Capítulo quatro - Um convite para a guerra
Os passos da Tropa Celeste ecoavam pelos corredores em uma marcha contínua. A frente dos soldados com suas armaduras prata e azul, Zúria andava observando atentamente a mulher que andava um tanto acuada em sua frente.
Uma Andarilha das Estrelas. Há muito tempo atrás, quando ainda era apenas uma criança, Zúria ouvira falar sobre aqueles seres misteriosos. Eram estrelas que estavam sempre em movimento, passando pela vastidão do universo sempre em movimento como um meteoro, sem nunca se prender a um lugar só. Embora alguns alegassem que existia, na verdade, um lugar, como um reino oculto, em que as estrelas eram criadas e viviam longe dos olhos dos outros reinos.
Alguns acreditavam que as Andarilhas das Estrelas carregam em si o dom da cura e da imortalidade, e por isso muitas se escondiam nesse suposto reino secreto a fim de evitar sua captura e sua morte por seres que ansiavam se tornarem imortais. Somente as Estrelas mais fortes ousavam se tornarem Andarilhas e desbravarem a vastidão de muitos céus. Mas essa é uma história sem qualquer confirmação. Afinal, como afirmar que existe um Reino oculto, se o mesmo está de fato oculto e ninguém nunca sequer conseguiu saber mais que boatos?
Zaara costumava lhe dizer que eram seres inteligentes e de luz, mas embora sua imagem pudesse ser doce e frágil carregavam consigo a destruição que uma estrela poderia trazer. Se entravam em batalha, juntas as Andarilhas das Estrelas poderiam destruir um reino ou mesmo um planeta inteiro. Seu poder de destruição era proporcional ao seu suposto poder de cura. Mas, de qualquer forma, eram raras as ocorrências de Andarilhas das Estrelas em qualquer tipo de guerra, sua natureza de luz era, sobretudo, pacífica.
Quando se aproximavam da grande porta dupla da Sala do Trono, os guardas que faziam a proteção da mesma, ao avistar sua comandante abriram as portas dando entrada para uma pequena parte das tropas celestes que ainda permaneciam fazendo a proteção de sua comandante. Ao notar sua entrada, a Imperatriz Zaara que olhava pelos vitrais por trás do Trono das Almas e das estátuas dOs Guardiões, os olhou rapidamente logo virando seu corpo em sua direção saindo de onde estava aproximando-se do seu trono, mas permanecendo em pé a olhá-los.
— O que está acontecendo aqui? — a Imperatriz perguntara com a voz firme, mas em um tom calmo. Todos pararam a aproximação do Trono. Zúria, por sua vez, se pusera ao lado a Andarilha tocando em seu ombro a incentivando a seguir seus passos. Deixando os demais soldados a alguma distância de si, ambas deram mais alguns passos se aproximando das escadarias que as separavam do Trono, mas pararam ambas a uns cinco passos de distância da escadaria.
— Minha Imperatriz — Zúria se apresentara formalmente cruzando seus pulsos tocando seus pulsos em forma de X e encostando sua testa no ato da saudação Celeste, logo em seguida se ajoelhando.
A Andarilha das Estrelas, um tanto deslocada olhara rapidamente ao redor, mas no fim das contas fizera apenas um reverência breve e discreta. Erguendo-se novamente, Zúria olhara para sua imperatriz enquanto a Andarilha manteve, embora de uma forma um tanto acuada, seu olhos sobre os da Imperatriz.
— Essa Andarilha das Estrelas caira sobre nosso solo, minha Imperatriz, e pediu para lhe falar pessoalmente — Zúria disse em seguida calando-se.
Zaara tinha seus olhos penetrante sobre os da garota como se tentasse enxergar suas intenções através de sua alma.
— Há muitos anos em que não ouço falar de uma Andarilha das Estrela passando sobre Celestiun. Logo deve imaginar o tamanho de minha surpresa ao saber que uma caira em meu Império sem um convite ou um aviso prévio — Zaara dissera sem retirar seus olhos de sobre os da garota que ainda se mostrava um tanto deslocada, quem sabe até acuada.
Não era de se estranhar já que a mesma estava rodeada de soldados que a olhavam sem piscar pronto para atacá-la de todas as formas ao mínimo sinal de desconfiança. Se bem que, por se tratar de um ser tão forte, Zúria suspeitava que se ela realmente quisesse os fazer algum mal, já os teria atacado na floresta. Todos puderam ver pelo menos um pouco da força daquela mulher.
— Perdão, Imperatriz de Celestiun. Mas a urgência de minha visita não deixara espaço para apresentações formais. Eu vim em busca de ajuda, e de alertá-los sobre o que se aproxima.
Zaara respirara fundo, mas mantinha em seu rosto feições neutras, algo já rotineiro de sua pessoa.
— Havi — a Imperatriz disse logo atraindo o olhar de um dos soldados que guardavam a subida da escadaria que antecedia o trono.
— Minha Imperatriz — ele dissera fazendo rapidamente a saudação Celeste e ajoelhando-se.
— Eu quero que vá para a floresta e leve quatro soldados de sua escolha. Apaguem o fogo que ainda consome algumas das árvores. Quanto a cratera, creio que ainda vá levar algum tempo até que dê novas árvores. Apenas deixe a terra bem adubada para que a recuperação do solo seja mais rápida — ela voltou seu olhar para os demais soldados que haviam os escoltados até ali — Quanto aos demais soldados, exceto aqueles que estão de guarda na Sala do Trono hoje, ordeno que voltem aos seus postos fazendo a guarda do Império e do castelo até segunda ordem.
No instante seguinte, todos que receberam a ordem de retirada cruzaram e tocaram seus pulsos envoltos na armadura em um X, encostaram sua testa em seu gesto e com o bater das lanças dos soldados deram meia volta e se retiraram.
Voltando os seus olhos curiosos sobre a Andarilha das Estrelas ainda desconhecida para si, Zaara recebeu o olhar da outra sobre si.
— Admito estar surpresa — a Imperatriz finalmente se sentara no Trono, passando os cabelos alvos sobre os ombros jogando-os para trás logo em seguida pousando suas mãos sobre o colo. Os olhos alvos ainda presos sobre a Andarilha parecia menos incisivo, assim como o tom de sua voz. Todavia, enganava-se quem ousava pensar que Zaara estava desarmada ou distraída. A Imperatriz de Celestiun, principalmente depois da derrota em Dematron, estava sempre em alerta a espera de um ataque — Mal consigo me lembrar a última vez em que uma Andarilha das Estrelas esteve em minha presença.
— Nós, Andarilhas, não costumamos visitar Império algum nessa forma. Somos Estrelas, o universo, os céus são o nosso lugar.
— No entanto está aqui, em minha presença, em terra, e não como uma Estrela no céu. Começo de fato a acreditar na urgência de sua visita tão incomum, Andarilha.
— Huelle. Meu nome é Huelle, também chamada apenas de Elle.
Nesse momento, discretamente a porta dupla da Sala do Trono fora aberta e a figura de Asrael Columbus surgiu na entrada. Quando olhou por instinto, rapidamente os olhos de Zúria cruzaram com os dele. Ela sentiu um choque perpassar pelo seu corpo e em seguida a ponta de decepção apertou o seu peito. Ela, no entanto, colocara sua mão sobre sua costela esquerda, onde por baixo do tecido grosso de sua roupa estava a estreita cicatriz.
Vendo seu gesto, Asrael colocara também a sua mão sobre sua própria costela esquerda onde por baixo de suas novas vestimentas em cinza e azul estava sua estreita cicatriz. De pronto, ao notar, Zúria desfizera rapidamente seu próprio gesto engolindo em seco o gosto amargo de decepção que tomou seu paladar. Ela voltou-se novamente para sua imperatriz enquanto Asrael se aproximava parando a alguma distância de Zúria cumprimentando Zaara com a saudação Celeste.
Asrael ainda olhou de soslaio Zúria, todavia ela mantivera seu olhar sobre a imperatriz ignorando sua presença. Então seus olhos recaíram sobre a figura da Andarilha das Estrelas.
— Uma Andarilha das Estrelas? — ele indagou olhando curioso para a moça.
— Meu nome é Huelle — a Estrela respondera formalmente.
— Asrael Columbus, soldado reintegrado de Celestiun — ao ouvir aquelas palavras, Zúria travara sua mandíbula respirando devagar na tentativa de controlar a raiva. "Reintegrado." Aquele homem não passava de um traidor de todos ali. Zaara deixara seus olhos caírem rapidamente sobre as feições de Zúria que mal conseguia disfarçar sua raiva e decepção. Zaara voltara para o que realmente importava.
— Confesso que estou curioso com a presença de uma Andarilha das Estrelas aqui. Corrija-me se estiver errado, mas não deveria estar por aí cruzando a imensidão do universo brilhando a cada dia em um céu diferente?
— Não está errado. Acredite, tudo que eu mais desejava agora era estar cruzando o universo e contemplando do céu os enamorados nos jardins, as crianças brincando no quintal, os contadores de histórias nas ruas fazendo crianças não desejarem ir dormir antes que a história acabe. Mas eu não posso mais fazer isso sabendo que o meu povo está sendo atacado e aprisionados pelo Corvo Infernal.
— O Corvo Infernal? — Zaara perguntara estreitando seus olhos interessada.
— O Imperador Hoberon — Asrael tomara a frente respondendo antes que a Estrela pudesse o fazer — Pelos tempos em que estive ausente após a derrota por Dematron, ouvi muitas vezes falar de um novo império, chamado de Império Infernal, onde um novo Imperador estava se instalando. Dematron a cada dia que se passa se torna um lugar impenetrável, com uma barreira de proteção de uma energia perversa. Demônios e seres das sombras por toda parte, além de A Criatura.
— É verdade — confirmou a Estrela — A Dematron que um dia existiu agora está corrompida completamente. Há várias armadilhas das quais jamais ousaria tentar passar. A energia que rodeia aquele lugar é tão sombria que suspeito que apenas respirar o mesmo ar o mataria e a barreira em torno do lugar se torna cada dia mais densa. Mas essa não é a pior parte. Ele não vai parar. Ele quer expandir seu Império em ascensão e para isso está buscando atacar outros Impérios.
— E quem é esse Hoberon, afinal? — Zúria perguntara evitando contato visual com Asrael, embora ele estivesse do lado da Estrela.
— Ninguém sabe. Desde que Dematron fora tomada, nem mesmo os próprios servos desse Imperador poderiam descrever o rosto dele. O que dizem é que ele se oculta sempre debaixo de uma pesada armadura negra que cobre todo o seu corpo, inclusive seu rosto. Trás em seu ombro uma ave, um corvo negro mais precisamente com olhos vermelhos em sangue assim como o material que esconde seus próprios olhos por baixo da máscara negra com uma leve ponta na boca que lembra o bico de um corvo. Além de longas asas negras em suas costas. Por isso o chamam de O Corvo Infernal.
— Os demônios servem um imperador sem rosto? — Zúria perguntara franzindo seu cenho. Zaara apenas observava calada — Por que fariam isso? São seres rebeldes.
— Dizem que esconde seu rosto não de seus servos, mas de seus inimigos. É uma jogada inteligente, se pensar bem. Ninguém pode atacar alguém que não se sabe quem é. Mas o que dizem é que ele possui muito poder. Por isso os Demônios o temem. E entre morrer ou servir, preferem a segunda opção.
— Podem até não saber seu rosto, mas é impossível ignorar asas negras — Zúria dissera em um tom sarcástico.
— Mas ele não precisa ser visto — Asrael dissera voltando seu rosto para Zaara ainda quieta — Ele tem um servo em especial que cuida de tudo para ele. Não é um homem qualquer ou um demônio que apenas pensa em devorar e destruir. É calculista, quase como um protetor ou um conselheiro. Seu rosto, infelizmente também é oculto por uma máscara lotada de olhos. Talvez seja mesmo isso: aquele homem sempre presente deve ser os olhos do suposto Imperador.
— Por isso estou aqui — a Estrela voltou a falar chamando a atenção de todos ali para si novamente — Minhas irmãs, as Andarilhas das Estrelas estão sendo caçadas pelos demônios de Hoberon. Eu não sei bem o que ele quer, mas muitas foram presas em Dematron e devem estar sendo torturadas ou mesmo já estão mortas.
— Por que ele quer as Andarilhas das Estrelas? O que dizem a respeito é que seu povo não tem Império, que estão sempre por aí em constante movimento — Zaara finalmente voltara a indagar.
— Justamente por essa razão. Por sermos Andarilhas das Estrelas, nós podemos ver tudo, inclusive a criação de um Império. Sabemos de localizações, fraquezas, fonte de energia de muitos lugares justamente por estarmos acima de todos. Ele quer nos usar para tomar novos Impérios e expandir seu poder, talvez até formar o maior Império já visto na história. Além de que... — ela se calara subitamente.
— Além do que? — a Imperatriz aumentara seu interesse.
Huelle respirou, e no momento seguinte ergueu suas mãos na altura do seu peito logo fazendo surgir entre suas mão uma projeção brilhante de uma mulher esbelta envolta em uma vestimenta semelhante a trapos transparentes que mal cobriam sua nudez. Sua pele era branca como a neve e brilhava em ondas suaves de luz, como se as ondulações da água dançassem sobre sua pele; seus olhos eram amarelos cintilantes de modo que pareciam gotas de mel sob a luz de uma vela. Seus cabelos eram negros e tão longos que arrastavam no chão como se aquela mulher arrastassem a noite atrás de si. Em sua mão havia um longo cetro prata tão brilhante quanto a própria pele daquela estranha e encantadora criatura e, no alto desse Cetro, havia uma luz branca que pairava como uma poeira de luz.
— Esse é o Cetro da primeira estrela do universo. Essa luz é fonte de toda a criação das estrelas. Essa mulher é A Guardiã e criadora de todas as estrelas. As estrelas não nascem de uma relação amorosa entre um homem e uma mulher, como é normal que aconteça. Não temos sexo, somos seres puros de luz. E por nossa criação não ser feita através do ato de amor entre dois seres, dependemos totalmente da criação dA Guardiã para existirmos.
Na projeção em sua mão, a imagem da bela guardiã colocara uma de suas mão dentro da luz que pairava sobre o cetro, tirando dali uma pequena bola de luz. Em seguida a mesma soprara pequena bola de luz que naquele ato parecia brilhar ainda mais. Em seguida, a mulher se virara levemente colocando a bola de luz sobre a negritude de seu cabelo que logo se revela um portal para o céu escuro do universo.
— A partir daí as estrelas fecundam e quando estão prontas despertam — a projeção em suas mão sumira — Imperatriz, — Huelle lhe olhara profundamente ignorando totalmente a presença e todos os demais — se Hoberon conseguir a localização dA Guardiã, e corromper o poder de luz do Cetro, as próximas estrelas que nascerem poderão trazer a destruição para todos nós. O poder de uma Estrela corrompida é impossível de parar e se ele tiver esse poder em suas mãos, não haverá mais existência em todo o universo. As criaturas sombrias tomarão tudo e Hoberon, seja quem for que esconde atrás daquela máscara, não poderá ser parado nem mesmo pelos Anjos. Muitas das minhas irmãs estão sendo atacadas agora, sendo mortas e torturadas. Embora eu confie minha vida que elas jamais irão entregar o nosso segredo para quem quer que seja, eu não posso ignorar que a dor e o sofrimento podem corromper até o mais puro e elevado ser existente. E acredite, mesmo que ele não consiga encontrar A Guardiã, ele irá destruir todos os outros reinos que puder formando o maior exército de demônios já visto, e não haverá ninguém capaz de pará-lo.
Mas não houvera tempo para que Zaara ou qualquer outro presente ali pudesse dizer alguma coisa. Logo a porta fora aberta e dela surgira a figura do soldado Havi acompanhando de mais dois soldados. Os dois soldados, traziam consigo, segurada por ambos os braços, uma mulher com vestes semelhantes as da Andarilha.
— Serafine! — Huelle gritara se adiantando se jogando sobre o corpo da mulher que estava sendo carregado pelos soldados. Os homens colocaram a mulher ajoelhada no chão a qual tinha a cabeça baixa.
Huelle se jogara sobre seus joelhos de modo a ficar com seu rosto na altura do rosto da mulher até então misteriosa. A Estrela tomou o rosto da mulher entre suas mãos, mas logo foi afastada por Havi.
— Não se aproxime dela — Havi dissera — Esta mulher, seja quem for, não é mais quem pensa.
Antes que pudesse perguntar alguma coisa, a mulher os fitou. Huelle levara um susto ao ver os olhos de sua companheira totalmente negros enquanto uma gosta grotesca escorria de seus olhos com lágrimas de esgoto.
— Ah, Serafine! — Huelle soluçou em um lamúrio ao que tapara sua boca e as lágrimas encheram seus olhos azuis.
— Você a conhece? — Zúria perguntara abaixando-se para fitar o rosto da mulher enquanto sua mão estava firme sobre o cabo dourado de seu Laço, pronta para qualquer coisa.
— É uma Andarilha —a Estrela soluçou — ou era. Oh, Serafine, o que fizeram com você? — ela lamentou deixando suas lágrimas lavarem o seu rosto como gotas de ácido queimando sua face.
— É um aviso — a voz da Imperatriz disse com convicção aproximando-se do corpo ajoelhado. Os soldados que vigiavam a mulher deram abertura para que a Imperatriz passasse, mas permaneceram atentos. Zaara deixou seu corpo na altura do rosto a mulher, segurando o queixo da mesma examinando-a — Está morta, ou quase. Possessão ou algum tipo de tortura que desconheço. Torturaram ela por dentro, destruindo-a e destroçando-a até que não passasse de uma marionete.
Em seguida um grunhido nascia na garganta daquela mulher que parecia estar morta a muito tempo.
— Serafine! — a Andarilha se aproximara em um pulo parecendo deixar um fio de esperança nascer em si.
— Não se aproxime — a Imperatriz dissera se afastando. O grunhido na garganta da mulher aumentava a medida que a gosma negra que escorria de seus olhos aumentava o fluxo e logo a mesa gosma repugnante começara a escorrer também de sua boca.
— Argh! — Asrael dissera em repúdio tapando seu nariz ao que um odor horrível subiu até suas narinas. Todos próximos da mulher tiveram de tapar sua narinas para que não vomitassem ali mesmo.
A gosma negra só aumentava e começava a escorrer e cair no chão. Huelle chorava e sentia suas lágrimas queimarem sua pele enquanto seus olhos aterrorizados viam aquela cena terrível. Asrael, ao ver a moça daquele modo a acolheu em seus braços encostando a cabeça dela em seu ombro pedindo que não olhasse mais.
— Ha... — o grunhido vindo da garganta daquela mulher parecia querer ganhar algum sentindo.
Embora todos já soubessem que aquela mulher havia perdido sua vida a muito tempo, ainda assim todos observavam com curiosidade e repúdio na mesma proporção.
— Hana... el — o som de sua voz era algo rouco, um grunhido grotesco afogado em meio uma gosma repugnante. Não era algo bom de se ouvir.
— O que ela está dizendo? — Zúria perguntara de repente sentindo uma grande inquietação tomar conta de si. Era um nome?
— Hanael... Hanael... — o grunhido se tornara ainda mais sufocado a gosma já pintava o chão ao redor da mulher.
Hanael? Ela havia escutado bem?
— Hanael? — Zúria dissera esquecendo até mesmo de cobrir seu nariz, totalmente inquieta — Ela falou Hanael? — sua inquietude já não possuía qualquer disfarce e a aflição que a tomava naquele momento poderia ser comparada a gosma que escorria daquela mulher.
— Zúria, acalme-se — Zaara dissera aproximando-se cautelosa da Comandante. Mas ao que o grunhido daquela mulher dissera novamente aquele nome, Zúria se lançara sem qualquer pudor sobre o chão sujo de gosma, e segurando o rosto da mulher entre suas mãos começou a gritar desesperada.
— O que você disse? — o desespero tomava a sua voz e na mesma medida as lágrimas nasceram quentes em seus olhos — O que você disse!? — ela gritara segurando as vestes da mulher entre suas mãos sacudindo o corpo que não reagia de outra forma que não fosse continuar expelindo aquela gosma que fedia a esgoto. Logo a roupa de Zúria também estava suja e ela sacudia aquela mulher perguntando repetidas vezes o que ela havia dito.
— Zúria, saia logo daí, não vê que está falando com um cadáver? — Zaara dissera logo se aproximando segurando Zúria que chorava pelos seus braços.
— Ela disse — ela soluçou desesperada resistindo a tentativa de Zaara de retirá-la dali — Ela disse o nome dele, ela disse!
— Zúria, pare! — Zaara novamente a puxou novamente Zúria, mas a mesma se desvencilhou de seu aperto e novamente voltou a sacudir aquela mulher.
Então já suja de toda aquela gosma, Zúria fitou a mulher com seus olhos em prantos e seu coração batendo apertado dentro de seu peito. Fora quando um objeto parecia surgir em meio aquela sujeira negra. Saía lentamente junto com o fluxo repugnante daquela gosma. Então o objeto caira ao chão. A mulher começou a tremer enquanto de sua boca uma tosse fazia com que a gosma fosse jogada em lufadas. Não demorou muito para que o corpo da mulher tombasse dentro de sua própria sujeira e se contorcesse com espasmos que tomavam todo o seu corpo.
Huelle emitia soluços contínuos enquanto as lágrimas rasgavam seus olhos e ela se refugiava nos braços de Asrael. Asrael, por sua vez, olhava para Zúria naquela situação, suja de gosma, desesperada chorando por algo que ele ainda não conseguia entender, mas dentro de seu peito seu coração implorava para que a abraçasse. Mas não podia deixar desamparada aquela que chorava copiosamente em seus braços.
Quando os espasmos do corpo daquela mulher pararam, seu corpo jazeu se vida no chão manchado de negro. Zúria com a visão borrada pelas lágrimas passou sua mão a gosma onde o objeto que vira cair estava e tomando o mesmo em sua mão o observou. Seus olhos se encheram de lágrimas ao que ela viu a correntinha dourada agora suja de negro, com um pequeno pingente em forma de um olho e asas. O símbolo de sua linhagem Havennus. O pranto que nasceu em sua garganta saltara de sua boca ao que os olhos queimaram seus olhos em lágrimas que pareciam brasas a queimar sua pele.
— Zúria — Zaara dissera com a voz calma, ajoelhando-se também dentro da gosma abraçando o corpo de Zúria por trás. Zúria, sem forças deixou seu corpo encontrar apoio no corpo de sua Imperatriz, e olhando para o pingente deixou que sua voz saísse em um lamúrio doloroso, enquanto de seus olhos as lágrimas de dor misturavam-se com lágrimas de esperança.
— Ele está com ele, Zaara — ela disse em meio aos prantos, sorrindo triste caindo em um misto de esperança, tristeza e raiva — Esse maldito está com meu filho — Zúria olhou para Zaara com olhos famintos, falando entre suspiros de falta de ar — Ele está vivo, Zaara. Meu filho, Hanael, está vivo.
— Não sabemos, Zúria. Ele está brincando conosco. Quer brincar com nossas fraquezas, mostrar que sabe delas.
Zúria se afastou de Zaara tomando a firmeza novamente de seu corpo. Ela olhara para a correntinha em suas mãos.
— Seja o que for, Zaara — ela fitara sua imperatriz — eu não me importo com mais nada a partir de agora — ela se ajeitara e lentamente se erguera sobre suas pernas ainda apertando a correntinha em suas mãos. Zaara levantou-se também — Eu vou destruir esse demônio e trarei o meu filho de volta — ela disse deixando a voz oscilar ao que as lágrimas escorreram por sua face suja de gosma negra — Seja quem for. Eu, Zúria Havennus, o destruirei e arrancarei o coração dele com minhas próprias mãos. Eu prometo.
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