°•ORDEM I•°
714/10/16, Império de Alveberia, Palácio Império
"A sanidade humana possui seus limites."
O sol raiava pelo leste outra vez. Seus fracos raios atravessaram o vidro do quarto da imperatriz e alguns conseguiram alcançar sua face. Com a sensação de queima a imperatriz abriu os olhos desconfortáveis, e a primeira coisa que seus olhos alcançam é seu marido dormindo. A careta surgiu em seu rosto em segundos e se sentou rapidamente na cama.
Porém, ela foi tomada por uma força maior e virou-se para trás para o observar melhor. O homem estava a usar uma túnica negra feita de seda
Era confortável, mas revelava muito do seu corpo e isso a incomodava, porque sempre se perdia no seu torso de alguma forma.
Ela voltou rapidamente aos seus sentidos, então, abandonou a cama e encaminhou para outro cômodo, a fim de não incomodar o sono de seu esposo. Na verdade, era uma desculpa leviana para não acordá-lo e seguir sua rotina. Ela não sabia como haviam chegado aquele ponto, somente que seu marido tinha audácia em mostrar sua beleza exuberante e que foi um erro ter se casado com ele.
Ela não esqueceu nenhuma das suas atitudes e palavras do passado. Seu olhar duro que lhe julgava incapaz e fraca, tudo estava gravado em sua cabeça e ossos.
Após a servas terem cuidado da sua pele, a vestiram com uma saia longa bege com botões laterais e uma blusa branca que os babados caiam pela laterais. Ela não sairia do castelo, e todos conheciam seus modos simples e por último sua dama de companhia, Rael um waterfall braid, um famoso penteado da capital que consistia em fazer uma trança com uma mecha de cabelo e prendê-la no meio, deixando o resto solto.
Ela estava pronta. Como símbolo do império e uma mulher, manter sua beleza era de extrema importância, mas para ela não, contando que ela mantivesse as aparências para os outros países e fazendo seu trabalho estaria tudo bem.
Atravessando o corredor, ela admirou o jardim interno por alguns segundos, e seguiu em frente lamentando não poder ficar um pouco mais. Seguiu, desceu alguns lances de escada e os guardas a saudaram antes dela alcançar a mesa e fazer seu desjejum.
Ela se limitou a assentir com a cabeça.
Stephanie Bellucci de Le Alveberia, se tornou com muito sangue a imperatriz do império. Passou muitas coisas por causa da desaprovação dos nobres que não a apoiavam porque ela era uma mulher. porém, ninguém a impediu de ir às guerras com somente dezesseis anos e venceu a sua primeira guerra com dezoito. Seu pai ainda estava vivo, entretanto, ela já conseguia se destacar e conseguiu mostrar seu valor para o povo.
No momento, que seu pai soprou seu último ar, ela subiu ao trono, suavizou os problemas de fome nas áreas baixas do império, tributos altíssimos sem necessidade e má distribuição de suplementos que havia entre as regiões e ainda assinou tratados de paz com reinos vizinhos, que eram Reino de Dammerung, Blumen e por fim, Hingabe.
Ela mostrou que poderiam reinar com mestria e as palavras dos nobres sobre sua ignorância e fraqueza foram engolidas à força — contudo, sua paz sobre o casamento político durou pouco —, queriam casar ela a todo custo com o rei de Eisen.
Sentindo-se encurralada sobre o assunto, beirando a loucura, ela achou uma saída. Era algo que a fazia ter náuseas, mas era melhor que o tirano insano.
Havia um homem que era rico, poderoso e agradável aos olhos do seu império e ela propôs uma oferta de casamento a ele — que beneficiou ambos, mas Stephanie sai ganhando mais benefícios que ele — e ele é seu atual marido.
Leon Barueri de La Casteyer.
A imperatriz se acomodou na mesa e seu mordomo a serviu. Stephanie agradeceu, porém, uma dúvida surgiu após vagar seus olhos para a mesa.
— Onde está Luigi? Ele permanece descansando? — indagou para Donatello, o mordomo que serve a sua família a mais de uma década. Era um senhor que usava somente uma lente no olho esquerdo, ligada a uma corrente, e obcecado por relógios de bolso.
— Sua Majestade, o príncipe está desperto e avisou que não demoraria para descer — Donatello a respondeu sem demora.
— Obrigada, Donatello.
Passos apressados desciam a escada, e no rosto indiferente da Stephanie surgiu um singelo sorriso.
Um menino surgiu no topo da escada, com o olhar sonolento, mas sua boca se abriu num inocente e gentil sorriso. Iluminando o humor da imperatriz, sua mãe.
Ela se levantou da cadeira para recebê-lo e Luigi correu até ela com os braços abertos, abraçando sua cintura em seguida.
— Bom dia, mamãe! — Ela o pegou nos braços.
— Bom dia, meu filho. Dormiu bem? — perguntou beijando o topo da cabeça do menino.
Luigi contou-lhe que havia sonhado que a protegia de pessoas más, e ela riu fraco, logo o soltando e o mordomo chefe o acomodando na mesa.
A imperatriz para de comer para somente observar o menino se alimentando — era um dos seus melhores prazeres do dia — e seu filho era seu bem mais precioso depois de tudo.
Luigi nasceu da união de Stephanie e do seu amaldiçoado marido — porém, houve uma época que eles cessaram fogo e se aproximaram, mas os ataques reiniciaram depois do pequeno nascer — ele tinha feito outro ato imperdoável pouco antes da criança nascer.
Ele não se importava com Luigi e nunca se importará.
Essa é a motivação da Stephanie em sempre dar seu melhor para ser uma boa mãe para o garoto. Não podia deixar a criança sozinha mesmo estando ocupada com seus deveres. Mais tarde, Luigi se tornará o seu sucessor.
O pequeno já mostra habilidades que serão úteis futuramente e sua fisionomia é idêntica a do pai, olhos vermelhos vibrantes, cabelos negros lisos que vão até um pouco abaixo da orelha.
A mulher se dando conta que o pequeno estava comendo rápido, pediu-o para ir mais devagar para não ocorrer dele se engasgar. Ele obedeceu-a e ela sorriu lhe prometendo uma recompensa mais tarde.
Enquanto isso seu marido despertava, ele abriu lentamente os olhos e procurou sua esposa — mas o lado da sua cama já estava frio — ele se sentiu aliviado, porém um sentimento de frustração também surgiu em seu peito.
Leon foi praticamente ameaçado pela imperatriz para se casar com ela e ele não queria —, no entanto, ao seus olhos Stephanie era muito perigosa. Não podia recusar. Tinha sido acorrentado pela mulher de aparência angelical e na verdade, Leon não tinha desgostado ao todo do seu interesse súbito.
Estava curioso e por isso caminhou ao seu lado, mas com o tempo o sorriso gentil que ela mostrara no dia que o procurou se tornou frio e falso — seu olhar doce, se transformou em indiferença e ele percebeu.
Leon não estava caminhando mais ao seu lado, estava acompanhando-a atrás.
Afastando pensamentos levianos quanto a imperatriz que estava começando a duvidar se era realmente sua esposa — ele se dirigiu a uma sala de oposta da soberana e se arrumou com pressa. Acreditava que estava atrasado para seus deveres.
Caminhando até o salão principal abotoando suas mangas, olhou de forma nostálgica e se recordou das reuniões que ele fazia com Stephanie — era um tempo que ela parecia degustar da sua presença e ele também gostava de apreciar os momentos com ela — mesmo que estivesse cansado, era agradável.
Mas isso estava perdido. Não passavam de lembranças.
Continuou seu caminho e arregalou os olhos quando viu a loira sentada na mesa sorrindo enquanto observava seu filho — era real? Em meros segundos ele julgou incontáveis vezes que estava vendo errado — a mesa sempre estava vazia quando ele descia.
Comia sozinho. Todas às vezes.
Os guardas o reverenciaram, mas Leon estava mais concentrado em ser sorrateiro e ser discreto ao se aproximar de Stephanie; já que ela sempre fugia quando o notava.
Deu certo. Ele estava sentado ao seu lado, porém, a imperatriz sentiu alguém a observando e virou sua cabeça para o lado.
Ela estava surpresa e com raiva. Leon sentia.
Entretanto, ela lançou um sorriso gentil na sua relação e fez a última coisa que ele havia imaginado.
— Saudações, meu imperador. Descansou bem? — Ela perguntou de forma tranquila. Suas intenções eram omitidas em cada entrelinha.
Leon separou minimamente os lábios e ficou estático observando e revendo o que ela tinha feito — Stephanie jamais tentou ser cortês à sua frente e ele não sabia o que fazer —, porém, se apressou para respondê-la antes que causar algum mal-entendido.
— Bem — Leon iniciou desajeitado. — Eu descansei bem. Espero que tenha sido o mesmo para você, minha senhora.
O sorriso de Stephanie aumentou e Leon sentiu calafrios — ele não tinha conhecimento do que passava pela cabeça dela naquele momento —, mas não conseguia sentir boas intenções.
— Sim, foi. — A resposta curta dela o assustou e eles fizeram contato visual depois de anos.
Stephanie tombou a cabeça e riu fraco foi uma sensação nova ter visto os olhos rubros do marido depois de anos —, ele por outro lado, cerrou o punho com força, entendendo o que ela estava fazendo.
A quem estava presente parecia que eram um casal, porém, estavam sendo enganados pelo sorriso brilhante e inocente da imperatriz. Continha uma máscara por trás. Um teatro bem pensado. Boatos desnecessários não poderiam se espalhar e muitos comentaram a relação de ambos.
Lados divergentes.
Enquanto, a imperatriz só se divertia porque gostava da aparência do homem, o imperador rogava por dentro para ter a atenção real dela.
Tudo parou por um segundo para Leon.
Oh não, ele queria a atenção genuína dela.
Quando começou a desejar isso? Era alguma piada? Ele nunca iria conseguir atenção de Stephanie. A mulher era demasiada orgulhosa e ele tinha medo de a afastar mais.
Leon tomou uma atitude desesperada. Se ele queria mudar algo, deveria agir. A única coisa que ainda os unia de alguma forma, era o pequeno sentado ao seu lado, que quase iria se esquecendo depois de tudo.
— Luigi, ouvi muito sobre seu impressionante desenvolvimento nas aulas. Gosta delas? — Leon direcionou a pergunta para o menino que terminava de comer e mesmo baixo podia ouvir um grunhido de raiva.
Stephanie não gostava de quando ele atuava como um bom pai — ele nunca perguntou sobre Luigi ao longo desses anos e muito menos, teve interesse em ver seu crescimento.
— Sim, eu aprecio as aulas, pai — Luigi não estava agindo da mesma maneira que quando estava a sós com a mãe. Stephanie percebeu e fuzilou Leon com o olhar.
— Muito bem. Quando tiver alguma dificuldade para me procurar — Leon apontou sério.
Foi quando Stephanie no seu limite levantou-se depressa da mesa — seus modos ensinados quando ainda era jovem foram esquecidos — e ela suspirou fitando o marido.
— Não é necessário. Eu já cuido disso — sua voz saiu mais ríspida que o planejado e continuou desviando a atenção para Luigi —, estou aguardando ansiosa você em minha oficina, Luigi.
Ela se retirou sem pedir licença ao seu marido, era um prova clara que Stephanie não havia aprovado sua aproximação.
Luigi sentiu o clima ficar tenso e se retirou minutos após sua mãe.
Leon ficou sozinho e suspirou frustrado.
— Acredito que Stephanie e Luigi me odeiam — murmurou. Ele se sentia desconfortável com toda a situação, era normal alguém nutrir tanto rancor como a imperatriz?
Leon entendia que fez muitas coisas que fizeram eles se afastarem, no entanto, era para o bem dela — Stephanie se envolvia com coisas perigosas e se fosse pega poderia ter um preço alto mesmo sendo princesa herdeira — e era o que os nobres queriam. Derrubá-la e roubar o trono. Afinal, para eles, era só uma criança tola que desfilava com o título de princesa.
Mas Stephanie era uma fera indomável. Ninguém a alcançou e sua selvageria era ardilosa demais para algum nobre conseguir deixá-la de joelhos.
Sempre estava de pé.
Ela não precisava da sua ajuda e mesmo assim ele estendeu a mão. A mão que permanecia intocável até mesmo quando ela o pediu em casamento.
Era inútil.
Tinha mais camadas do desprezo da imperatriz e ele descobriria.
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