ᅟᅟᅟ ׄ ᮫ 𝟬𝟬, childhood butterflies 𝄒 🌅 ׂ -
Sua vida inteira sempre girou em torno do sonho de sua mãe; por isto, Amaryllis Maybank nunca soube falar sobre si mesma, quando os professores pediam para que ela se apresentasse aos colegas de classe, em cada escola que frequentou. Ela não se conhecia fora dos projetos de Lily De La Fontaine para ela na carreira de patinadora. Em contrapartida, seu nem tão querido progenitor costumava defini-la como PERIGOSA; uma garota perigosa. Luke Maybank em toda sua vida patética nunca obteve maior arrependimento do que o de ter ajudado a criar aquela garota e seu irmão — ele imaginava que poderia ser um bom pai e falhou miseravelmente. Bêbado, delirante, Amaryllis era certamente seu pior pesadelo; ela cheirava a caos antes mesmo de proferir suas primeiras palavras.
Nem todos a enxergavam da mesma forma. A pequena garotinha de longos e enrolados cabelos dourados transmitia alegria por onde passava. Ela possuía um brilho deslumbrante em suas íris azuladas, que chamava a atenção de absolutamente todos a sua volta; e era impressionante a beleza estonteante da Maybank, ou melhor, De La Fontaine ── uma francesa garotinha cujo sua família possuía o costume de nomear seus filhos com nomes de flores. O seu, por exemplo: Amaryllis, uma linda flor de origem brasileira que se adapta ao clima tropical e cresce cerca de meio metro. Sua mãe escolheu muito mais pelo significado: Forma latina da palavra grega amarysso, que quer dizer brilhar, ela sabia que Amaryllis brilharia.
Amara como amorosamente era chamada por sua progenitora, havia saído naquele dia de uma competição e ido direto para a residência dos Cameron, onde a festa de aniversário de Sarah já começava. Junto de sua mãe e irmã mais velha, Amara chegou no local quando todos já estavam lá. JJ não odiava o fato de sua mãe ser uma kook, porém se recusava a frequentar qualquer evento com elas, e aquele dia não foi diferente. Era evidente que a loirinha estava cansada após a competição de patinação no gelo, mas sorriu ao aproximar-se de Sarah esticando na direção da também loira o presente que pessoalmente havia escolhido.
──── Feliz aniversário, Sarah. Eu espero que você goste, escolhi pessoalmente de acordo com o que eu acho que seja o seu gosto. ── Sarah sorriu abertamente pegando a pequena caixinha e abrindo rapidamente, com agilidade para não rasgar toda a embalagem. Amara colocou suas duas mãos para trás, atenta à empolgação de sua colega.
──── Nossa, é muito lindo. ── Os olhos avelã de Sarah brilharam ao pegar na ponta dos dedos o colar com um pingente de borboleta. Era de ouro, o pingente possuía brilhos que brilhavam sob a luz alaranjada do pôr do sol. ──── Eu adorei, Amara! Foi o melhor presente que recebi hoje, mas por favor não diga ao meu pai.
──── Será nosso segredo ── Amara fez gesto de silêncio e abraçou Sarah. ──── Parabéns novamente, espero que essa data se repita por muitos anos! Vi outros milhares de colares que posso presenteá-la.
Sarah emitiu um riso nasalado, retribuindo o abraço amoroso de sua colega. Elas, infelizmente, não eram tão próximas; isso porque Amara escolheu estudar com seu irmão quase gêmeo JJ e isso afastou um pouco as duas apesar de serem vizinhas. A melhor amiga de Sarah era a Kiara, a mesma que puxou-a para o outro lado da festa sem se importar em deixar Amara sozinha no meio daqueles adultos e suas conversas cheias de incógnitas que ela raramente compreendia, apesar de ter oito anos de idade e ser bastante esperta.
Largando um suspiro triste, Amara virou-se para o lado exterior da residência, onde apenas a porta estava aberta e era possível enxergar o irmão mais velho de Sarah muito entretido em algo que fazia com as formigas. A primeira vez que Amara vira Rafe Cameron, ele estava destroçando as asas de uma borboleta. Quando Amara perguntou porquê ele fazia aquilo ele levantou os olhos azuis escuro para ela e disse: — Porque eu quero ver ela
morrer. E ela observou quando o olhar dele voltou para o inseto sem asas que se contorcia em sua mão. Observou seus lábios quando a triste criatura se retorceu e morreu na palma da sua mão. Um suspiro longo e suave escapou dos lábios entreabertos, e um sorriso vitorioso curvou em sua boca.
Mas, ainda pior que o ato do primogênito de Ward Cameron, era a reação de Amara Maybank, completamente interessada em vê-lo fazer aquilo, em completa fixação imaginando quais outras coisas Rafe era capaz de fazer. Diziam para ela ter medo dele, mas ao contrário daquilo ela possuía admiração.
Por isso, não ponderou mover seus pequenos pés até a aérea externa da residência. Seus olhos brilharam curiosamente, Rafe provavelmente sentiu a aproximação da moçoila, porém não olhou-a diretamente, o que a fizera olhar por cima de seus ombros. Havia uma pilha de formigas mortas embaixo da lupa em sua mão. Fumaça rosada saia de seus pequenos corpos enegrecidos quebrados.
──── Observando elas morrerem também? ── Questionou baixinho, vendo os ombros do mais velho erguendo-se por debaixo da blusa preta que usava.
──── Elas morreram mais devagar que a borboleta, ontem ── Disse ele, finalmente após o silêncio constrangedor. ──── Elas tentaram sobreviver, tentaram escapar, fugir... mas não conseguiram. Eu as cerquei. Elas lutaram muito... mas tive que matá-las.
Amara queria olhar mais de perto, porém possuía receio de assustá-lo. Mesmo assim, deu passos vagarosos até o garoto, abaixando ao seu lado. Rafe virou um pouco seu rosto, talvez surpreso por alguém aproximar-se tanto assim dele; eles geralmente tinham medo. Exceto por seus amigos, Cassie e Sirius, eles nunca questionaram ou se afastaram do garoto como muitos fizeram. Era complicado explicar Rafe, mas Amara parecia genuinamente interessada em ao menos tentar.
──── É aniversário da sua irmã, por quê não está lá dentro? ── Proferiu sentando-se ao lado do mais velho, com suas perninhas esticadas.
──── Ela já recebe bajulação o suficiente todos os dias, aposto que me ter lá dentro ou não nem fará diferença.
A forma amarga que a resposta de Rafe sairá de seus lábios, fizera Amara imaginar que talvez o relacionamento entre irmãos não seja as mil maravilhas como Ward costumava transparecer. E ela infelizmente compreendia o sentimento; sendo a filha do meio, sua irmã mais velha adorava chatea-la chamando-a de bastarda ou pior coisa.
──── Minha irmã mais velha não gosta muito de mim, ela já tentou me vender quando éramos pequenas. ── Amara comentou risonha, apesar de não ser nada engraçado e sim preocupante.
──── Eu amo minhas irmãs, eu só... É difícil explicar.
──── Não precisa, eu te entendo. ── Amara sorriu gentilmente.
──── Por que sua irmã não gosta de você?
──── Ela diz que eu não me esforço para nada, ganho tudo de mão beijada e que eu deveria morar na favela com meu pai e irmão. Sinto que ela fica chateada quando nosso padrasto me elogia, seja pelas notas ou pelo meu desenvolvimento na patinação, então pedi pra ele não fazer mais na frente dela. ── A loirinha ergueu seus ombros. Imaginava que era coisa da idade, quando ficassem mais velhas com certeza seriam grandes amigas. ──── Meu padrasto é muito legal e carinhoso, ele visita todas as noites o meu quarto e me faz companhia até eu dormir.
──── Companhia?
──── Sim, ele lê histórias para mim dormi e faz carinho.
Rafe franziu o cenho, talvez por não ter um pai tão amoroso quanto Peter tenha deixado-o desconfiado; não, não, Ward era carinhoso e aquilo era de fato estranho, afinal ele não era pai dela e parecia ser mais gentil com ela do que com a filha biológica. Rafe já viu várias vezes Peter destratando Acácia.
──── Não deixe mais ele fazer isso, Amara. ── O semblante de Rafe mudou para preocupação, uma estranha preocupação. ──── Por favor.
──── Mas por quê, Rafe?
──── Você entenderá quando estiver mais velha, mas seja lá o que faça, não deixe mais ele fazer carinho em você. ── Amara assustou-se quando o mais velho segurou sua mão, levando até sua boca e depositando um beijo no torso. ──── Eu quero chamá-la de Millie, posso?
──── P-pode. ── A loirinha nunca havia gaguejado, mas ele a deixou nervosa e não era de um jeito ruim.
Foi a primeira vez que ela o viu sorrir minimamente enquanto soltava a sua mão, Amara não desviou seus olhos da face do garoto mas acabou tendo que assim fazer quando escutou a voz familiar de Winter Deveraux, seu melhor amigo — e primo de Rafe.
──── Amara, Amara, Amara. ── Ofegante o moreno parou colocando a mão em seu peito. Rafe mudou sua expressão para sério e Amara encarou o amigo com estranheza. ──── JJ e John B estão lá fora esperando a gente para fazermos aquilo. Sua mãe deixou, vamos dormir na casa do John B e... Ah, oi Rafe.
──── Oi, Winter. ── Rafe respondeu baixinho, pareceu triste.
──── Minha mãe deixou mesmo eu dormir na casa do John B com um bando de menino? ── Amara sorriu levantando-se do gramado. ──── Até logo Rafe, hum... Da próxima, você pode me chamar pra observá-las com você?
Rafe gesticulou sua cabeça positivamente, parecia um pouco chateado, mas Amara imaginou ser coisa da sua cabeça quando pegou a mão de seu melhor amigo e os dois juntos saíram correndo.
──── Eu falei com sua mãe, mas não com o Peter.
──── O que?
──── Confia em mim, tudo bem?
Amara sabia que seu amigo a meteria em problemas, Peter ficaria muito chateado e com certeza a colocaria de castigo no dia seguinte. Os dois passaram correndo por todos da festa, incluindo a aniversariante e Kiara, que curiosamente observaram o que os dois faziam. Mercury Deveraux, que ironicamente era cunhado de Ward Cameron, e sua esposa, já sabiam que seu filho iria aprontar, então quando todos ficaram chocados com as crianças saindo da festa sem ao menos esperarem o parabéns, o casal tentou segurar a risada.
──── Amara, volte aqui agora! JJ você ficará de castigo se levá-la! ── Gritou seu padrasto, tentando alcançá-la.
Amara foi rápida em pular na garupa da bicicleta de seu irmão, enquanto Winter ia na de John B. A loirinha abraçou o quadril do irmão, rindo com a adrenalina daquilo. JJ não demorou para começar a pedalar o mais rápido que suas pernas curtas conseguiam, e logo Peter e a residência dos Cameron já estavam longe demais.
Rafe observou tudo aquilo com admiração e melancólia. Talvez, mesmo com o certo preconceito que instalaram em sua cabeça a respeito dos pogues, o primogênito de Ward quisesse ser como eles.
Livre.
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