*Mirela narrando*

- Vejo que você se preocupa muito com a sua amiga... - falei após perceber sua preocupação enquanto olhava fixamente na direção em que Diana havia ido. - Não se preocupe, ele não fará nada a ela... E sei muito bem o porque.

- Porque ele tem sentimentos por ela? - disse ele me olhando de uma forma séria.

- Sim, o máximo que ele irá fazer com ela é tentar afasta-la dele - falei um pouco triste. - Por mais que ele a ame.

- Mas, por quê? - perguntou ele enquanto voltava toda a sua atenção para mim.

- Acho que é por causa da maldição, ela o impede de amar... Ou talvez tenha medo de machuca-la pelo mesmo motivo. Não pode parecer, mas ele não é sempre assim... Ele já me mostrou seu lado bom, o seu verdadeiro lado. Eu o amo como se fosse meu irmão... Quero protege-lo dessa maldição. Parte meu coração vê-lo assim - falei enquanto juntava meus joelhos e entrelaçava meus braços neles. - Você também tem sentimentos pela Diana?

- Tenho, mas não são esses sentimentos que está pensando... - disse ele enquanto sorria timidamente. - Sempre a vi como uma irmã, nós crescemos juntos, sabe? Eu já tentei gostar dela, mas ela sempre será uma irmã para mim.

- Irmã? - disse a pequena um pouco surpresa. - Sempre achei que vocês eram algo a mais...

- Todos acham isso, eles nunca escutam o nosso lado da história...

- Acho que vou tentar dormir... - disse a pequena enquanto passava levemente sua mão em seus olhos.

- Quer dormir apoiada com a cabeça em meu colo? - pergunto vendo-a jogando um pano sobre a grama.

- Obrigada, mas não precisa... Já sou acostumada a dormir sem algo apoiando minha cabeça - disse a pequena de uma forma gentil.

- Está bem, bons sonhos - falei vendo-a fechando seus olhos.

- Você é diferente dos seus amigos... - disse Jared enquanto me olhava com uma expressão um pouco surpresa.

- Ser má não faz meu estilo, eu conheço os limites. E mesmo sendo assim, eu vou continuar fazendo as vontades de meu pai, se assim o desejar...

- Se conhece os limites, por que continua fazendo isso? - perguntou ele seriamente.

Sorri e levei a mão ao peito - Você me pegou... Mas, sobre isso, só estou obedecendo ordens do meu pai, como qualquer filha faz, entende? É só essa conexão que tenho com ele.

- E se caso ele passar dos limites, você irá continuar ao lado dele? - perguntou Jared enquanto observava as estrelas.

- Isso depende de qual limite ele ultrapassar, mas caso ele faça... Acho que talvez, talvez eu acabe o deixando, por mais que meu coração doa - falei enquanto fazia o mesmo que ele. - Eu não o culpo de nada, pois sei que ele é assim por causa da maldição. Por isso ainda continuo com ele mesmo ele não demonstrando muito afeto por mim.

- Você parece ser bem nova, quantos anos tem? - pergunta ele.

- Nova? Bem, quantos anos acha que tenho, senhor Jared? - falei enquanto sorria.

- Ah... dezenove anos? - sugeriu ele.

- Errou... Tenho vinte e quatro...

- Sério? Não parece tanto... - disse ele surpreso.

- Bem, obrigada - falei após curvar a cabeça. - E você? Quantos anos tem?

- Dezessete - disse ele um pouco envergonhado.

- Nossa... Estou me sentindo velha agora - brinquei.

- Se eu fosse você eu não me importaria com a idade - disse ele. - Não é a idade que faz uma pessoa, são as atitudes dela...

- Sábias palavras... - antes que eu falasse mais alguma coisa eu escuto alguns passos e vejo a Diana saindo em meios aos arbustos.

- Mirella... ele, ele disse que não vai se juntar a nós tão cedo - Diana disse com uma expressão estranha no rosto.

- Você está bem, Diana? - Jared fala após também perceber.

- Eu... eu estou sim - disse ela e então se acomodou perto da pequena Grace. - Vou... tentar dormir um pouco.

- Faça isso, durma bem... - falei a observando. - Jared, pode ficar acordado até eu voltar? Quero ir até ele...

- Bem, claro... - disse ele olhando ao redor.

- Não se preocupe, estamos em uma area segura da floresta, voltarei logo - falei enquanto me erguia e seguia em direção a rio.

*Erick narrando*

Após ver a Diana correndo em direção ao um canto escuro da floresta, um breve pensamento passou por mim dizendo para ir atrás dela, mas foi esmagado por outro. Voltei para perto do rio e continue jogando pedras só que com mais frequência e mais forte.

- Você agiu certo, Erick... Não se envolva com ela, você não precisa dela... Você tem a "mim".

- Saia da minha cabeça... - falei enquanto colocava minhas mãos sobre a minha cabeça. - Aquilo não foi certo... Eu a assustei...

- Continue assim, siga a plano... Possua o poder do medalhão, fique mais forte...

- Não! Não me diga o que fazer... Você não vai ter controle sobre mim outra vez...

- Mas eu não estou o controlando, tudo o que disse foi porque você quis... Ou você acha que estava mentindo? Não... Você não estava... Você é um monstro sem sentimentos... Você não merece a companhia de ninguém...

- Pare...

- ...você perdeu sua essência, você é um inútil que não consegue fazer nada sozinho. Eu sempre tenho que fazer tudo por você... Eu sempre vou ser mais forte que você...

- EU MANDEI VOCÊ PARAR!

- Erick? - me viro e vejo a Mirella me olhando preocupada. - É a maldição? Ela está o atacando?

- Mirella... - falei e me sentei ajoelhado no chão, ela veio correndo até a mim e me abraçou. - Eu já não sei mais quem eu sou...

- Não diga isso... Você pode vence-la! Você já fez isso uma vez, faça de novo...

- Não posso... - falei enquanto sentia algo estranho mudar dentro de mim. - Ela disse que queria me salvar... Ninguém pode me salvar.

- Erick! Não diga isso... Olhe para mim, você pode vence-la! Não deixe ela falar por você, se você quiser, podemos desistir desse plano, eu ficarei encarregada de enfrentar o meu pai...

- Não! - falei saindo de seus braços e me erguendo. - Vou terminar isso...

- Erick...

- Está tudo bem, Mirella... Vamos voltar - falei enquanto seguia em frente. - Esqueça tudo o que eu disse...

- Espere... O que você disse para a Diana? Ela não parecia bem - perguntou Mirella após colocar sua mão sobre meu ombro.

- Apenas disse a verdade para ela... Que eu apenas a manipulei para confiar em mim - falei sem demonstrar qualquer arrependimento. - É melhor assim, é melhor afasta-la de mim... Antes que seja tarde de mais.

- Mas, Erick... Você... Você só vai estar fazendo o que a maldição quer - disse ela tomando a minha frente. - Não se machuque mais...

- Melhor eu do que ela, Mirella - falei enquanto passava por ela e seguia em direção aos outros. - Apenas uma pessoa ferida é o suficiente...

*Magnus narrando*

- Boa noite, Joy. Como está o nosso paciente? - falei enquanto eu fechava a porta atras de mim e observava a Joy medindo o pulso de Cloud.

- Boa noite, Magnus! Ele já está estável, mas ainda continua inconsciente... Vou deixa-lo acordar por vontade própria - disse ela enquanto colocava o braço de Cloud para dentro da coberta. - Espero que ele não precise de minha ajuda para isso...

- Ele sabe mesmo ser um teimoso - brinquei enquanto me aproximava. - Está ouvindo isso, Cloud? É melhor você acordar logo.

- Você fará companhia a ele? - perguntou Joy enquanto arrumava suas coisas.

- Sim, pode ir descansar, qualquer coisa eu lhe chamarei...

- Está bem, então até amanhã - disse ela abrindo a porta e revelando Aisha e Ária do lado de fora do quarto. - Oh! O que fazem a essa hora fora de seus quartos, mocinhas?

- N-Nós desculpe por isso, m-mas e que estávamos preocupadas com o professor... - Ária disse um pouco nervosa. - Não queríamos bisbilhotar...

- Na verdade queríamos sim - Aisha disse olhando de lado e com seus braços cruzados.

- Aisha! - repreendeu Ária.

- Bem, já que estão aqui, entrem... E deixem a enfermeira Joy passar - falei enquanto sorria e as via se afastando da porta.

- Boa noite, meninas - disse ela enquanto seus sapatos faziam um pequeno barulho pelo corredor.

- Vamos! Entrem, bem ali em cima tem um pouco de chá de canela, mas se preferirem, há café na garrafa ao lado - falei enquanto me acomodava na poltrona perto da cama de Cloud.

- Obrigada, mas eu passo! - Aisha disse enquanto se sentada em uma cadeira que ficava a minha frente.

- Eu... aceito o chá - Ária disse indo até ele. 

- Como está o professor Cloud? - perguntou Aisha enquanto o fitava com um olhar triste.

- Ele já se encontra estável, mas ainda continua inconsciente - a respondi. - Talvez a causa disso tinha sido por conta dos poderes de Erick lançados ao pai. Eu não tenho muito conhecimento sobre os poderes das sombras, mas muito provável tenha sido por isso, mesmo Cloud sendo um Dominador das sombras. 

- Ou talvez seja um pouco psicológico... - Ária disse sentando ao lado da amiga enquanto segurava um pequeno copo. - A causa de ainda estar inconsciente. 

- Talvez também seja isso, senhorita Ária. Cloud já passou por tanta coisa... Imagino que ele esteja bastante sobrecarregado, e ainda possuindo uma maldição para se preocupar, eu sempre faço o possível para aliviar um pouco sua cabeça. Mas nem sempre ele se abre comigo ou com qualquer outra pessoa, ele passou a ser uma pessoa bastante reservada, pode se dizer que sou seu único fiel amigo...

- Mas... e os outros professores? - Aisha perguntou.

- Bem, também são mas... Cloud costuma conversar mais comigo do que os outros. Já disse isso a ele, sobre dar atenção aos outros porque eles também se importam muito com ele. Mas ele sempre fica em silencio quando esse tema é abordado. Na verdade eu sou o único que ele devia ter se afastado mas...

- Por causa daquele... incidente? - Ária disse com a voz um pouco baixa.

- Sim... Ele não me culpa, talvez eu esteja sendo muito duro comigo mesmo - falei enquanto abaixava minha cabeça e demonstrava um sorriso fraco. - Mas de todos os outros, sempre fui aquele que o procurava e sabia quando ele estava mal. Eu o impedi de... de não se descontrolar.

- Então é por isso que ele não o culpa, Diretor. Ele sabe quem o senhor realmente é... Um bom amigo em que ele pode confiar - Ária disse enquanto olhava sua amiga e sorria.

- Bem, já esta ficando tarde, é melhor vocês voltarem para os seus quartos, não precisam mais se preocupar. Cloud ficará bem - falei ao me levantar. - Tenham uma boa noite.

- Obrigada, Diretor... Tenha uma boa noite também - Aisha disse enquanto acompanhava a amiga em direção a porta. - E obrigada também por nos deixar ver o professor.

Assenti com a cabeça e as acompanhei até a porta, elas seguiram pelo longo corredor e depois de sumirem de minha vista eu entrei novamente no quarto, voltei para a minha poltrona e logo em seguida fui surpreendido por Cloud.

- Magnus... É você...? - disse ele com uma voz fraca e com seus olhos entreabertos.

- Cloud? Meu Deus... Você não sabe o quanto estou feliz em ouvir sua voz meu amigo, você nos deixou preocupados, sabia?

- Que exagero... - disse ele tentando se erguer, então eu o ajudo. - A Diana... ela..? 

- Sim, está com ele... Você não devia ter confrontado seu filho daquele jeito, Cloud - falei enquanto voltava para a poltrona.

- Ele é meu filho, Magnus, eu devia tentar para-lo. Não posso simplesmente ficar olhando, eu devia tentar fazer ele mudar de ideia... 

- Mudar de ideia o atacando? - falei enquanto arqueava um sobrancelha.

- Eu não iria o machucar, Magnus... Mas ele o fez sem hesitar... meu próprio filho, mas eu não o culpo, pois a culpa é minha por ele ter se tornando uma pessoa assim. Não o dei a devida atenção... Fui um péssimo pai.

Não diga isso, Cloud... Você fez o que achou ser certo para ele, tentar o alertar da maldição e o ensinar a controlar ela, mas tente descansar mais um pouco - me levanto e o coloco na posição em que ele estava antes.

- Está bem, obrigado... - disse ele fechando os olhos e se perdendo mais um vez em seu sonho.

Notas da Autora: Olá leitores e escritores, gostou do capítulo? Se gostou deixe seu voto e comente o que você está achando da história.