°•ORDEM XIII•°
714/11/21, Reino de Eisen, na capital Sallow. Um dia de viagem.
"Um bom movimento é feito às cegas."
O comandante desfilou pelos corredores escuros do castelo, sempre com a atmosfera fúnebre. As paredes já pareciam ter se fundindo com a melancolia do soberano, com sua figura diariamente imóvel em seu trono, obsessivo com a ideia de que alguém iria o tirar dele.
Mais alguns passos e ele iria se encontrar com as pessoas mais detestáveis do lugar.
O rei e seus três comandantes de confiança.
Egon Wagner, Ulrich Ritter, Manfred Finkler. Todos sendo os maiores vencedores da última guerra civil que houve em Eisen.
O reino vivia sobre a nuvem negra do passado do rei, desde o momento que ele traiu sua própria família, decidindo matar todos para usurpar o trono. Nada era suficiente para ele. Ele não queria apenas a fama ou alguns títulos insignificantes que seu pai e seu irmão mais velho poderiam oferecer.
Não passava de uma farsa. Para usá-lo como uma arma para acabar com os inimigos, e depois galgar para eles a maior parte de seus triunfos, o reduzindo apenas como um simples soldado de madeira, que eles poderiam usar a qualquer momento, e dar conquistas vazias.
E o preço de suas cicatrizes? Das perdas de seus melhores homens?
Nada disso importava, já que no fim a peça chave, retornou viva e com a vitória.
Gary apreciou mais alguns minutos de paz, antes de empurrar a porta em que suas palmas estavam postas. Inspirou e expirou, preparando-se para os questionamentos de Ulrich. O homem estava sempre em alerta perto de si, aparentando sempre alertar ao rei que não poderia confiar num antigo plebeu.
Um plebeu que era muito melhor do que ele em tudo o que fazia.
Ele finalmente empurrou a porta, com a bota batendo com força e o som se expandindo na sala enorme e vazia, o piso liso brilhante sem deixar rastro do banho de sangue que houve ali, naquela mesma sala. Os olhares presentes na sala correram para Gary que vinha em passos confiante, escondendo parte de seu rosto debaixo do capuz. Somente revelando parte de seus olhos felinos, pronto para atacar alguém.
Observou o rei o fitando com sua arrogância e curiosidade de sempre, com o queixo sendo segurado pelo dorso da mão, onde estava apoiada no braço do trono de cedro, com seus enfeites necessários. A observação não cessou nem mesmo quando o homem retirou o capuz, ajoelhando-se diante dele, no posto faltando entre Egon e Manfred.
— Saúdo o pilar do nosso reino — Gary o cumprimentou antes que o soberano o mandasse. Os outros generais o fuzilaram com sua ação arrogante. Eles já lhe detestavam apenas por ele ser o preferido do rei.
O rei não pareceu incomodado com sua ação. Pelo contrário, ele abriu ainda mais seu sorriso travesso, degustando da visão. Quatro homens, com seus próprios méritos, porém que ainda ansiavam por mais, devastando tudo e a todos ao seu redor.
Eram fortes. Violentos. Estrategistas.
Mas não como Gary Moore. Ele era sua carta de ouro — manifestando tudo fisicamente bom, disciplina, eficiência, prosperidade —, mas sem deixar de romper seu lado selvagem. Aquele deletava que ele era possessivo, indulgente em casos e ganancioso.
Sua ganância era o menor de seus problemas. Isso poderia ser controlado facilmente com o aumento de algumas moedas de ouro, ou artigos caríssimos que surgiam de outros continentes. O que dificultava para Abner mantê-lo na rédea curta era sua possessividade.
Era implacável o desejo de Gary uma vez que ele é manifestado. Um impulso que não conseguia ser raso. Ele dominava Moore como qualquer outro, e isso era um problema para Abner. O rei desconhecia o que afetava o general. E se algum dia ele vinhesse a descobrir, o homem deveria pedir aos céus para que não machucasse seu precioso objeto.
— Vê-los reunidos aqui é de grande importância, mas essa reunião foi convocada para conversar sobre as informações que Gary conseguiu extrair do reino de Alveberia — iniciou, fazendo um sinal para os generais se levantassem. — Gary, você pode começar com o relatório.
Em pé, os generais permaneceram com visão em Moore, esperando sua manifestação. O que lhe fazia tão especial. Ser o maior dentre eles. Nenhum deles — exceção de Egon sentisse um pouco de simpatia pelo homem —, gostava dele. Sentiam medo dele, mantendo-se longe.
— Podemos vencer — Gary avançou o passo, expondo seu ponto em voz alta. Sua determinação fez o velho coração de Abner formigar em alegria. — Stephanie Bellucci pode ser uma líder nata, porém, em meio a algo inusitado ela abaixa a guarda. Pelas minhas previsões, estratégias e motivos quais os outros de seus inimigos caíram, eu posso dizer que é como sua pressão age em nossas mentes. Nosso primeiro passo é não ter medo dela e de como ela vai investir com força no primeiro conflito.
Ele terminou, resumindo em poucas palavras o que eles deveriam fazer. Os três generais empertigaram, julgando a revelação clarear algumas de suas dificuldades para sequer olhar para os olhos de Stephanie.
O rei agiu da mesma forma. Inclinando-se, abrindo um pequeno sorriso sádico. Já repensando na sua estratégia para ver a Dama de Diamante perante aos seus pés, implorando por sua vida.
Ah, ela não faria isso. Abner sabia que ela nunca faria uma coisa dessas. Ela iria preferir ser executada por um machado cego ao invés disso.
A única pessoa que seria capaz de implorar por sua vida era o homem que a imperatriz considerava seu marido. Contudo, em seu ponto de vista, ela apenas adotou um animal e o fez rastejar sobre o chão que ela pisa, o fazendo acreditar que ela se importa com ele.
Ele não era nada para ela. Algo que poderia ser substituído facilmente.
Na perspectiva de Abner, Stephanie mataria sem pestanejar qualquer homem que interferisse em seu modo de viver. Ela rasgava e arruinava todo aquele que cruzava seu caminho. A menos que o homem se mantivesse em seu lugar, ela poderia renunciar a decisão de matá-lo.
Ele a conhecia melhor que o seu famoso herói. Desde o anúncio de seu nascimento, ele culminou o desejo de tê-la em seu controle. Stephanie seria mais perigosa e brutal se fosse recriada por ele. O que ela dizia ser seu homem parecia não ter consciência que ela foi criada como uma líder nata e calculista. Controlando bem seus impulsos e as pessoas ao seu redor. Fanática em fazer uma guerra seu jogo de xadrez.
— Continue, por favor — pediu o rei, criando várias ramificações em seu cérebro sobre o que faria a partir dessa observação. Ele perdeu sua compostura, com as pupilas próximo a um cinza enevoado se expandindo.
Gary deu um pequeno sorriso, vendo que sua introdução ao assunto teve a reação esperada por seu governante.
— Ela é presunçosa. Confiante de que a cada passo ela está mais próxima de esmagar seu inimigo. — Gary sendo ousado nas suas palavras, Ulrich uniu as sobrancelhas, tentando invadir a conversa entre o rei e o Ceifador. — Eu sei que ela nos verá como ratos imundos, e que se conseguirmos enganá-la nada irá impedir de ocorrer uma avalanche em suas previsões. Seus soldados irão se evaporar antes que ela pense em como erguê-los.
— E você ao menos considerou a força dela? Ou de seu marido? — A língua de Ulrich foi mais rápida do que sua noção e medo da punição.
Moore virou brevemente a cabeça para ele, com um sorriso zombeteiro emoldurando seu rosto.
— Eu sou a morte no campo de batalha. Nada pode impedir — retorquiu sério de suas palavras, mesmo que estivesse com um sorriso.
Manfred riu da expressão de Ulrich, e Egon disparou uma risada, recordando-se que sempre adorou o espetáculo que Moore fazia. Sempre que ele pisava nos lugares, sua posição era eminente. Nada poderia mudar o jeito anormal que Gary tinha para resolver os problemas mais difíceis.
— Nada quebra Stephanie Bellucci. Nada alcança ou machuca aquela mulher — desafiou a ideia de Gary, avançando um passo destemido. Ele não sabia porque estava tão alterado, deixando-se que sua raiva contida de tantos anos influenciasse em seu comportamento. — O diamante não deteriora com facilidade.
Ainda mais perto do rei. Ele odiava que alguém ia contra ao seu precioso general.
— Mas ela tem uma fraqueza. — O rei se meteu na discussão, trazendo de volta as atenções de seus homens. Gary franziu a sobrancelha com o tom do rei. Ele sabia que ele tinha pensado em algo ruim. — Dessa forma, ela poderia ser riscada facilmente.
— O marido dela — Egon tomou a frente antes de qualquer outro, empolgado com a ideia.
— Não — Manfred lançou um sorriso sádico em direção a Egon do outro lado —, alguém mais frágil e indefeso. O filho dela. Toda mulher valoriza o filho.
Gary olhou para cada um indiferente, porém, ele não estava gostando do rumo que aquilo estava tomando. Eles estavam pensando em fazer algo com uma criança? Aquilo era inaceitável. Uma criatura tão limpa não deveria fazer parte de algo tão sujo. Uma coisa que seus antecessores provocaram.
As palavras de Manfred se derramaram como um canto da sereia nos ouvidos do rei, o fazendo lembrar da pequena criança, que possuía a proteção total de Stephanie. Tanto que nenhum representante dos reinos tinha a permissão de chegar perto do pequeno.
Ele poderia ser usado. Poderia ser útil de alguma maneira. Sem ser para sempre lembrar que era uma ligação entre Stephanie e o imperador.
— Uma criança... — disse pensativo, raspando a pele dos dedos contra a barba áspera —, se os pais foram assassinados, ele pode ser coroado. Contudo, tem que haver um regente. Uma pessoa de confiança para que encaminhe o império até que ele atinja a maior idade. Isso é interessante. Bom, bom.
Não é nada bom. Gary pensou, lutando para não cerrar com força a mandíbula, entregando que estava com raiva. Ele sempre esteve sob controle, não se importando com as pessoas, no entanto, com crianças envolvidas iria contra seus princípios. Julgando se por ser uma visão que lhe lembrava a si mesmo. Um espelho da sua fraqueza.
— Majestade, se algum de nós mexemos com algo que ela valoriza, isso pode se voltar contra nós. Nossa intenção é pegá-la desprevenida, não atiçar sua raiva.
— Eu não estou pensando em envolver o garoto. Apenas me surgiu uma questão agora.
— Mas é uma boa ideia — Manfred contrapõe, não desistindo de imaginar como seria a expressão do garoto em saber que foi pego por inimigos, e ter consciência desde de jovem como é ser alguém importante. — Ao invés de ficar com raiva, ela pode ficar muito abalada. Qualquer um fica.
— Não, não é — Gary antecipou antes que outro imbecil atrapalhasse seus planos. — Ela não é o tipo de pessoa de ficar parada, aos prantos. Ela revida. É a pior coisa que vocês irão desejar assombrando a vida de vocês.
— Como sabe? — Egon ergueu uma das sobrancelhas, desconfiado das palavras de Gary.
Moore suspirou, esfregando o polegar na testa, arranjando um pouco de paciência.
— Eu vi com meus próprios olhos — contou. — Quando ela viu seu comerciante marítimo machucado, ela não permaneceu parada, esperando que eu devolvesse. Ela iria esfolar a minha pele com um prendedor de cabelo.
— Bom saber que ela continua ousada — Abner tomou a frente, evitando que os outros comandantes comentassem algo, e Gary fizesse a cabeça deles com sua exposição. — Todos fora. Agora. Desejo conversar a sós com Gary.
Manfred e Egon deram as costas sem se importarem com a ordem, fazendo uma última reverência antes de se retirarem, enquanto Ulrich resmungou algo, inclinando as costas com rapidez, e caminhando em passos duros. Passando os outros dois que saíram primeiro.
— O que está planejando para o garoto para não permitir a participação dele nessa parte do plano? — O rei questionou Gary, que cerrou os punhos com força. — Você sabe que qualquer útil devemos usar.
— O garoto não é importante. Ele nos fará cair. A imperatriz não é fraca a ponto de perder a compostura. Ela irá querer sangue por sangue, e o triplo dele.
— Ótima avaliação — Abner semicerrou os olhos, deixando a ousadia de Gary passar. — E o comerciante? Você o matou conforme as ordens? Herniel Dumont é uma pedra nos nossos planos por ter influência nos mares. Pode arrumar reforços para o império.
A sala ficou num silêncio profundo. Gary segurou o olhar para Sua Majestade, avaliando o quão são estava seu governador para ele lhe dizer que por conta de alguns imprevistos ele não conseguiu matar Herniel Dumont. E como poderia fazer tal coisa? Ele tinha uma curiosidade insaciável sobre o homem.
Não tinha nenhum controle sobre aquilo.
O homem lhe dominava sem ter consciência. E ele até gostava de ser submisso a Herniel, porém, não era um momento para ele se deixar levar pelos os ventos e ocasiões que apareciam em sua vida.
— Ele somente está gravemente ferido, Sua Majestade.
O rei bateu o punho no braço do trono, com o barulho ressoando sobre a sala. Moore quase encolheu os ombros com a ação exagerada do mais velho.
— Devia tê-lo matado! — exaltou com os olhos arregalados de raiva. Sua face ficando a cada compasso vermelha.
— Ele não irá muito longe com as pernas quebradas. Isso eu garanto a Sua Majestade. Está tudo indo conforme o plano. Um mero detalhe não irá alterar o resultado no fim.
Abner suspirou, abanando a mão para o vão, em pedido para ele se retirar. Ele estava testando a sua paciência com todas aquelas mudanças de planos. Parecia que ele que estava sendo manipulado por Gary, e não o contrário.
†
Com trinta minutos de carruagem, Gary chegou a sua propriedade na capital. A casa tinha um aspecto mais sombrio e rústico, com algumas características do gótico que estava começando a transparecer naquele lado do continente. Suas janelas ao contrário da fileiras de casas parecidas, em ogival, onde por dentro abóbada de arestas, dando mais sustentabilidade no teto da mansão.
Andando, um vento fraco espalhou algumas folhas secas conforme o caminho que Gary trilhava até a mansão. Sua figura solitária caminhando até a porta com calma. Silencioso, para que ninguém o escutasse. Assim que entrou em sua casa, retirou o capuz e o colocou no cabideiro, erguendo a visão para o lance de escadas que ficava próximo do detalhe.
Subindo as escadas, Gary não deixou de pensar em como seria péssimo se o rei descobrisse que ele trouxe o inimigo para sua casa. Antes que o pensamento se completasse, ele ouviu um barulho vindo do segundo andar. Ele ergueu a cabeça, parando os passos, com o tempo quase parando ao seu redor.
O que diabos Herniel estava fazendo? Fugindo dele? Se colocando em perigo em um território desconhecido?
Ele apressou os passos, dando uma volta nas escadas. Depois outra para chegar no segundo andar. Estava indo tão rápido que uma fina camada de suor acumulou em sua testa. Chegou no segundo andar, não descansou seus pulmões, correndo avulso para sua habitação.
Atravessou os corredores, abrindo a porta com pressa.
Para a sua sorte, a única coisa que ele encontrou foi Herniel no chão, alguns cacos de vidro de um vaso antigo espalhado e a mão do comerciante segurando a pequena banca, se segurando com força nela. Observou o cabelo molhado e dividido do menor, e ele respirando com dificuldade. Parecia ter acordado de um longo pesadelo.
Gary regulou sua respiração, se aproximando de Herniel sorrateiro. Passou as mãos por baixo dos braços do homem, tentando o erguer. Porém, Dumont não queria sua ajuda. Debateu-se até o homem o soltar. Os olhos opacos, caindo cada vez mais fundo na escuridão de sua alma.
Não tinha salvação. Já havia morrido. E levou sua nação para o túmulo juntamente com ele — mesmo que Stephanie ganhasse e o pegasse de volta para si, o que adiantaria? Ele não iria conseguir se perdoar pelo que houve.
Então, por que seu inimigo estava insistindo em ajudá-lo? Por que estava se agarrando a ele daquela forma?
Tudo enganação.
— Deite-se. O chão está muito frio para você ficar parado aí — Gary tentou o puxar outra vez, contudo, Herniel lançou uma mirada cortante. O ceifador parou, deixando seu visitante à vontade para xingá-lo de todas as formas possíveis.
— Seu teatro caiu. Eu sei o que pretende com toda essa farsa. Estes cuidados — Herniel conseguiu o empurrar usando os cotovelos. Segurou-se com mais força a banca, levantou-se e encarou o homem que não havia negado que suas palavras eram reais. — Eu irei fugir e morrer numa vala qualquer. E ficará tudo bem para seu lado.
— Você não irá fugir — ditou Gary, prendendo-se a um tom calmo, mas sua atitude rapidamente entregou sua impaciência. Ele agarrou o braço de Herniel, passando as mãos por baixo de seus calcanhares, jogando ele na cama. — Até que tudo chegue ao fim, você estará comigo. Acostume-se com a ideia, pois eu não irei te largar.
— E para quê? Ficar esperando você retornar e dizer liebes, willkommen? — Herniel tentou se levantar para encarar o homem, porém, com os nervos à flor da pele, Moore subiu na cama, e ficou sobre Herniel. As palmas da mão do menor se espalharam no lençol de seda, engolindo a seco.
— Chega de se comportar como um garoto mimado e comece a prestar atenção na sua nova realidade — Gary alertou chegando mais próximo do rosto de Herniel. Ele encostou suas testas, com o calor sendo compartilhado. Ambos se encaravam com o olhar fervilhando. — Perceba que você está seguro aqui, comigo. Fora dessa mansão você é um alvo. Todos querem te ver morto — rosnou, encostando dessa vez seus narizes, apertando a cabeça de Herniel, unindo-os com mais força. — Há coisas piores do que respirar o mesmo ar que eu, do que ser beijado por mim. Cortejar a morte não é muito seu feitio.
— Quer que eu seja dependente da sua existência? — Herniel sussurrou, as partes que Moore tocava estavam esquentando. Ele estava sendo rude, e incrivelmente, ele não estava odiando.
Na realidade, ele adorou como aquilo estava o incendiando. Como as palavras de advertência de Gary atravessaram seus ouvidos, ressoando na sua alma, e ao invés de repreender suas atitudes, ele desejou ser mais ousado e ruim. Esperando qual seria a reação de Moore caso ele agisse de forma diferente em relação a ele.
Ele se remexeu debaixo do comandante, cravando as unhas ao redor de seu braço.
— Não. Quero que você aprenda a sobreviver, sozinho. Lute por você e somente por você — respondeu num cochicho, com os lábios deles se tocando levemente. Moore tentou se manter longe, para não ofender o comerciante, fazendo-o acreditar que ele só sentia atração física por ele.
— Você ensina muito mal — Herniel retrucou, mordiscando o lábio inferior de Gary. Assustado com o movimento repentino do comerciante, porém, deixou-se ser conduzido por ele. Voltou à posição, blefando em roçar seus lábios. — E sim, meu novo interesse é cortejar a morte.
Observando a entrega de Moore diante daquilo, ele deslizou a língua para dentro de sua boca, recordando-se do último beijo deles. Sua pele formigando, seu interior aquecendo, o estômago embrulhando mal podendo conter toda a emoção que aquele contato fazia em si.
Era tão destrutivo e viciante. Ele queria poder acreditar de que não estava consciente do que estava fazendo, porém, mesmo que sua mente repudiasse a presença de Moore, seu corpo o sentia. Sentia sua pouca pele exposta tocando a sua, e a mão que estava em sua cabeça deslizava para seu pescoço. O movimento lhe custou um suspiro, segurando Gary com mais resistência.
Dentre tantas pessoas que já cruzaram sua vida, ele era o único que sentia que podia confiar de alguma maneira e desejou que lhe segurasse. Que poderia lhe descobrir com facilidade.
O beijo continuou, contudo, Gary se distanciou. O homem saiu de cima de Herniel, sem olhar nos seus olhos, sentando-se na lateral da cama, cabisbaixo.
— É melhor eu tomar distância por alguns dias — Gary decidiu levantando-se.
Herniel tentou o impedir, mas não o alcançou. Um desespero lhe atingiu. Por que ele estava indo e lhe deixando sozinho depois de tudo? No final, ele seria como todos os outros?
Moore chegou na porta, parando entre a porta, olhando-o por cima do ombro, ainda com o olhar enevoado. Herniel não sabia qual era o monólogo que atravessou sua mente, mas parecia ser grave. Ele estava desviando o olhar, fugindo de ser decifrado.
— No que precisar, Herman estará disponível. E quando o assunto for comigo, por favor evite falar diretamente comigo. Ele pode transferir suas palavras, e as minhas para você.
Retirou-se estilhaçando todos os bons sentimentos que acumulou no peito de Herniel. O homem agarrou a roupa que usava próximo ao peito, o puxando. Engoliu a seco, e repetiu o movimento algumas vezes mais, não suportando a sensação de ter agulhas perfurando sua garganta. Ele imaginou-se gritando, xingando e amaldiçoando o bom nome de Gary Moore, mas recuou com a ideia.
O quão patético seria se fizesse algo do tipo?
Só queria hibernar, esquecendo-se de alguma vez cogitou a ideia de se aliar a Gary, e deixar ser alguém manipulável. Ouvir as ambições do homem e o ajudar a alcançar estes objetivos. Mesmo que a única recompensa seja viver preso a ele eternamente.
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