°•ORDEM XII•°

714/11/20, Império de Alveberia, fronteira leste, das terras de Yaneth. Alto mar.

"Ele era a sua fome. Sua doença. Seu objeto de identificação."

Um estrondo. Cheiro de pólvora flutuava em suas narinas, quando a fumaça nublou a sua visão e contaminou seu ar. Homens gritando, enquanto seus olhos apenas conseguiam seguir a figura que desfilava e se divertia com o próprio espetáculo.

Morte. Ele era a personificação dela.

Novamente outra explosão.

Sua massa foi atraída pelo chão, batendo com força na madeira do navio. Rolou, com a estabilidade do navio, com a obstrução de seu casto e o tormento das ondas.

Um zumbido soou em seus ouvidos. Nada podia ser visto ou escutado depois disso.

A brisa salgada do mar atravessou as pequenas frestas das janelas redondas, agradando Gary. O navio seguia calmo, mal balançando as coisas presentes no transporte, enquanto a cabine do capitão era imaculada de luz solar. O dono do navio levantou-se de sua mesa indo aos montes com mapas de todos os reinos, inclusive do seu, montando estratégias de guerra, trilhando um pequeno caminho até a sua cama.

Acomodou-se em sua cama, onde Herniel Dumont adormeceu tranquilamente, com cabeça e pernas enfaixadas, depois do ataque ao seu navio. Um sorriso foi desenhado em sua face, direcionando a ponta de seus dedos na bochecha do homem, mal contento a impulsividade que ele despertava nele.

Seu peito explodia de felicidade ao tê-lo ao seu alcance. Tão perto de si, sem que ninguém os atrapalhe.

Herniel era um homem com feições que denunciavam que seu gênio era um pouco complicado. Pele bronzeada, com cabelos ondulados, rebeldes, uma estatura média. Postura eloquente, fala atrevida e olhos castanhos, assim como seus cabelos.

Era um homem considerado por Gary Moore lindo, porém, não somente sua aparência havia lhe chamado a atenção. Era sua qualidade de persuasão nos negócios, na sua história, como havia se tornado comerciante marítimo sem um título nobre. Escolas de navegação avançada eram para pessoas de uma classe superior, no entanto, Herniel aprendeu a sobreviver e manipular essas artes por si só.

Assim como ele. Eles eram parecidos.

O pensamento precipitado causou uma careta em Gary. Não, não. Eles não eram iguais. Herniel era muito diferente dele — ele não havia tirado a vida de ninguém, para chegar onde havia chegado —, ele, no entanto, não conseguia contabilizar quantas vidas tirou. Quantas lamúrias da população e dos familiares já ouviram. Quantos funerais ele já tinha espiado por uma maldita centelha de arrependimento cruzava sua mente.

Sua mão fazia um reconhecimento obsessivo pelo rosto de Herniel, deslizando por várias partes, separadamente, como um fanático. O sorriso malicioso aumentou, revelando mais de seus dentes brancos, quando tangeu a mão para o pescoço de Herniel.

O dedo indicador e o anelar foram os primeiros a sentir a pulsação de Herniel regularmente. Curioso com o que mais ele poderia sentir, ele apertou com mais força, causando uma sensação sufocante no homem, que despertou assustado.

— O que você está fazendo, seu maldito doente? — Herniel ergueu a parte superior do corpo, ignorando a dor latejante que o atingiu no processo. Sua mão ralada foi ao encontro de seu pescoço que continha a fraca marca dos dedos de Gary.

O capitão Moore tocou a bochecha de Herniel, ignorando os insultos e a forma que o homem estava o olhando.

— Eu vou te matar — Herniel ameaçou entre dentes, sendo irracional. Não era o melhor momento para reduzir suas chances de sobrevivência naquele estado. — Tira a mão. Você não tem o direito de me tocar depois de atacar meu navio e quase me matar.

O homem permaneceu calado por mais alguns segundos, provocando mais raiva no interior de Herniel.

— Está correto — Gary deslizou a mão áspera no rosto de Herniel, causando leves arrepios ruins na pele do comerciante —, eu quase matei.

Os olhos brilhantes de Gary analisaram sua vítima, sem um sorriso no rosto, intensificando a má sensação que Herniel estava tendo no momento. Desde seu primeiro contato com o capitão, nunca houve qualquer segundo que ele não estivesse sorrindo. Era um sádico, e gostava de ver o sofrimento alheio.

Herniel, vendo-se preso naquele olhar, engoliu a seco. Seus pensamentos foram para uma linha sem volta, pensando no que Moore faria com ele, o que em sua pequena significância para Alveberia, iria mudar no rumo das coisas? Por qual razão ele o havia levado consigo?

— O que quer de mim, Gary Moore? — Ele juntou as sobrancelhas, recuando do calor das mãos de Moore. — Eu não sou um aristocrata. De nada eu valho. Então, qual é o propósito de tudo?

Moore não queria entregar as repostas para ele ainda. Suas motivações, seus impulsos para fazer o que fez, o que planeja, ainda não era o momento para revelar aquilo. Ele queria ocultar até que a imperatriz de Herniel fizesse a aposta e lance correto.

Ele desistiu de uma conversa mais tranquila com o comerciante, trazendo a mão para próximo ao corpo, levantando-se da cama. Voltaria para seus livros e seus mapas, para se distrair do futuro amargo que ele estava construindo no passar dos dias. Páginas e mais páginas de um plano que ele não sabia se daria certo, porém, por liberdade tudo era válido.

Mas Herniel não aceitou aquela recusa.

Dumont esticou o braço com as poucas forças antes que Gary se afastasse muito, agarrando a gola de alguns babados do homem, a puxando para baixo, revelando a cicatriz de cruz que cobria quase todo seu pescoço. No escuro, ele não pode ver direito, porém, vendo-a de perto, ele ficou impressionado por o homem ainda estar vivo.

Moore entreabriu os lábios, impressionado.

— Pensei que me quisesse bem longe de você. — Ele pegou a mão de Herniel, sorrindo outra vez. Como Herniel demorou para demonstrar alguma reação, ele teve a ousadia de beijar sua mão. — Mas acredito que isso não venha ao caso. Quer saber sobre seu valor como refém?

Herniel não sabia o que tinha de errado com aquele homem, porém, não era coisa muito boa. Ele dizia e fazia muita coisa que ele não conseguia entender. Qual era a finalidade daquilo?

— Eu sei que eu não...

— Seu valor não pode ser medido por qualquer fator como; fortuna, título, poder político ou influência — Gary tomou sua frente, aumentando seu sorriso. — É mais do que isso. E apenas eu posso medir.

— Isso é ridículo — Herniel protestou, puxando sua mão de volta para si, sem quebrar o contato visual. — Me diga a verdade, antes que eu pule desse navio.

— Tente — Moore desafiou, dando de costas, abanando a mão com o braço erguido, mostrando sua tranquilidade quanto ao assunto. — Eu lhe darei uma salva de palmas se você apenas conseguir se levantar dessa cama sozinho.

Herniel se ofendeu, porém, não quis retrucar por está com a cabeça doendo, e discutir com aquele homem não o levaria para lugar algum. Resolveu que a melhor solução era guardar energias para escapar do homem quando se recuperava dos ferimentos, que não eram tão graves.

Em um mês, no mínimo, estaria recuperado.

714/12/07, duas semanas e três dias depois, no reino de Eisen, o país da forja.

O reino de Eisen era como alguns livros dos nobres contavam para Herniel. Cinza e melancólico.

Preso no quarto de seu sequestrador, ele puxou a coberta que o guardava do frio sobre o ombro, observando pela a janela circular mais do que a fuligem que caía devagar, sumindo de acordo com a luz solar. Coçou o nariz, fitando as nuvens cinzas que dominavam completamente o reino, aparentando descarregar seu peso a qualquer hora, e o vapor das fumaças das casas dos ferreiros subindo sobre as chaminés.

As duas semanas que passou deitado, com Moore cuidando dos ferimentos que ele mesmo causou, havia escutado bastante murmúrios de seus marujos, e sobre como eles o respeitavam cegamente. Ele não havia ouvido alguém comentar sobre o tenente da tripulação, para ele conversar e com um pouco de sorte poderia subornar.

Enquanto se via perdido vendo as possibilidades, o navio deu uma interrupção violenta, que fez Herniel ir para frente de solavanco, batendo a testa na janela. Grunhiu de dor, massageando o local, quando Gary abriu a porta com o tamanho suficiente para ele passar, tomando cuidado com os olhos externos não enxergassem o homem.

Aproximou-se, encontrando Herniel fazendo careta e em pé. Ele não estava completamente curado da perna, por isso a melhor escolha era permanecer deitado, para sarar rapidamente. Seus olhos estavam cansados de ver aquelas faixas.

Era como uma prova de que ele havia lhe feito um mal que nunca passaria. Ficaria ali, para sempre ser lembrado que apenas serve para machucar as pessoas. Nada mais do que isso. Toda a justificativa que ele tinha para seus atos diminuíram drasticamente.

Deu um pequeno suspiro, caminhando até Herniel.

Dumont apenas percebeu a presença do homem quando ouviu as botas de montaria batendo contra a madeira. Sendo que o som da porta rastejando sobre o chão foi suficientemente denunciativo. Seu corpo empertigou, virando-se para trás, no momento em que Moore o tocaria.

— O que está fazendo? — O ar escapou rapidamente da boca de Herniel, assustado.

— Eu que devo te perguntar isso, uma vez que eu disse que era para ficar deitado.

— Não sigo suas ordens — replicou aumentando o tom de voz. Gary ergueu uma das sobrancelhas escondida por baixo da franja longa. O aperto da fita prendendo seus fios era frágil, diferente dos outros dias, escapando fiapos do cabelo negro. Herniel deu ênfase neste detalhe.

— Essa atitude não combina com você. Se assusta muito fácil.

— Não.

— Não? — Gary mexeu-se imprevisível, pagando uma pequena faca do casaco, o colocando na garganta de Herniel, próxima a artéria carótida. Herniel recuou um passo, porém, só apressou que uma abertura fina abrisse na sua pele. — Está com medo de sentir dor agora, não é? É inevitável sentir medo. Todos sentem. Não é algo para se envergonhar.

— Disse o homem que mata homens devorados pelo medo que mesmo causou.

— Eles morreram por serem fracos — respondeu frio e rude.

— Você poderia muito bem terem os poupados dessa tortura — Herniel avançou um passo, com a coragem que ele não sabia que existia dentro de si.

— Isso não é um conto de fadas, Herniel Dumont.

— Mas...

— Se eles queriam sobreviver, deveriam ter em mente que a natureza é cruel. O forte ergue-se e o fraco cai. É a lei. Não existe misericórdia ou outro sentimento de simpatia nesse mundo. A única coisa que as pessoas, a maioria delas pensam ao ajudar alguém, é no ego delas.

— Em que mundo você vive? — Herniel interrogou.

Gary estava farto daquela conversa. Em outro momento, com outro tópico, ele poderia rir e levar toda aquela conversa tranquilamente, porém, o dia não era dos melhores. Sua mente estava soterrada de pensamentos e sentimentos duvidosos, que em seu peito cresceu uma vontade de gritar com Herniel.

Mas era o certo a se fazer? Tendo em vista que ele não fez nada além de lhe mostrar sua visão de mundo?

— No meu mundo. Ele é dessa forma. — Ele recuou a faca guardando-a de volta. — Não conheço o lado bonito das pessoas que você tanto fala.

Outra vez ele deu as costas para Herniel.

A forma que ele fugia de uma discussão ou de uma conversa direta era irritante para o homem. Parecia que nas últimas semanas a única visão que ele mostrou para ele foi suas costas largas, que pareciam tão solitárias e vazias.

Como ele havia ficado daquele jeito?

Herniel repudiou esse pensamento. Ele era seu inimigo. Não deveria ter esse tipo de curiosidade.

— O navio ancorou na costa sudoeste do Reino. Não saia até que eu venha lhe buscar — disse, fechando a porta atrás de si com força. Herniel encolheu os ombros com o ato.

Ele parecia realmente com raiva. Era a primeira vez que ele o via tão alterado dessa forma.

Virou meio corpo para a janela, inalando com força o ar salgado que pairava, o memorizando. Caso ele tivesse que fugir de alguma maneira e retornar para o mesmo lugar. Ele poderia fazer sendo guiado pelo cheiro.

Alguns minutos se passaram da sua espera quando ele ouviu algo colidindo com a porta. A fechadura da porta chacoalhou, enquanto ele sutilmente direcionou para o local de origem do som. Tentou manter distância para que a porta não abrisse e algo ou alguém caísse por cima dele. Teve cuidado com a perna, para não a forçar.

— Isso é errado, Gary! — Alguém exclamou uma pessoa que Herniel não sabia identificar a voz. Eles estavam brigando? Quem bateu na sua — ou na porta de Gary —, foi o capitão? Havia alguma pessoa que conseguisse bater no Ceifador?

— Não se meta nos meus assuntos, Tom. Sabe bem como eu odeio. — Era a voz do capitão. Parecia mais distante. Aparentemente era a outra pessoa que foi arremessada na porta.

— Se estivesse lúcido o bastante eu não estava me metendo. — Passos pesados soavam alto no local fechado. O local ficou tenso e o silêncio reinou por alguns segundos. — O que tem na cabeça para trazer um refém insignificante? Por que não matou a imperatriz de uma vez?

— Cale a boca — Gary brandou, aproximando-se do homem. Herniel prendeu a respiração assim que ouviu os passos cessar e um grunhido sufocado se estendeu nos seus ouvidos. — Matar a Dama de Diamante? Você acha que é tão fácil? Eu não significava mais do que um rato pisando em seu território. Ela tinha todas as vantagens e se eu fizesse o movimento errado tudo iria por terra abaixo.

— Mas por qual razão trazer um simples comerciante? — O homem insistiu.

— Não é da sua conta.

Herniel não sabia ao certo o que acabou de acontecer, porém, uma divisão entre eles era bom para ele. Tateando a mão a fim de encontrar a fechadura da porta, ele posicionou-se para enxergar a confusão pelo buraco da fechadura.

Um homem estava caído, tossindo, ajeitando sua gola, enquanto Gary estava andando, de costas. A maioria dos marujos abriram caminho para o capitão passar, tentando sair impune da sua raiva. Outros, no entanto, se ajoelharam aflitos, ajudando a vítima de Moore.

Ajudado por mais dois homens, Tom — Herniel tinha certeza que esse era seu nome depois de tê-lo escutado —, parecia irado. Pelo o buraco estreito, onde mal cabia-lhe um olho, era impossível para o comerciante absorver mais detalhes. Contudo, o homem trajado com roupas burocráticas estava vermelho, respirando irregular depois da afronta de Gary.

Ele tentou avançar, porém, desistiu. Desvencilhou-se dos homens, restaurando o equilíbrio e na direção oposta de Gary, ele começou a avançar determinado. Com a expressão contorcida pela raiva, com os globos oculares quase saltando.

Herniel sobressaltou-se quando percebeu que ele caminhava na sua direção. Endireitou a coluna, e tentou afastar-se da porta o mais rápido possível. Ele andou alguns passos, arrastando sua perna, porém, era tarde demais para se esconder.

O homem abriu a porta, e Herniel o olhou por cima do ombro, surpreso, arregalando os olhos. A expressão de Tom era de desprezo, com o lábio inferior retorcido, com os pulmões sendo usados além da conta.

Dumont prendeu a respiração quando o Tom deu passos largos na sua direção, e tentando ao máximo escapar das mãos do homem que claramente o odiava, forçou a perna além da conta. Com a dor surda que o atingiu, ele tropeçou, caindo de uma vez no chão empoeirado.

Aproveitando a incapacidade do garoto de revidar ou fugir, Tom próximo o suficiente de Herniel, agachou-se, agarrando um punhado de cabelo do ferido. Herniel reclamou, cerrando a mandíbula, semicerrando os olhos para o mais velho.

Tom sorriu sem ânimo, puxando com mais força o couro de Herniel, e batendo o rosto do comerciante contra o chão, fazendo-o soltar o ar desesperado. Passou-se segundos antes que seu nariz também começasse a sangrar.

— Você é insignificante. Está apenas ocupando um lugar que não é seu — Tom esbravejou. Suas veias saltavam e suas roupas estavam desajeitadas depois do que houve instantes atrás.

— Diz... algo que eu não sei, idiota — Herniel retrucou, tentando-se recuperar da batida. O cérebro do homem era devolutivo, mas sua força compensava de qualquer maneira.

Tom trincou o maxilar, e voltou a bater a cabeça de Herniel outra vez. Ele voltou a repetir o movimento mais duas vezes, julgando que era insuficiente o sangue que respingou no chão. Herniel deveria aprender a nunca deveria responder sem sua permissão.

Na sua terceira tentativa, quando Herniel parecia com a consciência atormentada, respirava com dificuldade e o sangue jorrando de suas narinas, com a visão bifurcada e nublada. O cheiro de ferro e da sujeira do chão era a única coisa que ele conseguia concentrar. Ao sentir que seu rosto iria colidir com o chão outra vez, fechou os olhos com força, rogando para que acabasse logo.

A mesma coisa de quando era menor. Os homens de seu bairro costumavam abusar fisicamente apenas por ele ser pequeno. Ele era frágil e fraco. O que fazia ser mais divertido bater nele.

Por favor, não. Por favor, acabe rápido. Por favor, me mate.

Enquanto Herniel afundava nas suas memórias terríveis, uma sombra recaiu sobre Tom. O brilho distinto da morte o assombrou. Em silêncio, Moore cravou seus dedos no pescoço do homem, que com a dor de seus músculos soltou de imediato Herniel. O Ceifador, puxou o corpo do homem como se fosse algo insignificante, deixando o homem de joelhos, segurando sua vontade de o matar.

— Que infernos você pensa que está fazendo? Está com vontade de se encontrar com o celestial? — Ele iniciou entre dentes, apertando o homem com mais força, deixando-o roxo —, se for dessa maneira, eu posso concretizar seu desejo.

— Eu... estava apenas dando uma lição nos modos dele — respondeu com a voz saindo num fio, temendo o que Gary poderia fazer com ele.

Moore riu sem graça da sua resposta, e se inclinou na altura do homem, ficando cara a cara com Tom. Olhando diretamente no medo que assombrou a alma daquele infeliz. Tocando no que é seu. Sem permissão. Com a maldita presunção de que poderia respirar o mesmo ar que Herniel.

— Ninguém ensina uma lição nele além de mim — Gary sussurrou, soltando o homem, e dando um rápido soco. Tom caiu, e ele o chutou. Ele repetiu o movimento, com o homem se contorcendo de dor. Com os punhos fechados, Gary deu um último golpe na coluna do homem, arrancando uma tosse forte, com sangue.

— Pare...

— Você não parou mesmo que Herniel estivesse desnorteado, então porque eu devo ter misericórdia com você? — Gary interrogou, com a voz rígida.

— Eu não sou seu inimigo. Diferente dele — Tom tentou se mover para o encarar, mas Moore pisou com força na sua barriga. — O que está fazendo pode ser considerado traição. Será morto por isso.

— Prefiro ser morto antes de ser um covarde como você. — Ele retirou o pé de cima, o chutando para a parede. Olhou para fora, com todos os homens encarando sua atitude. — Não fiquem parados. Tirem-no daqui. Ele está poluindo minha cabine.

Rapidamente, os homens agarraram o homem que ainda estava tossindo, recuperando o ar depois dos golpes de Gary. Seu rosto já havia ficado inchado com seu soco, e o nariz sangrando. Vendo o homem naquele estado, ainda caminhando, desejou ter batido com mais força.

O último homem saiu da cabine, fechando a porta, trazendo alívio para Gary. Ele caminhou até Herniel, que no momento que ele colocou as mãos em seus braços, para erguê-lo, ele abriu os olhos. Confuso com o que tinha acabado de acontecer, ele encarou Moore. Dessa vez, sem franzir as sobrancelhas.

— Por que você não me matou? — Herniel perguntou, agarrando a gola da blusa de Gary, com os olhos implorando para que viesse uma resposta decente.

Com os olhos pesados, insistindo para adormecer por completo, ele segurou Moore com mais força.

— Eu odeio essa situação. Eu te odeio. — Confessou informado, parecendo uma criança mimada. — Não tem coisa pior do que tudo isso.

Moore o apertou contra si, para o despertar. Ele não poderia adormecer ainda. Teria que permanecer acordado, para que nada de ruim acontecesse com ele.

— Há sim, coisas piores — Gary encarou os lábios de Herniel manchando de sangue. Cortados por causa dos impactos e inchados.

— Mentira. Isso é... impossível — revidou, mexendo a cabeça que latejava. Como se um martelo não parasse de bater várias e várias vezes. — Eu não consigo imaginar algo pior.

— Apenas sinta o meu pior.

Moore ergueu mais o torso de Herniel, fazendo acontecer um contato avulso dos seus lábios. Anestesiado, Herniel amoleceu suas defesas, dando abertura para Gary invadir sua boca. O tabu que o capitão tanto imaginou em quebrar rompeu sua racionalidade, tomando Herniel com mais avidez.

Herniel sentiu o ar parar, despertando. Ele sentiu a sucção que suas línguas estavam fazendo, preenchendo as paredes com seus pequenos ruídos, e finalmente, abriu os olhos. Quando encontrou Moore tão próximo de si, foi seu sangue que congelou dessa vez.

Ele petrificou, e Gary entendeu que tinha conseguido seu propósito. Deixá-lo o mais acordado o possível, para que suas lesões não ficassem tão sérias.

— O que foi isso?

— Nada — respondeu seco, sem seu sorriso cínico. — Só cale a boca enquanto eu cuido desses ferimentos.

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