Capítulo 8 - O Reino do Sol
Alice tentou balbuciar um “obrigado”, mas sua voz não saiu. Tampouco Keith esperou que respondesse alguma coisa. Antes mesmo que pudesse notar, ele já havia saído do cômodo deixando instruções para ela e para a gata branca, Sophie.
De acordo com ele, Sophie deveria levar ela para casa, mas no dia seguinte Alice teria que estar ali um pouco mais cedo para que lhe fosse apresentada a residência dos CATS e algumas outras coisas.
Sendo assim, a gata branca levou Alice de volta para casa em segurança, mesmo que já tivesse anoitecido. E foi bem a tempo, pouco antes dos pais dela chegarem.
Não houve muito tempo para fazer perguntas enquanto corriam de volta para a casa de Alice, então quando foi se deitar para dormir sua mente ficou zunindo inquieta, impedindo que fechasse os olhos e relaxasse.
Seria tudo aquilo apenas um sonho maluco? Como gatos eram capazes de se transformar em humanos e vice-versa? E que história era aquela sobre uma Sociedade Secreta que tinha sede no antigo casarão Katzen?
Isso tudo parecia história saída de filmes ou livros. Não tinha como ser real. Entretanto, no dia seguinte, teria que voltar lá para conhecer o lugar por dentro, conhecer seus outros moradores e talvez, só talvez, descobrir que nada daquilo era invenção da sua cabeça.
🐾
— Então... Sophie, não é? – Alice estava novamente no casarão Katzen, na companhia da gata branca, que apresentaria o local a ela.
— Sim, miaaau. – Mesmo em forma humana, Sophie ainda tinha manias de gato, como miar e ronronar.
— Está bem. Vamos começar por onde? Temos o dia todo!
— Que tal começar pelo café da manhã? Seu estômago não para de fazer barulho.
— Ah...! Obrigada.
Seguiram para a sala de café da manhã e embora Alice acreditasse que iriam servi-la ração em potes de gato, havia uma mesa muito bem arrumada. Era simples, com uma toalha branca, poucas frutas, torrada, geleias e margarina.
Aparentemente, também havia café, leite e chá. Parecia tudo muito gostoso. Ofereceram a ela uma caneca de porcelana e Sophie sentou ao seu lado. Alguns outros membros, três garotas e dois garotos, se uniram a elas para tomar café da manhã.
Alice preferiu o café com leite e as torradas com margarina. Sophie tomou o leite puro, nem açúcar colocou, e passou geleia numa fatia de torrada.
— Hum... Está muito gostoso. Obrigada pela comida. – Alice sorriu, tentando parecer simpática, mas ao mesmo tempo notou os outros membros do grupo encarando-a enquanto bebiam o leite de suas canecas de uma maneira muito engraçada. Lambiam o líquido feito gatos, mesmo que estivessem em forma humana.
— Não ligue para eles, Alice. Alguns de nós ainda não aprenderam a se comportar totalmente como humanos. – Disse Sophie ao perceber o olhar de Alice para os outros. — São muito novos nessa coisa de transformação. Mal falam direito.
— Tudo bem. Não tem problema. – E forçou um sorriso mais animado. — Quando vamos poder começar a “excursão”?
— Assim que terminar de comer. – Sophie sorriu e lambeu uma gota que escorria de sua caneca.
— Já terminei. – E empurrou a caneca mais para o centro da mesa.
— Você se alimenta rápido! – Sophie arregalou um pouco os olhos, mas deixou seu leite de lado e se levantou da cadeira. — Podemos ir, então.
— Certo! – Alice levantou-se de súbito e acabou derrubando sua cadeira ao fazer isso. Com o barulho, os demais soltaram um ruído estranho, como o sibilar de uma cobra, e pularam de seus lugares. — Desculpa! Foi sem querer.
— Acalmem-se! Ela não fez por mal! Não é uma ameaça! – Sophie ficou à frente dela enquanto os cinco humanos-gatos rosnavam para ela. Quando finalmente se acalmaram as duas puderam sair dali e iniciar o tour pelo casarão Katzen.
Sophie a guiou até um corredor extenso, onde no fim encontrava-se algo parecido com um elevador. Alice sentiu-se confusa. Aquilo não poderia ser um elevador, certo? O casarão não era tão grande assim. Eram só três ou quatro andares.
— Entre, Alice. – Sophie apertou um botão e a porta de alumínio prata se abriu. De fato, era um elevador.
— Como instalaram essa coisa aqui? Por que vocês têm um elevador? – A garota relutou um pouco em entrar, mas Sophie a empurrou gentilmente enquanto respondia.
— Você vai descobrir logo. Não se preocupe tanto. – E sorriu.
As portas se fecharam sem fazer barulho, Sophie digitou alguns números no painel: 311082.
— Para que tantos números?
Assim que Alice terminou a pergunta o elevador deu um solavanco e chacoalhou como se estivesse caindo. A garota gritou e tentou se agarrar em qualquer coisa que estivesse por perto e, no caso, a coisa foi Sophie.
— Ai! Fique calma! – A gata branca resmungou enquanto a empurrava de leve.
— Está caindo! Essa coisa vai cair! – Alice ainda gritava, em pânico.
— Não vai cair. – Sophie soltou um suspiro e as portas do elevador tornaram a se abrir no mesmo instante. — Pronto. Chegamos.
— Chegamos? – As mãos dela ainda tremiam pelo susto. — Como assim?!?
— Venha.
Sophie saiu do elevador direto para um corredor de paredes cor de creme e com chão forrado por tapete vermelho. O corredor era adornado com plantas e quadros de pessoas estranhas. Geralmente mulheres, sempre acompanhadas de gatos.
— O quê?!? – O coração de Alice tornou a disparar assim que pisou no tapete e olhou ao redor. — Onde estão as paredes de madeira velha? A poeira? O assoalho sujo e quebradiço?
Parecia que haviam saído em outro tipo de estabelecimento. Talvez uma mansão. E quem eram aquelas pessoas dos quadros? Como haviam chegado ali? Seria apenas outro andar do casarão Katzen? Não parecia o mesmo lugar.
— Esta é a sede real dos CATS. Não moramos naquele muquifo mofado. – Agora Sophie parecia mais à vontade, mais animada.
— Meu Deus...! – Alice não sabia para que lado olhar. Até lustres bonitos e caros enfeitavam o teto. Espiou por uma das janelas e perdeu o fôlego ao ver um lindo jardim florido, com pássaros, borboletas e grama bem verde brilhando à luz do sol.
— Deve estar se perguntando como isso é possível. Muito bem, é possível com magia. A magia do amuleto nos traz para cá. – Sophie explicou. — Gostamos de chamar aqui de Reino do Sol. Nós gatos não gostamos de frio, então aqui nunca é outono ou inverno. E como não gostamos de chuva, aqui também nunca é verão. É sempre primavera.
— Isso é... inacreditável! É incrível! Fantástico! – Sorria como boba.
— E aqui... – Uma nova voz se juntou à conversa. Uma voz masculina. — o tempo não corre da mesma maneira que do outro lado do elevador.
Alice reconheceu a voz imediatamente e um arrepio estranho correu sua coluna. Queria se virar para encará-lo, mas ficou parada no lugar. Preferia a companhia de Sophie, que era mais gentil e animada. Teve sorte de ser ela a sua guia.
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