Capítulo 20 - Aniversário Esquecido

Alice dormiu como um anjo. Poderia reclamar do que fosse, mas as camas do casarão Katzen eram muito confortáveis. Pelo menos as do lado mágico eram....

Dormiu da hora que entrou no quarto, por volta das quatro da manhã, até as quatro da tarde, e só acordou porque alguém veio obrigá-la a se levantar para tomar o café da tarde.

— Mais cinco minutos... – Resmungou empurrando a pessoa que veio acordá-la, ou pelo menos achou que fosse uma pessoa.

Acorde logo, miau!!

E sentiu uma coisa áspera e molhada passar por sua bochecha. Quando abriu os olhos, levou um susto tão grande que quase pulou da cama.

Na sua frente estava um gato preto de olhos verdes, encarando-a.

— Por que veio me acordar na forma de gato?!? – Alice sentou-se na cama e esfregou os olhos.

— Achei que não gostaria que eu entrasse no seu quarto em forma humana enquanto estava dormindo. – Keith lambeu uma de suas patas dianteiras sem dar muita importância à irritação dela, como sempre fazia.

— E você achou melhor pular na minha cama e lamber a minha cara como um gato? – Ela estava tão indignada, que não conseguiu evitar rir da situação.

— Por que está perguntando? A resposta não é óbvia? Não foi exatamente o que eu fiz? – O gato a encarou como se a achasse uma completa idiota.

— Esqueça. – Alice negou com a cabeça e desceu da cama, foi até o banheiro lavar o rosto para afastar a preguiça e depois seguiu com Keith para a sala de jantar.

Havia poucos membros da sociedade à mesa naquela tarde, aparentemente se recusaram a comparecer por não aceitarem a presença dela ali. Alice sentiu-se um pouco chateada quando Tom contou isso a ela sem rodeios, e passou o restante da refeição tentando não falar nada.

Mas só tentou mesmo, porque não conseguiu de fato ficar mais que dez minutos em silêncio.

— Então vocês não têm uma rotina certa para comer? Cada um come quando tem vontade?

— Sim. – Sophie respondeu bebericando o leite de sua tigela. Estavam todos em suas formas humanas.

— E quem cozinha para vocês? Alguns de vocês ainda comem ração?

— Chega! Que garota irritante! – Alina bateu com as mãos na mesa e se retirou em forma felina.

— Desculpa. Não queria incomodar. – Alice baixou a cabeça e voltou a comer.

— Não se preocupe. Ela ficou brava porque até pouco tempo atrás ainda comia ração de gato escondida. – Sophie contou em tom de segredo. — Não diga a ela que te contei!

— Não vou dizer. – Alice concentrou sua mente em apenas terminar o café da tarde e assim que terminou, pediu licença para se retirar.

Imaginou que seguiria sozinha para o quarto designado a ela no casarão, mas Sophie a seguiu em sua forma felina, que era extremamente ágil e muito, muito mesmo, fofa.

— Por que veio atrás de mim?

— Keith me incumbiu de ficar de olho em você agora que ganhou seus superpoderes. – A gata branca abanava o rabo de lá para cá em movimentos rítmicos.

— Ah. Claro. – E revirou os olhos, descontente. — Está com medo de eu acabar destruindo o casarão.

— Não acho que seja só isso.

— Tenho certeza que é.

Alice e Sophie chegaram ao quarto da garota, entraram juntas e se instalaram na cama. Ficaram conversando por um longo tempo. Enquanto a gata contava suas experiências no mundo oculto da magia, Alice lhe explicava todas as coisas incríveis que existiam no mundo sem magia.

As duas finalmente ficaram com sono e adormeceram juntas, sob a luz do luar que provinha da janela. O luar que iluminava suas mentes e corações para os novos desafios que viriam a seguir.

🐾

— Está errado. Faça de novo. – Keith repetiu pela centésima vez.

Alice havia acordado muito cedo na manhã seguinte e mesmo que fosse seu aniversário, ninguém ali parecia se importar com isso. Exceto Sophie, que até lhe desejou os parabéns.

Ela estava muito chateada pelo fato de que ninguém, além de seus pais, terem notado seu sumiço nos últimos dois dias. É claro que havia dito aos pais que estava na casa de Liza e inventado uma mentirinha sobre uma festa surpresa lá, mas a verdade é que a amiga não havia mandado mensagem nenhuma e muito menos procurou saber onde e como ela estava.

Isso a deixou triste e ao mesmo tempo intrigada. Liza nunca havia esquecido o aniversário dela antes. Alice colocou a culpa disso no namoro dela com o idiota do Lucian. Com certeza ele estava manipulando sua melhor amiga para que a deixasse de lado.

E o pior era que Liza estava caindo nessa.

— Mais concentração, Alice! – Keith elevou a voz com ela, o que a fez se encolher de susto.

— Sinto muito.

A verdade é que não estava mais aguentando treinar. Tinham feito uma pausa apenas para tomar café da manhã e já estava na hora do almoço. Seu estômago roncava de fome e seu coração não parava de pensar em como Liza a havia esquecido.

— Vamos terminar até às seis da tarde? Prometi aos meus pais que voltaria para casa esse horário. – Ela perguntou ao perceber que Keith não demonstrava sinais de que cessaria tão cedo.

— Não se preocupe, assim que acertar o exercício pararemos por hoje.

— Argh! Vou ficar aqui até meia noite! – Resmungou caindo de joelhos.

Keith queria que ela retirasse a água de um copo e colocasse em outro usando seus novos poderes. Para isso tinha que usar um feitiço composto por duas palavras: Aquam Mobiles.

— Você sabe o que precisa fazer! É só se concentrar! – Keith chegou mais perto dela e a encarou de braços cruzados.

— Eu sei, mas não consigo me concentrar!

— Por quê?

— Primeiro, porque você fica aí me encarando parecendo torcer para eu falhar. Segundo, porque estou chateada e preocupada com minha melhor amiga, que esqueceu do dia do meu aniversário pela primeira vez na vida. E terceiro, porque há toda uma pressão em cima de mim agora de que se eu falhar posso acabar morrendo ou sei lá! Está bom ou quer mais?

— Vamos fazer uma pausa para o almoço. – Foi tudo o que ele falou antes de sair, pensativo.

Alice almoçou o mais lentamente que sua fome permitiu, não queria voltar a treinar tão cedo. Então, quando Keith a chamou, não pôde deixar de demonstrar decepção. Quando ele sumiu no almoço ela pensou que não voltaria tão cedo e que estaria livre, mas se enganou.

E se enganou completamente.

Keith não a levou até a sala de treinamento, pelo contrário, levou-a até o salão de reuniões e quando entraram a garota teve uma surpresa incrível.

O salão estava decorado com uma temática de flores e plantas douradas, amarelas, rosas e alaranjadas. Estava extremamente bonito, mesmo que a decoração fosse simples. Havia uma mesa cheia de doces e um bolo de três andares com o nome dela escrito no do meio.

Alguns dos membros da sociedade vagavam pelo salão em suas formas humanas e dançavam ao som das músicas escolhidas por Alina, que estava ao lado do rádio como se fosse uma DJ. Sophie veio pulando até ela com uma caixinha toda embrulhada e cheia de fitas.

Alice pediu mentalmente para que não fosse algum bicho morto. Alina, Tom e Keith, de alguma forma, também arrumaram presentes para ela.

— Quando vocês planejaram tudo isso?

— Foi quase agora, no almoço. Foi ideia do Kei... – Tom foi interrompido por uma cotovelada nada discreta de Keith, que completou a fala sem cerimônias.

— Da Sophie! Ela quem resolveu tudo usando magia. – E deu de ombros como se não se importasse muito. — Os presentes nós pegamos pelo casarão mesmo. Não é nada demais.

— Obrigada! De verdade! – Alice sentiu os olhos lacrimejarem e abraçou cada um deles, menos Alina, que não aceitou o abraço.

Ela comeu doces como uma criança, dançou como se ninguém estivesse olhando e ao final da festa, ao cortar o bolo, foi ordenado que fizesse um pedido... ela só não pensou que ele seria concedido por mágica.

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