Capítulo 17 - O Altar de Nyx
De volta ao casarão, após sua pequena aventura dentro de um livro mágico, Alice começou a refletir sobre toda essa história. Era incrível, obviamente, tanto quanto assustadora.
Humanos geralmente são ignorantes, mas ela havia aceitado essa ideia de magia muito facilmente. Surpreendeu os CATS e até ela mesma. Sua afinidade com o estranho era algo raro.
— Esse livro é incrível! A biblioteca de vocês é maravilhosa! Todos os livros podem mesmo nos transportar para suas páginas? – Alice disparou tantas palavras que Keith sentiu-se um pouco zonzo.
— Fale devagar. Não gosto quando começa a tagarelar feito um papagaio. – E estreitou os olhos tomando o livro das mãos dela. — Eu já falei que todos os livros daqui são encantados. Você devia prestar mais atenção.
— E você deveria tentar ser mais agradável. – Retrucou fechando sua expressão e cruzando os braços em frente ao corpo.
— Você já ganhou sua historinha de dormir, agora volte para o quarto e durma.
Com isso saiu andando em direção à porta esperando que a garota o seguisse, mas no meio do caminho quase foi atingido por um dos valiosos livros, desviando bem em cima da hora e segurando-o no ar. Virou-se para Alice com um olhar cortante.
— O que pensa que está fazendo? Tem alguma noção do quanto esses livros são valiosos?
— Eu não sou uma criança, Keith. Não me trate como se fosse. – Alice passou por ele marchando e bateu com o ombro no dele antes de sair pela porta, desaparecendo pelos corredores do casarão.
Keith se transformou novamente em gato, após colocar o livro-projétil de volta no lugar, depois saiu andando pelo casarão procurando por Sophie. Havia cansado de vigiar a garota por hoje, então passaria a tarefa para outro e ela seria a mais confiável dentre os outros três líderes.
Alice estava tão irritada que não mediu suas ações antes de fazê-las e agora estava perdida no casarão, sem saber para que lado ir ou em que porta entrar. Lembrava perfeitamente do Tour que Keith havia feito com ela e que alguns daqueles cômodos poderiam matá-la, portanto não queria arriscar sua vida usando o chute para escolher uma porta.
Esforçou-se muito para tentar recordar a frase mágica que a faria enxergar as letras escondidas nas plaquinhas de ouro das portas, mas sua memória algumas vezes a traía e não conseguia lembrar nada direito.
Experimentou parar um pouco de andar desgovernadamente, fechou os olhos e respirou profundamente. Precisava se acalmar se quisesse voltar a pensar racionalmente. Começou a fazer um flashback mental e em algum momento pôde ouvir as palavras que estava tentando tanto lembrar.
— No ouro entalhada, a verdade deve ser revelada.
Quando tornou a abrir os olhos, as plaquinhas de ouro brilharam e letras iluminadas surgiram sobre a superfície dourada. Agora seria capaz de encontrar um quarto, mesmo que não fosse o dela. Qualquer um que pelo menos parecesse seguro.
Tudo que tinha que fazer agora era encontrar um cômodo que não fosse mortal ou estranho.
Voltou a seguir pelos corredores e estranhamente não encontrou ninguém por eles. Talvez estivessem miando para a lua ou algo do tipo. Riu consigo mesma até avistar uma luz estranha. Esta brilhava mais do que as outras, por isso chamava a atenção.
Alice se aproximou da porta devagar e foi obrigada a cobrir um pouco a vista, mas mesmo assim conseguiu ler o que a plaquinha dizia: Altar de Nyx. Esse era o único cômodo que Keith não havia mostrado para ela.
Sabia que não deveria entrar em lugar algum sem autorização de um dos líderes, mas algo dentro dela a impelia a prosseguir. Seus dedos tocaram a maçaneta e uma sensação estranha correu por todo o seu corpo. Era como uma onda de energia invisível.
Aguardou alguns segundos, esperando que Keith ou qualquer outro dos CATS aparecesse para impedi-la, mas nada aconteceu. Ninguém apareceu. E sua vontade de entrar naquele cômodo aumentava a cada segundo, era como se ele a chamasse.
Girou a maçaneta e se preparou para o que quer que encontrasse lá dentro.
Jamais imaginou que por trás daquele suposto cômodo proibido houvesse apenas um velho altar abandonado, que lembrava mais uma cripta do que um lugar para honrar e homenagear alguém. Sentiu-se um pouco decepcionada, mas mesmo assim seguiu em frente.
Não havia qualquer janela nas paredes, mas o teto possuía uma cúpula de vidro logo acima de uma mesa de pedra branca. Toda a luz do lugar provinha lá de fora, da bonita lua cheia que iluminava o céu noturno.
Alice caminhou até que estivesse sendo banhada também pela luz e isso pareceu acalmá-la. Fechou os olhos e deixou que sua pele sentisse o brilho lunar. Seu coração só voltou a acelerar quando uma voz feminina ganhou seus ouvidos. Abriu os olhos de repente, tentando identificar de onde vinha o canto que estava ouvindo, mas não encontrou ninguém ali.
"Filhos e Filhas da noite terrena,
Ouçam minha canção serena
E sigam meu canto para ouvir o aviso
A garota humana corre perigo."
A voz era tão suave e bonita que Alice sentiu-se enfeitiçada e seu corpo começou a balançar de um lado para o outro, como um pêndulo. A mulher, ou seja lá quem fosse a dona daquela voz, continuava a cantar.
"Os poderes dela iniciaram seu despertar
E os Hunters já começaram a caçar.
Vocês precisam se revelar
E toda a verdade, para ela, explicar."
Quando a voz parou de cantar, Alice voltou ao normal, mas agora a mesma voz estava perguntando se ela era um dos membros e porque os líderes não haviam atendido ao seu chamado. Ela não sabia o que fazer, não sabia nem para que lado olhar. Com quem estaria conversando?
— Quem é você? Apareça! – Sua voz vacilou por um instante, mas não mais que suas pernas.
— Eu sou Nyx, a deusa da noite. Onde estão Keith, Alina, Sophie e Tom?
A luz da lua brilhou ainda mais forte e Alice foi obrigada a cobrir os olhos. Quando voltou a olhar para o cômodo, uma mulher alta e esguia, com a pele tão branca quanto o leite e os cabelos tão escuros quanto o ébano, estava parada logo na sua frente. Os olhos negros como jabuticabas a analisavam, e, de repente, se arregalaram, surpresos.
— É você. Alice Riedel, não é?
— Como sabe meu nome?
— Sou uma deusa, acha mesmo que não sei quem é você? – A mulher a encarou por alguns instantes, mas tudo que Alice conseguia notar era os cabelos ondulados e longos dela. Ela queria ter cabelos lindos assim. — Pode responder às minhas perguntas, mocinha?
— Ah! Sim, é claro. – Alice limpou a garganta antes de responder. — Não sei onde estão os líderes, e sim, sou Alice Riedel.
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