olhos veem sua figura menor que a minha e o desespero me cega para que eu dê atenção ao seu uniforme sujo ou às manchas em seus braços ou ao arranhão em sua testa.
Eu não vejo o jeito como ele me olha com vergonha, mas secretamente pedindo socorro.
Eu ignoro tudo, porque tudo que eu vejo é meu irmão. Eu o vejo aqui, o alívio surgindo ainda mais intensamente que a frustração pela preocupação. Mesmo assim, a primeira coisa que eu faço é largar o capacete de lado e abrir passadas largas e furiosas em sua direção, puxando-o pela gola da camisa até colocá-lo de pé. Com mais um puxão, ele quase cai para a frente, suas mãos desesperadamente segurando as minhas e seus olhos assustados quando minha voz sai mais alta que o planejado.
— Onde você estava, porra?!
— Jungkook, para com isso! — A voz de Jimin surge de trás, até que ele aparece em meu campo de visão, saindo da cozinha, e deixa um copo com água sobre o móvel da TV. Em seguida, ele segura minhas mãos com uma firmeza que não precisa de agressividade, me forçando a soltar Junghee antes de ser ele a prendê-lo num abraço protetor. — Se controla, inferno!
Eu recuo, ficando de costas para eles enquanto repuxo meus cabelos para trás, vagando pelo espaço limitado da sala de estar antes de voltar a olhá-los e ver o estado do meu irmão mais novo.
— Você se meteu em uma briga? — Gostaria de perguntar, mas minha voz soa como uma acusação.
— E se tiver? — Junghee me desafia, tremendo como eu não o via tremer há anos. — Qual o problema?! Você sempre faz coisa pior!
— Qual o problema? — Repito, furioso. — Qual o problema, moleque? O problema é que eu sou seu irmão mais velho e eu não vou ver uma merda dessas e ficar quieto!
A feição de Junghee exibe raiva, mas também tanta mágoa. E antes que minha última declaração se concretize, ele já está avançando em minha direção, usando seu tamanho tão menor que o meu para me empurrar pelo peito.
— Cala a boca! — Ele grita, ainda mais cego pela raiva. — Para de fingir que se importa comigo ou com minha mãe, se foi você quem nunca nos deixou seguir em frente! Se é por sua culpa que nós vivemos tristes!
Ele ainda não tem tamanho para me dar um golpe que machuque de verdade, mas sequer será necessário. Porque isso doeu mais que qualquer outra coisa que pudesse arrancar sangue de mim.
— Junghee... — Eu o chamo, a voz tão quebradiça que se perde.
No fundo, esperando ver sua expressão se livrar de toda a raiva e exibir arrependimento. Esperando ele voltar atrás. Mas o que ele faz é correr para longe de mim, me deixando com a confissão que parece ter sido a mais sincera já feita em seus quinze anos.
Quando a porta de seu quarto bate violentamente, eu quase perco a força.
Tudo é drenado de mim. Toda a esperança que senti por achar que estava me reaproximando de minha família, toda a alegria por acreditar que eles me aceitariam depois de tanto tempo... tudo evapora quando eu percebo que nada disso acontecerá.
— Jeon... — Jimin me chama, tão sem reação quanto eu.
Eu apenas nego com a cabeça, procurando apoio no sofá até me sentar, mesmo que meu desejo seja correr para longe.
— Vai embora. — Peço, sem olhar para ele.
Silêncio vem. Em seguida, instantes se passam até que ele sente ao meu lado, cada movimento comedido, cuidadoso, sua coxa tocando a minha. Por fim, sua mão hesita em procurar a minha, mas procura, acha, e a segura. Os dedos curtos e gordos envolvem minha palma, enquanto sua outra mão acaricia minhas costas em círculos.
— Seu irmão está no limite e você também, Jeon. Eu não vou deixar vocês sozinhos.
Eu rio completamente sem humor.
— Você tem até medo de me deixar com meu próprio irmão. — Percebo, nunca tendo coragem suficiente para olhá-lo. — É disso que você diz gostar? De mim?
— Jungkook, para. Para de se menosprezar e foca no que está acontecendo aqui. — Jimin pede. Apesar da dureza de suas palavras, seu tom ainda parece tentar ser cuidadoso. — Você acha que é normal seu irmão reagir daquela forma?
— Eu não sei mais. Ele também nunca se envolveria em uma briga, mas olha o que aconteceu!
— Junghee não se meteu em uma briga. Não é uma briga se um dos lados não reage. Ele foi atacado, Jungkook. E eu não acho que essa foi a primeira vez.
Eu finalmente olho para Jimin, apavorado pela possibilidade. Não pode ser. Junghee é tão quieto que às vezes mal se percebe que ele está no mesmo cômodo. Por que alguém o machucaria propositalmente?
— Você viu alguma coisa? — Pergunto, ainda horrorizado.
Jimin nega, sua mão voltando a acariciar minhas costas; seu polegar, acariciando o dorso de minha mão.
— Eu o encontrei no parque em Yeonjegu, perto do rio. Ele já estava sozinho e machucado. — Ele diz, agora sob toda a atenção de meus olhos assustados. — Ele estava encolhido na grama, Jungkook. Chorando. Que tipo de valentão chora depois de uma briga?
— Eu não acredito. — Murmuro, desacreditado. Eu não quero acreditar que isso está acontecendo. Eu não quero acreditar que alguém teve a coragem de machucar alguém como Junghee, que nunca faz mal a ninguém.
Mas Jimin não me poupa do resto. — Quando me viu, ele tentou se esconder. Depois me implorou para que eu não contasse nada para você ou para sua mãe. Eu não tive certeza na hora, mas me pareceu que isso é algo que ele já está escondendo há algum tempo. E a forma como ele reagiu em sua frente, completamente defensivo, até agressivo... agora eu tenho certeza, Jungkook. Junghee está escondendo algo ruim de vocês.
— Como você pode ter tanta certeza? — Pergunto, ainda com um fio de esperança de que seja apenas um delírio seu, um equívoco, e que nada de ruim esteja acontecendo com meu irmão.
— Eu sei porque já estive no lugar dele, Jeon.
Mais uma vez meus olhos se arregalam, atentos à forma como os de Jimin deslizam para longe. Ele hesita até mudar a configuração de nossas mãos, puxando as pontas de meus dedos até pousá-los sobre seu pulso, através da manga longa que sempre o recobre.
— Eu escondi isso por muito tempo. E enquanto ninguém percebia, eu conseguia fingir que tudo estava bem. Mas quando minha mãe percebeu... eu perdi completamente a cabeça. Eu surtei, Jungkook. Eu acho que tentei gritar e atacá-la até que ela esquecesse os cortes. E não era porque eu tinha vergonha. Eu tinha. Mas meu maior medo era por saber que aquelas cicatrizes machucariam minha mãe mais que qualquer outra coisa. Eu explodi porque queria protegê-la. E eu acho que é isso que Junghee está fazendo, sem perceber.
— Então... — Começo, atordoado demais, entendendo o que Jimin quis dizer sobre o que mais machucaria sua mãe. Porque imaginar que Junghee está sendo machucado me faz sufocar de dor. — O que eu faço? Jimin, o que eu faço?
— Você vai cuidar do seu irmão, Jungkook, como eu sei que quer fazer. Mas a melhor forma de fazer isso, quem sabe é você.
O problema é que eu não sei.
Eu não fui capaz de perceber, até agora, o que está acontecendo com ele, então como vou ter a confiança necessária para acreditar que vou fazer a coisa certa?
Enquanto eu me perco em questionamentos sem resposta, sei que Jimin continua me olhando. Seu olhar pesa sobre mim. Mas, algum tempo depois, seu tato também me pressiona — sua mão desliza por minha testa, as pontas dos dedos cuidadosamente afastando meus cabelos até colocar uma das mechas compridas detrás de minha orelha. Então seu toque desce, os dedos quase flutuando sobre minha bochecha, hesitantes, como se esperassem por minha reação.
— Descansa um pouco... — Jimin pede, mantendo seu toque constante ao perceber que eu não o afasto. — Junghee precisa se acalmar, mas você também precisa.
Tão sorrateira quanto no primeiro toque, a mão de Jimin desce por meu pescoço até pousar em meu peito. Com um empurrão suave, ele faz meu corpo se inclinar para trás, até que minha cabeça esteja deitada no encosto. Ao meu lado, ele dobra as pernas sobre o estofado, o corpo virado para o meu, a cabeça aconchegando-se ao lado da minha. Então sua mão volta a seguir seu caminho, parecendo encontrar seu destino final em minha barriga, onde se aloja, acariciando-me através do tecido grosso do moletom.
É estranho. Eu não sei como me sinto, porque estou desconfortável demais para apreciar a sensação. Ainda assim, é bom demais para ser ruim.
Por isso, eu permito que o toque se prolongue. Permito que o cheiro distante de perfume se misture à percepção da fina camada de suor na pele de Jimin.
Finalmente, me apercebo. Não está quente. Jimin estava suando. Suas roupas estão diferentes. O jeans apertado foi substituído por uma calça de ioga que abraça seus músculos com ainda mais clareza.
— Você disse que tinha um compromisso. — Lembro, encaixando as peças.
Jimin hesita por um tempo, seus olhos atentos a sua própria mão fazendo morada em meu abdômen.
— Estava praticando. — Confessa, alguns instantes depois.
Eu umedeço meus lábios, percebendo que minha última constatação estava longe de ser errada.
— Foi mal. Não queria ter atrapalhado.
— Tudo bem. Eu compenso as horas perdidas depois. Ainda tenho algum tempo antes da audição.
— Audição? — Questiono, confuso.
— É. — Ele diz, a voz arrastada. — Eu adoro a Hangsang, mas ela ainda não oferece o que eu quero, então estou me preparando para fazer audição para tentar conseguir uma vaga em uma academia de dança. O universo me atrapalhou um pouco com o que andou fazendo, — Agora, parece um tanto divertido. — mas está na hora de voltar a seguir minha vida como for possível.
— Ah. — É tudo que digo. Como já evidenciado, eu não sou o melhor em iniciar ou dar continuidade a conversas.
Por isso, nós nos calamos. Cabeças deitadas lado a lado, meus olhos mirando o teto sem cor; os de Jimin, sempre focados em mim.
— Você está mais calmo? — Algum tempo depois, ele pergunta.
— Não. — Respondo, esfregando as mãos em minha calça. Com um suspiro, revelo: — Mas eu quero falar com meu irmão.
Jimin sorri; sua mão se afasta, como se me desse apoio para ir. — Então vá.
Eu faço que sim, mas não me movo. Estou com medo de errar mais uma vez. Estou com medo de machucar Junghee ainda mais. Mas, agora, tenho a sensação de que não tentar não nos levará a lugar algum. E eu não quero permanecer no passo em que estamos agora. Então, ainda sem coragem, eu fico de pé.
Quando paro na frente da sua porta ainda fechada, eu sinto o nervosismo tomar conta de mim mais uma vez. Mesmo assim, eu cuidadosamente giro a maçaneta até abrir a porta, encontrando meu irmão mais novo sentado na cama, costas apoiadas na parede, pernas repuxadas contra o próprio corpo e lágrimas secas e frescas manchando todo o seu rosto.
— Moleque... — Eu o chamo, com medo de despertar qualquer reação como a anterior. No entanto, ouvir minha voz é o suficiente para que ele soluce alto, seu choro ganhando voz e seu corpo ganhando movimento quando ele fica de pé e corre em minha direção. Dessa vez, para me abraçar.
— Hyung, me desculpa. Me desculpa, me desculpa, me desculpa! Eu não quis dizer aquelas coisas, por favor, me desculpa!
A surpresa me consome, mas não posso dizer que isso me faz infeliz.
Ainda que o peso de suas palavras anteriores talvez nunca deixe meu coração, vê-lo arrependido ameniza a ferida. Um pouco, quase nada, mas já doi menos.
— Eu que fui um babaca. — Digo, desajeitadamente tocando em sua cabeça enquanto ele continua me abraçando. — Não precisa chorar por ter me dito umas verdades, moleque.
Ele nega, sua cabeça ainda enterrada na altura de meu peito. Talvez tente dizer alguma coisa, mas sua voz se perde com um soluço.
Eu devo tentar perguntar agora? Devo tentar descobrir o que está acontecendo nesse exato instante?
Enquanto a dúvida se fortalece em minha mente, algo dentro de mim me diz para ir com calma. Um passo de cada vez.
— Olha aqui para mim... — Eu peço, afastando-o suavemente pelos ombros. Ao ver o catarro escorrendo por seu nariz e quase chegando à sua boca, eu uso meu polegar para limpá-lo. — Vai tomar um banho. Quando você sair, nós vamos cuidar desses machucados, depois vamos comer. Depois de tudo isso, nós vamos conversar sobre o que está acontecendo... ok?
Junghee funga, seus olhos se enchendo ainda mais de lágrimas que me fazem acreditar que eu já fiz tudo errado. Mas então ele assente, a cabeça balançando para cima e para baixo.
— Ok, hyung...
Eu acho que até respiro aliviado, afastando minhas mãos e escondendo-as nos bolsos do moletom folgado. Quando ele usa o dorso dos dedos para secar as lágrimas, eu o percebo um tanto menos triste, e sorrio para isso.
— Ei. — Eu o chamo quando começa a sair do quarto, tentando aliviar o peso em seu peito um pouco mais. Ele para e me olha, e eu digo com toda a minha sinceridade: — Se for cagar, desentupa sua própria bosta depois.
Junghee entra em choque, primeiro. Depois, se atrapalha todo para furiosamente tirar a meia suja do pé e jogá-la em mim. Por sorte, eu desvio rápido o suficiente, rindo um pouco quando ele pisa fundo até, dessa vez, bater a porta do banheiro.
Sozinho, eu passo as mãos pelo rosto, inegavelmente aliviado por não ter piorado toda a situação. Em seguida, caminho lentamente em direção à sala, onde vejo Jimin já de pé, parecendo pronto para ir embora.
— Acho que vocês dois vão ficar bem sozinhos, agora. — Ele diz, brincando com a chave do carro em mãos. — Essa última porta que ele bateu pareceu muito mais amigável.
Eu sorrio um pouco ao perceber que ele também sorri, se balançando sobre os próprios pés antes de erguer a mão direita num gesto de despedida.
— Então até mais, Jeon.
— Até. — Respondo, mas quando o vejo começar a caminhar para fora, minha voz parece ganhar vida própria. — Jimin, espera.
— Hm?
— Por que? — Eu pergunto, sem perder tempo para pensar. — Por que você gosta de mim?
— Eu vou te deixar saber aos poucos. — Ele aperta os ombros, ainda com um sorriso suave. — Mais alguma coisa?
— Sim. — Respondo, quase sem pensar. Porque essa é a outra pergunta que não irá me deixar em paz. — Por que você disse que gosta de mim? Por que logo agora?
— Porque você finalmente está me deixando aproximar, Jeon. E por mais que eu queira ser seu amigo, eu quero que você saiba desde já que sua amizade não é a única coisa que quero. Só queria te deixar ciente das minhas intenções.
— Mesmo acreditando que eu não sinto o mesmo por você?
— Mesmo sabendo que você não sente o mesmo por mim.
Eu respiro desajeitadamente, o desconforto dominando toda minha existência, embolando minha fala até me fazer gaguejar. — E agora?
— Agora... eu quero que você sinta o mesmo. Eu quero que seu coração também acelere só de me ver. Quero que você também queira me beijar. — Ele confessa, guardando seu último desejo para o final: — Eu quero que você me deixe tentar conquistar você.
— Você está pedindo minha permissão? — Questiono, desacreditado.
— Sim. Eu não vou fazer absolutamente nada que você não permita. — Jimin diz, umedecendo os lábios por um instante. Ao fim, pergunta: — Então? Eu quero você. Você vai me deixar tentar, Jungkook?
↬ Continua no próximo capítulo.
Olá!!! Como meus bebês estão?
Acredito que alguns de vocês fizeram ENEM hoje. Espero que, depois da prova, vocês tenham tirado um tempinho pra descansar, espairecer e encher o buchinho 💕 já faz um tempo desde que passei por isso, mas ainda lembro do desgaste emocional que causa, então lembrem de se cuidar e relaxar o quanto puderem!
Sobre Cem chances. Gente ): ela já passou de 400k??? Isso é surreal ): vocês não sabem como eu to feliz de ver tanta gente interagindo com a história, criando teorias e tudo o mais. Por ser minha primeira vez escrevendo uma long assim, a insegurança acaba sendo um pouquinho maior e ver todo esse feedback positivo tá me deixando feliz demais
Escrever cem chances tá sendo bem diferente, mas muito, muito, MUITO gostoso. Espero que a leitura esteja e continue sendo assim pra vcs também 💜
Aliás hahahaha muitos de vocês já me conhecem bem e sabem que eu sempre abordo assuntos como cocô, bafinho matinal, catarrinho de choro, pêlos pubianos etc em minhas obras. É algo que me faz sentir que meus personagens são mais reais, e aqui em cem chances tivemos o debut de algo que eu ainda não tinha abordado: a temida remelinha!
Apesar de muitas vezes usar essas cenas como alívio cômico, eu também tento naturalizar um pouco mais tudo isso (até porque não tem nada mais natural que fazer cocô, ter pelos pubianos etc, né??)
Sobre Junghee, tudo que tenho a dizer é: ):
Sobre a playlist, de vez em quando eu adiciono uma musica nova, então ela tá sempre sendo atualizada. Quem ainda não conhece, pode encontrar o link na minha bio! São músicas que eu gosto muito, muito, muito e me ajudam demais a criar o clima certo pra escrever 💕
Ah! Pelo visto muitos não sabem, mas Cem chances tem conta no ig tb! o @ é cemchancesfanfic e lá eu vou postando spoilers, curiosidades sobre os personagens etc
Por enquanto é isso. Vocês já sabem, esse último parágrafo é para teorias hehe beijão e até mais 💜
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