Capítulo 13 - O Guardião

Naquela mesma noite Alice recebeu uma visita. Não ficou muito contente por ser acordada no meio da noite por um gato preto arranhando o vidro de sua janela, mas acabou levantando da cama e abrindo para ele entrar.

— O que você quer? Não tinha nada no nosso acordo dizendo que viria me acordar no meio da noite. – Alice resmungou enquanto esfregava os olhos, sonolenta. Estava em pé ao lado da janela, de frente para Keith.

— Você está em perigo e eu vim te alertar. – Disse em seu habitual tom de indiferença.

— Perigo? Como assim? Que tipo de perigo? – Alice não pôde deixar de demonstrar um pouco de pânico.

— Numa escala de zero à dez, por enquanto seu nível de perigo é 4, ou seja, está próximo, mas ainda não sabem de nada. – Keith tentou explicar da melhor maneira possível, mas sem revelar a verdade totalmente.

— Esse tal perigo são aqueles humanos que caçam vocês? Aqueles dos quais me falou? – E arqueou a sobrancelha de modo questionador.

— Sim. Provavelmente. – Ele se destransformou nesse momento e pulou para dentro do quarto. — E por isso estou aqui.

— Ah. Tudo bem, então. Obrigada pelo aviso. Já posso voltar a dormir? – E deixou escapar um bocejo.

— Sim. E pode ficar tranquila, pois eu estarei aqui o tempo todo para vigiar seu sono. – E cruzou os braços em frente ao corpo.

— Espera aí! O quê?!? Você vai ficar aqui? – Arregalou os olhos, incrédula. — Por que não mandou a Sophie?

— Por que eu mandaria ela?

— De repente por que ela gosta de mim? Por que é uma menina como eu? – Falou como se fosse óbvio.

— Está insinuando que eu não gosto de você?

— Bem, sim! É o que você faz parecer.

— Você tira conclusões muito precipitadamente. – E mexeu nos cabelos negros, impaciente.

— Eu...! – Ela já ia retrucar quando um barulho no corredor a interrompeu.

As luzes foram acesas e alguém se aproximou do quarto dela. Abriu a maçaneta devagar e quando a porta foi empurrada para dentro, Keith se transformou em gato e pulou no colo de Alice no mesmo instante em que a luz do quarto foi acesa.

— Filha? O que é isso? Com quem estava falando? Por que está acordada essa hora? – Era o Senhor Riedel, pai de Alice. Estava de pijamas e com cara de sono.

— E-Eu... é que... esse gatinho estava na minha janela! Eu acordei por causa dele. – Nesse momento um raio cortou o céu e um trovão sacudiu a casa. A chuva forte começou a cair no mesmo instante. — Talvez ele tenha pressentido a chuva.

— É.... É o que parece. – E esfregou os olhos, sonolento. — Bom, deixe-o dormir no porão essa noite. Amanhã ele vai embora.

— Ahn... certo. – Mas Keith arranhou o braço dela de leve quando começou a andar até a porta. — Aiii!

— O que foi? – O Senhor Riedel a observou, já fora do quarto.

— Acho que ele está com medo... e quer ficar aqui no quarto. – Respondeu devagar, insegura.

— Tudo bem. Deixe-o aí, então. – E deu de ombros voltando ao próprio quarto, após fechar a porta.

Alice colocou Keith no chão, seu coração estava aos saltos. O gato preto se transformou novamente em gente e a encarou com um meio sorriso.

— Bom trabalho. Ele acreditou direitinho.

— É.

— Agora precisa convencê-lo a te deixar ficar comigo.

— Como é?!? – Sentiu o rosto corar quando sua mente decodificou a palavra de forma errada.

— Precisa convencer seus pais a deixarem você me adotar. Dessa forma poderei estar aqui e te proteger de seja lá qual for o perigo que te rodeia.

— Eles nunca vão deixar eu adotar um gato!

— Não custa nada tentar.

— Eles não vão...!

— Pelo menos tente! – Keith cruzou os braços em frente ao corpo e lançou a ela um olhar sério. Alice pareceu recuar.

— Está bem. Vou tentar. – E revirou os olhos voltando para a cama. — Você dorme onde? No tapete? Uma caixa? Na janela?

— Minha forma felina tem propriedades curativas que balanceiam as​ energias​ do seu corpo. – Disse sem mais nem menos. — E estou sentindo que precisa equilibrar suas energias.

— E o que isso quer dizer? – Alice já havia deitado e coberto o corpo até o pescoço.

— Que, dessa forma, é melhor eu dormir nos pés da sua cama, em cima do cobertor. Assim posso drenar as energias negativas que estão em você.

Que?!? Ei!!

Mas ele já havia se transformado novamente e havia pulado na cama. Deu algumas voltas, próximo aos pés dela, e então se enrolou numa bolinha de pelos que não parava de ronronar.

— Boa noite, Alice. Lembre-se de relaxar.

— Ah, claro. Boa noite, Bob.

— Bob? – O gato levantou a cabeça para olhá-la.

— Sim. Se vou adotar você, tenho que te dar um nome. – E sorriu triunfante.

— Não precisa me dar um nome! Eu tenho um nome!

— Ah, mas eu não acho que combine com você nessa forma. – E deu de ombros enquanto fitava o teto.

— Não vai me chamar de Bob. – Disse num tom sério, havia parado de ronronar.

— Hum... e que tal Roni?

— Não. Vai me chamar pelo meu nome.

Alice sentiu quando o gato se aconchegou de novo ao lado de seus pés e voltou a ronronar. O barulho no início a incomodou, mas depois foi ajudando-a a relaxar e logo pegou no sono.

Quando Sophie havia proposto a ele que deixasse Alice adotá-lo, votou contra no mesmo instante. Não queria de maneira nenhuma se afeiçoar à garota como havia feito com Morgana há tanto tempo. Não queria sofrer novamente. Não podia criar esse tipo de laço.

No fundo, bem no fundo de seu coração felino, Keith tinha muito medo de tornar-se o familiar de Alice oficialmente e de não conseguir protegê-la. Seu maior pesadelo era que descobrissem o esconderijo dos CATS e acabassem por capturar todos eles. O segundo maior pesadelo era tornar-se o guardião animal de Alice e acabar vendo-a ser capturada ou morta por um dos membros da Agência Hunter.

Sophie não precisou insistir muito. Ela facilmente convenceu o gato preto de que ele era o mais indicado para proteger a bruxinha e que os demais líderes poderiam dar conta de manter tudo da Sociedade Secreta sob controle.

Alice precisaria muito de um guardião experiente agora que seus poderes começariam a aflorar e havia caçadores de bruxas por perto....

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