°•ORDEM XXVII•°
715/01/09, Reino de Alveberia, capital Mherga, Palácio Dunkel.
"Sua mente estava sendo mantida por uma sela. Uma omissão ainda era uma mentira."
A imperatriz remexeu-se na cama, tentando sustentar a agradável sensação da maciez dos lençóis, contudo, seu estômago apertou, dolorido, e ela abriu os olhos com rapidez, levantando da cama com pressa. Correu até uma sala estreita dentro do quarto, onde tinha um vaso arredondado com a sua mão pressionando sua boca e curvou-se, segurando os fios enquanto colocava para fora a comida do banquete.
Assim que acabou, ainda no chão, encostou as costas na parede, seu estômago ainda irritado. Sua garganta queimava, o coração alterando de ritmo.
Recostou a cabeça na parede, tentando acalmar a respiração, os tremores das mãos, e fechou os olhos. Contudo, não os manteve abertos por muito tempo pela sensação desagradável.
Seus olhos piscaram lentos, ela se esforçando para mantê-los abertos. Engoliu saliva em uma tentativa de manter o pouco que lhe restava no estômago. Balançou a cabeça, o local parecendo ondular.
Ela odiou estar cansada apesar de ter dormido bem.
Um sulco surgiu entre suas sobrancelhas, e ela voltou a consumir saliva, a garganta arranhando irritada. Encolheu os ombros, e colocou a mão morna sobre a barriga.
Inspirou e expirou, sentindo-se mais calma no silêncio do cubículo.
Ainda sentada, sem forças, permitiu que sua cabeça quase se encontrasse com seu ombro, os fios fazendo cócegas em seu rosto. Apreciou o som de suas inalações profundas até que se entregou ao sono novamente, o gelo das paredes penetrando em sua pele exposta.
†
Quando acordou, depois de uma hora, olhou em volta, sobressaltando, surpresa em ter dormido naquela posição. Sem pressa, em meio a um bocejo, e dando conta que o mal-estar havia passado, ela se levantou. Encaminhou-se para a cama, onde poucos centímetros estagnou os passos, feixes discretos de luz se projetando em seu rosto.
Agarrou a cortina de sua janela como o único apoio que ela encontrou enquanto seus olhos registravam Leon sentando-se na cama, retirando a manta pesada de seu corpo.
Ele tinha acordado. O peito de Stephanie esquentou ao vê-lo se mexendo.
Um sorriso iria surgir no rosto da mulher, porém, ele desapareceu quando ela viu Leon tentando arrancar as faixas que cobriam seus olhos. Antes que ele a removesse, ela soltou a cortina com urgência, tocando gentilmente no pulso do homem. Stephanie absorveu o espasmo que Leon teve contato com a neve em seu contato, e em seguida a paralisia.
— Stephanie? — Ele perguntou com a voz rouca, o tom deixando a imperatriz em alerta. E a atenção aumentou quando seu marido ergueu o braço livre para alcançar Stephanie.
A mulher, com um olhar curioso, avançou um passo para ficar ao alcance das mãos de Leon.
Quando a mão do homem fez contato com a dela, em sua barriga, sua ansiedade começou a se dissolver. Em seguida, os dedos de seu marido mapearam até suas curvas, as apertando. Stephanie estremeceu, os dedos febris do imperador convergindo com sua pele fria.
Stephanie entreabriu os lábios, tomando o ar aos poucos, tomando cuidado para não alterar sua respiração, e em contrapartida, Leon subiu o braço, fazendo que a combinação subisse até as coxas.
Ela estava consciente que não poderia deixá-lo ir além daquilo, mas permitiu, apenas o observando.
— Sou eu — manifestou, recordando que não poderia o deixar sem uma resposta. — Você está no nosso quarto. Sã e salvo.
Assim que sua voz reinou no local, Leon recuou o contato depressa, como se houvesse feito algo imoral. Ela quase sorriu ao vê-lo tomar aquela atitude, porque ele sabia bem quem era ela. Sabia que ele conhecia seu cheiro.
Mas ficou receosa quando Leon abaixou a cabeça, os punhos se fechando.
Ela ignorou os sinais de desconforto do homem, escolhendo seguir falando.
— Seu ferimento não está totalmente curado. As faixas serão removidas daqui a algumas semanas. Até lá eu cuidarei de você.
— Você está bem?
Ele permaneceu cabisbaixo.
Stephanie hesitou, sugando ar ao perceber ele distante.
Contudo, estava mais decepcionada com ela. Julgou que parte daquele comportamento era consequência do seu. Do modo que sempre era cortante, insensível com os problemas que o homem lhe apresentava. De deixá-lo sozinho para remover assuntos do reino quando também era seu dever.
Sentia-se culpada por ter dado as costas com tanta naturalidade.
Deu-se conta que não a única sofrendo no escuro.
Porém, no campo de batalha, eles conversaram sobre suas atitudes futuras.
"Quando voltarmos", recordava-se bem do sorriso caloroso que o homem lhe entregou enquanto segurava firme sua mão. Do frescor. Do cheiro característico do solo. De suas pernas entrelaçadas. "Irei tentar juntar cada um dos nossos pedaços deixados ao longo dos seis anos."
"Iremos consertar" , corrigiu Leon usando a mão livre para tirar o fio de cabelo do rosto dela. Eles trocaram sorrisos antes de se despedirem para cada um lutar suas próprias batalhas.
A mulher estava confusa, porque concordou, mas foi o primeiro a se afastar.
— Stephanie?
— Completamente intacta — sorriu mesmo que ele não pudesse ver. Aproximou-se dele, segurou seu rosto, o homem acostumando-se com a temperatura das mãos da mulher, ela pressionando as palmas nas bochechas de Leon. Ela queria o tirar daquele casulo, remover a barreira que ele colocou consciente ou não. — Está tudo bem. Nós ganhamos. Eu sei que está se culpando, mas não precisa disso. Você me protegeu e eu agradeço por isso.
— Mas eu me tornei um peso — rebateu.
Stephanie arregalou os olhos com a confissão, e separou os lábios, atônita com a atitude de Leon.
Seu peito apertou, e seu toque ameaçou a fraquejar.
Era assim que ele se sentia quando ela o tratava mal? Não era nem de longe a mesma coisa, porém, queria entender o porquê dele falar aquilo com tanta agressividade compactada com calma. Talvez ele odiasse depender de alguém. Depender dela para cuidar dele.
Ela nunca parou para refletir sobre os sentimentos de Leon.
Stephanie colou a testa com a de Leon, conduzindo calor, acariciando com os polegares as bochechas dela. Seus fôlegos se mesclando no ato, e aproveitando a aproximação, Stephanie inspirou com calma o cheiro suave de sândalo e de ervas medicinais vinda de seu marido.
— Você lutou bravamente, não se veja como um fardo— seu tom saiu calmo, o homem permanecendo quieto. — E seu comportamento de agora é algo do passado? Eu lhe disse algo que o magoou?
Ela não estava acostumada a tomar aquela atitude inofensiva, porém, estava se soltando um pouco da máscara que tomava desde o momento que enfrentava a realidade composta em seus olhos até quando a escuridão não fosse nada além que visse.
Leon riu fraco, cobrindo as mãos de Stephanie com as dele, a compressão dos músculos cessando.
— A resposta para essa pergunta é simples — Stephanie atenta, esperou a continuação, seguindo os movimentos ousados de Leon. Ele deslizou as mãos da mulher de seu rosto, as levando até seus lábios, roçando levemente neles. — Sim, porque você já me machucou bastante com palavras. Não, porque o motivo do meu mau-humor são essas faixas. Por causa delas, não consigo saber se você está realmente bem — deixou um beijo delicado nas mãos da esposa.
A imperatriz sufocou um riso, e Leon sorriu.
— Estou bem, eu prometo — reforçou, Leon soltando suas mãos. Estava totalmente preenchida com as boas sensações, mas encarou a janela, observando os criados trabalharem e voltou a atenção para o marido, seus ombros murchando. — Eu queria ficar mais um pouco, mas terei que cumprir com meus deveres. As damas cuidarão bem de você. Estarão à disposição de qualquer coisa que precisar.
— Compreendo. Estarei ao seu aguardo, imperatriz — Leon expôs em meio a um sorriso.
— Stephanie.
O homem ergueu a cabeça.
— O quê?
— A partir de agora pode me chamar de Stephanie.
Stephanie viu a boca de Leon se abrir para falar algo, contudo, o som da porta sendo aberta com brusquidão irrompeu suas intenções. O casal sobressaltou com o barulho, ficando em alerta imediatamente.
A mulher olhou na direção da porta, vendo Luigi correr até o pai, se pendurando em seu pescoço, deixando Leon surpreendido. Como não era algo esperado, quando seu filho encostou a cabeça próximo ao seu ferimento, uma dor fina se espalhou por seu corpo. Contudo, ignorou o desconforto, abraçando o menino.
— O senhor acordou! Meu pedido foi atendido! — Luigi exclamou, apertando Leon com mais força, escondendo o rosto na dobra do pescoço do pai, rindo. As risadas do garoto tiveram um bom efeito no homem, pois até aquele momento não sabia como ela tinha a sensação de tê-lo daquela forma.
E almejou por mais. Queria presenciar todas as emoções do menino sem falta.
Envolveu o braço mais firme ao redor do corpo do filho, contudo, durou apenas alguns segundos.
Logo um vazio se instalou, seu coração disparando.
— Sei que está feliz, mas seu pai precisa descansar — O garoto fechou os olhos quando recebeu um beijo da mãe na têmpora. Sua expressão era confusa, pois não soube quando a mulher o puxou para seus braços. — Quando terminar as lições pode fazer companhia a seu pai se desejar.
— Posso mesmo?
Ela assentiu com a cabeça. Luigi abriu um grande sorriso, mostrando os dentes, a abraçando e dando um beijo na bochecha. A mulher o colocou no chão, e ele se despediu de Leon da mesma forma — a única diferença foi que precisou puxar o braço do homem para o deixar na altura ideal —, e saiu saltitante, determinada a acabar logo suas lições e retornar aos aposentos de seus pais.
A soberana permaneceu encarando a porta com a mão sobre seu rosto mesmo após o garoto sair, perdida em seus pensamentos. Estes foram interrompidos quando um suspiro de alívio por parte de Leon se apresentou no recinto.
— Por um momento pensei que estivesse me afastando de Luigi.
Ela olhou na direção de Leon, que tinha uma das mãos na testa, aparentando se recuperar de algo.
— Não vou mais fazer isso. Prometi a você uma chance para consertar tudo.
Ele retirou a mão, sorrindo, deitando-se, meditando sobre as palavras de Stephanie.
— Um recomeço — sussurrou.
— Sim, para todos nós — completou Stephanie.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top