Cap 6: Confraternização de Amigos (parte 1)

Koguita instruiu Eldo a realizar uma série exaustiva de exercícios: 100 flexões, 100 agachamentos, 100 abdominais, correr 100 km em círculos e socar árvores. Enquanto Eldo executava essas tarefas, o mestre o atacava com uma vara de madeira. Algumas vezes, Eldo desviava instintivamente, mas em outras, era atingido. Por algum motivo, Koguita parecia obcecado em treinar os reflexos do jovem.

Quando o céu começou a adquirir um tom alaranjado, indicando o fim da tarde, Koguita chamou Eldo para meditar perto da cachoeira. Caminharam juntos, ouvindo o som da água em queda. Ao redor da cachoeira, o ambiente era envolvente, com uma sensação de frescor proporcionada pelas partículas de água evaporando no ar.

Koguita sentou-se, cruzou as pernas e formou um círculo com as mãos.

— O som de uma cachoeira é terapêutico, sabia? Use-o para se concentrar. Venha — disse, convidando Eldo.

O jovem se aproximou e sentou-se ao lado do mestre, imitando seus movimentos e fechando os olhos.

— Forme uma esfera de energia com as mãos — ordenou Koguita.

Eldo respirou profundamente, deixando o som suave da água caindo acalmar sua mente. Esse alívio mental melhorou sua concentração, permitindo que ele visualizasse melhor a energia fluindo por seu corpo. No entanto, sua concentração foi interrompida por uma imagem perturbadora: uma silhueta branca aparecia em sua mente, assumindo a forma de um homem, com a única característica discernível sendo os cabelos encaracolados.

"Você está se preparando para fazer mais vítimas, não está? Quer destruir mais vidas, assim como destruiu a minha!" repetia a silhueta para Eldo.

O jovem começou a gemer baixinho, apertando os olhos com força enquanto sua respiração ficava ofegante.

"Eldo! Não dê ouvidos ao que ele diz, se concentre e faça o que Koguita falou" a voz feminina de antes voltou, acalmando-o novamente.

"Para dominar esse poder, deixe que a sua mente tome o controle. Esse é o jeito mais eficiente de dominar o seu poder" concluiu a voz antes de desaparecer completamente.

Eldo sentiu a presença de um brilho branco à sua frente, mas manteve os olhos fechados.

— Meus parabéns! — disse Koguita.

Ao abrir os olhos, Eldo viu uma pequena esfera de luz branca flutuando entre suas mãos unidas. Ele sorriu, satisfeito com sua conquista.

— Eu conse... — Eldo começou a falar, mas foi interrompido por um soco repentino de Koguita. Instintivamente, ele se defendeu segurando o golpe, movimento que dissipou a energia que ele havia criado.

— Seus reflexos estão bons. Foi bom ter treinado isso hoje — disse Koguita, abaixando o punho.

— Pois é... — Eldo se jogou no chão — estou só o pó da rabiola. Tem algum lugar para descansar ou ainda temos mais treino? — perguntou, bocejando.

— Como é seu primeiro dia, vamos encerrar por aqui. Mas com o tempo, as pausas serão cada vez mais curtas — respondeu Koguita com um sorriso malicioso.

— Ah, imaginei... Sem dor, sem ganho — suspirou Eldo.

— Levanta! Vou te levar para sua casa — ordenou Koguita.

— Como assim casa? — perguntou Eldo, levantando-se rapidamente.

— Achou mesmo que eu ia deixar você dormir na rua? Vamos, venha! — disse Koguita com um sorriso.

Eldo se levantou, e ao sentir o peso das espadas nas costas, percebeu que havia esquecido algo. Ele avisou Koguita e fez uma rápida parada na oficina dos ferreiros para pegar sua mochila, que estava num canto.

Enquanto caminhavam pela vila, o sol começava a se pôr, tingindo o céu de vermelho. Sem prédios, fios ou construções bloqueando a vista, Eldo pôde finalmente contemplar um pôr do sol verdadeiro, algo que antes só havia visto em fotos e vídeos na cidade.

— Chegamos — anunciou Koguita.

Eldo parou e observou a casa à sua frente. Era uma construção de dois andares, pintada de branco, com adornos de madeira que lhe conferiam um toque acolhedor. Aproximando-se da porta de carvalho claro, ele notou o nome "Aragon" entalhado com cuidado.

— Essa era a casa do meu pai, não é? — perguntou Eldo, com um tom melancólico.

— Sim, era. Você acha que conseguirá ficar aqui sozinho? Se preferir, pode ficar na minha casa até o luto inicial passar — ofereceu Koguita com gentileza.

— Obrigado mestre, mas não quero tirar sua liberdade. Além disso, ficar aqui me fará sentir meu pai mais perto de mim — respondeu Eldo, passando a mão sobre o nome do pai, com um olhar pensativo.

— Tudo bem, mas se mudar de ideia, minha casa é aquela última, mais afastada das outras, com um sino no topo — indicou Koguita, apontando — outra coisa, as ruas aqui são numeradas com números, é só você observar na esquina de cada rua que tem sempre uma numeração de qual número pertence, olhando fica até que fácil de identificar. O número é de 1 a 1000, entendeu?

Eldo assentiu, e com um leve empurrão, a porta se abriu suavemente.

— O senhor tem a chave? — perguntou Eldo, intrigado.

— Aqui não temos o costume de trancar as casas. Apenas usamos uma tranca de madeira por dentro quando queremos privacidade. Quando saímos, as portas ficam abertas, não há ladrões por aqui, ninguém é tolo — explicou Koguita.

— Como brasileiro e carioca, acho que vai demorar pra eu me acostumar com isso — comentou Eldo, abrindo a porta e entrando. — Boa noite, mestre.

— Boa noite, Eldo. Amanhã, às 8h, começamos o seu segundo treino. Ah! E, para sua surpresa, temos sinal de internet e televisão por aqui. Colocamos fiação subterrânea em todas as casas. A senha do Wi-Fi está em cima do roteador na sua sala — disse Koguita, piscando o olho com cumplicidade.

Eldo sorriu e fechou a porta, respirando fundo. Ao se virar para o interior da casa, teve seu primeiro vislumbre da sala, iluminada pelo suave brilho do luar que entrava pela janela. O espaço era amplo e acolhedor, com móveis de estilo tradicional. Até mesmo a televisão, encostada em um canto, era um modelo antigo de tubo, reforçando o ar nostálgico do lugar.

Sem perder tempo, Eldo retira sua armadura e a coloca no suporte logo na entrada da casa. Em seguida, começa a explorar o ambiente, à procura da área de serviço e do banheiro.

Ele faz um tour pela casa, descobrindo a cozinha atrás de uma porta à esquerda da sala, e a área de serviço logo após a cozinha. Para sua sorte, a área já estava equipada com todos os eletrodomésticos necessários, incluindo máquina de lavar e secadora.

Subindo para o segundo andar, Eldo encontra seu quarto, onde uma cama enorme, coberta por lençóis brancos, o aguarda. Ao pressionar a mão sobre o colchão, ele percebe que a cama é extremamente confortável.

A decoração de toda a casa tem um charme rústico, refletindo o gosto de seu pai, o antigo dono, por materiais e estilos antigos. Os móveis, muitos da era vitoriana, lembram as casas antigas que se vê em filmes de época, reforçando a atmosfera tradicional do lugar.

No entanto, um cômodo se destaca pelo estilo moderno: o banheiro, localizado numa porta à direita da sala. Com azulejos verdes, várias luminárias e uma janela que proporciona muita iluminação natural, o banheiro tem um ar mais contemporâneo, destoando um pouco do restante da casa. Eldo, porém, gostou da mistura.

Deixo a roupa limpa em cima do vaso, e tiro a roupa suja, levando até o cesto na área, se alguém

Agora que já conhece a localização dos cômodos, Eldo retira suas roupas sujas e as coloca para lavar. Após um banho revigorante, ele pega a senha do Wi-Fi, que estava anotada no roteador, e envia uma mensagem para Madu.

"Não sei se conto para ela sobre o João agora... Talvez seja melhor forçar ele a ir falar com ela pessoalmente", pensa Eldo enquanto desliga o celular. Ele olha para o relógio na parede, eram apenas 19:07. Estava prestes a assistir algo no celular quando ouve batidas na porta.

"Mal cheguei e já tem gente me incomodando a essa hora, meu Deus!" reflete Eldo.

— Eldo, sou eu! O mestre Koguita disse que você está morando aqui — anuncia uma voz familiar do lado de fora, que Eldo logo reconhece como a de seu amigo João.

Eldo se levanta, tira a trava de madeira da porta e a abre, encontrando João com roupas casuais: uma camisa verde, bermuda florida amarela e vermelha, e sandálias.

— Fala velho! O que acha da gente sair pra beber e colocar o papo em dia? — sugere João com um sorriso de canto.

— O tempo passa e você continua o mesmo bebum de sempre, não muda nunca, seu loiro de meia tigela — provoca Eldo, com um sorriso.

— E você fala como se tivesse mudado nesse tempo todo! Ou vai me dizer que agora é diferente? Entrou pra igreja por um acaso? — retruca João, brincalhão.

Eldo sorri e arqueia a sobrancelha.

— Sabe com quem tá falando? — Ele fecha a porta. — Bora, eu tô precisando relaxar um pouco. Só tem um problema: tô sem grana.

— Fica tranquilo, aqui não precisamos de dinheiro. É só pedir que eles dão. Tudo dentro do templo é 0800 — responde João enquanto caminham juntos.

— Acabei nem perguntando isso ao mestre Koguita, mas... como vocês conseguem dinheiro?

— Quando você se torna um Celestia, tem duas opções: colaborar aqui dentro, sendo ferreiro, ajudando na construção de casas, cuidando das plantações, limpando as ruas, ou cuidando dos doentes... Ou pode trabalhar lá fora e mandar o dinheiro pra cá — explica João.

— Entendi. E quanto temos que mandar?

— Metade do salário. Em troca, você recebe mantimentos mensais: comida, remédios, essas coisas. Os outros 50%, você gasta como quiser.

— Não sei se isso é vantagem ou desvantagem, mas enfim... o que você faz? — pergunta Eldo.

— Fico patrulhando por aí, apartando brigas entre os aldeões. Quando não estou nisso, treino com meu pai ou vou em missões fora do planeta. Nós, Celestias, só somos chamados para resolver problemas que os humanos normais não conseguem, mas isso é bem raro. Na maior parte do tempo, só fico rodando o templo — explica João.

— Acabei de ser mandado embora... Talvez eu acabe fazendo patrulha com você também — comenta Eldo.

— E como ficou a sua vida? Quando fui embora, você tinha sido preso, não tinha?

— Sim, fiquei preso por quatro anos por causa do que fiz. Dei azar de ser preso logo quando estava prestes a fazer 18. Então, dos 17 até os 21, fiquei lá.

— Tudo isso por causa do que aconteceu com o pombo? — pergunta João, surpreso. Eldo confirma com a cabeça. — E conseguiu arrumar emprego depois?

— Sim, foi difícil, mas um senhor muito gente boa, dono do renomado curso Juno, me deu uma chance como social media da central em Maricá. Logo fui promovido a diretor de criação. Mas agora que ele morreu, o filho dele me demitiu porque não gosta de mim.

— Nossa! E você não vai processar ele? — pergunta João, incrédulo.

— Cara, no momento nem tô com cabeça pra isso. Se der, vejo isso depois. E você, o que fez esse tempo todo?

— Ah, nada de muito especial. Depois que deixei a Maria Eduarda no hospital, meu pai me trouxe pra cá e venho treinando desde então. Fiz alguns amigos nos intervalos, e, há uns cinco anos, meu pai trouxe a Eunicie, que está treinando com a gente. Só isso.

— Aquela sua amiga Eunice é bem bonita, hein? Ela tá solteira? Se tiver comprometida, não tem problema também não, eu dou meu jeito — diz Eldo, lançando um olhar safado para o amigo.

— Não, cara! Aliás, depois que você foi embora, ela começou a perguntar de você o tempo todo. Queria saber se você tinha namorada, que tipo de mulher você gosta, e até... o tamanho do seu pé — responde João, rindo.

Tamanho do pé? Sei que tenho que narrar, e não me intrometer, mas essa garota sabe das coisas.

— Só falei pra ela que você era gay, tem algum problema? — completa João, gargalhando.

— Só não te xingo de filho da "unha" porque sua mãe já se foi, mas... — Eldo responde dando um soco no braço do amigo.

João grita de dor e revida, iniciando uma troca de socos amigáveis que não durou muito. Após um minuto, os dois caem na risada e se abraçam, como se nada tivesse acontecido. Sinceramente, amizade masculina é estranha.

— Como eu estava com saudade de você, seu desgraçado! — diz João, passando a mão no rosto de Eldo.

— Nem fala! Quando você foi embora, meu mundo caiu. Perdi meu melhor amigo... o amor da minha vida — diz Eldo, fingindo choro enquanto se agarra ao colarinho de João.

— Olha, tô começando a achar que não menti pra Eunice quando disse que você era gay. Qual foi? Nesses seis anos, resolveu arriar uma fase? — provoca João.

— Não sei... Quer testar? — responde Eldo, virando o rosto do amigo em sua direção e fazendo beicinho.

— Sai fora, assombração! — grita João, dando um pulo e se afastando de Eldo.

Os dois caem na gargalhada, mas, após alguns momentos, o riso de João se esvai ao se lembrar de alguém importante, alguém que ele se arrependeu de deixar para trás.

— E a Maria Eduarda, como ela está? — pergunta João, com a voz um pouco mais séria.

— Até que enfim você perguntou. Depois que você a deixou no hospital, conseguiram tirar a bala dela, mas... ela perdeu o movimento das pernas. Só começou a fazer fisioterapia ano passado, quando eu finalmente consegui ajeitar minha vida e estou pagando o tratamento — responde Eldo, olhando João diretamente nos olhos.

— Ela está melhorando? — João pergunta, já um pouco tenso.

— Tá sim. Está se recuperando aos poucos, mas não quer te ver nem pintado de ouro — Eldo diz, com um tom firme.

João abaixa a cabeça, coçando a nuca nervosamente, a culpa visível em seu semblante.

— Só me diz uma coisa — continua Eldo, o encarando com seriedade. — Por que você nunca voltou? A Madu pegou uma depressão pesada. Tia Rita teve que levá-la ao psicólogo várias vezes. E o namorado dela? Foi embora... Por quê?

João fica imóvel por alguns instantes, o silêncio entre eles crescendo pesado. Finalmente, ele fala, com a voz falhando:

— Eu não tive coragem de voltar... Não depois de tudo. Tudo o que aconteceu foi por minha culpa. Se eu não tivesse reagido, o irmão do Pombo não teria atirado, minha mãe ainda estaria viva, e a Madu estaria andando. Eu... eu fui um inútil. Além de não ter conseguido proteger ninguém, só causei mais destruição — João diz, as lágrimas já começando a escorrer por seus olhos.

— Conhecendo o irmão do Pombo, ele teria atirado de qualquer forma, quer você reagisse ou não. O pior erro foi você ter sumido. Deveria ter ficado do lado dela, principalmente no começo, quando eu não pude — disse Eldo, com um tom firme.

— Eu sei, cara! Eu segui o caminho dos covardes, fugindo em vez de encará-la. Pareceu ser o mais fácil na hora, porque me senti fraco e inútil naquele dia. Agora... parece tarde demais pra mudar alguma coisa — respondeu João, com a voz embargada.

Eldo se aproximou, colocando a mão no ombro do amigo.

— Só é tarde demais quando a morte chega. Enquanto há vida, há esperança. Vamos, eu te ajudo a falar com ela — disse Eldo, abrindo um sorriso caloroso.

João enxugou as lágrimas, refletindo sobre o que havia acabado de ouvir.

— Me dá um tempo pra pensar, por favor! Fiquei tanto tempo evitando vê-la de novo que nem sei o que falar com ela — pediu João, ainda abalado.

Eldo cruzou os braços, lançando um olhar firme em sua direção.

— Um mês. Vou te dar um mês pra se organizar, e não mais que isso! — disse Eldo, apontando o dedo no rosto do amigo, sua seriedade inabalável.

— Fechado! Prometo que vou resolver isso — respondeu João, levantando as mãos em sinal de rendição. — Mas, chega de tragédia e papo sério. Vamos voltar pro nosso destino? — sugeriu, tentando mudar de assunto.

Eldo suspirou fundo. Sua vida já estava cheia de problemas nos últimos tempos, e tudo o que ele queria era esquecer um pouco, nem que fosse por uma noite.

— Tá certo! Mas não esquece o que eu disse! — alertou Eldo, dando um tapinha no ombro de João. — Vamos.

Os dois seguiram em frente até chegarem a um local bem iluminado por dentro, onde o som animado de pagode preenchia o ambiente, atraindo mais pessoas para dentro. Ao entrar, eles se depararam com um estabelecimento feito de madeira de carvalho, cheio de pessoas rindo, bebendo e se divertindo. Duas atendentes, lindas e simpáticas, serviam os clientes com um sorriso no rosto. O lugar tinha uma atmosfera alegre e acolhedora, perfeito para uma noite de diversão e descontração.


Olhando para o lado, Eldo pôde identificar a origem do som: uma grande caixa de som bluetooth que lançava o pagode alto para todos aproveitarem. Sobre ela, havia um notebook, provavelmente de onde vinha a música, e logo acima, um cartaz com a mensagem: "Proibido colocar K-pop".

"Hummm! O paraíso existe, já gostei desse lugar!", pensou Eldo, esboçando um sorriso ao ler o aviso.

— Esse lugar é legal, mas eu conheço um bem melhor. Vem comigo — sussurrou João no ouvido de Eldo.

Curioso, Eldo seguiu o amigo até o andar inferior do bar, que estava repleto de barris, provavelmente cheios de cerveja. Em um dos barris, havia algo escrito que João leu rapidamente antes de seguir em direção a dois homens encostados em uma parede próxima.

— Mimbulus mimbletonia — disse João, em tom misterioso.

— Pode passar — respondeu um dos homens.

— Ele é meu amigo, chegou há pouco tempo — explicou João.

— Certo, ele pode entrar. Mas, da próxima vez, já sabe como funciona.

João colocou as mãos nas costas de Eldo e o empurrou levemente em direção a parede. De repente, Eldo se viu em um ambiente completamente diferente. Era escuro, com a música ainda mais alta do que no andar de cima, e as luzes de neon piscavam freneticamente, criando um clima surreal. Conforme seus olhos se ajustavam à iluminação, Eldo conseguiu vislumbrar o enorme local em que estava. Diversas mesas de jogos de azar espalhavam-se pelo espaço, onde várias pessoas jogavam, cercadas por mulheres seminuas que se penduravam em seus braços, enquanto eles lançavam os dados com esperança de ganhar.

No centro do local, acima do DJ que animava a festa com duas enormes caixas de som ao seu lado, havia uma pintura de um homem ruivo cercado por três mulheres. A princípio, Eldo pensou que se tratava de Maltor, mas logo percebeu que este tinha olhos normais, ao contrário dos olhos puxados do lambiue.

— Tá vendo aquele cara ali Eldo? Aquele é Dionísio, um antigo celestia supremo. Foi ele quem criou este lugar, por isso todos o chamavam de deus das festas e do vinho. Hoje em dia, nenhum dos supremos sabe que esse lugar existe. Para entrar aqui, você precisa dizer uma das senhas que ficam sempre escritas em um dos barris no depósito — explica João.

— Entendi... Engraçado, eu pensava que aqui fosse um lugar "puro", mas vocês têm até uma boate e um cassino escondidos — comenta Eldo, rindo.

— Todo mundo tem seus segredos — responde João, com um sorriso malicioso. — Aqui também funciona como bordel, se você quiser "se divertir" um pouco.

Eldo não gostou do último comentário. Ele levanta a sobrancelha direita, lançando um olhar de reprovação para o amigo loiro.

— Não me diga que você andou traindo a...

— NÃO! Jamais! Eu nunca faria isso! Eu só venho aqui para jogar no cassino e beber um pouco, juro! Só mencionei isso por sua causa — responde João, apressado.

— É bom mesmo, porque se eu descobrir que você andou fazendo gracinha com qualquer mulher enquanto está de compromisso com a minha amiga... — diz Eldo, fechando o punho e apontando-o em direção ao amigo, que engole em seco. — Mas me diz uma coisa: se aqui não se usa dinheiro, o que vocês apostam no cassino?

— Favores — explica João. — Quando entrarmos, eles vão tirar nossas fotos e criar fichas com o nosso rosto. Cada ficha que você ganha de alguém representa um favor que essa pessoa te deve, tipo cobrir seu serviço, consertar algo na sua casa, e por aí vai.

— E o mestre Koguita ou seu pai nunca desconfiam disso?

— Acho que não — responde João. — Meu pai não ligaria, mas o mestre Koguita é todo certinho. Se ele soubesse, acabaria com isso num piscar de olhos. Então é de suma importância que você não conte nada pra ele.

— Tá achando que sou dedo duro, é? — retruca Eldo, cruzando os braços.

João ri e continua andando ao lado do amigo. Eles entram no estabelecimento e, antes de tentar a sorte no jogo, decidem tomar um "esquenta" no bar. Ambos pedem um copo de whisky à garçonete, que os atende prontamente.

Eldo, no entanto, não estava tão animado quanto parecia. Ele olhava para a bebida com um olhar distante, perdido nas lembranças dos acontecimentos recentes.

— Às vezes, eu queria não ter essa resistência ao álcool. Queria saber como é ficar realmente bêbado pelo menos uma vez. Acho que é tudo o que eu preciso agora — desabafa Eldo, pensativo.

João, após refletir por um momento, tem uma ideia. Ele se afasta e logo volta segurando uma cartela com um comprimido branco.

— Aqui, toma isso. É ecstasy, vai te deixar animado — diz João, com um sorriso sugestivo.

— Tá louco? Tomar isso pra depois cair duro no chão? Se quer me matar, fala logo! — reage Eldo, alarmado.

— Relaxa, essas balas foram modificadas pelo nosso médico-chefe, o Roberto. Elas só vão te fazer relaxar e esquecer os problemas, sem nenhum dano ao corpo. Se fizessem mal, eu já tava ferrado, porque tomei várias quando cheguei aqui — garante João.

Eldo olha desconfiado, mas, hesitante, pega a cartela.

— Seja o que Deus quiser — diz Eldo, tomando a bebida junto do comprimido em um gole só.

Logo em seguida, suas pupilas se dilatam e uma sensação intensa de euforia e bem-estar começa a tomar conta do seu corpo. Seu calor corporal aumenta, as luzes parecem mais brilhantes e vibrantes, e a música se torna muito mais agradável. Eldo sente uma onda de energia fluindo por todo o seu corpo, quase como se estivesse em sintonia com o ambiente ao redor.

— Garçonete! Me vê mais uma dose aí, por favor — pede ele, com entusiasmo renovado.

— Esse é o Eldo que eu conheço! — exclama João, rindo e levantando seu copo.

Os dois brindam e mergulham na diversão. Bebem, dançam e jogam. O ambiente é uma mistura de luzes, sons e energia pura. Em determinado momento, Eldo decide que é hora de mostrar suas habilidades no poker. Ele se senta em uma mesa onde quatro homens e uma mulher já jogavam, e João, curioso, apenas observa o amigo.

A partida começa, e entre um gole e outro, Eldo joga com maestria, misturando blefes e jogadas inteligentes. Um a um, seus adversários começam a perder suas fichas, visivelmente irritados com a habilidade dele. Ao final, Eldo vence todas as fichas da mesa, deixando seus oponentes incrédulos.

— Meus parabéns, Eldo! Na arte do blefe, não há ninguém como você — elogia João, batendo as mãos no ombro do amigo.

A mulher que estava na mesa se levanta, caminhando na direção de Eldo com um gingado sedutor e lançando-lhe um olhar envolvente. João faz um barulho com a garganta e dá um leve soco no ombro de Eldo, que se levanta com um sorriso malicioso no rosto.

— Meus parabéns, senhor...? — diz ela, com um tom suave.

— Nunes... Eldo Nunes. E qual é o nome da senhorita? — responde ele, com um olhar brincalhão.

— Um nome muito bonito. Me chamo Sandy Brecha, é um prazer — diz ela, estendendo a mão com elegância, enquanto Eldo a beija gentilmente.

— E como posso ajudá-la? — pergunta Eldo, sem desviar o olhar dos penetrantes olhos azuis da mulher, embora seus olhos deslizassem brevemente para os seus seios fartos.

— Estou devendo favores ao senhor, queria saber como posso pagá-los — responde ela, afastando os cabelos castanho-avermelhados do rosto e unindo os dedos indicadores de forma tímida.

Eldo, sem hesitar, coloca a mão em sua cintura, puxando-a para mais perto. Sandy desliza a mão pela nuca dele e, lentamente, aproxima os lábios dos dois, selando um beijo profundo.

Após o beijo, ela segura a mão dele e o conduz discretamente para longe, em direção a outra área do local. Enquanto passam por João, os amigos trocam olhares e risadas, com João gesticulando sutilmente, indicando que havia proteção nos quartos à direita da boate.

O "casal" chega ao corredor à direita, onde ficam os quartos. Eles entram em um que está vazio, e Eldo, com um movimento rápido, tira a camisa e a pendura na porta, sinalizando que o quarto estava ocupado.

E então...

Pare! Isso não é permitido nesta história! O autor me disse claramente que não era para incluir cenas assim!

Ei, garoto! Eu sei que você é o protagonista, mas você não pode ficar interrompendo a história só porque está se achando no direito de controlar tudo!

Humph! Tudo bem, mas você sabe que o "patrão" vai querer ter uma conversa depois, né?

Está certo, vou pular essa parte... por enquanto.

Continua...

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