Capítulo 10 - Aproximação

Keith pareceu surpreso com a pergunta. Parou de andar de repente e virou-se para encará-la.

— Por que acha que somos um casal?

— Hum... não sei ao certo. É que vocês, os líderes, são em quatro, certo?

— Sim.

— E isso me fez pensar se não eram dois casais... o Tom e a Alina, você e a Sophie.

— Hum.

Alice esperou por um longo tempo que o rapaz desse uma resposta mais elaborada, mas ele permaneceu calado. Mal sabia ela que Keith nunca havia amado ninguém após perder Morgana para os humanos cruéis.

Ele se preocupava com todos os CATS, mas não considerava isso algum tipo de amor. Era apenas sua obrigação enquanto líder. No fundo, bem no fundo, não conseguia mais arriscar amar alguém e perder essa pessoa. Não importava que tipo de relação tivesse com tal pessoa.

Os dois caminharam em silêncio por um tempo enquanto Alice se encantava cada vez mais pelo jardim, mas o sossego não durou muito. Logo a garota voltou a falar sem parar.

— Esse lugar é lindo. Foram vocês quem construíram? Digo, os CATS?

— Mais ou menos. Nós construímos tudo com a ajuda do medalhão de Nyx, que abriga a origem do poder das bruxas da Irmandade de Salém.

— Ah... uau! Deve ter dado muito trabalho!

— Nem tanto. – E deu de ombros com indiferença.

— Mas... vocês disseram que precisavam da minha ajuda, não é? E que fui escolhida na noite em que te ajudei, certo?

— Sim.

— Então... não seria justo que me dissesse de uma vez tudo o que tenho que fazer? Quer dizer, não pouparia muito o trabalho de vocês já explicar logo?

— Cada coisa acontece no seu próprio tempo. – E fez uma curta pausa. — Querer se precipitar sempre acaba dando problemas. A paciência é uma virtude.

Uma virtude que eu não tenho.” Pensou Alice, e sem querer soltou um risinho.

— Qual a graça? – Ele parou de andar, cruzou os braços em frente ao corpo e a encarou.

— N-Nada! – Respondeu depressa, querendo se livrar de seu olhar questionador.

— Hum. – E deu de ombros, voltando a caminhar.

O jardim era maior do que Alice havia imaginado. Possuía um pomar, uma horta, um campo verde e muitos canteiros floridos. Além de algumas árvores que o faziam parecer um pequeno bosque. Talvez fosse assim porque gatos gostam de escalar, correr e se esconder.

— Você já ficou preso em uma árvore? – Antes que pudesse se repreender, a pergunta escapou dos lábios dela.

— O quê? – Dessa vez Keith pareceu perder um pouco a compostura.

— E-Eu perguntei se já ficou preso em uma árvore. Como gato, sabe? – E desviou o olhar, sem coragem de encará-lo.

— Por que quer saber algo assim? Se pretende me colocar em cima de uma árvore para escapar de me acompanhar, fique sabendo que não dará certo.

— Não! Não é nada disso! – Apressou-se em dizer. — É só uma curiosidade.

Keith ficou em silêncio por um longo tempo novamente. Alice sentou-se na beirada de uma pequena fonte que jorrava água limpa e cristalina, e começou a brincar com a água sem esperar mais pela resposta dele. Talvez por isso tenha se assustado quando finalmente respondeu.

— Sim.

— Sim o quê?

— Já fiquei preso numa árvore.

— Ah. – Alice piscou algumas vezes, sem saber mais o que dizer. Não achou que ele fosse realmente responder uma pergunta tão idiota. — E como foi? Digo, por que ficou preso?

— Eu... – E engoliu em seco ao se lembrar da cena. Alice percebeu sua hesitação e por instinto tocou sua mão delicadamente.

— Não precisa dizer se não quiser.

Ele voltou o olhar para fitar o rosto dela, um vinco se formou em sua tez pálida. Seus olhos demonstravam confusão, incerteza. Alice deixou um sorriso amigável aparecer e Keith, de alguma forma, pareceu relaxar.

— Eu estava fugindo. – E apertou a mão dela de leve ao continuar. — Fugindo de alguns humanos que me viram dormindo em uma viela e acharam que seria engraçado jogar em mim um balde com óleo escaldante.

A expressão da garota mudou, tornou-se mais sombria. Ele já havia visto essa mesma expressão em outra pessoa antes, mas não queria se lembrar no momento o quanto as duas eram parecidas. Achou melhor continuar a história.

— Eu até teria tentado lutar, mas estavam armados com paus e uma gaiola de ferro. Queriam me prender também. Eu ainda não sabia me transformar em humano direito, então simplesmente corri o mais rápido que pude e acabei entrando numa floresta.

A garota permanecia quieta o tempo todo, o que era um milagre considerando que ela não parava de falar nem por um segundo, a não ser que estivesse envergonhada, assustada ou surpresa. Alice, por sua vez, considerava um milagre ele estar falando mais que duas palavras.

— Os humanos conseguiram me perseguir até a floresta, então a única solução que encontrei foi subir numa árvore. – Ele soltou um suspiro e passou a encarar o céu. — Subi o mais alto que pude e os humanos não me encontraram. O problema é que depois não consegui descer.

— E o que você fez? Alguém o ajudou?

— Fiquei preso lá em cima por três dias. Passei frio, fome e calor. Foi então que finalmente, por necessidade, aprendi a me transformar em humano. E desde então só fui aperfeiçoando minhas habilidades.

— Nossa... Eu nem sei o que dizer. Esses humanos que te perseguiram... eles são estúpidos. Por que judiar de um bichinho inocente assim? É ridículo!

Ele não pôde deixar de notar como o brilho no olhar de Alice, quando estava com raiva, era o mesmo que viu há tanto tempo. Tinha saudades dela, mas principalmente do brilho bonito que os olhos dessa pessoa assumiam quando estava fazendo algo para ajudar alguém. Era como se alimentasse sua alma ajudando os outros. Tinha uma qualidade rara.

Queria tanto poder contar a ela logo de uma vez, mas seus poderes ainda não haviam despertado e seria perigoso se soubesse antes da hora. Precisava ser paciente. Cada coisa tem seu tempo.

Em algum momento poderia finalmente contar para a garota que a relação dela com tudo isso era a de que em suas veias corria o sangue de bruxa da mesma linhagem a qual pertenceu Morgana, sua antiga mestra.

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