Cap 5: Um novo mundo

Eldo sente um feixe de luz branca dissipar-se dos olhos. Ao abri-los, ele encontra nuvens ao redor, uma atmosfera de paz e serenidade. Todos os problemas desvanecem da mente, e uma sensação reconfortante de calor abraça o corpo.

Observando Eldo abraçar a si, com uma expressão de profundo relaxamento no rosto, Koguita estala os dedos perto de seu rosto.

— Eldo! Não se deixe levar, este é um lugar fácil para se perder em distrações. Tenha cuidado.

— Mestre, é aqui que fica o templo?

— Não, o templo está na Terra. Aqui é apenas o caminho que leva até ele. Veja — responde Koguita, apontando para a frente.

O jovem olha adiante e avista um imponente portão de mármore, grande e adornado. Do lado de dentro, não se vê nada além de uma luz azul, como se fosse o céu noturno.


— Ali está o portal para o templo. Este é o único lugar no paraíso onde um mortal pode pisar — explicou Koguita.

— Ah, isso explica a sensação de paz e bem-estar. Não dá nem vontade de sair — diz Eldo com um sorriso no rosto.

Koguita deu um leve tapa no ombro de Eldo, e os dois, junto de Alessandro e João seguem em direção ao portal. Ao atravessá-lo, uma luz amarela ofuscou momentaneamente o jovem, que instintivamente cobriu o rosto, mas logo seus olhos se ajustaram.

Diante dele, um vasto salão se abria, repleto de seres de várias espécies, cada um com uma aparência única e exótica, sugerindo que vinham de diferentes mundos. O ambiente era adornado com detalhes em ouro, destacando sua opulência, enquanto o piso branco refletia o brilho dourado ao redor. Nas laterais, aberturas indicavam a existência de outros setores, conectando possivelmente a diferentes dimensões ou reinos.

— Senhor Alessandro! — uma voz feminina ecoa ao longe.

Todos se voltam na direção da voz e veem uma mulher correndo, segurando um ovo com cuidado. Seus cabelos loiros balançam a cada passo.

— Mestre Alessandro, consegui completar a missão sem quebrar o ovo, como o senhor pediu — disse a jovem, entregando o ovo ao mestre.

Eldo começou a reparar nela e no quanto era atraente. Ela tinha uma altura semelhante à dele, mas estava usando uma armadura cinza, o que dificultava ver os detalhes de seu corpo. Ainda assim, ele notou que seu busto era avantajado, mas perfeitamente proporcional, sem exageros.

Quando ela se virou para ele, seus olhos azuis encontraram os olhos negros de Eldo. O rapaz de pele morena, observou os lábios carnudos dela e percebeu o leve rubor que surgiu em suas bochechas com o olhar trocado entre os dois. Eldo não pôde deixar de se perguntar se aquela mulher não seria um anjo caído.

Um feixe de luz roxa atravessa os olhos de ambos, e eles se encaram, congelados no momento...

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O que está acontecendo aqui, hein, autor?

Quem falou isso? Quem narra essa história sou eu!

Eu, Eldo! Só vim aqui expressar minha insatisfação com o autor. A história mal tem cinco capítulos e ele já está recorrendo ao velho clichê de dois personagens se apaixonando no primeiro olhar. Sério, dá um tempo! Parece que está assistindo muito romance.

Menino, volta para o personagem e segue a história. Agora não é hora dos seus surtos.

Desculpa! Mas não vou me render a esses clichês que ele me joga!

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Bem, voltando de onde fui interrompida...

— EUNÍCIE! — gritou Alessandro para sua aluna distraída.

A loira deu um pulo de susto, com uma expressão de surpresa, mas logo se recompôs, tossindo para disfarçar.

— Perdão, mestre, me distraí pensando em algo que aconteceu — disse Eunicie, tentando disfarçar.

— Entendo — respondeu Alessandro, lançando um olhar breve a Eldo. — Muito bem, você derrotou a criatura no planeta Htoh sem danificar o ovo. Meus parabéns. Espero que tenha entendido a razão de eu ter te dado esse desafio.

— Entendi sim — respondeu Eunicie, batendo uma mão na outra. — Era para manter a calma, já que poderia ser uma pessoa. Assim, eu precisaria focar em proteger o refém enquanto enfrentava o inimigo.

— Exatamente. Você entendeu bem. Meus parabéns! — disse Alessandro, destruindo o ovo com uma energia.

"Poxa, me esforcei tanto para proteger isso, e ele simplesmente destruiu no final", pensou Eunicie com indignação.

Assim que ela olhou para Eldo, viu que ele se aproximava com João.

— Eunicie, esse é o meu amigo Eldo, de quem eu sempre falo. Eldo, esta é minha parceira de treinamento e amiga, Eunicie — disse João, fazendo as apresentações.

— Muito prazer. Então você é o famoso amigo de quem João sempre fala. Honestamente, você é mais bonito do que imaginei — disse Eunicie, com um sorriso simpático e o rosto ligeiramente corado.

Tenho que concordar com o Eldo, o autor anda vendo muito romance.

— Muito prazer e obrigado. Amiga do meu amigo é minha amiga também — respondeu Eldo, estendendo a mão. Eunicie a apertou, e ele se aproximou de seu ouvido, sussurrando: — Podemos ser algo mais, se você quiser.

Eunicie corou ainda mais e virou o rosto, respondendo gaguejando:

— Eh... Eh... É só você... me... me... me chamar. O João sabe onde moro, só me chamar que eu vou.

— Olha que eu cobro, hein! — disse Eldo com um sorriso malicioso.

Ela se encolheu de vergonha, o que fez Eldo rir discretamente. Em seguida, Koguita colocou a mão no ombro de Eldo, sinalizando para que seguissem.

— Bem, já estou indo. Foi um prazer te conhecer, Eunicie — disse Eldo, piscando para ela.

— O prazer foi todo meu — respondeu Eunicie, com um sorriso caloroso.

Dessa vez, foi Eldo quem ficou envergonhado. O sorriso da loira o encantou, fazendo com que ele sentisse um turbilhão de borboletas no estômago. Tentando disfarçar, ele se virou e caminhou na direção de Koguita, despedindo-se de João e Alessandro.

Ao sair da entrada, Eldo encontrou-se em uma vila que parecia ter parado no tempo, na era medieval. O sol estava se pondo, lançando um tom dourado de boas-vindas para o jovem recém-chegado. Os raios dourados refletiam no chão e nas casas de madeira pintadas de branco. Dali, Eldo podia ver as vastas planícies ao redor, sentindo a suave brisa que só um lugar tão natural poderia trazer.

Respirando o ar puro e fresco daquele cenário medieval, Eldo sente como se estivesse em seu lugar dos sonhos. Por um momento, ele esquece os problemas que lhe ocupavam a mente e se deixa aproveitar o prazer daquele instante.

Enquanto caminhava pela vila, Eldo observava a diversidade de habitantes do local. A maioria era humana, mas havia criaturas com cores de pele exóticas, como azul, verde e roxo, além de seres com asas, chifres e outras características fantásticas. Ele se sentia como se tivesse sido transportado para os mundos de fantasia que tanto amava acompanhar na ficção.

Eles pararam em frente a uma residência feita inteiramente de madeira, isolada das outras casas da região. A casa tinha impressionantes três andares, e no topo, uma chaminé soltava finas espirais de fumaça ao vento.


Koguita abriu a porta, convidando Eldo a entrar. O jovem se deparou com um local repleto de armaduras espalhadas pelo chão e alguns barris ao redor. Ao se aproximar de um deles, notou que continha uma espécie de cristal em forma de farelo. O ambiente também era equipado com fornalhas e mesas de ferraria.

— Demos sorte, hoje está vazio — comentou Koguita.

— Isso aqui é uma forja de ferreiros, certo? — perguntou Eldo.

— Exato! Aqui na nossa vila, todos têm uma função, ninguém fica sem contribuir. Além dos celestias, temos os parentes e amigos deles. Esse material que você vê, a poeira estelar, é o que usamos para fazer nossas armaduras. Elas são extremamente resistentes, não enferrujam, não pesam, e são praticamente indestrutíveis com armas mundanas. Os anjos são os únicos que têm acesso a essa substância e nos fornecem.

— Anjos? — perguntou Eldo, intrigado.

— A hierarquia do templo funciona assim: nós, os Supremos, governamos a vila e decidimos como tudo deve funcionar. Em casos especiais, realizamos votações populares com os moradores para estabelecer novas regras. No entanto, acima de nós estão os anjos e o próprio Zelis. Embora eu nunca tenha visto um anjo pessoalmente, eles se comunicam comigo ou o Alessandro.

— Ah, entendi — disse Eldo, assimilando as informações.

Koguita fez um gesto para que Eldo o seguisse até o andar de cima. As escadas eram feitas de genuíno carvalho escuro e rangiam a cada passo. Eldo sentiu um leve receio de que as escadas pudessem ceder, mas Koguita o tranquilizou, explicando que todos os materiais usados nas construções da vila eram reforçados com poeira estelar, tornando-os extremamente resistentes.

Ao chegarem ao segundo andar, Eldo avistou uma sala repleta de suportes com armaduras de diversas cores. Num canto, havia um espelho e duas caixa contendo cristais.

— O andar de cima é mais um onde os ferreiros trabalham. Aqui eu já posso te explicar melhor — disse Koguita.

— Certo — respondeu Eldo, assumindo uma postura atenta.

— Nós somos celestias, não confunda com 'celestiais'. Muita gente comete esse erro por hábito, mas a palavra correta é 'celestias', sem o 'i'. É assim que os antigos nos chamavam. Somos guerreiros que possuem acesso ao ken, uma energia que nos dá força, resistência e velocidade sobre-humanas, além de nos permitir usar magia.

— Essa parte eu já percebi. Até me confundi no começo — admitiu Eldo, envergonhado, enquanto passava o dedo na bochecha.

— Este refúgio onde vivemos foi criado pelos deuses. Fisicamente, ele fica na região do Himalaia, mas a magia dos deuses fez com que o templo e toda essa imensa vila existissem sem interferir no espaço normal da Terra. Pense nisso como um mundo à parte — explicou Koguita.

— E só se consegue entrar por aquele portal? — perguntou Eldo.

— Exatamente! Para acessar o portal, você precisa atravessar as fissuras que se encontram em três florestas isoladas, marcadas por círculos específicos. Uma nos Estados Unidos, outra no Brasil, e a última na Corumbia. Quem não usa o Ken sente arrepios ou tem a mente manipulada, desviando-se do local, o que explica a fama desses lugares de serem lugar de danças de demônios — Koguita ri — Para passar, basta envolver o corpo com o Ken, e você será transportado para o céu — conclui.

Eldo assentiu, agora entendendo o porquê da aura branca que cobriu seu corpo mais cedo.

— Agora vou te explicar como funciona o nosso sistema de poder, o ken. Existem duas propriedades principais: A primeira é o ken mágico ou energético, que nada mais é do que a energia que você nos viu usar, como essa — Koguita formou uma esfera de energia azul na mão — e outros ataques mais complexos, como os do seu pai, que consegue criar mini-planetas e, depois, os explodir.

'Mini-planetas? Será que vou poder fazer uma explosão galáctica também?', Eldo pensou, entusiasmado.

— Também posso criar portais. O que você pode fazer com o ken mágico depende da sua habilidade e criatividade. É possível manipular fogo, água, ar, entre outras coisas usando o ken mágico, mas há uma diferença entre a manipulação por ken mágico para o segundo tipo de ken — Koguita pigarreou e ergueu dois dedos — O ken elemental. E é isso que nos diferencia dos outros usuários de magia. O ken elemental não só permite controlar um elemento à vontade, como também se fundir a ele, concedendo vantagens significativas. Existem sete elementos principais: Fogo, água, terra, ar, gelo, raio e o estelar, a energia do vácuo do espaço. Ao se tornar um com seu elemento, você ganha habilidades únicas:

Fogo — Torna o usuário imune a altas temperaturas. Eles podem, por exemplo, usar casacos em pleno deserto sem sentir o calor. Representado pela cor vermelha.

Água — Permite respirar debaixo d'água e aumenta o poder do usuário quando em contato com a chuva ou submerso. Representado pela cor azul-marinho.

Terra — Dá o poder de provocar terremotos de qualquer escala e a habilidade de sobreviver por longos períodos sem oxigênio. Representado pela cor marrom.

Ar — Este é o meu elemento. Podemos manipular o ar à vontade, voar e até privar os inimigos de ar, causando asfixia. Representado pela cor cinza.

— Terra e ar são os elementos mais poderosos, pois estão sempre presentes ao redor de seus usuários, fornecendo energia em qualquer lugar — explicou Koguita.

Gelo — Usuários deste elemento são imunes a baixas temperaturas. Entre os celestias, são conhecidos por serem os mais frios e sérios, com exceções como seu amigo João. Representado pela cor azul-ciano.

Raio — São os celestias mais rápidos, imunes a descargas elétricas, e têm reflexos sobre-humanos. Representado pela cor amarela.

Estelar — Estes são os únicos que podem sobreviver no vácuo do espaço, além de possuírem ataques de energia incrivelmente poderosos, força e velocidade acima da média, embora um pouco mais lentos que os usuários de raio. Sua habilidade mais notável é a distorção do espaço ao redor, criando ilusões para confundir os sentidos dos oponentes. É um elemento extremamente complexo, que requer muito treino e talento. Representado pela cor branca.

Eldo absorveu cada palavra de seu mestre, processando as informações rapidamente. Um dos maiores pontos fortes do jovem sempre foi sua capacidade de aprendizado rápido, algo que o ajudou a se formar aos 16 anos.

— Outra vantagem do Ken elemental — continuou Koguita — é que ele nos permite fundir as moléculas do nosso corpo com o nosso elemento respectivo. Por exemplo...

O mestre levantou o braço direito, envolto em energia cinza. Com o tempo, o braço desapareceu, até ficar invisível para o jovem, que ficou surpreso.

— Eu fundi as moléculas do meu braço com o ar, que é um dos meus elementos. Tudo o que estava nele se mesclou, incluindo a roupa e a armadura. Entendeu essa parte? É um pouco complicada de explicar — indagou Koguita.

— É... é como uma mistura, tipo achocolatado no leite. Não sei se é uma boa analogia, mas acho que entendi. Pego melhor na hora de praticar — respondeu Eldo.

— Exato! Não foi a melhor analogia, mas o importante é que você compreendeu — disse Koguita, trazendo o braço de volta e abrindo e fechando a mão. — Isso é bem útil para missões de espionagem, ou para pegar algum inimigo de surpresa. No seu caso, seu Ken é do tipo estelar, e você só conseguirá se mesclar com o vácuo do espaço. Isso é um nível mais avançado, mas já estou te adiantando o que posso — explicou.

— Entendido — confirmou Eldo, acenando positivamente. — Mestre, uma dúvida: o senhor disse que possui mais de um elemento. Isso não gera efeitos colaterais?

— De forma alguma. Isso diferencia os celestias supremos dos normais. Nossa hierarquia vai do ranking D ao A. Quando um celestia desperta um segundo ken elemental, recebe a promoção a supremo. Mas não se engane: ser supremo não significa ser mais forte que todos os outros. Alguns podem me vencer.

— Mas, se alguém de um ranking baixo, como o D, despertar um segundo Ken, ele se tornará um supremo e terá o comando do templo, mesmo sendo de uma hierarquia baixa. Isso não é problemático? — questionou Eldo.

— Não, porque despertar um segundo Ken não é fácil. Isso requer garra, determinação e vontade. Aqueles de espírito fraco não conseguem. Se alguém se torna um supremo, é porque merece ser líder. É claro que todos nós cometemos erros — respondeu Koguita.

— Entendo. Mas o que é preciso para despertar um segundo elemento? — perguntou Eldo.

— Não se sabe ao certo, mas todos nós que despertamos os nossos elementos secundários o fizemos em momentos de paz de espírito, quando colocamos nossos objetivos acima de nossas próprias vidas, em situações que nada nos abalava. No meu caso, foram dois ao mesmo tempo: fogo e relâmpago. Podemos controlar quantos elementos quisermos, não há um limite — explicou Koguita, assumindo em seguida uma expressão de desgosto. — Existe um celestia que conseguiu despertar todos os sete, mas isso é algo muito raro — disse Koguita, com um tom de desprezo, evidenciando que não se dá bem com esse celestia.

— Entendi mestre, sem mais dúvidas — afirmou Eldo, curvando-se em respeito.

Koguita acenou afirmativamente e pegou dois caixotes contendo cristais, um deles grande e o outro do tamanho de uma unha do dedo mindinho.

— Uma das vantagens atuais é que não precisamos carregar nossas armaduras o tempo todo. Podemos deixá-las em casa e invocá-las quando quisermos, graças a esses cristais — explicou Koguita, retirando o cristal maior da caixa e entregando ao jovem.

Eldo pegou o cristal e começou a analisá-lo. Embora não tivesse experiência em joalheria, percebeu que não era um cristal com grande valor comercial. Ele era leve, quase como se estivesse segurando uma pluma de pássaro, e não refletia a luz quando exposto ao sol.

— Para funcionar, você deve colocar um desses cristais em um objeto de sua escolha e outro na parte do seu corpo onde deseja que ele apareça. Por exemplo, se colocar um no peitoral de uma armadura e o outro em seu próprio peitoral, assim que reunir Ken naquela região, o objeto aparecerá ali. Isso evita que você fique desprotegido em momentos de emboscada — explicou Koguita.

— Entendi, isso é realmente muito prático. E esses aqui? — perguntou Eldo, apontando para os cristais menores.

— Esses você pode introduzir em seus sentidos. Ao colocar um no paladar, poderá falar normalmente e a pessoa entenderá em sua língua nativa. Se colocar no ouvido, entenderá todos que falarem na sua própria língua nativa. Também pode ser posto no pulmão para respirar a atmosfera de qualquer planeta, mas atualmente não fazemos isso, pois todos os planetas já foram testados e têm atmosferas compatíveis com os seres humanos.

— Quantos planetas existem? — perguntou Eldo, curioso ao ouvir o mestre falando em planetas.

— Ao todo, existem 70 trilhões de planetas no universo, e entre eles, apenas 832 milhões são habitáveis. Muitos sistemas, como o nosso, estão localizados em regiões que chamamos de desertos, onde há apenas um planeta com potencial de sustentar vida.

— Interessante! — exclama Eldo.

— Não vamos perder mais tempo. Escolha aquela armadura branca ali, que é do seu tamanho, e coloque os cristais nela, nas espadas do seu pai e em cada parte do seu corpo correspondente. É só pressioná-los e eles se acomodarão automaticamente, sem dor ou desconforto. Em seguida, vou te orientar para que você tente usá-los — ordena Koguita.

Eldo concorda, retira sua mochila das costas e a deixa em um canto, retirando apenas as espadas. Ele coloca um cristal em cada parte da armadura branca, que estava presa em um suporte, que se encaixam facilmente, desde o peitoral até os braços, calças e botas. Por fim, coloca os cristais em seu próprio corpo, sentindo um leve receio, mas logo se acalma ao perceber que realmente não sente nada ao inseri-los.

Para as espadas, ele coloca cristais na palma da mão e as deixa no chão, ansioso para ver se conseguiriam ativar o efeito desejado.

— Agora feche os olhos e respire fundo. Sinta uma energia fluindo pelo seu corpo, como uma corrente elétrica. Depois, concentre-se em reunir o máximo possível de energia nos pontos onde colocou os cristais — instrui Koguita.

Eldo segue as instruções do mestre, concentrando-se na tarefa. Em sua mente, as memórias do homem ruivo o assaltam, e ele sente uma urgência crescente para dominar seus poderes e buscar a vingança que tanto almeja.

Ele percebe uma sensação cobrindo seu peito e sua perna direita e, ao abrir os olhos, espera ansiosamente ter conseguido. Porém, a esperança rapidamente se transforma em frustração ao notar que, na verdade, apenas essas partes da armadura foram ativadas.

— Droga! — resmunga Eldo, frustrado com seu fracasso.

— Não se cobre tanto. Nem todos conseguem na primeira tentativa. Isso leva prática e tempo. Vista-se manualmente — aconselha Koguita.

Eldo concorda e veste cada parte da armadura conforme as instruções do mestre, mas não consegue evitar o desapontamento por seu desempenho insatisfatório.

Após se vestir, ele se vira para o espelho disponível no local. Devido à sua altura, mal consegue ver seu reflexo completo. A armadura branca confere um brilho extra ao seu corpo, dando-lhe uma aparência ainda mais robusta do que já tinha.

Por último, Eldo pegou as espadas do chão e as encaixou nos dois suportes nas costas da armadura, projetados especificamente para acomodar as armas de seu usuário.

— Mestre, uma pergunta: e se eu quiser retirar os cristais? — indaga Eldo.

— Basta manter a mão coberta de Ken próxima ao cristal por 30 segundos que ele sairá. No seu caso, se preferir trocar, posso fazer isso por você até que consiga controlar o Ken sozinho — explica Koguita.

— Entendido — responde Eldo.

Koguita entrega três cristais menores a Eldo, que os coloca nos ouvidos e na língua, finalizando assim o que tinham que fazer ali. Koguita então olha para o céu e deduz que já passam das 13:00, uma habilidade que desenvolveu ao longo do tempo.

— Está começando a ficar tarde. Você quer comer algo antes de iniciarmos seu treinamento? — pergunta Koguita.

— Não, obrigado. Já comi na casa da minha tia Rita, estou satisfeito — responde Eldo passando a mão na barriga.

Koguita acena positivamente e chama o jovem para segui-lo. Eles saem do estabelecimento e caminham pela vila. Eldo se perde em pensamentos sobre a vastidão do universo e a possibilidade de uma emocionante aventura intergaláctica. Contudo, essa ideia perde um pouco do brilho diante do que aconteceu com seu pai.

Apesar de suspeitar que a fala do progenitor indicava chances de reviver, Eldo duvidava, temendo que a mente paranoica criasse ilusões. Desejava controlar o tempo, avançar o suficiente para descobrir a verdade.

À medida que ele e o mestre caminham, as casas tornam-se cada vez mais escassas, dando lugar a grandes estábulos de madeira, transformando o ambiente em uma paisagem mais rural. Árvores balançam suavemente com a brisa da tarde, enquanto pássaros cruzam o céu, criando uma atmosfera calma e serena ao redor.

— Chegamos. Este é o espaço que dedicamos ao treinamento. É uma área ampla e afastada da vila, ideal para evitar acidentes. Embora as madeiras das casas sejam reforçadas para não se quebrarem facilmente, todo cuidado é necessário — explica Koguita.

— E o que eu faço agora?

— Como já sabe lutar, segundo seu pai, temos meio caminho andado. O princípio para lançar com o ken é imaginar a energia fluindo pelo corpo. Para lançá-la pela palma, visualize a energia se reunindo e saindo.

— Entendi, mas esse Ken tem algum limite? Se eu usar muito, ele se esgota? — pergunta Eldo.

— Não, ele é infinito. O que pode acontecer é você ficar exausto à medida que avança na luta ou não conseguir se concentrar corretamente. Alguns golpes são mais poderosos e levam tempo para serem executados. Nesses casos, você precisará usar sua criatividade e enrolar o inimigo até conseguir desferir seu golpe. Entendeu? — Koguita pergunta.

Eldo concorda, imaginando que seu golpe possa demorar mais do que o esperado e visualizando-se pedindo paciência ao inimigo.

— Agora tente. Vamos ver se você consegue lançar algo. Acerte aquele boneco ali — diz Koguita, apontando para um boneco de madeira cravado no chão.

Eldo fecha os olhos e começa a imaginar um fluxo de energia percorrendo seu corpo, circulando como se estivesse sendo impulsionado pelo seu coração.

Ele estende a mão, apontando para o boneco e visualiza a energia se concentrando na palma, formando uma grande esfera. Eldo abre os olhos, determinado a não falhar novamente.

— Vai, Ken! — Eldo impulsiona o braço, mas não consegue — Voa! Para o alto e avante ken! Shazam! Vai! Vai! Vai, Ken, vai! — Após mais uma falha, Eldo chuta a grama com frustração.

Koguita coloca a mão no ombro do jovem. Ao olhar para o rosto do mestre, Eldo vê um sorriso compreensivo.

— Relaxa. Poucos conseguem na primeira tentativa. Se você continuar se cobrando assim, só vai atrasar seu desenvolvimento — diz Koguita.

Eldo respira fundo, concordando com o mestre e pedindo desculpas por sua reação.

— Sabe, de vez em quando é bom deixar a mente controlar o corpo por conta própria. Às vezes, um reflexo é a chave para o aprimoramento — acrescenta Koguita.

Eldo dá de ombros franzindo o cenho, sem entender o que o mestre quis dizer.

— Um dia você vai entender isso... Eu espero. Agora, vou pedir que você faça uma série de exercícios. É bom se preparar — Koguita sorri com um olhar malicioso, fazendo Eldo temer o que está por vir.

Continua...

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