5 Diverção
Carla plantou a sementinha da dúvida em minha cabeça, e não consegui mais parar de pensar nisso. Pior ainda, fiquei totalmente paranóica: se Jon chegasse mais tarde, já pensava que ele estava com outra; se ele não me desse atenção, ou se trouxesse algum presente, ou se não atendesse o telefone... Cheguei até a ficar na frente do consultório à toa dentro do meu carro por horas a fio.
Hoje terei que ir de livre e espontânea pressão a uma festa de aniversário da clínica, e o traje é a rigor. Era tudo o que eu queria, um vestido longo em plena noite mais quente do ano.
Tirei todos os vestidos do guarda-roupas e joguei-os em cima da cama. Depois comecei a procurar qual deles me deixaria mais à vontade e acabei escolhendo o vestido preto com pouco brilho e com um decote nas costas que ia quase até meu cóccix. Coloquei o vestido na minha frente como se eu estivesse vestida, fui até o espelho e acabei por descobrir outro problema: meu cabelo. Não estava disposta a ficar horas no salão debaixo de um secador de cabelo nesse calor todo, iria sair de lá toda suada.
Eu não estava nem um pouco animada para ir àquela festa, mas Jon sempre esteve comigo em todas as inaugurações, lançamento de novas estações, festas, desfiles e todas essas coisas para as quais acabo sendo chamada. Jonathan, como sempre, terminou de se arrumar primeiro, e eu o ajudei a arrumar seu cabelo, já que ele apenas passaria gel e estaria satisfeito. Meu marido me ajudou a colocar um colar e depois me deu um beijo na nuca antes de depositar meus cabelos nas minhas costas com delicadeza.
Entramos no carro, e Jon começou a dirigir em direção à praia, que era a rota mais próxima para chegarmos ao local da festa. Dentro do carro, com o ar-condicionado ligado, eu balançava meu pé impacientemente, ansiosa para que tudo aquilo terminasse. Consegui tirar meu salto alto e comecei a olhar com um pouco de inveja as pessoas se divertindo no calçadão da praia: crianças andando de bicicleta, pessoas correndo, andando e bebendo cerveja em quiosques. Tenho certeza de que qualquer uma delas estava mais feliz do que eu naquele momento.
Enquanto olhava todas aquelas pessoas, tive a impressão de ter visto Tessa, vestindo short jeans, camiseta regata preta e All Star azul, andando de skate, feliz da vida.
A festa estava linda, todos estavam muito bem vestidos, a decoração estava estupenda, mas eu não via a hora de sair dali. Jonathan, muito atencioso, não me deixou sozinha nem por um minuto, o que era essencial em uma festa cheia de pessoas influentes. Era quase meia-noite quando peguei na mão de Jon e o levei para um canto do salão onde não havia tantas pessoas e perguntei: "Quantos anos nós temos?".
- 25. - meu marido respondeu sem entender a pergunta.
- Então por que nunca podemos nos comportar como tal? - Fiz uma pergunta retórica, e antes que Jonathan pudesse responder, peguei em sua mão e o puxei até o carro. Tirei o salto alto e comecei a dirigir em direção à praia. Quando estacionamos, pedi que meu marido tirasse o bendito sapato de couro italiano e viesse comigo.
Andamos um pouco na areia fofa com os pés descalços e depois na areia molhada. Tomei água de coco enquanto meu marido tomava uma cerveja. Conversamos sobre coisas idiotas e tudo estava sendo como deveria. O calçadão ainda estava lotado depois da meia-noite e meia, e fomos até uma rampa de skate bem alta, não muito longe de onde o carro estava estacionado, e ficamos observando o desempenho dos skatistas.
Estávamos chamando mais atenção do que eu gostaria, graças às roupas que estávamos usando: Jon usava uma camisa social preta que já tinha aberto uns 3 ou 4 botões e puxado a manga para altura do cotovelo, enquanto eu estava com o meu longo vestido preto com a barra já cheia de areia. Quando um dos skatistas caiu, eu sorri, e o sujeito olhou para mim e disse: "Faça melhor, patricinha". Jon viu meus olhos brilhando e me sorrindo enquanto eu pedia o skate de uma criança que estava perto de mim. Subi na rampa segurando a ponta do meu vestido com a mão esquerda e desci perfeitamente, surpreendendo todos que assistiam. Fiz algumas manobras, mas nada muito complicado, pois não era fácil andar de skate com aquele vestido.
Quando terminei de me divertir, entreguei o skate do menino e fiquei conversando com algumas pessoas que começaram a me fazer perguntas. Enquanto respondia entusiasmada às perguntas dos adolescentes ainda em pé no alto da rampa, notei que Jon conversava com ninguém menos que Tessa. Meu coração disparou em um misto de sentimentos: eu sentia raiva, ciúmes e tesão ao mesmo tempo.
Conversei por mais alguns minutos com uma menina que tinha um skate rosa com a roda lilás e depois desci. Eu respirava fundo, tentando fazer meu coração não sair pela garganta.
- Inspira, expira e não pira. - Repeti para mim mesma. Jon e Tessa estavam bem e rindo quando cheguei. Meu marido fez questão de nos apresentar.
- Tessa, está é minha esposa, Nina. Nina, está é Tessa, uma paciente e cliente da clínica.
Fiz menção de cumprimentá-la com um aperto de mão, mas Tessa se adiantou e me deu dois beijinhos no rosto, fingindo que estava me conhecendo naquele momento.
-Nossa, está de parabéns, sua esposa é muito linda. - Tessa falou enquanto sorria agradavelmente.
- Tenho certeza de que estava bem mais bonita antes de encher meu vestido de areia e água do mar. - Sorri.
-Tessa estava te elogiando e perguntando se eu também ando de skate. Estava explicando a ela que essa não é muito a minha área. - Meu marido me explicou, não querendo deixar margens para ciúmes.
- Aqui está muito cheio para contar histórias, vamos aproveitar que ainda tem um quiosque aberto ali e beber alguma coisa enquanto conversamos. - Falei, apontando para um quiosque não muito longe dali.
Quando chegamos ao quiosque, sentamos em uma mesa com vista para o mar, que estava bem calmo naquele dia.
- Vida, o que você vai beber? - Meu marido perguntou carinhosamente.
- Guaraná, eu dirijo hoje. - Respondi.
- Eu não vou dirigir, então quero uma cerveja. - Tessa falou, enquanto tentava acomodar o skate entre as pernas para que não caísse nem atrapalhasse ninguém.
Tessa, ao invés de olhar nos meus olhos enquanto estávamos sozinhas, olhava para Jon no quiosque ou para qualquer outra coisa.
- Não precisa ficar assim, eu não estou chateada, e muito obrigada por não tocar no assunto do consultório com Jon. - Falei, fazendo a jovem dar um pequeno sorriso enquanto olhava para o chão.
- Se quiser, eu vou embora. - Tessa falou, finalmente olhando nos meus olhos.
- Pode ficar. - Falei, sorrindo para meu marido, que olhava para a gente enquanto pagava as bebidas.
Jonathan nos serviu e sentou na mesa, já perguntando, sorrindo:
- Não está tarde demais para você estar na rua? E tem certeza de que já pode tomar cerveja?
- É sério? Tem 4 meses que tenho 18 anos; se quiser, pode ver no prontuário no consultório, e só estou a essa hora na rua porque amanhã estou de folga.
- E o que você faz além de andar de skate? - Jon perguntou, tentando puxar conversa.
- Eu trabalho no shopping Vitória na hambúrgueria. Eu até tentei fazer faculdade, mas pelo visto não sou boa o bastante para passar na federal e não tenho dinheiro o bastante para entrar na particular. - Jonathan e eu nos olhamos meio constrangidos.
- Mas vocês, pessoas ricas, o que costumam fazer nas horas vagas? Costumam vir sempre na praia vestidos a rigor? - Tessa perguntou, enquanto ríamos.
- Costumamos ir em restaurantes caros onde servem uma poção minúscula de comida, e depois, quando chegamos em casa, ligamos para a pizzaria e pedimos uma tamanho grande para entregar em casa. - Falei, revirando os olhos.
Que Tessa melhorou a nossa noite, isso é inquestionável. A jovem era espontânea e nos fazia rir. A conversa estava tão divertida que nem vimos o tempo passar. Já era 1:50 da madrugada, e o dono do estabelecimento nos dava pistas de que estava morrendo de sono.
Oferecemos carona a Tessa, e entre uma conversa e outra, a garota esperta me dava dicas de como chegar à casa dela, como se eu já não tivesse ido lá antes.
Quando chegamos ao local, a jovem se despediu de mim com beijos no rosto e de meu marido com um aperto de mão.
-Muito obrigada, doutor Jonathan. Muito obrigada, dona Nina, a noite foi muito agradável.
- Tessa, só Nina, por favor, nossa diferença de idade nem é tão grande. - Falei, já ligando o carro para sair, quando chamei a jovem que já estava abrindo o portão. - Tessa, você tem algo para fazer amanhã?
A jovem fez que não com a cabeça, olhando para mim.
Jon combinou com os amigos de irmos à hípica, uma reunião disfarçada, um monte de gente fingindo que está se divertindo, mas na verdade estão preocupados em conhecer pessoas influentes e assinar contratos. Meu marido vai estar ocupado na maior parte do dia. Se você puder me fazer companhia...
- Será um prazer. - Tessa respondeu com um sorriso gentil.
Jon deu uma olhada de agradecimento para Tessa enquanto pegava a mão dela.
- Obrigado, Tessa, você está salvando o meu dia.
- Por nada, doutor Jonathan. E não se preocupe, não vou atrapalhar vocês. Amanhã é o meu dia de folga. - Ela piscou para Jon.
Dei partida no carro e seguimos para casa, com um clima mais leve no ar. Jonathan estava mais relaxado, e Tessa parecia genuinamente interessada na conversa com ele. Ainda tinha um longo caminho a percorrer para resolver nossos problemas, mas, por enquanto, eu estava apenas feliz por ter tido uma noite agradável e uma nova amiga para nos acompanhar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top