Mesmo me afastando do salão, ainda podia se ouvir a triste melodia que Dragor tocava em seu belo piano negro. "Não vá para o lado oeste do castelo" ele disse, mas enquanto eu caminhava sem rumo eu ficava me perguntando o que podia se esconder neste tal lugar. O que ele queria que eu não descobrisse? A curiosidade me consumia aos poucos e sem ao menos perceber eu estava em frente ao local que fui proibida de explorar. Eu olhava para todos os lados a procura de alguém mas eu estava completamente sozinha, comecei a dar passos lentos e fui esquecendo do perigo que eu me encontrava se eu continuasse seguindo em frente a área proibida a mim. Eu passava em frente a algumas portas mas eu não quis as abrir, meu foco era na grande porta com detalhes prateados no fim do corredor, aquela porta devia ser a qual eu não devia a abrir, era ela que o Dragor não queria que eu descobrisse.

Ao ficar em frente a ela meu coração começou a disparar, será que eu conseguiria aguentar ver o que tinha atrás dela? Que segredos ele escondia neste local? Várias perguntas passavam pela minha cabeça enquanto eu aproximava minha mão da maçaneta prateada da porta, mas ao encosta-la ouvi meu nome ser chamado e fui tirada daquele transe.

- Diana! O que faz aqui? Meu pai não a alertou que não devia estar neste local? - Mirella dizia enquanto se aproximava de mim rapidamente e depois ficou em frente a porta fazendo eu me afastar dela. - Se ele descobrir que você está aqui... não sei o que ele poderá fazer.

- D-Desculpe... Ele disse sim mas, acabei deixando a curiosidade me levar até aqui - falei me sentindo um pouco nervosa. - Eu não devia perguntar... Mas, o que há atrás da porta?

Mirella desviou seus olhos dos meus e ficou olhando para os próprios pés, pensando na resposta que poderia me dar - Uma pessoa reside aqui... - ela hesitou por um instante e parou de olhar para baixo, fixou seu olhar na porta enquanto passava sua mão nos pequenos detalhes prateados - Minha... minha mãe está lá dentro...

- Sua mãe? - perguntei enquanto olhava sua mão deslisando sobre os detalhes na porta.

- Não conte isso a ninguém, na verdade eu não devia ter te falado isso e você não devia estar aqui... Venha, vamos dar um passeio - Mirella passou por mim e segurou meu braço por instante para que eu a acompanhasse. - Meu pai não pode saber que esteve aqui, está bem?

- Está bem... - falei após assentir.

- Diana... Você já reparou nos olhos e na cor do cabelo do meu pai, certo? - Mirella falou de repente enquanto diminuía seus passos para que ela ficasse no mesmo ritmo que o meu.

- Isso é porque ele despertou, não é? - perguntei enquanto ouvia nossos passos ecoarem pelo corredor.

- Sim, é por esse motivo. Mas... Você também já reparou no Erick? - Mirella perguntou após parar de caminhar e ficar em minha frente. - Pode me descrever?

- Ele tem a mesma cor do cabelo do seu pai e tem olhos azuis mas... eles também ficam vermelhos... 

- Exato! Sabe por que, Diana? - perguntou ela ao sorrir. - Porque mesmo ele tendo despertado, e por as sombras terem o consumido, ele não matou sua verdadeira personalidade. Ele apenas selou seus sentimentos em um lugar que as pessoas e a maldição não conseguissem os alcançar. Você pode achar que o "Derec" se tornou o vilão da história, mas na verdade ele apenas está preso em uma encruzilhada e não sabe qual caminho tomar. Ele quer que você se afaste dele, porque você conseguiu derrubar as paredes que selavam seus sentimentos... Revelando o seu verdadeiro eu. Ele se sente estranho e acha que isso não é o certo. Eu sempre tento manter aquela essência que sei que ele tem, mas quando ele está perto de você essa essência que ele esconde se revela.

- Eu? Mas... por que eu? - pergunto me sentindo estranha e confusa.

- Por quê? Diana... Você foi uma das poucas pessoas que se aproximou dele e tentou o entender, você sempre querendo o ajudar e dando sua confiança a ele, agora você pode estar achando que ele apenas está a desprezando e a machucando com suas palavras frias, mas essas não são as palavras que ele realmente quer dizer... E por eu ter crescido ao lado de alguém que foi consumido pela maldição da lua vermelha, eu entendo pelo o que ele está passando. Meu pai talvez não pode ter salvação, mas o Erick tem! Ele ainda pode escolher o caminho certo, mas não vou conseguir ajuda-lo sozinha... Me ajude, Diana...

Eu estava tão confusa... Já não bastava eu ter ouvido aquela história do Dragor, e agora isso? Eu sei que talvez o Dragor não pode ter tanta culpa, mas suas ações de agora não fazem eu confiar nele. Erick era diferente dele, talvez ele realmente tenha salvação, aquele sentimento que tinha em mim de querer ajuda-lo estava voltando por causa do pedido de Mirella, ela parecia ser uma pessoa boa, será que seria errado confiar nela...? - Eu... eu vou tentar ajuda-lo...

Ela deu um longo sorriso e depois me abraçou - Obrigada, Diana... Eu realmente não quero que o Erick siga o mesmo caminho que o meu pai segue. Tenho medo de que um dia ele acabe o machucando por não conseguir o controlar.

- Seu pai seria capaz de machucar seu próprio sobrinho? - falei vendo ela se afastar de mim.

- Diana... eu não sei o que ele contou a você, mas não dê a sua confiança a ele, não deixe que ele controle você, por mais que eu o ame, nem eu mesma confio totalmente nele, suas ações não são boas... - disse ela com suas mãos repousadas em meus ombros. - Repito, não dê a sua confiança a ele...

- O que estão fazendo? - Erick apareceu de repente atrás de nós nos olhando com uma expressão séria.

- Oh! Nada de mais, apenas conversando... Certo, Diana? - Mirella disse ficando na minha frente.

- S-Sim, apenas conversando... - falei enquanto sentia meu coração pulsando rapidamente.

- Estou vendo que você ficou amiguinha dela, Mirella - Erick disse após sorrir de lado e cruzar seus braços. - Bem, não quero atrapalha-las, até logo.

- Espera ai! - Mirella segurou o pulso de Erick após ele ter passado por ela para chamar a sua atenção. - Sabe aquela sacada que sempre vamos para observarmos a noite? 

- O que tem ela? - Erick perguntou friamente enquanto arqueava uma de suas sobrancelhas.

- Poderia mostra-la para a Diana? Aposto que ela iria adorar a vista...

- E por que você mesma não mostra? - Erick disse após impulsionar seu braço para frente para que a mão de Mirella soltasse o seu pulso.

- Por eu ter usado muito o meu poder hoje eu estou me sentindo sonolenta e fraca, você sabe muito bem que esse poder consome muito a minha energia, portanto, eu estou prestes a voltar ao meu quarto para que eu possa repousar, então eu lhe peço gentilmente que mostre aquele lugar para a nossa convidada e depois a leve para o quarto, tenho certeza que ela não saberá o encontrar - Mirella deu leves batidas no ombro de Erick como se estivesse tentando a acalmar.

- Eu virei babá agora? - Erick disse enquanto me olhava de uma maneira séria.

- Em nenhum momento disse que você era, apenas me faça essa favor porque eu realmente estou no meu limite... Boa noite, vejo vocês amanhã - Mirella piscou para mim e seguiu seu caminho, deixando apenas nós dois naquele corredor.

Erick me lançou um de seus olhares frios e ao ficar de costas ele soutou um longo suspiro - Me siga...

Fiz o que ele me pediu e fiquei com meus olhos fixados em suas costas enquanto andávamos, Erick e eu tínhamos quase a mesma altura, ele era mais alto que eu apenas alguns centímetros. Vendo-o de costas me fez perceber o quanto ele poderia ser normal, toda aquela raiva, frieza, parecia desaparecer no ar. 

Erick parou de andar após ficarmos em frente a uma porta, ela era de grades e dava direto a uma escadaria um pouco estreita - Temos que ir por aqui, tome cuidado ao pisar nos degraus, escorregará um pouco - Após abrir a porta ele me olhou com uma expressão mais calma. - Bem, acho melhor você ir na frente.

- E-Eu ir na frente? - falei um pouco hesitante.

- Eu conheço melhor essa escadaria, por isso é melhor você ir na frente, se você escorregar eu vou conseguir ajudar você... Mas, se você quiser ir atrás de mim e acabar se machucando fique a vontade... - disse ele indo lentamente em direção a escada, então entrei em sua frente e comecei a subir as escadas com cuidado. 

A cada passo que eu dava parecia que nunca iria chegar no topo, era como se eu estive presa em um loop infinito ao lado do Erick. Nenhum de nós trocamos palavras, estávamos presos em um silêncio que chegava a ser desconfortável. Mas o que poderia dizer a ele? Eu não tinha nada em mente, na verdade eu ainda me sentia magoada por causa daquele dia... 

De repente eu acabo escorregando e vou de encontro ao Erick, uma de suas mãos se apoiou em uma especie de gancho que estava na parede, e a com a outra mão ele me abraçou para que eu não caísse escada a baixo, o ouço suspirar e ainda abraçado comigo ele disse - Viu? Eu avisei... 

Ao me soltar eu me afastei dele rapidamente - O-Obrigada, e desculpa... quase levei você comigo...

- Se você não estivesse usando um vestido tão longo talvez isso não teria acontecido, e olha... acho que teria sido uma bela queda... 

- Eu já pedi desculpas... E eu não fazia a minima ideia que eu iria subir essas escadas logo hoje que estou vestida assim, eu não consigo prever as coisas - falei enquanto sentia minhas bochechas quentes.

- Está bem, senhorita esquentadinha... Vai querer continuar ou vai ficar ai parada me olhando como se eu fosse o culpado? Aliás... Espere um minuto - Erick tirou do bolso um canivete pequeno e veio em minha direção.

- O que vai fazer? - falei dando um passo para trás.

- Relaxa... Vou cortar a barra do seu vestido ou vai acabar me levando com você da próxima vez - Erick se aguaxou na minha frente e cuidadosamente ele foi cortando um pouco da barra do vestido - Ótimo, agora se vire para o outro lado.

Fiz o que ele me mandou e assim ele tirou o resto, depois voltei a minha posição de antes e pude ver um aranhão em seu braço - Está machucado...

- O que? - disse ele olhando para o braço. - Não é nada preocupante...

- Foi por minha culpa... Me dê a barra do vestido - falei estendendo minha mão em sua direção.

- Quer guardar de lembrança? Não sabia que tinha esses fetiches... - disse ele arqueando uma sobrancelha e sorrido ironicamente.

- Vamos, me entregue logo... - insisto.

- Okay... - disse ele ao me entregar.

- Agora, estenda seu braço... - falei fazendo menção.

- Não, não precisa disso, Diana, isso foi só um...

- Faça logo o que eu disse! - falei o interrompendo.

Erick virou o rosto e estendeu seu braço em minha direção, fui enfaixando cuidadosamente o local do ferimento com a barra do vestido que foi tirada - Estou impressionado... - ele disse de repente.

- Com o que? - falei ainda com minha visão voltada em seu braço enquanto eu o enfaixava.

- Mesmo eu tendo dito aquelas palavras para você, você se preocupou comigo por causa de um pequeno arranhão... Você não sente... raiva? Eu enganei você, assustei você... 

- Obrigada por ter me lembrado, mas independente do que for, se alguém se machuca na minha frente e eu sou a unica presente, é claro que vou ajudar... - falei enquanto eu dava um nó com o tecido para que ele ficasse bem preso em seu braço. - Meu jeito de ver e pensar, é diferente do seu... Agora se estou com raiva? Sim, eu estou, mas isso não vem ao caso agora. Podemos continuar?

- Claro... Vá na frente - disse ele enquanto apontava o caminho.

Depois de um curto tempo chegamos no fim da escadaria, tivemos um pouco de dificuldade para abrir a porta que dava passagem ao terraço do castelo, com um impulso nós conseguimos a abrir. A vista chegava a ser sufocante de tão bela que era, alem das arvores dava para se ver um lago e a noite estava serena e sem nenhuma nuvem... A lua minguante brilhava intensamente como se esse fosse seu ultimo dia no céu. Do lado de fora tinha toda aquela vida que dentro da castelo não havia, eu estava encantada.

- A vista... é realmente linda - falei enquanto olhava ao meu redor.

- Normal... Bem, já você a viu é melhor irmos, você não vai querer encontrar o nosso dragão... - disse ele ao cruzar os braços e olhando ao redor.

- D-Dragão? Vocês tem um dragão? - falei me afastando da borda do terraço um pouco assustada.

Erick soltou uma leve risada e me olhou de um modo completamente diferente - Estou brincando, não temos nenhum dragão... Fique o tempo que quiser - ele disse calmamente e se sentou no chão perto da porta. Ele ficou olhando em uma direção e se perdeu em seus pensamentos, fiquei de costas para ele observando a paisagem a minha frente.

Notas da Autora: Olá leitores e escritores, gostou do capítulo? Se gostou deixe seu voto e comente o que você está achando da história.