Capítulo 28 - A Revelação

Alice sentiu seu mundo desabar outra vez. Primeiro seus pais e agora Liza. Não havia tido tempo para nada. Assim que Félix, o gato informante, terminou de falar, ela soltou os ombros dele e correu até a porta.

— Ela ainda está lá? Você a deixou lá? – Alice gritou com a porta entreaberta.

— S-Sim. Eu não podia voltar com ela sozinho. Ainda mais naquele estado. – Félix se encolheu, com medo de que ela pulasse em cima dele de novo. — Eu sinto muito.

— Eu vou até lá! Não tentem me impedir! – Ela disparou pela porta, após lançar um olhar irritado para cada um dos líderes.

O medalhão já havia sido dividido outra vez, para que os CATS pudessem continuar humanos mesmo fora do casarão e de Fortry. Alice já havia absorvido parte dos poderes do amuleto, então não fazia sentido que continuasse usando-o.

Ela correu o mais rápido que conseguiu, mesmo que seus pulmões gritassem por uma pausa, e mal percebeu que Keith e Sophie a seguiram.

Quando chegou na casa dela, notou que estava cercada pela polícia e que Liza estava sendo colocada numa maca naquele exato instante, para fazer um passeio de ambulância. Só que ela jamais sairia do hospital outra vez. Não havia medicina humana capaz de curá-la.

Bem quando um grito ia escapar de sua garganta e suas pernas começaram a guiá-la até a confusão toda, Keith a agarrou por trás, tapando sua boca com a mão e a arrastando para um local escondido.

Seu esconderijo era atrás de uma cerca viva que circundava o quintal do vizinho mais próximo dos Riedel, que por sorte estava viajando. Ele só a deixou se soltar quando prometeu que não iria sair correndo.

— Alice, preste atenção. Seus pais sumiram e sua melhor amiga está paralisada de uma maneira que ninguém vai conseguir explicar. – Keith segurou o rosto dela e a encarou fixamente. — Você está desaparecida também e vem faltando com frequência ao colégio. Agora me diga, quem acha que será a principal suspeita?

— Eu. – Os olhos dela se encheram de lágrimas conforme ia compreendendo o que estava acontecendo.

— Exatamente. Você precisa voltar conosco ao casarão e se abrigar lá até que possamos bolar um plano para resolver tudo isso. Você entendeu?

— Sim.

— Ótimo. Vamos voltar.

🐾

Alice chorou por algumas horas e nos dias que se seguiram estava tão sentimental que chorava por quase tudo, mas sempre sem ninguém saber. Passou a viver com os CATS no casarão e cada vez que saía de lá, se disfarçava para não ser reconhecida.

Os noticiários berravam sobre o Caso Riedel e os programas sensacionalistas faziam tudo parecer ainda pior do que era. Duas semanas já haviam passado e Liza continuava internada na UTI do hospital da cidade, mas sem qualquer progresso.

Os líderes da sociedade passaram as últimas semanas bolando planos para capturar o Hunter que vinha fazendo tudo isso, porque talvez assim conseguissem a localização da sede oficial, onde era guardado o Cetro de Andrakar.

Alice já estava cansada de esperar tanto e nunca fazer nada, mas Keith continuava insistindo para que esperasse.

Essa situação toda fez com que tomasse uma decisão idiota naquela noite, e sem avisar ninguém, saiu para visitar Liza secretamente no hospital. Para isso, levou consigo um livro de feitiços que encontrou na biblioteca dos CATS. Sua intenção era usar um feitiço de teletransporte ou de invisibilidade.

Estava no estacionamento do hospital mais chique da cidade, ao lado de um carro preto muito bonito e que provavelmente custava mais que sua casa. Abriu o livro de feitiços e encontrou o que desejava, mas ao tentar executar não deu muito certo.

Então não conseguiria se teletransportar. Maravilha. Agora o máximo que conseguiria era ficar invisível. Por sorte, esse feitiço funcionou e assim entrou no hospital, passou pela recepção e seguiu um enfermeiro até a ala da UTI, mas não encontrou Liza por lá.

Alice foi obrigada a parar e pensar um pouco. Se ela não estava na UTI, para onde poderia ter ido? Enquanto pensava, ouviu dois médicos conversando entre si e aparentemente falavam sobre um caso muito difícil de ser resolvido.

— A garota simplesmente não reage a nada, mas também não está regredindo. É um caso muito delicado. – O mais velho falava e ajeitava os óculos sobre o enorme nariz rosado.

— Já conversou com os pais dela? Sobre termos colocado ela no quarto? – O mais jovem questionou, enquanto mexia nas folhas de algum prontuário.

— Sim. Eles protestaram por um tempo, mas acabaram aceitando. A mulher está a base de calmantes.

— E os jornalistas? Conseguiram tirar eles da entrada?

— Chamamos a polícia e eles se dispersaram, mas é uma questão de tempo até aparecerem outra vez.

Então uma luz vermelha começou a piscar e os dois saíram apressados, após um anúncio no microfone lá fora. Alice sabia que não tinha muito tempo, então seguiu rapidamente em busca dos pais de Liza, para que pudesse identificar o quarto onde a amiga estava.

Não estavam na recepção, então seguiu até a lanchonete e os encontrou lá. O Senhor Martin tentava fazer sua esposa comer alguma coisa e ambos estavam com aspectos horríveis. Alice sentiu-se péssima e teve vontade de dizer alguma coisa, mas se deteve. Sabia que não podia.

Espiou a pulseira que a Senhora Martin usava e viu o número do quarto: 204, quinto andar. Seguiu até lá pelas escadas e chegou quase sem ar. Esperou um enfermeiro entrar e o seguiu, por sorte não demorou mais que dez minutos.

Assim que o homem saiu, ela se aproximou de Liza e tocou sua mão. Pediu internamente para que ela reagisse e voltasse a se mexer, mas sabia que isso não iria acontecer. Não enquanto não achasse o Cetro de Andrakar, que estava em poder dos Hunters.

Deixou a sala quando os pais dela entraram e desceu novamente, seguindo para o estacionamento. Não aguentava mais esperar. Tinha que fazer alguma coisa! O efeito do feitiço passou e com ele uma voz sinistra e conhecida a chamou das sombras.

— Alice Riedel, enfim nos encontramos outra vez.

E de onde antes havia apenas carros e motos estacionados em meio às sombras produzidas pela cobertura do estacionamento, surgiu uma figura vestida totalmente de preto e com uma máscara.

Uma máscara de lobo.

Alice queria atacar, usar seu pior feitiço para matá-lo imediatamente, mas se fizesse isso nunca mais acharia o Cetro. Precisava entrar no jogo dele.

— Estava ansiosa para vê-lo de novo. – E sem perceber, deu alguns passos para trás.

— Fico feliz em saber disso. Eu avisei que se não se afastasse dos CATS nós atacaríamos sua amiga. – Ele parecia se divertir com isso. — A culpa foi toda sua.

— O que vocês fazem é cruel. Vocês são uns monstros. – Ela cerrou os punhos, tentando manter a calma. — Se eu me afastasse agora... teria como reverter o quadro?

— Mas é claro que sim. – O sorriso dele se ampliou. — Só que agora é tarde. Nós queremos você.

O corpo dela se tencionou e conseguia sentir o suor escorrendo pelas costas. De repente, um alerta de perigo berrava e se mostrava em letras garrafais na mente dela.

— Todos vocês se escondem atrás de máscaras? – Alice disparou a pergunta em meio ao desespero.

— Está curiosa para saber quem eu sou por trás da máscara? A pobre Christine Daae se arrependeu de sua curiosidade perante o verdadeiro rosto do Fantasma!¹

— Então você é feio, Blaidd? – Ela não estava conseguindo controlar a própria língua, mesmo que suas pernas estivessem bambas de medo.

— Você quer mesmo saber?

Alice assentiu, pensando consigo que deveria sair correndo dali o quanto antes ou lançar um feitiço para que tivesse tempo de fugir, mas por algum motivo não conseguia fazer isso. Estaria ela também paralisada? No instante em que o rapaz tirou a máscara, o choque foi tão grande que quando o ataque veio ela nem notou.

Parado à sua frente estava ninguém mais ninguém menos que Lucian Hunter.

🐾

¹Referência à obra “O Fantasma da Ópera”, de Gastón Leurox.

Esse capítulo ficou um pouco longo, mas espero que tenham gostado! Eu estava ansiosa para revelar isso a vocês!

Alguém já havia suspeitado?

Lambeijos dos CATS 😻😽😽

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