Cap 1.1: A volta dos que não foram (parte 2)
— AQUELE MAURICINHO, FILHO DA PUTA, SAFADO, CANALHA, MIMADO! — gritou Eldo pelas ruas, sua voz ecoando com fúria incontida.
— "Ah, agora que papai morreu, não temos interesse em alguém como você" — zombou ele, imitando de forma exagerada as expressões do homem que o provocara. — VAI TOMAR NO CU SEU DESGRAÇADO! Eu vou te processar... não, processar é pouco! Podia matá-lo, mas aí seria preso de novo. Não, vou destruí-lo no tribunal e torcer do fundo do meu coração para que vá à falência! — Eldo vociferava, completamente alheio aos olhares curiosos e alarmados das pessoas ao redor.
Algumas passavam de relance, cochichando entre si. Porém, Eldo estava tão mergulhado em sua raiva que sequer notou.
— Calma Eldo. Volta pra casa. Esfria a cabeça. Você se lembra da última besteira que fez quando agiu de cabeça quente? — murmurou para si mesmo, como se tentar se aconselhar fosse a única coisa sensata a fazer.
De repente, um clarão intenso iluminou a rua, seguido de uma explosão ensurdecedora que sacudiu o chão. O barulho reverberou como trovões, e um tremor assustador percorreu a área. Todos pararam, estáticos por um breve momento, antes de começar a correr em pânico.
— O que foi isso? Um ataque? Igual ao de 23 anos atrás? — perguntavam as pessoas, seus murmúrios abafados por gritos e pelo som apressado de pés fugindo para longe.
— Tá perto da minha casa... PAPAI! — Eldo gritou, disparando em direção ao clarão com o coração acelerado.
Aragon se levantava com dificuldade e vai caminhando até a outra espada que havia sido arremessada por Maltor.
— Ai... — murmurou ele, estalando as costas com uma careta de dor. — Acho que já não tenho mais idade para isso.
— Concordo com você Aragon. Se estivéssemos em seus melhores dias, eu já estaria morto. Mas devo parabenizá-lo... conseguiu me deixar neste estado — respondeu Maltor, ofegante, mas vivo. Seu corpo estava coberto de feridas, a roupa despedaçada e a espada firmemente empunhada em sua mão.
Aragon observou, surpreso, o ruivo ainda de pé, mesmo após receber um golpe direto de sua técnica mais poderosa. Uma sombra de um sorriso brincou em seus lábios.
— Pode vir, Maltor. Vou deixar você saborear uma falsa sensação de vitória antes do fim. — Ele assumiu uma posição de combate.
Mas antes que a batalha recomeçasse, uma voz interrompeu:
— Pai...? — Eldo surgiu ao longe, hesitante, tentando entender o que via. Ao reconhecer o pai, seus olhos se arregalaram. — O que foi isso? Que explosão foi aquela?
Maltor riu, uma risada amarga e cheia de cinismo.
— Então ele é o seu filho? Escarlet me pediu para matá-lo. Vamos acabar com isso de uma vez! MORRA! — gritou blefando, arremetendo com sua espada em direção a Eldo.
Num ímpeto de proteção, Aragon avançou, colocando-se entre seu filho e o ataque mortal. A lâmina de Maltor o atingiu com violência, abrindo um corte profundo em suas costas. Um grito de dor irrompeu de seus lábios, e ele caiu ao chão com estrondo, suas espadas rolando para longe.
— Eu sabia que você protegeria seu filho. Nesse ponto, somos iguais. Levanta. Sei que você não vai morrer por algo tão insignificante. — Maltor sorriu de forma cruel.
O tempo parecia congelar. Aragon permanecia imóvel. Até mesmo Maltor demonstrava incredulidade ao perceber que seu adversário estava morto.
Eldo, por sua vez, olhou para o pai caído. Seus olhos tremiam, o corpo se recusava a reagir. O choque o atingiu como uma tempestade.
— Pai! Pai! O que está acontecendo?! — gritou, suas mãos tentando sacudir o corpo inerte, como se buscasse alguma resposta. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Maltor assistia à cena em silêncio, ainda processando o fato de que Aragon, o guerreiro lendário, estava morto. Mas foi então que percebeu algo novo: Eldo levantou o olhar, agora dominado por uma fúria devastadora, uma sede de vingança que emanava dele como uma onda opressora.
Eldo pegou uma das espadas do pai e avançou contra o ruivo. Num golpe desesperado cortou sua própria mão, e ele lançou o sangue no rosto de Maltor, cegando-o momentaneamente. Surpreso, Maltor levantou um braço para se defender, mas isso deu a Eldo a brecha para desferir um golpe na cintura do adversário, empurrando-o para trás.
De repente, uma aura branca começou a emanar do jovem, brilhando intensamente. Maltor recuou, surpreso, enquanto Eldo desferia ataques rápidos e precisos. No entanto, a falta de domínio sobre o ken tornou seus golpes ineficazes contra um oponente tão poderoso.
Maltor encontrou uma abertura e o derrubou com uma cotovelada na nuca. Eldo, sem desistir, jogou terra nos olhos do inimigo que o cegou, e ele acertou a lâmina da espada no pescoço de seu oponente. Contudo, antes de finalizar o golpe, Maltor reagiu rapidamente, parando a sua mão antes dele terminar de cortar o seu pescoço.
— Você tem potencial garoto. Mas isso ainda é pouco para me derrotar. — Ele tirou as mãos de Eldo da espada, e viu que onde o jovem fez o corte já estava cicatrizado. — Ah, então herdou a regeneração da sua mãe. Isso será interessante.
Com um golpe brutal, Maltor quebrou as pernas de Eldo, deixando-o caído, gritando de dor. Ele retirou a espada do pescoço, e jogou na direção do jovem. Antes de desaparecer em um piscar de olhos, ele lançou um desafio:
— Quando conseguir quebrar o chão com um soco, venha me procurar. Até lá, continue sonhando com sua vingança — diz Maltor desaparecendo.
— Covarde! Volte aqui, eu ainda não terminei! Estou vivo, não deixarei você fugir! — gritou Eldo, arrastando-se. Sua voz mais alta do que o habitual assustou até as aves que estavam ao redor.
Suas pernas começaram a se curar parcialmente e ele se levantou, ignorando a dor que aquilo lhe causava. Mancando, ele apertou os dentes com força e caminhou em direção ao ponto onde viu Maltor partir. Alguns minutos depois, sua perna estava completamente curada. Ele começou a correr, determinado a continuar a luta e obter vingança.
— Eldo, pare! — gritou Aragon. Ao ouvir a voz do pai, o jovem parou. Olhou para o corpo ensanguentado de seu pai e, ao ver os olhos ainda abertos, uma esperança surgiu, acalmando-o um pouco.
— Pai! — gritou Eldo, correndo na direção de Aragon — Pai! Graças a Deus você está vivo. Será que eu consigo te salvar? Vou chamar uma ambulância — disse Eldo, começando a se levantar.
— Não, Eldo! Me escute, confie em mim. Não fique triste, não se agite. Calma, vai ficar tudo bem. Pegue as espadas e leve para a loja Saitselec. Procure Koguita e conte o que aconteceu — disse Aragon, respirando fundo e tossindo.
— Pai, não force. Eu vou... Eu vou... — disse Eldo, colocando a mão no torso do pai, sem saber o que fazer.
Com suas últimas forças, Aragon segurou as mãos de Eldo e olhou para ele com um sorriso caloroso.
— Você confia em mim, filho? — Eldo respondeu que sim, engolindo em seco. — Ótimo, agora você vai passar por algo que eu tentei evitar. Me desculpe por falhar com você, filho.
Eldo tentou encontrar palavras para falar com seu pai, mas nada saiu. Apenas lágrimas começaram a surgir em seus olhos. Aragon levantou os braços novamente, desta vez para enxugar as lágrimas do filho.
— Não chore, filho. Vai ficar tudo bem. Só vou te pedir que não me enterre, tá bom? Eu te amo — disse Aragon com um sorriso caloroso. Sua mão caiu de repente, e seus olhos mostravam que não havia mais vida ali. Eldo, ao ver a cena, começou a chorar ainda mais. Ele se deitou sobre o corpo falecido de seu pai e soltou um grito agonizante, acompanhado de mais lágrimas.
— Paaaaaaaaaaai! Nãaaaaaaaaaaaao!
Ele permaneceu assim por alguns minutos, até se lembrar do último pedido de seu pai, para não enterrá-lo. Sem saber o que fazer, Eldo obedeceu. Pegou as duas espadas e as prendeu entre sua blusa e bermuda. Levou o corpo do pai até um amontoado de pedras, escondendo-o com alguns galhos de árvore.
Eldo não compreendia o que seu pai quis dizer com aquele pedido. Sua mente estava confusa demais para processar qualquer coisa no momento. Apenas desejava que ninguém encontrasse o corpo e que o que quer que fosse acontecer, acontecesse logo. Com os olhos inchados de tanto chorar e o nariz fungando, Eldo voltou para casa, determinado a encontrar aquele ruivo e fazê-lo pagar pelo que fez.
Continua..
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