Castelo de Alaryn
No vilarejo de Dalys, além do bosque de "Alaryn", totalmente escondido pelas grandes árvores, havia um castelo. Tudo em volta desse castelo era escuro e tenebroso... Uma névoa espessa rodeava o local, nada crescia ali e ninguém, exatamente ninguém, nunca voltou vivo de lá. E não foi um único ser vivo que se arriscou a pisar naquele castelo. Uns por pura diversão e tolice, — esses tinham as piores mortes que se possa imaginar. — outros, eram apenas viajantes que acabam sendo atraídos pelo o sussurrar que lhe chegava aos ouvidos como uma doce promessa...
Os moradores de Dalys, tinham uma tradição entre si, a cada ano, para que não fossem atormentados pelo espiríto que habitava aquele castelo... No dia 5 de outubro, eles juntavam vários animais, cada morador levava dois ou mais de seus animais — tanto carneiros e bodes, como vacas e cavalos. — quanto mais seres vivos melhor! E levavam os mesmos até a borda do bosque de Alaryn, e paravam onde a marca negra fazia um círculo no solo, agora totalmente morto.
Os moradores faziam um breve ritual sobre a luz das lamparinas, cantavam uma cantiga que o espírito gostava e o invocavam o chamando cinco vezes. Feito isso, o vulto preto aparecia na porta do castelo, o que ainda podia se ver dele eram os olhos vermelhos que pareciam pegar fogo, o espírito negro erguia os ossos que restavam de sua mão e fazia um pequeno movimento quase imperceptível. E quando ele fazia aquele pequeno gesto e pronunciava uma palavra indecifrável para a língua dos aldeões, todos os animais viravam cinzas no chão, a vida deles eram sugadas rapidamente e o espírito saciava o seu com a vida daqueles animais. Mas o que o espírito realmente queria e desejava para saciar sua "fome" eram almas humanas, almas de homens asquerosos... Que faziam qualquer coisa por dinheiro ou seu próprio prazer.
Depois de o ritual estar completo, os aldeões ainda esperavam mais trinta minutos ou mais para voltarem a suas casas, para ter certeza de que o espírito realmente estava saciado e iria embora. Porém, se em meios aqueles aldeões, ouvesse alguma alma impura e corrupta, essa também era sugada pelo espírito. Todos anos era a mesma coisa e as mesmas perguntas surgiam sobre o espírito, mas ninguém podia sequer responder a elas, porque a pesar de terem suas teorias, ninguém no vilarejo de Dalys sabia o real motivo daquele espírito vingativo e insaciável existir.
Existiam várias teorias sobre todo o mistério em volta daquele castelo. Uma delas, era que aquele espírito, era de uma mulher que fora abusada por sete homens até a morte, e que ela sugava as vidas dos homens para vingar sua morte cruel. Porém, ela não matava só homens, o que tornava a teoria inválida, várias mulheres também foram mortas ali, só as crianças e as almas puras não eram atraídas aquele castelo. Quando alguma criança ultrapassava o bosque, e chegava perto do círculo negro, o próprio espírito aparecia — em forma de uma mulher vestida de branco e de aura rosada — para empedi-los de entrar, pois aquela terra era morta e qualquer um que pisasse ali estaria entregando sua alma. O mesmo acontecia com qualquer um que tivesse seu coração limpo, pois apesar de ser vingativo e insaciável, ele não consumia pureza, apenas maldade.
Os moradores faziam de tudo para não atrair o espírito, sempre explicavam a suas crianças o que existia ali, mas o que elas realmente deviam temer, era que o ódio ou desejo sórdidos crescessem em seus corações.
Mas apenas ensinar boas maneiras as crianças não era suficiente, pois o círculo negro, não era uma barreira para impedir a saída do espírito, não! Aquele círculo foi criado exclusivamente por ele, e ele poderia sair quando quisesse. Vez ou outra, alguém em Dalys desaparecia misteriosamente, e quando isso acontecia, diziam que ele tivera sua alma consumida.
As mortes sempre aconteciam de formas diferentes, dependendo extremamente da maldade existente em cada ser. Se sua alma fosse carregada de maldade e já tivesse sujado suas mãos com sangue puro... essa com certeza seria a morte mais torturante.
As crianças cresciam ouvindo sobre o castelo e o que o habitava, mas algumas delas nunca acreditavam e não davam a devida atenção aquele assunto e cresciam seguindo qualquer conduta, dando importância apenas a seus prazeres e luxúrias.
Uma daquelas crianças, — que agora estavam bem crescidas. — era Aron Catter, descendente do primeiro ancião de Dalys, o senhor Bill Catter, que fora o primeiro humano morto no castelo. — seu corpo fora encontrado pendurado em uma árvore, totalmente dilacerado, havia vários cortes em todo o corpo, seu rosto tinha um corte enorme pegando de um lado ao outro, vários cacos de vidro também estavam enterrados em seu corpo e seus olhos tinham sido arrancados, junto com todos os dentes.
Aron Catter, não acreditava em nada do que diziam, e achava a tradição dos aldeões uma total perda de tempo. Seus dois primos também descendentes de Bill Catter, não acreditavam na história, e um dia antes do ritual do ano, eles combinaram entre si, que iriam ao castelo no dia seguinte ao anoitecer, pouco antes das oferendas para entrarem no castelo.
Como o combinado, Aron, Ted e Billy saíram as 07:00 horas em direção ao bosque de Alaryn. Uma hora mais tarde atravessaram o bosque que estava extremamente quieto e sobrecarregado, com mais alguns minutos de caminhada chegaram ao círculo negro.
Nessa mesma hora, os aldeões já caminhavam com suas lamparinas e animais em direção ao castelo.
— Isso é bizarro! — Ted disse soltando uma risada grotesca.
— Bizarro é pouco. — Aron concordou. — E esses idiotas ainda perdem tempo com isso. — ele disse com nojo e deboche.
— Então, quem vai primeiro? — Billy perguntou.
— Eu — Aron respondeu com precisão. — quero ver com meus próprios olhos o que tem nesse castelo idiota!
— Vamos esperar até você voltar então, — Ted disse. — um tour pra cada um será mais emocionante.
Aron concordou com um aceno de cabeça, Billy ficou tenso, sentiu algo totalmente diferente, mudando a pressão do ar e deixando sua respiração mais difícil. Aron levou um pé para dentro do círculo negro e quando estava dentro, o cheiro da morte o invadiu lhe causando uma forte ânsia de vômito, fazendo com que sangue escorresse por sua boca. Billy e Ted ficaram apreensivos e o chamaram para fora de volta, mas ele negou e disse que iria de um jeito ou de outro. Mas o que Ted e Billy não sabiam, era que mesmo se ele quisesse,ele não poderia sair dali, pois estava preso no círculo.
A cada passo que dava, Aron sentia a pressão sobre si, o cheiro de morte era horrível e seus ouvidos eram preenchido por sussuros e gritos apavorados.
— O que está acontecendo? — Billy perguntou quando viu Aron levar as mãos aos ouvidos enquanto cambaleava em direção a porta do castelo.
— A gente fez uma bela idiotice! — Ted respondeu. — Aron! Volte pra cá! — ele gritou, mas Aron era incapaz de ouvir qualquer ruído que vinha de fora e continuou seguindo a passos lentos e adentrou o castelo.
Os gritos ficaram ainda mais altos quando ele passou pelo primeiro portão, os gritos eram tão altos e agoniantes ali que feriam seus ouvidos fazendo com que o sangue começasse a escorrer pelos mesmos.
Ainda disposto a continuar, Aron atravessou o pátio e subiu uma das torres mais baixas, assim que chegou ao topo da torre, os gritos cessaram repentinamente. Ele tirou as mãos dos ouvidos e olhou ao redor. Havia roupas rasgadas e manchadas de sangue por toda parte, as paredes tinham manchas de sangue e machas pretas. Alguns grimórios rasgados ao meio e folhas espalhadas pelo chão, o fedor era insuportável como do lado de fora. No centro do quarto, havia um caderno no chão que logo lhe chamou atenção.
Aron o pegou e a ânsia o invadiu outra vez, haviam as palavras vingança, morte, bruxa, fogo e mais algumas escritas com sangue. Mais a baixo havia o seguinte:
"O preço de fazer o bem foi a morte sangrenta e logo depois a fogueira... Paguei um alto preço por tentar ajudar, tudo culpa de um coração corrompido e uma mente fechada... Eles terão a mesma morte e sentirão a mesma dor que senti!"
— Encontrou o que procurava? — uma voz quase doce sussurrou em seu ouvido.
Assustado, Aron deixou o diário cair no chão e se virou para trás com um pulo. Uma mulher de aparência quase angelical estava em sua frente, vestia trages brancos, a pele clara brilhava, seu cabelo era tão vermelho quanto uma rosa e seus olhos eram mais verdes que os brotos novos de uma árvore.
Aron não soube o que dizer, estava chocado demais por alguém estar ali.
— Você me entende não é? — sua voz era carregada de tristeza e rancor. — Entende por que faço isso?
Ele continuou sem dizer nada, estava chocado demais para dizer qualquer coisa, os olhos da mulher ficaram vermelhos.
— É o mesmo rostinho lindo — ela inclinou sua cabeça. — por quem fui um dia apaixonada... — Aron sentiu medo naquele momento e deu dois passos para trás.
— Fique longe de mim!
— Não estava me procurando? — ela deu um passo em sua direção e ele deu mais um para trás. — Sabia muito bem que não podia vir aqui, principalmente você que é tão parecido. — outra ânsia o invadiu.
— Me deixe em paz seu monstro!
Seu olhar mudou, mostrando toda a raiva e repulsa. Suas roupas ficaram pretas e um brilho negro ficou visível em torno dela.
— Sabe por que me tornei um monstro? — sua ira crescia a cada segundo. — É culpa daquele velho Bill! Não há nada mais justo do que me vingar e matar também todos seus decentes — sua voz ficou diferente e sombria, carregada de ódio. — eu tentei ajudar... E o que eu ganhei?! Meu corpo mutilado e logo depois uma fogueira, porque acharam que eu era uma bruxa! — ela disse sussurrando, marcas de cortes profundos apareceram em seu rosto e em todo o seu corpo, junto com marcas de queimadas e enfim sobrou apenas ossos encobertos por couro seco.
Aron ficou apavorado e os gritos voltaram de novo a preencher seus ouvidos. Seus olhos se prenderam aos dela,e com pavor, ele viu tudo - não só viu,como também sentiu cada dor de Alaryn. Seu rosto sendo rasgado com uma faca cega, todo seu corpo recebendo aqueles golpes e o fogo...
— Eu sou Alaryn! — ele começou a vomitar sangue. — Alaryn foi injustiçada! — seu corpo extremeceu ao ouvir aquela voz grossa e quase demoníaca, como se outro espírito estivesse incorporado nela. — Alaryn sempre terá sua vingança!
Aron sentiu seu corpo sendo erguido do chão. Com um único movimento, Alaryn jogou seu corpo pela janela da torre e o mesmo caiu batendo feio a cabeça e quebrando as costelas. Alaryn logo estava do lado de fora, Aron não conseguia sequer raciocinar. Seu corpo foi lançado de novo, agora contra uma das janelas o enchendo de cacos de vidros. Um grito agudo de dor escapou de sua boca quando uma faca enferrujada foi cravada em suas costas, logo depois foi retirada e enfiada de novo. Como se sua dor não fosse o suficiente, Alaryn desceu a faca pelas costas dele, com uma força impressionante. Destroçando totalmente seu corpo, depois tirou de vez a faca dele e lambeu seu sangue, sentindo que sua vingança tinha sido maravilhosa.
Enquanto Aron dava seus últimos suspiros e convulsões, Alaryn o arrastava para fora do castelo onde seus amigos estavam. Os mesmos ficaram chocados ao ver o espírito de Alaryn e principalmente, de ver Aron naquele estado macabro.
Os outros aldeões chegavam com suas oferendas, e o medo os dominaram ao verem Aron naquele estado. Alaryn continuou arrastando ele até chegar ao limite do círculo e jogou seu corpo para frente, causando tamanho espanto nos moradores.
Naquela dia, Alaryn não precisava de mais nada para se saciar, então simplesmente sumiu como uma sombra ao nascer do sol.
A cada dia 5 de outubro, os moradores — do que agora virou uma cidade bem diferente. — ainda fazem os rituais para Alaryn, e depois da morte de Aron, muitos passaram acreditar nas histórias. Alaryn ainda vinga sua morte, com cada novo membro principalmente da família Catter, e ela ainda procura corações maldosos e impuros para saciar sua sede de sangue e seu desejo insaciável de vingança.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top