49| Primeiras crises - Parte 4

DORIAN teve a sensação de ser eletrocutado, sentiu o corpo todo se arrepiar e ficar paralisado com aquilo, pela primeira vez estava sem palavras. Sabia que Rochefort não havia brincado anteriormente quando jurou matá-lo, mas não imaginou que a missão cairia justamente sobre Melina.

Se levantou e deu alguns passos pela sala, tentando raciocinar direito, enquanto Max bradava:

— Caralho, mas que grande merda!

— Temos que parar. – Constatou Melina mais calma – Não dá para continuar daqui. Eu vou desistir e encontramos uma outra forma de chegar até Rochefort novamente.

— Não. – Soou a voz de Dorian a interrompendo.

— Como assim não?

— Não podemos recuar agora.

Daquela vez foi Max que se voltou na direção dele, incrédula com o que ele havia dito.

— Dorian, você entendeu uma palavra do que a Melina disse? Rochefort quer você morto.

— Sim, eu escutei. Mas também sei que esse é um teste duplo dele. Rochefort está querendo testar até onde Melina iria para conseguir a confiança dele, mas quer testar principalmente se ela não é uma federal. A notícia de que trabalho para vocês já se espalhou, Melina surgiu do nada, ele deve ter associado as duas coisas. Ele está desconfiado.

— Pois que desconfie! – Melina elevou a voz – Eu vou apanhá-lo de outro jeito.

— Pode demorar demais, nós não temos todo esse tempo. Ouviu o prazo que Adria nos deu e duvido muito que ela vá nos deixar trabalhar com um tempo estendido.

— E o que você quer que eu faça, Delyon?

— Que me mate.

Enquanto Melina lhe dava as costas sem esconder a expressão indignada, Max se aproximava mais dele, franzindo o cenho, claramente discordante daquela ideia, dizendo:

— Dorian, está precisando conversar? De alguma ajuda psicológica talvez? Há quanto tempo não visita o psiquiatra?

— Eu estou falando sério, Max.

— Eu também! Você nunca teve tendências suicidas e agora está aí pedindo para a Melina te matar.

— É a única forma de o pegarmos, se ele me quer morto, ótimo, vamos dar a ele o que quer. Mas não convém agora destruir todo o disfarce que ela lutou para montar.

Farta daquele assunto, Melina ergueu a voz se voltando para Dorian e diminuindo rapidamente a distância entre eles. Segurou seu rosto entre as mãos como se quisesse fazê-lo voltar a si e reforçar seu argumento enquanto dizia:

— Você não consegue entender o que isso faria comigo? Não pensa, nem por um segundo, como eu ficaria, Dorian? Ele quer que meta uma bala no seu coração!

Só então Dorian compreendeu a angústia de Melina, talvez estivesse tão cego de ódio por Rochefort que não conseguia enxergar como aquilo poderia afetá-la. Se sentiu miserável ao vê-la o encarando daquela forma, e sua única reação foi tirar as mãos dela de seu rosto e puxá-la para um abraço, sabendo que aquilo era tudo o que ela precisava naquele instante.

— Me perdoe. – Pediu ele – Eu só quero acabar com isso de uma vez.

— Eu também quero. – Respondeu ela, com a voz abafada pela roupa dele – Mas não quero te perder no meio disso.

— E você não vai. Eu prometo.

Max apenas observava os dois, lhes dando o tempo que precisavam para se reconciliarem e para que Melina se acalmasse. Quando eles enfim se afastaram, ela propôs:

— Muito bem, agora precisamos recomeçar. Mas por onde iremos?

— Eu ainda acho que me entregando para ele é o melhor caminho.

— Dorian... – Censurou Melina.

— Eu ainda não terminei, me deixem explicar. Você não vai me matar de verdade, só precisamos fazê-lo acreditar nisso.

— Se está pensando em simples fotos não vai resolver, ele quer me ver te matando.

— Que psicopata. – Ralhou Maxine – Isso vai atrapalhar tudo.

Por alguns instantes os três ficaram em silêncio, cada um trabalhando em uma ideia. Dorian ainda estava receoso de apresentar sua solução, não via outra opção senão aquela.

— Pode ser arriscado, mas talvez possamos enganá-lo.

— O que sugere?

— A Jane está na cidade, Max?

— Ah, não! Você não vai envolver minha namorada nesse caso, pode tirar isso da sua cabecinha.

— Não vou envolvê-la, só preciso da ajuda dela.

— Precisar da ajuda dela significa envolvê-la. Desista e pense em outra coisa.

— Max, por favor, estou pedindo que você e Melina confiem em mim. Talvez eu possa tirar Rochefort das ruas, podemos pegá-lo. Esse vai ser o caminho mais fácil.

Os três se encaravam sem nada dizer, Melina e Max estavam receosas, Dorian se recusava a recuar, ali estavam eles em um impasse. Mas sabiam. Sabiam que não havia outra solução.

Os dois dias que se passaram foram cercados de tensão, apesar dos protestos e opiniões contrárias o plano de Dorian se seguiu e por incrível que parecesse o mais difícil foi convencer Jane a participar de tudo aquilo. A médica ficara horrorizada com a complexidade e engenhosidade do plano, mas sabia que se não fosse ela, Dorian teria arrumado outro médico. No tempo que tinha convivido com ele e o conhecido melhor, acabara se aproximando e também o tornado seu amigo. Chegou à conclusão que ninguém mais cuidaria da saúde dele, senão ela mesma.

Dorian terminava de se arrumar e dar os últimos toques no plano quando ela se aproximou junto de Max e Melina, questionando:

— Tem certeza de que quer fazer isso, Dorian? Isso é extremamente perigoso e arriscado.

— Não mais do que ser filho do Corbeau. E cá estou eu.

Sabendo que ele não desistiria, ela inspirou fundo e caminhou para o fundo da sala, onde prepararia o que ele havia pedido.

— As viaturas estarão a postos assim que nos encaminharmos para o local. Jane e eu também estaremos logo atrás. Melina vai nos conduzir e nos dizer para onde devemos ir. – Disse Max, repassando o plano.

Assim que Dorian abotoou o paletó, Jane se aproximou com uma pequena seringa e entregou a ele, esclarecendo:

— Aqui tem a dose exata de cloreto de potássio que precisa. Lembre-se que você e Melina precisam estar extremamente sincronizados, isso vai causar uma parada cardíaca imediata, precisa conseguir injetar isso em si mesmo.

Tomando a seringa e enfiando dentro da manga do paletó, ele apenas acenou positivamente, enquanto Melina se aproximava.

Encarando o fundo dos olhos dele, ela ditou:

— É melhor que cumpra sua parte no plano e volte para mim.

— Eu prometo. Vou voltar e ainda vou querer mil beijos por isso.

Sem conseguir segurar o riso que lhe escapou, Melina relaxou os ombros, um pouco mais calma e segura de si. Precisava daquele bom humor de Dorian todos os dias para torná-los mais suportáveis.

— Muito bem, Delyon, me dê seu pezinho, vou tirar a tornozeleira para você correr solto por aí. – Disse Max, os interrompendo.

— Não me dou nem meia hora de liberdade, duvido muito que Rochefort não tenha mandado alguém me seguir.

Quando Max o soltou daquela tornozeleira, Dorian soube que não poderia mais voltar atrás, e na verdade, nem queria. A partir daquele momento, o plano era para valer. 

Deveria ter apostado com Max que sua suposta liberdade não duraria tanto. O plano era parecer que ele havia fugido e de alguma forma conseguido driblar os federais para executar sua fuga. Mas estava certo de que Rochefort mandara segui-lo, foi questão de menos de uma hora para sentir pelo menos dois pares de mãos o agarrarem e enfiarem dentro de uma van. Seus olhos foram vendados e suas mãos amarradas, não houve tempo nem mesmo para pedir ajuda se quisesse, e mesmo que aquele fosse exatamente seu plano, não conseguiu se impedir se sentir-se ansioso e com medo. O coração que naquele momento batia ensandecido dentro do peito, em alguns minutos pararia, e partir dali sua vida estaria literalmente nas mãos de Jane e Max.

Ajeitando a seringa dentro da roupa e sentindo a agulha fria sobre a pele, rezava para que tudo desse certo. 

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