°•ORDEM XXI•°

714/12/09, Reino de Eisen, capital Sallow, planalto Verloren.

"Era aquilo o movia. A adrenalina e o cheiro vicioso de ferro."

A terra tremeu com a marcha pesada dos soldados. Os gritos atordoaram os pássaros que adentraram com pressa para as profundezas da florest
a, juntando-se à atormentação de suas copas. Somente restavam os resquícios da luz alaranjada do sol, porém a luta acirrada entre os dois exércitos seguia mais viva do que qualquer coisa.

Rochas flamejantes gigantes cortavam o vento, derrubando homens e seus cavalos.

Violência e desespero pingava nos olhos de cada um.

Eles nutriam a vontade de viver mais um dia. Sonhavam com a paz em cada golpe.

Em meio a prevalência do caos, Stephanie moveu-se pelo mesmo motivo. Ela cavalgou com afinco pelo campo com sua comumente armadura branca — onde seu tasset era maior, criando quase uma saia —, com sua espada erguida, esquartejando e perfurando membros dos seus inimigos. O sangue respingou diversas vezes em seu elmo, mas não alcançaram a couraça. Seu cavalo estava mais manchado que a sua dona.

A mulher se manteve ativa em toda a batalha, ajudando seus aliados no que poderia, não se importando com a quantidade de homens que a cercava.

Assim que a ela decapitou outro cavaleiro, soltou o ar depressa, inspirando toda a impureza que cobria o ar. As cinzas sendo levadas pelos ventos juntamente com a vida de seus súditos. O cheiro de corpos carbonizados, e principalmente de ferro.

A imperatriz trincou o maxilar ao recordar-se que as pessoas estavam morrendo por sua causa.

Devido a um erro, a vida de inocentes que ela deveria proteger foram perdidas.

Elas estavam debitando algo que não tinham o menor conhecimento.

Stephanie brandiu a espada, limpando o excesso de sangue, ainda pensativa. Seus olhos azuis, vistos somente por uma fenda estreita, estavam distantes, enquanto ela galopava com tranquilidade sobre o campo incendiado. Tinha uma camada de suor colocando suas vestes por baixo da armadura.

Seguiu percorrendo o perímetro calma, captando cada pequeno som. Ninguém a atacaria naquele momento, assim que ela aproveitou para absorver cada estalo das pedrinhas esmagadas na patas de Max, da expressão aterrorizada dos mortos, tentando ao máximo não pisá-los. Os gemidos de dor daqueles que se erguiam para vencer, e as lamúrias das centenas sem salvação.

Em seu interior, ela procurou razões para estar tão emotiva. O pensamento primário foi que fazia muito tempo desde que viu o lado selvagem do ser humano, e dessa forma, todos os sentimentos emergindo era por conta da tensão de falhar. Eram novos tempos.

Mas era normal aquele comportamento.

No campo de batalha, deveria ser regra todos esconderam sua humanidade, deixando sua parte cruel, sombria para tomar o lugar.

Tudo acabaria mais rápido.

Porém, os conflitos nascem de sentimentos supérfluos.

Com as ideias confusas, Stephanie preferiu não pensar; em invés disso, suas comissuras se ergueram até atingir o limite por baixo do elmo, e girou a espada. Puxou as rédeas de Max e bateu levemente em suas coxas, o incentivando a acelerar. Dessa vez, sem cuidado ou pudor, o cavalo pisava em todos seus obstáculos.

De longe, Stephanie observou Naw ficando sem flechas, e encurralada mesmo socando e chutando alguns cavaleiros. Sua coruja, Dher, tentava manter os homens confusos, mas não por muito tempo. Antes de ir ao encontro de sua guerreira, fez uma vistoria ligeira, procurando a espada da garota, mas aparentemente ela perdeu durante o confronto. Decidida, ela mudou sua direção. Veloz, chegando por trás de um dos homens, Stephanie pulou do seu cavalo, perfurando o pulmão de um dos soldados.

Em seguida, puxou outro homem pelo pulso, dando uma cabeçada nele, e uma cotovelada, deixando-o desnorteado. Deu às costas a este, pisando no pé do que tentou a pegar desprevenida. O homem soltou um grunhido abafado, e sem poder ter chance para se defender, Stephanie decepou primeiro seu braço, depois atingiu seu coração, arrancando rapidamente a espada.

Quando iria voltar ao anterior arquejando, ouvindo o coração disparando, vislumbrou Roux metendo sua última flecha na clavícula do soldado. O feito foi instantâneo. Ele gritou e seu corpo caiu surdo no chão, sem vida.

Naw limpou o suor com seu braço espalhando as cinzas, e antes de terminar a ação, chutou um cavaleiro, forçando seus músculos. Soprou para tirar sua franja de seu campo de visão, soltando uma reclamação sobre ter perdido seu elmo, e ergueu os punhos; porém, Stephanie derrubou os dois inimigos com uma rasteira e matou ambos.

— Foram bons golpes, Roux — Stephanie a parabenizou, e a garota sorriu, fazendo sinal com os dois dedos para Dher, reorganizando seu batalhão. — Mandou as garotas para o norte?

— Sim. A zona leste foi dominada pelo grupo do imperador e duque Walmart, enquanto a oeste pela senhora e por mim, e a sul pela rainha Charlotte e a condessa Wolf — disse, agachando-se, pegando sua espada enterrada em um dos homens.

— E onde estão os generais de Eisen? — Stephanie perguntou semicerrando os olhos, percebendo que o campo de batalha tinha muitos dos seus. Conhecendo a liderança brutal dos generais de Eisen, esperava mais. Além do mais, era como se eles estivessem dando uma vantagem a mais a ela.

— Não que fosse mudar o resultado — sussurrou para si mesma, e em seguida, gritou o nome de Max, que foi ao seu encontro galopando. Enquanto esperava, voltou a atenção em Naw. — Sabe sobre algo?

— Não, senhora — respondeu imediatamente, balançando a cabeça com os ombros caídos.

Ela voltou a subir, e Naw lançou uma mirada determinada a ela. Stephanie agarrou as rédeas de Max, esperando as palavras de sua amazona. Observou a boca de Naw abrir-se e fechar diversas vezes até produzir coragem para pronunciar as palavras. Com toda aquela preparação singular de Roux, a soberana imaginou que seria algo sério.

— Senhora, conceda-me a permissão para derrubar um dos generais?

Os olhos de Stephanie se arregalaram quando escutou o pedido firme de Naw. A mulher julgou ter escutado errado, contudo, foram as palavras mais límpidas de Roux durante toda a sua convivência com a jovem. Era teimosa, e sua decisão inquebrável.

— Não — determinou em tom calmo, direcionando o olhar para a tenda que ostentava o símbolo do martelo —, eu já irei fazer isso. Tenho assuntos pendentes a resolver. Tente ajudar suas recrutas e outros enquanto isso. Não deixe que a busca por reconhecimento sobreponha sua segurança. Preciso de você e da sua força, senhorita Roux.

A garota assentiu com a cabeça e começou a correr em busca de outro alvo.

Stephanie de pronto se direcionou à tenda de Gary Moore. Em caminho a estrutura, Stephanie suspirou pensando em como seria cansativo ter que lutar novamente com o homem.Contudo, ela não seria tão misericordiosa como fez da última vez. Completaria o serviço dessa vez sem falhas. Ao mesmo tempo que lamentou ter colocado todo seu esforço no ataque e ele sobreviveu.

Stephani estalou a língua, cada fibra sua vibrando.

Quantas vidas tinha Gary Moore para ressurgir sempre que alguém tentava apagar sua existência? Ou por que Deus estava ao seu lado?

Próxima o suficiente da tenda, ela desceu de Max, guardando sua espada, virando-se para acariciar o animal, após terminar seu carinho ordenou ele se esconder. Max cumpriu a ordem, galopando até a floresta e sua sombra sumindo aos poucos. Daquela forma ele estaria seguro e pronto para agir caso algo desse errado.

Sorrateira, Stephanie abriu a fenda com cuidado, adentrando. movimentou os olhos para todas as direções. Bateu o escarpe sutilmente sobre a grama seca, prendendo a respiração o máximo que conseguisse. Não encontrou ninguém na primeira divisão da tenda, apenas armas e armaduras e mapas.

Gotas de suor desceram de seus fios, escorrendo pelo seu rosto quando pisou no que parecia ser um quarto. Atrás de uma mesa, sustentando uma luneta em suas mãos, estava Gary Moore admirando a destruição afora pela janela improvisada. Ela avançou pé ante pé, até que enfiou sua mão no crânio do general, que tenciona sobre seu toque, puxando seus fios.

Moore trincou os dentes quando seu pescoço pendeu para trás, sendo forçado a assistir a crueldade que sobrevoava os olhos da imperatriz. De reação tardia, ele moveu sua mão por cima da mão da imperatriz, tentando escapar, mas foi inútil.

— Peço desculpas pela minha invasão, mas você ainda tem algo que pertence ao império — anunciou com falsa educação. Agradeceu aos céus pelo homem estar sem armadura. Agora ela poderia aproveitar para fazer o que fizer com ele.

— Herniel agora é um objeto?

— Sabe o eu que quis dizer.

Ele lançou um sorriso maníaco, e Stephanie franziu as sobrancelhas.

— Podemos deixar essa discussão para mais tarde. Agora diga onde ele está — balançou o general, porém, o maldito mantinha o sorriso pertubado no rosto, revelando seus dentes alinhados. Voltaria a perguntar, porém, suspirou, preferindo fitar o local para ver o sinal da presença de Herniel.

— Procure o quanto quiser. Não o achará — moldou as palavras calmo, e aumentou o sorriso. — Está perdendo seu tempo, Dama de diamante. Suas tropas sem seu comando podem cair facilmente.

Stephanie ignorou as palavras de Gary, tirando uma pequena lâmina de sua manopla sem paciência, mirando-a na garganta de Moore com força, fazendo sangue se acumularem no fio dela.

A imperatriz ficou em silêncio, dando escolhas para Moore decidir.

A visão de Gary foi para a faca reluzindo em seu pescoço, e subiu até a expressão de Stephanie avaliando o quão séria ela estava. Porém, ele não conseguiu ver nada. Somente possuía o vazio guardado nas orbes da imperatriz. Ele não conseguiria prever daquela forma. Entretanto, a resposta veio em seguida, quando a mulher aprofundou ainda mais.

Moore engoliu a seco, e tentou retroceder.

— Te matarei se mover mais um músculo — ameaçou, gelo em seu tom.

— Ele não está aqui — disparou rapidamente. Stephanie guiou o corpo de Moore até a mesa, o jogando sobre seus mapas, e ficou sobre ele, ficando entediado com o teatro do homem. — Por que eu iria trazê-lo para uma batalha? — elevou o tom, cerrando os punhos com força.

Stephanie soprou uma risada zombeteira.

— Moore, pare de mentir. Entre um campo de batalha, onde você teria suas vistas nele e uma mansão a quilômetros de distância sem sua observação, você sempre escolheria a primeira.

A imperatriz viu o olhar triunfante de Moore se transfigurar para pura resignação.

O general querendo fugir da leitura de Stephanie moveu os braços, porém, ela o imobilizou com o braço livre, batendo com força o pulso dele na mesa. Ele grunhiu, frustrado, e Stephanie blefou abrir sua carne.

— O quê? Você — tentou falar.

— Independente da situação de perigo — completou antes que fosse interrompida novamente. Moore ainda permanecia com aura assassina, o maxilar marcado. — Por mais que se vanglorie pelas suas vitórias e estratégias absurdas, ainda faltam muitas léguas para você me alcançar. Agora diga de uma vez.

Ela cortou mais fundo dessa vez, gotejando alguns pingos sobre a mesa, e foi questão de tempo até os gemidos do general preencher o local.

Foi nesse momento que um som metálico residiu no profundo eco da tenda, chamando atenção de Stephanie, sobressaltando e seus músculos retendo. Ergueu a cabeça depressa, preparando-se para usar o corpo de Moore caso fosse um inimigo. O silêncio ficou pairando no lugar por mais alguns minutos, até que uma abertura imperceptível surgiu.

Stephanie estreitou os olhos, e Moore começou a se debater furioso sobre seu agarro.

Tem algo ali, pensou a soberana, até que o vento soprou levantando os panos afoitos, revelando Herniel tentando puxar as pesadas correntes, enquanto dizia algo inteligível pela máscara de ferro.

— Você colocou uma corrente no pescoço de Herniel? — Ele perguntou, apesar de estar vendo. A indagação inicial foi calma, porém, no decorrer dos segundos, vendo a máscara cobrindo a boca de seu comerciante, e lágrimas ameaçando a caírem, ela perdeu a paciência. — Você colocou uma maldita corrente no pescoço de Herniel!?

Movida pela floração de emoções, Stephanie livrou Moore de seu aperto, agarrando seu pescoço e o jogando no chão. Ele reclamou, lançando uma mirada raivosa para a soberana, mas nada comparado ao olhar de desprezo que fervia nas irises da imperatriz.

A mulher avançou em passos duros, prendeu os dedos em suas vestes, forçando a se levantar, e assim que ficou cara a cara com o homem, deu um tapa em seu rosto. O estalo se propagou pelo espaço, e a cabeça do general virou com força. A palma de sua queimava, porém, ela não sentiu que tinha o suficiente.

Voltou a posicionar a atenção para frente, indignado, mas voltou a receber outro tapa. Mais forte que o anterior, o derrubando no chão. Não raciocinou o que aconteceu, apenas registrou o gosto de sangue inundando sua boca.

— Uma maldita corrente — repetiu, dando um breve passo. — Você está o tratando pior que escrita e prisioneiro de guerra, Moore? — brandou entredentes, raiva descomunal a preenchendo.

Stephanie o chutou na barriga, fazendo que uma dor insuportável se alastrasse até os ossos de Moore, apesar de seu ferimento ainda não recuperado estar localizado no abdômen. Ele sugou o ar e o expeliu de vez, pressionando o ferimento com uma das mãos, rangendo os dentes. Quando encostou a mão em sua pele quente fez um som molhado.

A ferida se abriu no pior momento.

— Não... — Gary tentou explicar-se, fazendo uma breve ingestão de ar enquanto seus músculos tinham pequenos espasmos. — Não foi eu que coloquei essas coisas em Herniel. Vossa Majestade, o rei, que colocou.

Stephanie fingiu que não escutou suas palavras e iria tornar a atacar Gary, porém, Herniel agitou as correntes, e a soberana parou seu ataque, virando-se na sua direção, indo até ele com uma expressão preocupada. Ao contrário de Herniel que a encantava com os olhos dilatados de medo, tremendo.

Era compreensível. Ele nunca a viu naquele estado sujo e cruel.

— Eu irei te soltar, tudo bem? — Stephanie foi cautelosa, tentando não o assustar mais ainda.

Ele acenou, uma lágrima solitária caindo. A imperatriz apressou-se, e a limpou antes que pudesse cair, encostando na pele frágil de Herniel com sua armadura. O homem piscou, e a encarou com tristeza profunda.

— Imperatriz, por favor — aumentou o tom de voz para poder ser ouvido, tentando se aproximar da Stephanie —, eu lhe rogo, não o machuque mais que isso. Não mate. Eu irei voltar, mas não manche suas mãos por minha causa.

Stephanie voltou a espalhar as lágrimas que insistiam em cair. Nunca pensou que o veria chorar em tão curto espaço de tempo. Estava longe de ser um garoto muito sensível, mas parecia que os últimos acontecimentos o impactaram bastante. Perdeu peso. Grandes manchas pretas envolviam seus olhos.

O que Moore fez com ele?

O que ela fez com ele?

— Sim, eu o permito viver — empurrou as palavras para somente acabar com aquilo. Porém, sua voz interior gritou que era somente por um dia. Por um dia ela deixaria respirar. Nada além daquilo.

Seu choro diminuiu consideravelmente, e Stephanie se apressou para vasculhar Moore para achar as chaves. Ela se agachou do homem agonizando, o apalpando em todos os cantos, até sua mão sumir no casaco do homem, encostando em algo, Puxou, as chaves chacoalhando, mas antes Gary agarrou seu pulso.

— Eu irei pegar de volta. Esperei-me, Stephanie Bellucci — declarou, soltando lentamente a mulher.

— Tente — devolveu, e ele apenas observou ela girando as chaves, libertando Herniel.

Assim que as correntes caíram, Stephanie o colocou em seus braços sem dificuldade. Caminhou até a saída, ignorando o homem deitado no chão, sangrando e agonizando de dor. Ele começou a suor frio, e sua pele perdeu a cor. Talvez ele morresse se ninguém o ajudasse logo.

— Imperatriz, posso trocar algumas palavras antes de ir? — Herniel pediu, fungando.

Stephanie o soltou sem dizer nada, e o garoto correu até Moote, ajoelhando-se na sua frente, enquanto Stephanie abriu sutilmente a fenda da tensa, analisando a destruição afora. Pela suas observações, ela só precisaria vencer mais algumas pessoas para vencer aquela primeira batalha.

Quando Herniel retornou, ela voltou a pegar nos braços, retirando-se da tensa, chamando Max. Colocou Herniel atrás, dando-lhe espaço para ficar à frente. Montou o cavalo e o conduziu até o núcleo da batalha. Quando chegou lá, um soldado de Eisen brandindo de forma aleatória sua espada, gastando todas as suas forças remanescentes para dizer asneiras.

Perdeu o elmo, e sua cara estava marcada de arranhões e fuligem.

— Cadê aquela mulher? Aquela que todos dizem ser a mais forte do império? — girou, afoito, em seu próprio eixo, perguntando para o vão. Todos estavam preocupados em defender sua vida ao invés de dar atenção a um louco qualquer. — Implacável? Só se for correndo! Eu irei derrotá-la — proclamou, sua voz embolada e rouca. — Eu irei arrebentar cada osso dela! É apenas uma meretriz suja que se aproveita da fama do marido.

— Está me procurando, cavaleiro? — Stephanie perguntou calma, descendo de Max, aproximando-se do guerreiro, desarmada.

O homem pintado de sangue, transpirando muito, ergueu a espada na direção da imperatriz, e correu, tentando acertar seu coração. Stephanie desviou facilmente do golpe, e em seguida, chutou a perna do cavaleiro, jogando uma adaga em seu pescoço antes que ele a fizesse ser mais drástica.

O cavaleiro ainda agonizando virou-se para Stephanie, caminhando pesado até Stephanie, e aparentemente sem forças, ele apontou o dedo para a imperatriz, abrindo a boca com dificuldade, sangue jorrando nas laterais.

— Você é apenas uma meretriz patética. Não merece o título de imperatriz — cuspiu, e quando tentou dedicar mais palavras, suas pernas fraquejaram, e decaiu. A soberana encarou alguns segundos aquele cavaleiro, porém, a observação durou pouco. Voltou a fitar o horizonte, alongando seus músculos.

— Cuide bem de Herniel, Max — disse somente, e o cavalo relinchou em resposta. Dumont não falou ou expressou qualquer reação àquilo, apenas manteve o olhar firme em sua imperatriz.

Uma rajada de vento soprou pelo local, levando uma fumaça tênue aos pés de Stephanie, voltando a sacar novamente sua espada, avançando a toda velocidade a barreira de fogo que apareceu no campo. Atravessou as chamas, protegendo os olhos com os braços, manejando rápido a espada o suficiente para decepar a cabeça de um homem que tentou atacar Leon pelas costas.

Assim que o corpo do homem declinou, Stephanie e Leon fizeram contato visual intenso, interligando-se.

Sangue espirrou no elmo da imperatriz, e ela correu até seu marido, derrubando o máximo de inimigos possíveis. Era uma dança majestosa. Cada movimento limpo, o tintilar de sua lâmina com as malhas dos cavaleiros, eram perfeitos. Um espetáculo de carnificina que somente ela conseguia fazer, ao seu estilo. Seguiu eliminando os obstáculos até alcançar Leon.

A armadura de seu parceiro era banhada a sangue, trocando entre o ataque com a espada e a defesa com o escudo.

— Não foi esse meu comando a você — Stephanie colou as costas com a de Leon, sentindo cada locomoção de seus pulmões. Seu cenho levemente franzido ao vê-lo naquela área.

— Também não me recordo que você poderia salvar Herniel — retrucou, chutando um homem usando a espada para torcer o pulso, o ferindo em seguida.

— Sou a comandante geral, posso fazer o que estiver adequado.

— Não é bem assim — arquejou, trocando de lado com Stephanie —, seu dever é nos guiar para a vitória. Um passo errado seu, é fracasso para todos nós.

Stephanie gargalhou alto, agarrando o pulso de Leon, impedindo de continuar os ataques.

O imperador entreabriu os lábios por baixo do elmo, seus pensamentos desacelerando assim que sentiu o toque agressivo de Stephanie o envolvendo.

— Nada depende de mim exclusivamente. É para isso que os nossos homens possuem você ao lado. Caso algo aconteça comigo você se tornará o sol deles. Não esqueça jamais disso — As últimas palavras ele sussurrou, ganhando um olhar atento e confuso de Leon. — Você é o herói e eu sou a cartomante. Sempre dessa forma.

O sulco entre as sobrancelhas de Leon se aprofundou, porém, quando ele iria perguntar, Stephanie o soltou, subindo em dos destroços de um catapulta inimiga, rangendo com seu peso. Desfilou até o ponto mais alto, apontando a espada para o alto, soltando um grito selvagem. Forçou a garganta até que todos tivessem os olhos postos nela.

— Homens, a vitória de hoje pertence a Alveberia! — anunciou em bom som, propagando-se por todo campo.

Seus homens comemorando em uníssono preencheu seu ouvido. Alguns caíram sobre o chão de joelhos, chorando, e outros rugindo, vibrando como nunca. E aqueles que não faziam nenhuma das duas coisas, estavam se ocupando prendendo o perdedores e perseguindo os que tentavam fugir de seus domínios;

O instinto primordial ainda movia os homens mesmo depois da vitória.

Stephanie sorriu, orgulhosa por ter montado outro plano sem falhas. Inebriada dos sentimentos que lhe invadiu, moveu um passo imprudente, os restos da antiga arma cedendo em seus pés. Ela soltou um pequeno grito, os pulmões parando de trabalhar, seus músculos paralisados e sofrendo a quebra antes de acontecer.

Ninguém notou o som metálico misturando-se com a madeira queimada.

Menos uma pessoa.

Stephanie ergueu o torso ainda afundada na carcaça de catapulta, abrindo os olhos lentamente, encontrando uma mão estendida. Ela hesitou por alguns segundos, porém, não conseguiu recusar. Ultimamente, ela não queria ser austera com Leon.

Agarrou a mão de seu marido, logo sendo puxada para perto dele. Seu pescoço pendeu um pouco para trás, encontrando preocupação nos olhos de seu parceiro.

— Melhor tomar mais cuidado na próxima vez que tentar subir em destroços.

O lembrete de Leon saiu ríspido, enquanto seu olhar varreu o corpo de Stephanie. Tudo aparentou no lugar com aquela armadura.

— Tentarei, imperador — afastou-se de Leon, sombras de divertimento na sua fala. — Quem sabe da próxima eu não o chame para cair junto a mim? — provocou, guardando sua espada.

A expressão de Leon fechou-se, repetindo a ação de Stephanie, guardando sua arma.

— Não estou com brincadeiras, imperatriz.

Stephanie deu as costas, iniciando sua caminhada para reunir seus homens. Sem parar sua caminhada, ela acenou para seu marido.

— Não fique parado aí, temos que fazer o próximo movimento. Preciso de sua ilustre presença e opinião para validar a estratégia — gritou, e Leon a alcançou sem dificuldade, ficando ao seu lado. Stephanie ergueu o queixo, estagnado os passos, e Leon fez o mesmo, abaixando a cabeça. — Obrigada pelos esforços de hoje. Foi uma ótima batalha.

Leon não teve coragem de lhe dizer nada. Estático com as palavras de Stephanie.

Eram as palavras e agradecimento que ele passou seis anos esperando.

Longos anos de esforço para receber uma única palavra.

Ele não resistiu a vontade de sorrir.

Enquanto Stephanie somente imaginava derrubar Eisen.

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