°•ORDEM XIV•°
714/11/24, Império de Alveberia, florsta Nefhay. Próxima ao território de Storteff
"Coisas inusitadas acontecem à noite."
Stephanie arquejou, desviando de uma flecha que veio da sua direção, rasgando a camada fina da sua bochecha. Ela fez contato visual com um dos homens no alto das árvores, que tinham posses de arcos e flechas, procurando seus pontos cegos. Porém, logo teve que se esconder quando voltaram a dirigir uma chuva de flechas em sua direção.
Afundando suas costas no casco grosso da árvore, ela tentou controlar sua respiração, sem perder o foco dos sons a sua volta. O vento quase congelante da floresta soprou, atrapalhando seus sentidos por um segundo. Na realidade, toda a floresta estava influenciando na sua concentração. O farfalhar das copas altas lhe confundia, havia muitos ruídos. Ou era a presença do seu marido que estava a atrapalhando?
Balançou a cabeça, levando o pequeno punhal a sua boca, decidindo fazer o mesmo que seus convidados especiais: usar um arco e flecha. Posicionou a flecha no arco, ainda próximo de si, e relaxou os ombros, fechando os olhos por um segundo.
Leon não era um problema. Ela tinha consciência disso.
A prova daquilo era que eles foram separados durante o ataque.
Com os olhos fechados conseguiu recuperar sua atenção, conseguindo absorver os pequenos ruídos humanos. Humanos produziam sons independente de haver música ou não. Era natural. Como de qualquer outro animal. Stephanie entendeu isso durante algumas conversas com seu pai, e era útil lembrar dos ensinamentos do seu falecido progenitor de vez em quando.
Assim que abriu os olhos, virou-se, e mirou depressa para o topo da árvore mais próxima.
Um grito abafado prendeu-se nos ouvidos de Stephanie, porém não o suficiente.
Ela tinha que continuar até todos estarem mortos.
E ela eternizou o pensamento, não cessando.
Corpos começaram a cair das árvores conforme ela avançava, driblando os troncos das árvores, os arbustos, e os pedaços de tronco espalhados em seu caminho. Teria que acabar logo. Antes que suas flechas acabassem. Assim que ela retirou do seu aljava a última flecha, ela ergueu o arco, mirando para a sombra de sua presa escondida entre as árvores. Ela esperou, perpetuando o silêncio, esperando a primeira ação. Contudo, soltou a flecha assim que o ar soprou com força.
Sua flecha ricocheteou ao contato de uma lâmina, e ela arregalou os olhos.
Sem oportunidade de se recuperar do choque, uma adaga voou na sua direção, cortando seu braço. A ardência da ferida a retirou do choque, fazendo-a reclamar, recolocando seu arco nas costas. Seus dedos puxaram a adaga de sua boca, e em um movimento rápido, a atirou.
Não esperou reação do seu inimigo, apenas começou a levantar dos calcanhares, correndo à sua frente, sem dar por completo as costas ao assassino. Ela acelerou os passos quando ouviu as folhas se mexendo sem a interferência do vento.
Sacou de sua cintura outros dois punhais aguardando uma abertura, enquanto inclinou minimamente para desviar de outra faca da sombra desconhecida que se movimentava entre a vegetação com maestria absurda. Ele se disfarçava bem no quadro da noite, com a presença de um animal de caça.
Durante a árdua corrida, Stephanie distraiu-se por um segundo durante o esquivo das facas, tropeçando no limo da área, parando de respirar quando seu ombro bateu contra uma pedra, ouvindo seu ossos triturar entre si no impacto. Ela segurou um gemido, levantando-se com pressa, levando sua mão gélida ao braço, impedindo seu uso.
Ao continuar avançando sem rumo, Stephanie avistou uma luz prateada descansando em algumas folhagens, e aumentou a velocidade, por aquela ser a única luz na escuridão cegante da floresta. Chegando perto o suficiente, com o coração palpitando em adrenalina, ela enxergou a lua sendo refletida em um lago de águas cristalinas. Ela fitou o local, analisando, mas se colocou em alerta quando ouviu passos velozes.
Então, espreitando os olhos, ela enxergou no meio da escuridão, a forma do seu assassino se moldando, crescendo a cada passada. Sua arma cintilou sob a luz do luar, sedenta para carregar seu sangue. Ele moveu o braço, pronto para soltá-la, porém, parou observando Stephanie se pendurando com o braço utilizável no galho de uma árvore, esperando seu ataque. Seus olhos eram de gelo, e mesmo marcada com vários cortes, ela estava emoldurada para ele.
O interior do assassino se contorceu com o mal presságio, e distraído nas ramificações de sua mente, ele se aproximou demais da imperatriz. Quando se deu conta de seu erro, a mulher o chutou com força o suficiente para fazê-lo tropeçar, caindo na terra lamacenta. Ouviu um baque, e quando Stephanie entrou no seu campo de visão, desejando descer o punhal em sua garganta, ele desviou.
Colocou-se de pé, arrancando um grunhido de Stephanie.
Ela voltou a investir nele, dando um chute na lateral do homem. Ele se contorceu, e ameaçou fraquejar, contudo, quando Stephanie daria seu segundo chute, ele agachou, tossindo. A visão do assassino desfocou, e a imperatriz aproveitou seus movimentos lentos para dar uma joelhada em seu rosto. O corpo do homem pendeu para trás, e ele caiu, respirando pesado, com o nariz quebrado. O sangue manchou as roupas de Stephanie ao esguichar.
A imperatriz aproximou-se, agarrando o pescoço do homem, que se debateu ao seu toque, e fez esforço ao movimentar o braço ferido, dando um fim naquela caçada. O sangue pingou da garganta do homem, e ela o soltou, inerte.
— Acabou — sussurrou, sentindo-se mais relaxada. — Acho que eu matei todos.
Maneou a cabeça de um lado para o outro, estalando os ossos tensos do seu pescoço, se dirigindo para o lago, para tentar limpar a sujeira. Porém, no momento que dobrou os joelhos, nas margens do lago foi atingida por uma flecha no ombro. Trincou a mandíbula ao sentir a flecha perfurando sua carne, e procurou quem havia feito aquilo.
Foi apenas um flash, mas viu um homem de capuz assim como os outros.
Não pensou quando sacrificou um de seus punhais, lançando na direção do homem, o matando.
Com a consciência fraquejando, Stephanie levantou-se na direção do lago, e quase desmaiando afundou nas águas escuras. O lago era mais fundo do que ela previu, e estava a engolindo. Aos poucos, apagando-a gradativamente. A ponto da luz natural parar de banhar seu corpo mesmo nas águas. Bolhas de oxigênio surgiram das vias respiratórias de Stephanie, e ela acreditou que suas forças escaparam, deixando-a sozinha no escuro. Tentou movimentar-se para voltar a superfície, e meio aquela luta um braço envolveu sua cintura, a levando de volta para a margem.
Ela tossiu, rastejando até a borda, ainda sob o domínio daquele que a havia a salvado.
Suas roupas de couro e linho colaram em seu corpo, e um frio torturante se apoderou ao seu redor. Stephanie piscou lentamente, com seus cílios pesados com a presença de gotas d'água, e buscou a flecha cravada em seu ombro. Achando-a, puxou-a com suas forças remanescentes, rangendo os dentes.
Jogou a flecha do outro lado, e respirou pesado.
— Você está muito machucada.
A voz do seu marido a deixou em alerta. Virou a cabeça para o lado oposto, encontrando Leon sentado, com as roupas encharcadas. Ele possuía alguns cortes na pele, porém nada que fosse considerado grave. Seus olhos encaravam o estado de Stephanie atento, sem evitar de ficar preocupado com ela. A mulher percebeu a mudança de seu olhar, e sorriu.
— São só arranhões. Nada grave.
— Mas devemos voltar antes que você fique resfriada.
Leon colocou-se de pé, erguendo o dorso de Stephanie mesmo ouvindo um resmungo da mulher, e passou as mãos por seus calcanhares, tomando cuidado com o estado da imperatriz. Assim que ele estava pronto para levá-la a tenda, ela agarrou seu casaco com força, chamando sua atenção.
— Me solte — ordenou com força. Leon hesitou, e pediu com os olhos que ela recuasse na sua ordem. — Agora — reforçou, e seu marido fez sua vontade. Uma vez no chão, ela ficou de frente a ele. — De joelhos. E não me faça repetir.
O imperador apenas seguiu suas ordens em silêncio, esperando qualquer coisa dela.
Ele estava decidido. Permitiu que ela fizesse tudo o que desejasse com ele.
Stephanie encarou seu marido por alguns minutos, e inclinou-se, segurando o queixo de Leon, aproximando seus rostos. Leon engoliu a seco com a sensação dos dedos frios da esposa, e distraído nos ferimentos do rosto da imperatriz perdeu o momento que ela uniu seus lábios um beijo apressado.
A mulher inalou com força, compartilhando o sabor de ferro que inundava sua boca.
E excedendo o tempo, ela se separou. Evitou fazer contato visual com seu marido, somente estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar, porém, ele balançou a cabeça ainda em choque. Stephanie deu de ombros, mostrando as costas, caminhando lento. Leon a seguiu por trás, tocando de leve em seu ombro.
— Se for para me perguntar a razão do súbito beijo é melhor...
— Não. Apenas quero te ajudar. Me permiti? — Leon arriscou perguntar, mantendo sua cortesia. Na realidade, ele queria a pegar nos braços de imediato, e cuidar de seus ferimentos, contudo, o lado orgulhoso da mulher não iria ceder fácil.
— Obrigada, mas consigo prosseguir sozinha.
— Por favor, imperatriz. Só dessa vez.
Stephanie tombou a cabeça para o lado, raciocinando nas suas alternativas. Ela estava com o braço quebrado, molhada, e com cortes que poderiam infeccionar sem os cuidados rápidos. A melhor escolha era desmanchar aquela defesa para se apressar, e descansar para começar outro dia.
Ela moveu os lábios, soltando as palavras febris. Leon escondeu seu sorriso, a sustentou nos braços, levando-a sem silêncio para a tenda.
†
Na tenda, acolhida pelo calor da fogueira do lado de fora, Stephanie deslizava um pano úmido em seu corpo, retirando a lama e o sangue seco grudado da sua pele. Com cuidado, movimentos lentos, ela fazia expressões de dor sempre que movimentava seu ombro ferido.
A imperatriz estava decepcionada consigo mesma. Conseguiu tantos ferimentos em uma única noite. Seu marido estava certo quando disse que ela não estava completamente pronta para um combate direto. Avisou-lhe para tomar cuidado, mas ela ignorou cada sílaba, tendo aquele resultado.
Estremeceu ao sentir uma corrente de vento percorrer sua pele nua, e a iluminação da fogueira ficar mais forte no recinto. Um cheiro de seiva e recém-molhado invadiu suas narinas, e ela soube de imediato que era seu marido. Ele voltou depois de colocar as roupas de Stephanie para secar.
A mulher deslizou a mão para seu ombro, retirando seu cabelo, o deixando cair nas suas costas nuas para impedir de seu marido ver mais do que permitido. Ajeitando-se, ela observou de forma sucinta Leon se acomodar no canto da tenda, obtendo uma visualização lateral do corpo esguio da imperatriz. Em meio aquilo, seus olhares se cruzaram, e Stephanie foi a primeira a moldar um sorriso ladino.
— Melhor retirar as roupas molhadas — alertou Stephanie desviando a mirada, erguendo o braço direito, limpando-o com cuidado. Enquanto se movia, ela sentia a mirada de Leon, assim que voltou a olhar em sua direção, a conspiração escorreu de seu sorriso. — Ou estará desconfortável seminu na minha presença?
Leon seguiu em silêncio, fechando os olhos, sem emitir uma expressão significativa.
Cruzou os braços, suspirando, adotando uma postura relaxada.
O tempo que permaneceu no escuro foi o suficiente para Stephanie acabar seu banho, colocando novas roupas. Apanhou uma camisa branca, uma calça de couro, e uma fita de cabelo, o amarrando alto, com pingos de água deslizando entre os fios. Assim que terminou, agachou-se na frente de Leon, desabotoando seu casaco.
O ambiente seguiu agradável para Stephanie, pois a cada avanço de seus dedos conseguia captar uma pequena mudança no rosto de Leon, que decidiu manter os olhos fechados facilitando para sua esposa. Ela admirou a face do imperador sendo iluminada na luz bruxuleante da fogueira, antes de se livrar do casaco pesado manchado de sangue. Seu próximo movimento foi tirar a blusa pegajosa, deixando o torso de Leon exposto.
Ele não possuía cortes, apenas arranhões superficiais.
Isso trouxe alívio para Stephanie, que se apressou em trocar a água e voltar para tenda, apressando-se em passar um pano úmido pelo corpo de Leon, mesmo não sendo completamente necessário. Ele poderia fazer só. Porém, como o beijo, aquilo era uma recompensa por tê-la ajudado no lago.
— Por que enfrentou todos eles sozinha? — Leon abriu os olhos, tendo consciência que a imperatriz havia terminado a sua ação impulsiva, se afastando, deixando-o sem blusa.
— Não havia escolha. Eu era o alvo principal deles.
Leon semicerrou os olhos, tombando para o lado observando o rosto de Stephanie ferido.
Era mentira. Todas as vezes que ela se arriscou tentava provar algo a si mesma.
— Poderia atraí-los na minha direção. Eu poderia ter ajudado.
— Não comece outras de suas reclamações inúteis — Stephanie o cortou, repousando a bacia de água abruptamente na pequena mesa. — Eles estão mortos, e eu sobrevivi. Outra coisa importante além disso, imperador?
— Reclamações inúteis? — riu desacreditado. — Você decide enfrentar doze caçadores de Eisen, e acredita que eu devo simplesmente aceitar isso? — Ele perguntou, mas Stephanie apenas assentiu com a cabeça confusa. — De verdade? Já viu seu estado?
A imperatriz recuou, parando, com as palavras de Leon atingindo onde estava exposto.
Entretanto, decidiu ignorar, suspirando.
— Não importa. Da próxima vez tomarei mais cuidado.
— Importa para mim. Foi a primeira batalha, Stephanie. E não será a última vez que ele mandará homens para te assassinar.
Stephanie sentou-se na frente de Leon, deixando um enorme espaço entre eles. Da mesma forma que ela fez nos últimos anos. Ela continuava a rodar em círculos em suas atitudes em relação a Leon, e mesmo dando-se conta daquilo, a imperatriz não queria soltar aquela parte de si. Admitia que nutria algo por Leon, porém, sua confiança ainda estava sendo moldada aos poucos.
— Não temo. Matarei a todos e avançarei em meu objetivo — respondeu, observando a boca de Leon, lendo suas próprias ações. Voltaria a dizer palavras sentimentais. Dizendo que lhe importava sua saúde e seu corpo, contudo, Stephanie apenas conseguia pensar que ele queria sua boneca em perfeito estado. — Apenas pare, Leon. Eu lhe disse antes de sair de Mherga, e jurei não repetir, mas direi para que tenha consciência: não irei parar antes de Abner cair.
— Não precisa fazer isso sozinha — Leon franziu o cenho.
— Eu faço o que eu quiser. Seu trabalho é seguir o plano — retrucou. — E está fazendo um ótimo trabalho. Continue assim.
Leon calou-se, declarando Stephanie vencedora daquela discussão. O homem pegou uma nova camisa, vestindo-se, e deitou-se dando as costas para sua esposa. Colocou a cabeça sobre o braço, pensando nas últimas palavras da imperatriz, criando um eco cada vez mais alto em sua cabeça. As palavras mostraram que ele não estava se importando com os meios ou se caso morreria, apenas queria o resultado daquilo.
Estava disposta a pagar qualquer preço.
Em meio aos seus pensamentos, ele sobressaltou quando sentiu a condução de calor do corpo de Stephanie em suas costas. Seu abdômen se contraiu, e ele prendeu a respiração, com a mulher movendo a manta pesada sobre seus corpos com facilidade. Terminou de ajeitar, soltando o ar de vez nas costas do homem, em seguida afundando o rosto.
— O que está fazendo? — Leon arriscou perguntar.
Primeiro ela mostrava que ele era apenas uma peça, e em segundo, o protegia do frio.
— Proporcionando uma noite confortável para ambos.
Com a resposta da mulher, ele mudou de posição, ficando de frente para Stephanie. A mulher permaneceu quieta, pendurando seu olhar cansado no marido, não se importando de estar sob sua vigia. Aquilo chegava a ser terno e seguro. Ela poderia ficar aliviada caso outro homem aparecesse para arrancar sua vida. Leon estava se preocupando demais por sua vida. Apesar de ser uma vantagem e de ter um domínio sobre ele, poderia se desenvolver em sua fraqueza.
Tremendo pela possibilidade, Stephanie passou o polegar suavemente na pálpebra de Leon, com o pequeno arranhão se moldando na pele de seu dedo.
— Não se preocupe comigo quando chegar o momento. Até lá estarei em forma.
Leon não assentiu. Não aceitaria aquilo. Jamais.
Em um método de distração colocou o polegar já aquecido nos lábios feridos de Stephanie, tornando a razão da mulher suspirar. Retirou o dedo de seus lábios, se encaminhando para sua bochecha, e depois para sua clavícula que possuía um corte mais fundo que os demais. Acariciou cada ferida, culpando-se por não ter ido atrás dela antes. Poderia ter acabado antes com seus obstáculos.
— Não precisa forçar ficar perto. Eu entendo se quiser distância. — Leon sussurrou.
Suas palavras formaram um sulco entre as sobrancelhas de Stephanie.
— Estou cômoda assim. Não estou forçando nada, apesar das minhas palavras duras anteriormente. — esclareceu em voz baixa, piscando lentamente os olhos. Eles estavam pesados. Ela estava fazendo um enorme esforço para mantê-los abertos há um tempo.
Leon deu-se conta de seu estado, e fechou seus olhos com uma das mãos desejando uma boa noite à mulher. Ela mexeu-se, adormecendo sem problemas, enquanto Leon se perdia em um mal pressentimento vicioso que se prendeu na sua cabeça, não conseguindo dormir.
Passou a noite em claro, viajando em lembranças antigas.
Recordou-se do seu segundo encontro com a herdeira, três anos depois de a pegar de surpresa. Seu avô havia lhe obrigado a ir a Dunkel, com o propósito de se acostumar com a presença dos nobres da corte. Aqueles que se encolhiam na presença de um Casteyer, temendo seus olhos. Leon reprimia-se com a reação dos nobres, e por isso, sempre que possível evitava ir à capital. Era exaustivo lidar com as atenções desnecessárias.
Invejava a herdeira do trono, que nunca foi maculada por olhares desse tipo.
Talvez foi por conta daquele sentimento inflado que seus pés foram guiados ao seu jardim. O perfume das rosas eram um calmante para sua mente inquieta, e o ar puro que preenchia seu pulmão era mais satisfatório que qualquer outra distração. Poderia substituir a sensação inebriante dos seus treinos sem dificuldade.
Desfilando entre as fileiras de roseiras, e atravessando muros de trepadeiras que escorriam entre as paredes, chegou ao um gazebo oval, decorado com delicadeza, com plantas envoltas de suas colunas, mesa e cadeira brancas para combinar com quem o visitava. Avançou um passo, e sua visão caiu para a garota que descansava em uma das colunas, com um livro aberto posto em suas coxas, o segurando firme. Leon ficou outra vez hipnotizado pela beleza da garota, e no soar do vento, as páginas voaram e ficaram indecisas onde ficar. Da mesma maneira ficaram os sentimentos de Leon.
Ele poderia ir embora, antes de ser pego e punido por invadir a ala da princesa.
Porém, não fez. Na realidade, seus pés subiram os degraus da gazebo, e teve a ousadia de deslizar os dedos suavemente pela bochecha da princesa. Ele agradeceu por seu avô ter forçado a usar luvas, ou estaria perdido.
Com seu toque suave, Stephanie acordou assustada, levantando-se rapidamente, sacando de sua cintura uma das facas utilizadas nas refeições, quase atingindo o olho de Leon. O garoto recuou um passo, ficando no limite do degrau, ameaçado a desequilibrar. Engoliu a seco, encarando os olhos gélidos da princesa.
Não eram os mesmos. Havia mudado. E muito.
Havia ressentimento. Frieza. Brilho distinto de morte.
Toda a inocência, e tom delicado que antes eles possuíam, havia cedido aquela parte sombria. Restando nenhuma curiosidade ou façanha.
— Perdão, senhorita. Não tive a intenção de invadir seu espaço particular outra vez. Julguei que não estivesse presente. — A voz de Leon saiu cautelosa, fazendo Stephanie guardar a faca de onde foi sacada.
— Apenas saía, Casteyer — ditou Stephanie, dando as costas, acomodando-se em suas cadeiras. Abriu seu livro, voltando a ler, esquecendo do que aconteceu.
Leon se retirou, inclinando-se em sinal de submissão, deixando a garota sozinha.
E ela continuava a mesma em relação a ele. Nada havia mudado muito desde suas infâncias.
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