Cap 4: Amigos sempre se reencontram
No shopping abandonado onde os lambiues foram selados, um homem caminha todo encapuzado, com passos longos. A roupa cobre seu rosto, tornando impossível ver sua face. O vento balança a sua roupa deixando uma imponente aura em seu caminhar.
Ele entra na fissura que Escarlet abriu algumas horas atrás, sendo teletransportado para um lugar escuro e apertado. O cheiro de mofo complementa a atmosfera nada hospitaleira do local. Quatro lambiues se aproximam do homem, preparando esferas de energia com as mãos. Ambos estão nus, pois nasceram após o selamento dos lambiues e não têm roupas para vestir.
— Quem é você? Se identifique! — grita um deles, balançando a cabeça para afastar mechas de cabelo roxo.
— Espere! Ele é um dos nossos, olhe para os olhos dele — diz outro.
Assim, todos notam os olhos do visitante e cessam suas habilidades.
— Assim está bem melhor. Enfim, acredito que não me conheçam, mas meu nome, eu imagino que sim: Cheker.
Ao revelar o nome, todos os homens estremecem e se ajoelham perante o homem, que ri da atitude deles.
— Não precisam dessa formalidade toda rapazes. Somos iguais. Me digam onde estão Maltor e os outros cavaleiros do apocalipse? — pergunta Cheker.
— Eles foram levar alguns de nós para o selo no país chamado Tunísia junto dos generais. Estão fazendo isso aos poucos para não chamar a atenção de nossos inimigos — explica o homem de cabelo roxo.
— Hum! Certo, vou precisar de vocês quatro para fazer um serviço para mim — diz Cheker.
— Às suas ordens! — respondem os quatro em uníssono.
— Ótimo! Ótimo! Vocês só vão sequestrar um jovem para mim, ele está junto de um celestia, mas eu cuidarei dele — diz Cheker, sorrindo e acenando para os homens o seguirem.
Eldo e Zenon saem da rua e retornam à floresta, dirigindo-se para onde Koguita os aguardava. Chegam à área onde a batalha começou, e Eldo pega a sua mochila, enrolando as espadas cuidadosamente na mochila suja de poeira.
— Afinal Koguita, o que está acontecendo aqui? — pergunta Eldo — teve um ruivo que...
— Já sei de tudo Eldo! E por favor, me chame apenas de Koguita. Esse "senhor" me faz parecer mais velho do que sou — responde Koguita, sorrindo para Eldo. — Não vou explicar nada agora, as árvores têm ouvidos. Vamos para um lugar onde posso esclarecer tudo. Mas, antes de mais nada, peço desculpas em nome do meu pupilo. Ele deveria apenas testar suas habilidades, mas exagerou... — Koguita lança um olhar de reprovação para Zenon.
— Se ele tivesse morrido com golpes tão simples, não mereceria ser um dos nossos. Não quero pesos mortos entre os celestias — Zenon rebate, cruzando os braços com uma expressão irritada.
— Como é que é? — Eldo retruca, desafiando Zenon com o olhar. — Quem quase perdeu a cabeça há pouco tempo? Quer que eu termine o que comecei? — Eldo avança, a voz carregada de raiva.
— Você só está vivo porque eu quis. Se eu estivesse lutando a sério desde o começo, você não teria chance — Zenon responde, fixando seu olhar frio em Eldo.
— Ah, é? Por que não fazemos um segundo round agora? Vamos ver quanto o "emo de Taubaté" é bom.
— O que você disse, seu moleque insolente?
— Eu gaguejei?
Os rostos dos dois se aproximam, a tensão aumentando a cada segundo, até que Koguita intervém, dando um soco na cabeça de ambos.
— Francamente, vocês dois! Adultos de mais de 20 anos agindo como adolescentes. Parem de perder tempo com essas discussões inúteis! — Koguita grita, exasperado.
Os dois pedem desculpas a Koguita, mas trocam olhares de puro ódio, com um raio se formando entre os dois.
— Aliás Zenon, já te falei: você precisa se controlar. Assim como Eldo fez, o inimigo vai tentar te provocar para te tirar do sério, e é nesse momento que você pode baixar a guarda e ser morto, entendeu?
Zenon abaixa o rosto, envergonhado, enquanto uma veia pulsa em sua testa. Eldo, por sua vez, começa a rir do guerreiro.
— E você também, Eldo! Ter confiança na sua força é bom, te faz não recuar diante do inimigo. Mas é preciso cautela. Zenon, ao contrário de você, já sabe como usar seus poderes. Em um duelo, você sairia derrotado. É preciso calma e prudência ao avaliar um combate.
— Entendido, mestre — Eldo responde, envergonhado, passando o dedo na bochecha.
De repente, Koguita ouve um barulho vindo dos arbustos e faz sinal para os jovens ficarem em silêncio. Com um movimento ágil, ele puxa quatro lambiues que Cheker havia mandado.
— Ora, temos uma plateia por aqui — diz Koguita, virando-se para os oponentes.
— Droga, ele disse que só teria um celestia com ele, não dois! — murmura um dos lambiues.
— Agora não é hora pra isso, vamos todos pra cima deles!
Eldo e Zenon avançam, mas Koguita os impede.
— Deixem comigo. Vou mostrar a vocês como se deve lutar.
Koguita se aproxima dos lambiues, que exibem sorrisos confiantes por acreditarem que enfrentam um único oponente. Eles se jogam sobre Koguita, mas ele desaparece antes que possam alcançá-lo.
Confusos, olham ao redor, tentando localizar Koguita, que reaparece atrás de um deles, segurando-o pelo pescoço e descarregando uma forte corrente elétrica. O lambiue grita de dor enquanto suas veias saltam e seus olhos quase saem das órbitas. Koguita só o solta quando ele já está morto.
— Não... Isso não pode ser, ele matou um dos nossos tão rápido...
— Francamente, vocês lambiues já foram mais desafiadores — diz Koguita, bocejando.
— Eu não vou me segurar! — grita o lambiue de cabelo roxo, avançando sobre Koguita com movimentos rápidos e precisos. Mas o celestia desvia com facilidade, mostrando ser muito mais rápido que o adversário.
Em um instante, Koguita invoca duas espadas e começa a desferir golpes rápidos, transformando seu oponente em pedaços. Os dois lambiues sobreviventes olham, aterrorizados, para a cena.
— Ele... Ele é um monstro. Eu não vou perder! — grita o de cabelo cinza, disparando desesperadamente rajadas de energia pelas mãos.
Quando se aproxima de Koguita, este rebate todas as rajadas de volta, e assim que o lambiue é atingido, abaixa a guarda. Koguita então surge diante dele e, começa a esmagar a cabeça dele pelos lados, seus olhos saem das órbitas, sangue sai do corpo até o mestre obter sucesso em seu movimento.
O loiro que restou faz uma expressão de puro terror. Naquele instante, ele percebeu que o homem à sua frente poderia ser um dos supremos, aqueles que apenas os Cavaleiros do Apocalipse têm chances de enfrentar. Desesperado, ele se vira e começa a correr na direção oposta.
— Desculpe, mestre Cheker, eu falhei com o senhor! — grita ele enquanto tenta fugir.
De repente, ele para bruscamente, como se estivesse tentando se mover, mas não consegue. Nesse momento, Roger surge rastejando do mato, deixando um rastro de sangue no chão.
— Por fav...— o lambiue é interrompido quando Roger fecha a mão, esmagando-o como se fosse apenas um pedaço de papel. O corpo destroçado do lambiue cai no chão, e Roger se aproxima, tocando o cadáver.
— Não... Não foi ele... — murmura Roger, frustrado.
Koguita se aproxima, ajuda Roger a se sentar, e observa o enorme buraco no torso de Roger.
— O que aconteceu, Roger? — pergunta Koguita, surpreso.
— Mestre Koguita, depois que Zenon me acertou e fui arremessado, bati a cabeça em um galho e perdi a consciência por alguns minutos. Quando acordei, vi um homem encapuzado na minha frente murmurando algo sobre capturar o irmão. Ele tinha uma aura aterrorizadora, e o ataquei acreditando ser um inimigo. Foi meio estranho, ele parecia saber sobre minha condição, quando me viu a primeira coisa que fez foi causar uma interferência na área ao redor que prejudicou o meu radar. Só pude notar que ele também estava ferido.
— Entendo... Zenon! Leve-o ao hospital, e Eldo ao templo. Eu vou procurar esse ser para ver se ele ainda está por perto.
— Não! Eu consigo controlar o sangramento com meus poderes. Sobrevivi quando arrancaram meus olhos, não vai ser um buraco no estômago que vai me matar. Eu vou sozinho, vocês precisam correr atrás dele! — diz Roger, levantando-se lentamente com a ajuda de Koguita.
— Tem certeza disso? — pergunta Koguita, preocupado.
— Afirmativo. Qualquer coisa, peço ajuda na vila.
Koguita acena positivamente e acompanha Roger até mais a frente, onde ele segue sozinho. Depois de deixar Roger, Koguita muda de ideia, e faz um sinal para Zenon vigiar a área, e o jovem obedece prontamente. Koguita então se aproxima de Eldo e pergunta:
— O que você aprendeu com minha luta agora?
— Bem, eu vi que o senhor manteve a calma e o foco, aproveitando as brechas que eles deixaram. Isso me lembrou muito o jeito que meu pai me treinou. Também percebi que o senhor provocou os oponentes. Foi de propósito?
— Exato. Você deve usar todos os recursos para vencer. No caso dos lambiues, eles são uma raça guerreira que se considera superior a todas as outras. Quando percebem que estão perdendo, ficam furiosos e abaixam a guarda. No entanto, não deve confiar nisso em todas as lutas, pois nem todos os oponentes reagem dessa forma. Conhecer bem seu inimigo é essencial.
— Entendi. Meu pai também falou sobre isso durante meu treinamento.
— Sim, mas seu pai tem um defeito: ele é impulsivo e confia mais em seu poder do que em uma boa estratégia. E, pelo que vi na sua luta com Zenon, você ainda deixa os sentimentos interferirem na batalha, o que pode ser perigoso.
Eldo abaixa a cabeça envergonhado, novamente passando o dedo na bochecha.
— Relaxa, isso é algo que nem eu domino completamente, mas sempre tento ensinar aos meus alunos. Com o tempo e treino, você vai melhorar. Agora, vamos?
— Sim, senhor! — responde Eldo, assumindo uma postura firme.
Koguita sorri diante da pose do jovem e se vira. Eldo sente uma grande expectativa em relação ao treinamento que receberá.
— Olá, Koguita! — diz um homem, de pele clara, cabelos e olhos pretos, usando uma armadura azul. Eldo olha para ele desconfiado, sentindo que já o viu em algum lugar.
— Alessandro, estou levando meu mais novo discípulo para o templo — diz Koguita, cumprimentando o amigo.
— Espera aí, desculpa... você é o pai do...
— ELDO! — interrompe um jovem, da mesma idade de Eldo. Ele veste uma armadura azul-ciano, tem pele clara, cabelos loiros e olhos azuis. Seu olhar sério e nada amigável é direcionado ao moreno.
— Então é você mesmo! — Eldo assume a mesma expressão séria, encarando o loiro enquanto letras japonesas começam a flutuar ao seu redor.
— Ora, está se aproximando? — responde o loiro, avançando lentamente.
— Preciso me aproximar para fazer o que tenho em mente.
Ambos caminham em direção um ao outro com passos firmes e elegantes, as letras flutuantes acompanhando cada movimento.
Eles param frente a frente, com Eldo mostrando ser levemente mais alto que o homem que encarava. Eles ficam se encarando por alguns segundos, enquanto uma atmosfera tensa se forma ao redor.
— ELDO! — grita o loiro, abrindo um sorriso e estendendo os braços.
— JOÃO! — Eldo responde da mesma forma.
Os dois se abraçam, matando a saudade de amigos que não se viam desde os 17 anos, desde o incidente com Eldo.
— Então é aqui que você anda, seu sumido! Abandonou os amigos — brinca Eldo.
— Eu pensei em visitar vocês, mas sabe como é, estou sempre na correria, treinando — responde João.
— Aham! Claro! Correria... Sei. Depois preciso ter uma conversa muito séria com o senhor! — adverte Eldo.
— Você tá parecendo meu pai — diz João, olhando para Alessandro, que observava os dois. — Mas enfim...
Os dois amigos se encaram e, num movimento rápido, sentam-se no chão, apoiando os braços em um tronco de árvore cortado ao lado deles para uma queda de braço.
— Eldo, eu te dei uma folga esses anos, mas estou mais forte do que nunca. Não vou deixar você ganhar, nosso placar está em 361 pra mim — diz João, confiante.
— Até parece! "Sonhar, nunca desistir", eu ganhei 361 de 720, e vou ganhar mais uma agora.
— AHHHHHHHHH!!!!!! — os dois gritam ao mesmo tempo.
João consegue vencer Eldo dessa vez, soltando a mão do amigo e comemorando a vitória.
— Huhu! Mais um ponto pra mim.
— Se prepara, vai ter revanche! — ameaça Eldo, apontando o dedo para o amigo.
Em seguida, ambos caem na gargalhada e retornam ao encontro de Koguita e Alessandro, que os aguardavam.
— Desculpa mestre Koguita, tive que matar a saudade do meu amigo — diz Eldo, ainda abraçando João.
— Eldo, como está o seu pai? — pergunta Alessandro.
O sorriso de Eldo desaparece, ele abaixa a cabeça, desfez o abraço com João. Koguita, percebendo a mudança, decide explicar enquanto João e Alessandro olham, confusos.
— Não pode ser! — exclama João, surpreso, enquanto abraça o amigo — Eldo, eu...
— Que pena — comenta Alessandro, com a mesma expressão séria de sempre. — Logo quando eu não estava por perto, isso acontece.
— Ei, Alessandro! Seu amigo de longa data morreu. Será que, pelo menos aqui entre aliados, você poderia mostrar a reação adequada? — diz Koguita, encarando-o firmemente.
— Não preciso derramar lágrimas para mostrar que estou triste. Isso não vai mudar nada. E além do mais...
Ele estava prestes a dizer mais, mas é interrompido por um pisão no pé de Koguita. Alessandro lança um olhar de reprovação ao amigo, mas logo começa a massagear as têmporas, percebendo que havia falado demais.
— Tá certo, me desculpe, Eldo. Eu sou indiferente assim mesmo, mas lamento pela sua perda — diz Alessandro.
— Tudo bem — responde Eldo, dando de ombros, já acostumado com a frieza do pai do amigo.
— Vamos, então. Não vamos perder mais tempo, precisamos chegar ao templo — conclui Koguita.
Todos concordam com um aceno e começam a caminhar até uma área da floresta conhecida como o Círculo do Demônio. Essa é uma clareira onde nada cresce, e qualquer ser vivo que se aproxima sente um arrepio tão intenso que se afasta imediatamente. Dizem as lendas que um demônio dança ali todas as noites, deixando um rastro de energia que repele a vida. Há relatos de círculos semelhantes nos EUA e na Corumbia.
Alessandro e João começam a emanar uma aura e entram no círculo, desaparecendo em seguida. Koguita coloca a mão nas costas de Eldo, fazendo uma aura cinza envolver ambos, seguida por uma aura branca emanando de Eldo. Assim que eles entram no círculo, também desaparecem como os outros.
Continua...
Curiosidade: Esse círculo do demônio de fato existe na vida real, se chama Devil's Tramping Ground e fica localizado na Carolina do Norte (existir no Brasil, é só aqui na história), existe um espaço que nada cresce, e nenhum animal passa, e pessoas que passam sentem arrepios. A explicação lendária do motivo de não crescer, é que um demônio fica dançando ali de madrugada, o que acabou maculando aquele local. Até o momento da publicação desse capítulo não existe nenhuma explicação científica para tal. O que eu fiz foi dar uma adaptada pro universo da minha história.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top