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No capítulo anterior:

— Meu deus, Hoseok!

Em alerta, eu volto a olhar para eles tão rápido quanto consigo, sentindo meus olhos arregalarem involuntariamente quando vejo Hoseok tentando ficar de pé, pálido como uma folha de papel e com sangue escorrendo pelas narinas.

Sua mão está apoiada na parede, parecendo tentar buscar algum sustento, mas logo seus olhos piscam numa rapidez incomum e sua palma desliza pela superfície de concreto à medida que seu corpo desfalece.

E com um baque oco, o corpo de Hoseok cai desacordado no chão.

[...]

🔮

— Isso tudo é... é demais. É demais, cara. — Yoongi diz, enfurnado na enfermaria do hospital ao nosso lado.

Hoseok está deitado no leito, um cateter enfiado na veia e o rosto menos pálido, mas ainda quase sem cor.

Depois de seu desmaio repentino, nem eu, nem Jimin sabíamos o que fazer. A irreversibilidade do que acontece em nossos corpos foi um agravante, porque ambos sabemos que nada disso será revertido depois da próxima meia-noite. Por isso, nós o trouxemos a um hospital.

Aqui chegando, o médico que o atendeu supôs que a causa do desmaio foi o baixo nível de açúcar no sangue — mas nada foi concluído, nem sobre o desmaio, nem sobre o sangramento repentino.

"Precisamos fazer alguns exames" ele disse, mesmo garantindo que parece um evento isolado.

Para nossa sorte, é melhor que seja. Porque assim que o relógio marcar meia-noite e tudo reiniciar, Hoseok ainda pode estar sob algum risco desconhecido, mas ninguém da equipe médica lembrará de tê-lo socorrido, tampouco os registros médicos de hoje existirão.

Com a agonia que isso despertou, a suposta ajuda de Yoongi se tornou ainda mais urgente, por isso eu liguei e liguei e liguei até ele me atender novamente. Depois, Jimin insistiu e insistiu e insistiu para que ele viesse até o hospital.

Ele parecia irredutível em sua decisão de nos ignorar. Quando Jimin disse que era Hoseok a causa de estarmos no hospital, o não-bruxo piromaníaco parece ter subitamente mudado de ideia.

Agora, nós tivemos a chance de explicar tudo para ele. Preciso admitir, Jimin se saiu muito melhor que eu nessa tentativa. Aparentemente ele tem mais habilidades sociais que eu.

Grande surpresa.

Mas nem mesmo suas explicações detalhadas e pacientes foram suficientes para convencer Yoongi de tudo que tentamos dizer a ele. Bem, eu amo culpar outras pessoas por tudo, mas não acho que posso culpá-lo por não acreditar num papo lunático como esse.

O azar? O papo lunático é, na verdade, real.

No exato momento, os olhos de Yoongi estão pousados em Hoseok, que mal olha para qualquer um de nós. Ele continua olhando pela janela, com a presença fraca, a cada segundo mais diferente daquilo que costumava ser.

É como se, pouco a pouco, segundo a segundo ele estivesse... apagando.

— Acredite no que eles te explicaram... — É a primeira coisa que ele fala desde que Yoongi entrou no quarto, ainda com o olhar distante. — Nós estamos vivendo o inferno e não tem ninguém para nos ajudar.

Yoongi massageia a própria nuca. Parece mil vezes mais balançado agora que Hoseok se manifestou.

— Vocês não brincariam com isso, não é? Vocês não inventariam tudo isso, até colocar alguém numa cama de hospital, só para tirar uma com a minha cara. Certo? — Ele pergunta. Ainda desconfiado, mas mais tendencioso a nosso favor, finalmente.

— Certo. Nós nunca inventariamos algo como isso. E nós estamos meio desesperados, então... — É Jimin quem responde, de pé ao lado da cama. Eu continuo encostado na parede com as mãos nos bolsos da jaqueta, secretamente desejando poder tirar dali um cigarro e um isqueiro.

Mas Jimin jogou meu maço novinho no lixo. E, não fosse ele, o reset o faria de qualquer forma.

— Tudo bem — Yoongi levanta da única poltrona disponível no nosso cubículo da enfermaria. — Eu realmente não posso fazer muita coisa, mas talvez ela possa ajudar.

Ela quem? — Eu pergunto, desconfiado.

— E importa? — Jimin sobrepõe meu questionamento.

— Lee Seon Yeong — Yoongi responde mesmo assim.

— Lee Seon Yeong... — Hoseok repete, parecendo buscar alguma familiaridade no nome. — Eu já lembro de ter escutado em algum lugar...

— Certamente ouviu. — Yoongi garante, pendurando a mochila abarrotada de livros nas costas. A despeito de sua afirmativa, pouco se atém a essa ramificação da conversa, então logo gesticula com a cabeça: — Vamos.

— Esperem. — Hoseok diz antes que o deixemos sozinho. — O que acontece se der meia noite e eu ainda estiver aqui?

Jimin nega com a cabeça, tão sem certeza quanto eu.

— Pelo que me explicaram, você deve continuar aqui, mas seus registros de entrada no hospital irão sumir. Não acho que vá causar nada além de uma puta confusão com os médicos — Yoongi é quem supõe.

Apesar das pontas soltas, nós estamos começando a desenhar o padrão — ou o mais próximo disso possível.

Enquanto esperávamos Yoongi, Jimin e eu tentamos listar o que podemos correlacionar até agora. O reset funciona com tudo e todos, menos com os envolvidos no acidente e qualquer coisa que aja diretamente em nossos corpos. Além de apagar a memória do dia, o glitch da meia-noite devolve pessoas e coisas à posição inicial em que estavam — mais uma vez, não se aplica a nenhum de nós.

Se eu estiver no Brasil quando a meia-noite chegar, eu continuarei no Brasil. Mas se, por exemplo, minha mãe estiver lá, ela retornará ao seu quarto, que é seu ponto de partida.

O que nos motivou a fazer isso foi que, ao corrermos com Hoseok desacordado para fora de sua casa, nós descobrimos que Belinda e Naruto não estavam em sua garagem. Apenas Pandora estava lá.

Por isso, reforçamos que minha Bee e o carro de Hoseok voltaram aos seus respectivos pontos de partida. Como o ponto inicial de Pandora era a própria garagem de Jimin, ali ela permaneceu.

Mas, além disso, não há muito que sabemos. Tudo ainda é uma grande incógnita e eu não conheço nenhuma equação matemática que possa revelar seu valor.

— Nós voltaremos antes disso para evitar maiores dores de cabeça. — Jimin garante, tocando o topo da cabeça de Hoseok, que continua deitado. — Você vai ficar bem, sozinho?

Hoseok parece hesitante sobre a resposta, mas um aceno positivo vem, ao fim.

— Só... voltem, por favor. — E pede.

Jimin garante que sim. Em seguida, nós seguimos Yoongi pelo hospital, mas estranheza toma conta de mim quando percebo que, ao invés de nos levar para a saída, ele segue pelos corredores largos do prédio hospitalar. Quando olho para Jimin, ele devolve meu olhar com o mesmo tom interrogativo, dando início a uma breve e silenciosa conversa entre nós dois, que finda quando chegamos em nossa decisão: ele pergunta.

— Yoongi? — Jimin chama, cuidadoso, e aponta sobre o ombro para trás, com o polegar. — Nós já passamos pela saída.

— Eu sei. Não vamos precisar sair do hospital. Ela está aqui. — Ele responde, sem parar para nos olhar.

A confusão inicial se mantém, mas mais alguns passos e eu percebo para onde estamos sendo levados. Então paro bruscamente.

— Você só pode estar de brincadeira!

Yoongi e Jimin param de andar, alguns passos à frente, e viram para me olhar. As expressões dos dois são distintas. Enquanto Jimin me repreende sutilmente, ainda vejo um resquício de concordância em sua expressão. Yoongi, por outro lado, parece irritado.

— O que é agora? — Ele pergunta, impaciente.

Eu aponto para a placa ao lado da porta vai-e-vem que separa aquela ala do restante das outras alas do hospital.

Ala psiquiátrica.

— Isso é algum tipo de armadilha? — Questiono, desconfiado. — Eu disse que nós não estamos doidos!

Agora, os dois parecem compartilhar exatamente a mesma sensação. Tédio.

— Jeon... — Jimin suspira, dando os dois passos que nos separavam, então agarrou meu pulso e me puxou junto com ele para seguirmos andando. E ainda teve a cara de pau de dizer: — Fique quieto.

— Não sei como você aguenta. — Yoongi resmungou, revirando os olhos antes de tomar a frente e empurrar a porta. De tão desacreditado, eu até demorei para realmente perceber que Jimin continuou me tocando. Sua mão ainda segurando meu pulso e seu polegar deslizando suavemente por minha pele quando ele olhou para mim por cima do ombro e sussurrou um "calma" mais paciente.

Sem saber exatamente como reagir, eu somente deixei um som mal humorado arranhar minha garganta quando desviei os olhos, emburrado, mas sem parar de segui-lo e sem me soltar de seu toque contínuo.

Quando chegamos ao balcão semicircular no fundo do saguão descolorido com tons de branco em todo canto, Yoongi parou diante de um dos atendentes, também vestidos de branco.

Apenas as roupas dos visitantes que circulam pela área parecem fazer algum contraste. Ironicamente, a maioria se veste em preto ou cinza e tal percepção me deixa ainda mais desconfortável. É branco e mais branco salpicado com pontos de luto aqui e ali.

Yoongi, no entanto, parece perfeitamente habituado ao ambiente.

— Eles não estão na lista, mas estão me acompanhando, então não entendi qual o problema. — Ele disse para o homem, que se recusou a dar nossas credenciais de visitantes para seguirmos até a ala dos pacientes.

— Yoongi, você sabe que eu não posso liberar. — O atendente respondeu, parecendo mais frustrado que impaciente. — Sinto muito.

— Por favor. — Ele juntou as mãos no balcão, inclinando-se brevemente mais para a frente. — É importante, Seokjin.

O homem em sua frente recuou um pouco, recostando no apoio de sua cadeira giratória. Ele passou a mão pela própria testa e a língua pelos lábios antes de apertá-los um contra o outro.

— Eu sempre deixo que você entre e leve comida para ela. E você sabe que isso também é proibido. Mas permitir a entrada de duas pessoas que não estão na lista é algo que eu realmente não posso fazer.

Yoongi se curvou inteiro, até apoiar a testa nas mãos espalmadas no balcão de mármore. Alguns segundos depois, ele lentamente se ergueu com os olhos fechados, expulsando o ar como quem busca paciência, mas acabou por assentir.

— Ok. Certo. Obrigado. Ótimo irmão você é.

— Yoongi... — O atendente o chamou em lamentação, mas eu apenas troquei um olhar assustado com Jimin ao descobrir que os dois são irmãos.

O dia continua se repetindo, mas as surpresas nunca acabam.

— Esquece. — O bruxo piromaníaco suspirou, gesticulando para nós. — Vamos.

— Espera. — Eu apertei o passo para alcançá-lo, porque subitamente ele decidiu andar rápido como o diabo. — Se essa tal Lee Seon Yeong é a única pessoa que pode nos ajudar, nós não podemos desistir assim!

— Dá um tempo com as conclusões precipitadas, Jeon. — Yoongi pediu, já empurrando a porta vai-e-vem para voltarmos para o lugar de onde viemos.

— Nós estamos literalmente indo embora!

Yoongi para repentinamente, apontando para o próprio rosto, e soa ainda mais rude que eu quando pergunta: — Essa é a cara de quem desiste facilmente, seu brutamontes? Não. Não é. Então cale a boca e me siga antes que eu perca a paciência de uma vez.

— Não precisa falar assim com ele. — Jimin interveio com o tom suave, mas incomodado.

Yoongi revirou os olhos, girando sobre os próprios pés para voltar a andar. — Só andem logo.

Antes de voltar a andar, eu olhei para Jimin. Apesar de ter me defendido de certa forma, ele escondeu as mãos nos bolsos da jaqueta e apertou os ombros. — Você realmente poderia parar com as conclusões precipitadas, aliás. — Dito isso, voltou a seguir Yoongi.

Com um suspiro cada vez mais impaciente, eu também enfiei as mãos nos bolsos da jaqueta e me mantive um passo atrás dos dois, já irritado com a quantidade de broncas que ando levando.

Mas pelos minutos seguintes, nada é dito. Seguimos um atrás do outro, calados, até que, depois de uma odisseia inteira, chegamos a um pátio cercado pelos prédios do hospital e dividido por um muro coberto por trepadeiras.

— Eu estou confiando que esse dia realmente vai se repetir, porque o que nós vamos fazer agora é meio que contra as regras e arriscado. — Yoongi então disse, regulando as alças da mochila numa calma que não parece tão coerente com seu aviso.

— E o que nós vamos fazer? — É Jimin quem pergunta.

Yoongi não responde, no entanto. Em silêncio, ele apenas olha para uma das janelas do prédio do outro lado do muro. Quando a curiosidade me leva a olhar na mesma direção, eu resfolego com o susto ao ver uma mulher nos olhando de volta através do vidro protegido por grades.

— Venham. — Ao fim, foi tudo que ele disse. 

Eu olho para o lado e vejo Jimin já olhando para mim, os olhos pequenos arregalados.

— Você viu aquilo? — Eu pergunto num sussurro, sem muita discrição ao apontar na direção da janela. Ele balança a cabeça para cima e para baixo, com os olhos ainda arregalados.

Haha.

Fofo.

— O que? — Agora sou eu quem arregalo os olhos, apavorado com o que se passa por minha mente, naturalmente.

— O que? — Jimin questiona, confuso.

Eu o olho novamente. Foco nas bochechas gordas, nos olhos que parecem rasgados pelas garras de algum animal, nos lábios cheios e no nariz miúdo.

Quase em colapso, eu faço um gesto negativo, virando para seguir Yoongi imediatamente.

— Nada. — E digo, de costas para ele.

Eu ouço o som do que parece uma risada discreta logo antes de ouvir as passadas de seu coturno esmagando a grama quando ele começa a me seguir.

— Você continua esquisito demais. — De repente, eu sinto seu corpo colar na lateral do meu quando ele me alcança. Assustado, eu congelo no lugar quando sinto seu braço envolver meu ombro e seu rosto se aproximar um pouco mais. Quase num sussurro confidencial, ele diz: — Mas quer saber um segredo? Eu adoro isso em você.

O que...?

Em choque, eu uso meu braço para afastá-lo bruscamente. Simultaneamente, continuo olhando-o com os olhos arregalados e eu quero que o universo inteiro exploda por sentir meu rosto tão quente mais uma vez.

— Quando você vai parar com essa merda?! — Pergunto, quase fervendo de raiva ou seja lá o que for isso que estou sentindo.

— Parar com o que? — Jimin pergunta, cínico. — De flertar com você?

— E-eu não chamaria isso de flerte. — Jesus, eu acabei de gaguejar?

Jimin mantém a distância entre nós dois, as mãos voltam para os bolsos da jaqueta e ele inclina o rosto brevemente para o lado, sempre com o sorriso atravessado nos lábios.

— E como você chamaria? — Questiona mais uma vez. — Porque é exatamente isso que eu estou fazendo, gênio. Eu estou flertando com você há muito tempo.

Não. Não, inferno, não! Eu me odeio. Eu o odeio. Eu odeio sentir que estou prestes a queimar com o calor em minhas bochechas, que talvez nunca tenham ficado tão vermelhas quanto devem estar agora. Eu odeio que ele tenha esses efeitos em mim, cada vez mais.

Diante de minha incapacidade de reagir, Jimin não parece ter qualquer reação negativa. Ele parece gostar, ao menos é isso que seu sorriso insistente me faz pensar.

— Eu realmente adoro te ver tão vermelho por minha causa, Jungkook. — E diz, comprovando minha impressão inicial.

— Ei! — Não sou eu quem digo, inconformado. É Yoongi quem nos chama, logo depois de um assovio que finalmente me tira do transe e, desesperado para dar atenção a qualquer outra coisa, eu olho em sua direção. — Venham logo. — Ele contém o grito num sussurro, gesticulando.

Ainda atrapalhado e desfocado pelas últimas palavras de Jimin, eu demoro um tempo para perceber que, na extremidade do muro, existe uma porta metálica que interliga os dois pátios. E agora ela está aberta, apesar de instantes atrás parecer muito bem fechada.

— Pare de brincar e foque no que realmente importa, babaca. — É tudo que eu digo para Jimin antes de quase ridiculamente correr para longe dele, em direção a Yoongi.

— O que vocês estavam fazendo? — Então o piromaníaco pergunta, cenho franzido e tudo. — Nós precisamos ter um pouco mais de cuidado agora.

— Não era nada. — Eu respondo. Estou prestes a perguntar como ele conseguiu abrir aquela porta, então acusá-lo de bruxaria por fazê-lo, mas um grito assustado morre em minha garganta quando paro diante do espaço aberto entre um pátio e outro e vejo uma mulher com uma enorme camisola branca parada bem ali, sorrindo e olhando diretamente para mim.

A visão por si só seria assustadora o suficiente, mas não é uma mulher qualquer. É a mesma que, alguns minutos atrás, estava olhando para nós pela janela.

— Já faz um tempo. — Ela diz, o mesmo sorriso enrugando ainda mais seu rosto já envelhecido, envolto por cabelos grisalhos. A princípio penso que ela está falando com Yoongi, já que eu nunca vi essa mulher na vida. Mas ela continua olhando para mim, até o momento em que olha para Jimin, quando ele para ao meu lado. E então diz: — Jungkook, Jimin.

Naturalmente, eu me apavoro mais uma vez. Um arrepio sobe por meu corpo inteiro e eu não sei o que pensar, mas a sensação ainda piora quando eu busco Yoongi com o olhar, à espera de uma explicação, e o encontro com a expressão tão mortificada quanto a minha.

— Vó? — Ele chama num fio inconsistente de voz, entregando ainda mais seu pavor e confusão. — A s-senhora os conhece?

A despeito de todas as expressões apavoradas em sua frente, a velha continua sorrindo como se absolutamente nada estivesse acontecendo.

— Minhas crianças... — Para piorar, ela ri. — Vocês ficam confusos toda vez...

— Vó. — Yoongi a chama mais uma vez. — Como a senhora sabe o nome deles e por que está falando como se já os conhecesse?

— Porque eu conheço todos vocês, meu menino. Não é óbvio?

A mulher certamente parece louca. Ela fala como uma desequilibrada e sorri como uma desequilibrada. Se fosse apenas isso, eu já estaria longe daqui, mandando Yoongi para o inferno. Mas ela sabe meu nome e eu tenho certeza que nunca a vi antes.

— Nós precisamos ser rápidos. — Ela diz, olhando para trás. O pátio do lado da psiquiatria está vazio, mas é possível ver o movimento dentro do prédio através das enormes janelas de vidro. — Se eles nos pegarem, teremos que esperar até que esqueçam para podermos conversar novamente, não é? — E diz, quase brincalhona.

— Quem é você? — Eu solto a pergunta rudemente, ainda tomado por arrepios.

O sorriso dela diminui gradativamente, mas seus olhos continuam com um brilho suave, a expressão cheia de rugas entregando algo como... carinho?

Então ela passou para o nosso lado do pátio. Seus pés nus pisando na grama e meu coração quase parando de funcionar quando, acompanhando suas passadas, a porta de ferro grunhiu ao começar a fechar, até soltar um clique ao fechar completamente assim que ela parou a um passo de mim.

Eu estou apavorado como nunca estive antes. Ainda mais que quando percebi que os dias estão se repetindo. É uma sensação completamente nova, uma mistura de pavor, curiosidade e admiração.

E diante disso, ela revela:

— Jungkook, minha criança... eu sou a pessoa que te ajudou nas últimas noventa e oito vezes.

Eu sinto que poderia vomitar com o nervosismo, a náusea tomando conta de mim quando recuo com um passo assustado. Sem calcular bem minha passada, eu acabo pisando no pé de Jimin, o que mais uma vez me faz ter um sobressalto pelo susto. Talvez num reflexo, ele toca em minhas costas para me ajudar a manter o equilíbrio, mantendo a mão na base de minha coluna mesmo quando já estou firme outra vez.

— O que é isso? — Eu pergunto, ainda sentindo o coração disparar como poucas vezes. — Por que você fica falando dessa forma? Eu nunca te vi antes!

A senhora não se abala por meu tom arredio, me fazendo abrir caminho quase instintivamente quando ela volta a caminhar com passos calmos, seguindo em direção a um dos bancos de madeira no pátio.

— Eu já. — Jimin diz subitamente, virando para acompanhá-la com o olhar. — Eu já te vi.

Ela para de andar. Lentamente, vira para nós, uma brisa leve, porém gelada, dispersando os cabelos grisalhos e fazendo esvoaçar a longa camisola branca enquanto ela pousa as duas mãos na altura do próprio ventre.

— Seu rosto e nome são familiares. Lee Seon Yeong... — Ele continua, sua expressão carregada tanto com surpresa quanto um súbito entendimento. — Três anos atrás, você estava em todos os noticiários do país.

— Estava? — Pergunta, sem se afetar pela pergunta.

Eu, no entanto, não sei sobre o que Jimin está falando.

— Você invadiu uma conferência que estava sendo transmitida nacionalmente. — Jimin diz, ainda em choque. — Caminhou diretamente até o CEO de uma das empresas presentes e implorou que ele interditasse uma das obras em andamento. Disse que um acidente terrível aconteceria na manhã seguinte e criou o maior caos quando os seguranças tentaram te retirar do salão.

— Me chamaram de louca — Ela diz suavemente, os olhos descendo pela própria vestimenta antes de voltar a mirar as orbes escuras em nós. — Me chamam até hoje. Mas todos sabem o que aconteceu no dia seguinte.

— O acidente. — Jimin parece respirar com dificuldade. — O acidente da Sohbong & Ryang. Uma das vigas da construção cedeu e resultou...

— Na morte de Jeon Dong-yul. — Sou eu quem digo, sentindo meu corpo perder a força quando percebo as peças se encaixando ao ouvir o nome da empresa desgraçada. — A morte de meu pai.

Todos ficam em silêncio, apenas o farfalhar das folhas agitadas pelo vento resultando em algum som.

Perdido, eu olho para cada um deles. O sorriso da velha sumiu, dando lugar a uma expressão mais carregada de pesar, Yoongi parece confuso como nunca e Jimin já perdeu completamente a cor, olhando para mim.

Eu não devo estar tão diferente.

O acidente da obra chefiada pela empresa Sohbong & Ryang foi o que tirou meu pai de mim e descobrir que, de alguma forma, a avó de Yoongi tentou impedi-lo me faz sentir coisas demais de uma só vez, em sua maioria coisas ruins. Como ela sabia? Por que não se esforçou mais? Se o CEO da Sohbong tivesse dado ouvidos a ela, eu ainda teria meu pai?

Os questionamentos me sufocam tanto quanto os sentimentos, mas tudo fica ainda mais confuso quando Jimin parece mais afetado que eu, ao ponto em que seus olhos continuam arregalados em minha direção por longos instantes, até que seu corpo tem um solavanco suave e ele cobre a boca com a mão por um segundo antes de virar de costas para nós e, curvado para a frente, começar a vomitar.

— Eu não estou entendendo. Vó, o que é tudo isso? — Yoongi pergunta, sua voz tremendo tanto quanto minhas mãos e pernas.

— Não está óbvio? — Ela olha para mim, lentamente deslizando o olhar até Jimin ajoelhado no chão, ofegando. — Isso é o destino.

— A senhora precisa me explicar melhor. — Ele pede, visivelmente agoniado.

— Os dias estão se repetindo, não é? — Ela não parece dar tanta atenção ao próprio neto, caminhando o restante do caminho até o banco, onde cuidadosamente senta com as mãos repousadas nos joelhos. — Você precisa ajudá-los, Yoongi.

— Trazê-los até a senhora era a minha ideia de ajuda! — Ele parece se exaltar, apontando para Jimin. — Mas olha o que está acontecendo! Ninguém está entendendo nada!

Ela levanta o rosto para o céu, fechando os olhos como quem serenamente aproveita a brisa e o ar puro. Sem voltar a nos olhar, a velha diz: — Confie mais em você, meu menino. Você não sabe o poder que tem... não sabe o quanto os ajudou em todas as outras vezes.

Yoongi passa a mão pela testa, começando a andar de um lado para o outro. — Minha cabeça vai explodir. Eu juro que vai!

— O tempo está acabando. Essa é a penúltima chance. — Ela continua, mas volta a sorrir como se houvesse espaço para isso. — Mas eu confio em vocês.

Louca. Pirada do inferno. É isso que ela é.

Ainda sentada, ela olha para Yoongi por um instante antes de voltar a olhar para mim.

— Ele esquecerá de tudo isso mais uma vez, mas eu sei que vocês darão um jeito. — E anuncia. Com mais um sorriso que parece flutuar em seu rosto, a velha fica de pé. — Nosso tempo acabou.

— Ei! — Uma quinta voz desconhecida grita e nós todos olhamos na direção da fonte. Seon Yeong, por outro lado, sequer se move. Como se já fosse esperado. Então a enfermeira se aproxima às pressas, olhando-nos com uma repreensão silenciosa. Sua voz, no entanto, é suave quando ela toca na senhora louca. — Seon Yeong-ssi, a senhora não pode ficar aqui.

— Sim, minha querida. Me desculpe. A porta estava aberta, então resolvi explorar novos horizontes — A velha diz, a voz num misto de arrependimento e diversão, soando muito mais fraca e distraída que durante todo o tempo em que falou conosco.

— Eu não acredito. Isso não pode acontecer — A enfermeira suspira, começando a guiar a senhora em direção ao outro lado do pátio. — Venha comigo. Eu vou te deixar com um outro enfermeiro antes de reportar à segurança que algum cabeça de vento abriu a porta.

— Obrigada, você é muito gentil — A louca sorri, mas os pés nus param sobre a grama úmida quando ela está em minha frente. Seus olhos viajam até Jimin que, ali caído no chão, observa a cena em silêncio. — Querido? — Ela chama, então.

— Hm? — Ele murmura quase num sobressalto, limpando a boca com as costas da mão.

— Não demore para contar a verdade dessa vez.

Os olhos pequenos dele se arregalam, ainda que tudo que Seon Yeong diga seja carregado por um tom suave, sempre tão pacífico que é capaz de deixar um doido.

— O garoto na cama de hospital foi um erro. Se vocês não agirem rápido, ele não resistirá.

— O que? — Jimin dá voz ao questionamento que passa por minha mente.

Garoto na cama de hospital?

Hoseok?

— Boa sorte, crianças. — Ela diz olhando para cada um de nós. Quando seus olhos pousam por último em mim, ela aproxima a mão enrugada de meu rosto, então a pele áspera toca a minha e todo o ar parece fugir de meus pulmões, milhões de flashes passando por minha mente quando o toque se concretiza. Ao afastar a mão, ela pisca lentamente e diz: — Você sabe o que tem que fazer. — E então se deixa ser levada pela enfermeira de volta para o lugar de onde não deveria ter saído.

Em choque, eu toco minha própria cabeça, meus olhos arregalados e meu coração disparado com o que acabou de acontecer numa fração de segundos.

Quando ela me tocou, eu vi.

Eu e Jimin juntos. Em centenas de realidades alternativas.

Tão rápido quanto a luz viaja pelo espaço, minha mente se lotou de imagens de nós dois como se fossem lembranças. Ao fim, minha visão escureceu e uma voz sem som reverberou em minha consciência.

Jimin é nosso destino. Cumpra nossa promessa.

Continua no próximo capítulo.

Eita que a atualização demorou dessa vez :x coloquei até um "no capítulo anterior" igual novela, pra ajudar a lembrar como acabou a atualização passada hehe

E sim, EU SEI que vocês devem estar ainda mais confusos com tudo que aconteceu nesse capítulo, mas a boa notícia é que Seon Yeong colocou quase todas as peças do quebra cabeças na mesa. Agora, eles só precisam montar pra que tudo seja esclarecido

Aliás, viram como o JK tá cada vez menos averso aos toques do Jimin? E como eles dois estão aprendendo a conversar com o olhar? :( eu fico soft demais com meus bebês evoluindo aos pouquinhos

Ah, tenho mais uma boa notícia: o próximo capítulo já está em andamento. Normalmente, depois de finalizar um, eu dou um intervalo de alguns dias antes de começar a escrever a continuação, mas o capítulo f(12) pegou o fôlego dessa att e começou a ser escrito na sequência! o que talveeez signifique que a próxima att saia bem, bem, bem mais rápido!

Por hoje é só! Perdoem qualquer errinho, por favor. Eu tinha deixado pra revisar hoje, mas alguns de vocês viram no ig que eu fiquei bebendo com painho (pra comemorar a aposentadoria dele, yay!) e acabou que não estou em condições. To morrendo de dor de cabeça até agora D:

Espero que tenham gostado da atualização. Como sempre, deixo esse último espacinho pra quem quiser compartilhar e discutir teorias! Beijos e até mais <3

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