°•ORDEM XXX•°

715/01/14, Reino de Alveberia, capital Mherga, palácio Dunkel.

"Nem toda ação bem pensada dá certo."

Naquela manhã em especial, Stephanie acordou com o braço de Leon envolvendo sua cintura, o rosto ainda enfaixado do homem afundando em seus fios. A respiração profunda se destacou tanto quanto o calor de suas mãos. Ela se virou, olhando atenta a expressão de Leon.

Com inocência, colocou a mão no rosto do homem, ficando pensativa.

Ela não conseguia entender como seu marido estava tão natural com a aproximação.

Stephanie fechou os olhos, os apertando, suas bochechas tornando um coloração mais avermelhada.

Aquela não era a questão. O homem sempre deixou claro para ela e para qualquer outro que queria daquela forma, então era a única que estava despertando uma parte desconhecida e muito pouco explorada. Ou desde o início desejava aquilo. Queria tê-lo antes de torná-lo seu esposo.

Abriu os olhos novamente, conformada com sua conclusão, mas antes do cenário se formar completamente à sua frente, os lábios de Leon fizeram contato com seus dedos de forma delicada. Ela sorriu, entrelaçando a mão com a do imperador.

— Atrevido como sempre — comentou em tom de brincadeira, arrancando um sorriso de Leon.

— Não devo fazer isso? — perguntou, vulnerável.

A imperatriz mexeu negativamente com a cabeça, segurando o riso.

— Não. Só quando eu permitir — ficou séria, Leon suspirou, fingindo estar aborrecido com a ordem. Apertou mais as mãos, a puxando para mais perto, o rosto poucos centímetros antes de encostar a boca no ouvido da mulher. O coração de Stephanie ameaçou a mudar de ritmo, ansiosa com o que o homem faria.

— Tirana.

Dessa vez Stephanie foi que fingiu estar indignada.

— Besta. Animal selvagem — rebateu em dobro. Não podia deixar aquilo passar.

Ambos riram, o som de suas risadas se desvanecendo com o tempo até o silêncio reinar sobre o cômodo. A imperatriz ficou de barriga para cima, admirando o teto com alguns ramos dourados percorrendo a habitação, e descendo sobre os cantos como em uma árvore, e ficou parada, o olhar distante.

Mesmo com a visão impedida, Leon apoiou a cabeça no braço, guiando o braço até a barriga da mulher. Ele chegou apenas a encostar alguns dedos, porém, aquilo fez Stephanie sobressaltar, segurando a mão de seu esposo para longe. Não havia se movido muito, mas seu fôlego escapou com rapidez.

A soberana olhou na direção do homem, e vacilou, largando o pulso, como se pudesse ver os olhos arregalados dele por baixo das faixas. O choque da recusa repentina.

— Foi uma atitude inapropriada. Desculpa — pediu, consciente de seu erro.

Stephanie passou a mão sobre o cabelo, erguendo o torso, suspirando, arrependida.

— Você está escondendo algo — acusou Leon, se sentando como a mulher.

Ela virou rapidamente na direção dele, e sustentou a visão da postura rígida do homem por alguns minutos, antes de recuar, deslizando para fora da cama, ajeitando os fios outra vez.

— Não estou — defendeu-se, caminhando até a porta sem querer dar mais explicações. — Eu irei me arrumar para meus deveres agora, e daqui alguns minutos suas damas o ajeitaram no meu lugar.

E saiu sem esperar uma resposta de Leon, porque sentia que ele não iria responder. Não quando ele a conhecia bem o suficiente para saber quando estava mentindo ou omitindo algo, e não torcia o braço até descobrir o que era. Talvez ele ficasse o dia inteiro insistindo para seu assistente o levar à oficina para saber o que o atormentava.

Avançando alguns passos, abrindo a porta de seu vestiário, sua cabeça doeu só de imaginar a cena.

— Saudações, sol do império — Rael a cumprimentou com seu usual sorriso compreensivo, mantendo a mãos unidas próximas a barriga, usando um vestido bege simples com alguns babados, e um salto curto.

Assim que viu a mulher, Stephanie a cumprimentou de volta, apressando os passos, vendo sua salvação na mulher. Desfez a postura séria de Rael quando agarrou as mãos dela com angústia, quase tremendo.

— Ele está desconfiando — despejou as palavras rapidamente —, o que eu faço, Rael?

Sua cuidadora puxou os dedos compreensivamente, guiando a imperatriz até a cadeira mais próxima, e saiu de seu campo de visão. Stephanie a observou, esfregando as mãos, abaixando a cabeça. Presa em seus pensamentos que estavam desenfreados.

Quando Rael voltou, ela apenas notou por causa do copo de água estendido.

A imperatriz não comentou nada, agradecendo a bebida antes de se hidratar, seus músculos relaxando assim como sua cabeça. Devolveu o copo à mulher quando acabou, e girou a cabeça para onde Rael havia se acomodado, sem fazer o sorriso desaparecer.

— Calma, Majestade — puxou o ar, e incentivou Stephanie a fazer o mesmo. — Agora explique por que acha isso. Fez algo precipitado ou seu marido deu um passo à frente como de costume?

— Os dois — suspirou, derrotada. — Estraguei tudo.

— Não o fez, minha senhora. Ele já sabe?

Stephanie sussurrou um não.

— A senhora planejou contar a ele?

— Sim. Pensei em contá-lo hoje à tarde, depois dos meus compromissos.

Rael levou a mão até o coração, suspirando, aliviada com as palavras.

— Bem, então está tudo bem, senhora. Julguei que fosse esconder ou o mandar para uma batalha como da última vez. — Ela se levantou, guiando Stephanie, que ainda tinha a boca entreaberta, pensando em como iria a rebater sem parecer ofensiva, para o biombo. Lá, ela tirou a combinação da soberana, a levando à banheira. — E não fique me olhando assim, porque sei de todas suas travessuras. É assim desde de pequena.

— Mas eu não posso mandá-lo para uma batalha uma vez que ele está ferido — finalmente disse, unindo as mãos para pegar um pouco da água, contudo, ela escorria com facilidade. O cheiro das essências rodopiando, perfurando suas narinas, melhorando seu humor, e consequentemente seus músculos, amolecendo ao contato do pano úmido em sua pele.

— Oh, então o mandaria se ele estivesse inteiro? — provocou Rael.

— Não — franziu o cenho —, eu nunca faria isso.

— Mas a senhora o mandou quando seu braço ainda estava ferido.

Aquilo acendeu a memória de Stephanie. Recordou-se do olhar frio de Leon, a cabeça erguida, os joelhos fincados no chão, assentindo suas ordens sem questionar. Era início da união, e eles viviam constantemente jogando um com o outro sem propósito nenhum. E apesar da mulher saber que seu marido estava machucado, seguiu em frente. O importante era mantê-lo longe dela.

Era como Leon a descreveu mais cedo: uma tirana.

Contudo, era somente com ele. Os demais súditos nunca sofreram o que ele sofreu.

Ela jogou a cabeça para trás, a apoiando na borda da banheira, encarando sua dama de confiança.

Era ingênua em acreditar que ele não sabia o que ocorria em sua mente e corpo naquela época que o mandou para resolver uma revolta sem mais ou menos somente não ter a opinião ou apoio de Leon no momento em que passava.

— Não importa, Rael. Nenhum de nós é o mesmo — respondeu, soltando um som de satisfação quando a mulher enfiou os dedos por dentro de seus fios, massageando sua cabeça. — Além do mais, se não fosse por aqueles panos cobrindo sua visão, ele já teria conhecimento de tudo.

Rael riu, pegando um dos braços de Stephanie dessa vez, o esfregando.

— O que mudou entre vocês? — A dama ousou perguntar, limpando o outro braço.

— Percebi que gosto de Leon.

Rael apenas sorriu com a resposta de Stephanie, continuando seu trabalho, e quando terminou a enxugou com um pano, e tirou de um enorme armário de madeira um dos mais antigos de Stephanie, mas que nunca se atreveu a mostrar a mulher. Os olhos da dama brilharam ao sentir a seda do vestido azul água, feliz por finalmente tirá-lo daquele lugar escuro.

Parou na frente da soberana, mostrando o vestido entusiasmada.

A imperatriz arregalou os olhos, reconhecendo aquela peça de roupa. Nunca viu, apenas soube de sua descrição e popularidade da alta sociedade. Era leve, podendo ser usado sem muitas anáguas, além de ser apertado apenas apenas no busto. Abaixo dele estava completamente solto.

Porém, só existiam quatro peças dele, e ela não entendia como tinha uma delas.

— Eu senti que apenas poderia lhe mostrar o vestido caso percebesse seus sentimentos pelo imperador. Antes disso, eu acreditava que a senhora o queimaria por ser um presente dele.

— Sim, eu faria isso — observou a mulher ao colocar a peça em seu corpo, e após ter acabado, girou no próprio eixo, sentindo a fluidez do vestido. Quando cessou, dois pares de sapatos brancos, médios, estavam parados à sua frente. Ela sorriu, os calçando. — Porém, seria uma pena. Ele é maravilhoso.

Olhou para Rael, voltando a postura rígida.

— Obrigada por tê-lo guardado.

— É meu dever cuidar da sua aparência e bem-estar, senhora.

A dama se curvou, e Stephanie sabia que não foi apenas o dever que a guiou.

A imperatriz se despediu de sua cuidadora, e chegou em sua oficina com leveza, saudando com energia sua assistente, dominando sua mente depois de ter conversado com a mais velha. Era tudo o que precisava para clarear os pensamentos.

Assim que se uniu à cadeira, a imperatriz pediu que Naw listasse todas as suas obrigações, enquanto assinava algumas montanhas de arquivos de contratos, multas, pedidos de prisão e de renovação de algumas áreas. Sua pena corria sobre o papel amarelado com agilidade, eternizando o pensamento de acabar seu trabalho o quanto antes.

— Esse foi o último, senhora — Naw avisou, ajeitando a folha na pilha.

Stephanie largou a pena no tinteiro, alongando os braços, e torcendo o pescoço em uma tentativa de relaxar seus músculos, porém, eles ainda estavam um pouco dormentes por ficarem tempo demais na mesma posição. Ela terminou sua ação, levantando-se da cadeira, se encaminhando à porta.

— Obrigada, senhorita Roux. Chegue em segurança em casa — desejou, girando a maçaneta da sua porta, após receber a reverência da cavaleira, e saiu dando passadas largas pelo corredor.

Enquanto passava, em pequenos intervalos de uma janela a outra, a luz alaranjada do sol denunciavam que era fim da tarde, e que ela deveria se apressar se quisesse se encontrar com Luigi e Leon no jardim.

Soltou o ar, virando as dobras dos corredores com mais urgência, até que já havia chegado no jardim interno. Como de costume foi recebida pelo doce perfume das flores, e com cuidado para não escorregar no caminho de pedras que levava até o quiosque. Normalmente não pegava aquele caminho, mas era um caso especial.

O dia inteiro estava sendo uma ocasião inovadora.

Leon, de forma direta ou indireta, sempre arruinou seus planos perfeitos.

Pelo menos agora ele fazia de maneira que ela se sentia bem.

Ao escutar as vozes de seu filho e do marido mescladas com o som do vento e os animais pequenos próximos, ela desacelerou os passos, adotando uma passada lenta e imperceptível, aguçando sua audição para escutar a conversa de ambos. Desejou saber sobre o que eles falavam sem ela presente.

— Dessa forma, você poderá pegar seu inimigo desprevenido — ouviu Leon.

Ela deu um passo, podendo enxergar Luigi em pé, ao lado do pai, exibindo um grande sorriso.

— E se eu fracassar? — O menino girou o pescoço na direção do pai, curioso.

Stephanie levou a mão próxima a boca, rindo baixo. Ela não ficou muito surpresa em ver ambos conversando sobre espadas. Era um pouco previsível, já que eles não tinham muito o que falar.

Observou Leon, fingir pensar em uma solução, mistério pairando.

— Atinja as pernas. Derrube-o, e o enfoque.

Luigi arregalou os olhos, seus olhos soltando em somente se imaginar fazendo aquilo.

A soberana viu aquilo como hora de se aproximar, então, subiu os degraus, caminhando até o filho. Depositou as mãos nos ombros do menino, o fazendo jogar o pescoço para trás, sorrindo imediatamente enxergando o rosto tranquilo da mãe.

— Sei que a ideia o assusta, mas quando chegar a hora, várias escolhas apareceram na sua frente e não poderá hesitar. Em outras, as opções serão tão escassas, que o tempo será seu inimigo. Pessoas lhe dirão "sua vida ou a dele", e você apontará para si — Stephanie descreveu a situação, mantendo Luigi e Leon atentos às suas palavras. — Nós ensinaremos você a sobreviver na alta sociedade. E eu a sempre as necessidades do povo ao invés das suas.

Ela pegou Luigi nos braços, e o garoto a encarou com os olhos baixos.

— Isso parece ser assustador — reclamou, e sua mãe riu, deslizando a ponta do dedo no nariz dele.

— Não será quando se sentar em meu lugar. Estará treinado quando a hora chegar.

Suas palavras aliviaram o garoto, mas ela sabia que não o poderia treinar para qualquer situação. Algumas ele teria que seguir a si próprio, assim como ela quando perdeu o pai de forma inusitada, e ganhou a posição de imperatriz.

Ela se sentou, colocando o garoto em sua respectiva cadeira. Luigi voltou a avançar nos doces distribuídos na mesa, sem conseguir a tensão entre seus pais. Stephanie se serviu, derramando o chá em sua xícara, e quando bebericou um pouco do líquido um pouco morno, Leon a olhava.

— Como foi seu dia, imperador? — apoiou a xícara no pires.

— Absurdamente agitado. Luigi me fez companhia o dia todo depois de suas lições.

Ele a correspondeu melhor do que ela esperava.

Stephanie direcionou o olhar para Luigi, que ao sentir seu olhar, parou, formando um sorriso com as bochechas cheias, e uma mão animada erguida com um biscoito de chocolate. Ela riu, se inclinando para dar um beijo na testa do menino, e aproveitou para limpar os cantos sujos da boca dele.

Em seguida, voltou a atenção para Leon.

— Ainda está com raiva por mais cedo?

— Eu deveria?

Ela suspirou, e pensou parar de ficar adiando.

— Um pouco. Você tem razão. Estou escondendo uma coisa muito importante — confessou, cuidando das palavras. Empurrou a saliva, coçando a garganta.

Leon bufou, e balançou a cabeça, esperando por aquilo.

— Vai me dizer que está escondendo um filho de novo? — supôs, sendo ácido, forçando uma risada.

A mulher deu um pulo interno, ficando calada.

Viu o sorriso falso do imperador sumindo aos poucos, tomando a sério o silêncio dela.

— Você está? — Ele engoliu a seco, apoiando o punho na mesa. A falta de palavras da mulher fez seu coração acelerar. — Stephanie, me responda, por favor. Isso é verdade?

Ela sugou o ar, colocando a mão sobre o peito.

— Sim, é verdade. Em meu ventre está crescendo o herdeiro dos Casteyer's.

Quando ela disse isso, Luigi soltou seus biscoitos, batendo na mesa, atraindo a atenção de sua mãe.

— Serei irmão mais velho? — Parecia que a ideia o agradava demais. — Ele vai reinar ao meu lado?

— Sim, você será irmão mais velho — pausou, esperando alguma reação de Leon, mas não chegou nenhuma —, mas o trono não pode ser dividido entre os irmãos. Seu irmão ou irmã herdará o nome e as terras dos Casteyer na cerimônia de maioridade. De forma indireta vocês governaram juntos.

— Entendo — assentiu um pouco desanimado, mas logo se recuperou. — Mas estou feliz em ter alguém para brincar e proteger — desceu da cadeira, correndo para abraçar a mãe.

Ela colocou a mão nas costas do menino, tentando retribuir o carinho.

— Obrigada, Luigi — disse —, mas pode deixar eu e seu pai sozinhos para conversar?

O príncipe assentiu, e se despediu de ambos antes de se encaminhar para seus aposentos.

— Você prometeu me contar tudo — Leon relembrou, o tom subindo.

— Eu contei, só não imediatamente — A mulher deu de ombros.

Ela viu o marido suspirar, se levantar com cuidado para não esbarrar, e parar na frente dela.

Stephanie esperou outra crítica, se preparou para aquilo, mas ao contrário do que pensou, o homem pegou sua mão, colocando os joelhos no chão, e beijou sua pele.

— O que está fazendo?

— Jurando está perto de você e de nossos filhos independente da situação. Prometendo cuidar, proteger e honrar minha família e a minha imperatriz. Fui criado para isso, e irei cumprir com êxito até o fim dos meus dias — jurou firme, se levantando, Stephanie sorrindo da maneira que ele falou como um cavaleiro.

— Acho que sua alma ainda está no campo de guerra.

Ela saiu da cadeira, abraçando o pescoço do homem, o surpreendendo.

— Espero que cumpra sua promessa, Leon Barueri — sussurrou no ouvido dele.

— Nunca falhei nesse quesito — rebateu, abraçando a cintura dela.

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