42| Fora dos limites - Parte 3
O CAMINHO todo que fizeram foi em silêncio, Dorian se recusou a sentar no banco da frente ao lado de Adam, se acomodou no banco do passageiro na parte de trás e se recostou na janela, assistindo a cidade passar rapidamente pela janela.
Foi só quando adentraram uma rua diferente da que costumava percorrer que ele voltou os olhos na direção de Adam.
— Esse não é o caminho para o galpão.
— Vou passar na farmácia, isso tudo me deixou com dor de cabeça. – Respondeu Hastings, o encarando pelo retrovisor.
— Mas passamos por um monte de farmácias.
— Eu só compro na que eu estou acostumado.
Dorian não engoliu aquela desculpa, mas preferiu se calar, não queria iniciar uma nova discussão, mas quando continuaram percorrendo ruas estranhas e nunca paravam em nenhuma farmácia, ele começou a desconfiar.
Disfarçadamente arrancou a própria gravata e se arrastou até parar atrás do banco de Adam.
— Esse não é o caminho da minha casa. Aonde está me levando, Hastings?
— A lugar algum, Delyon. Sossega aí.
— Eu não vou perguntar de novo, Hastings, me diga agora para onde estamos indo.
Quando Adam não respondeu, Dorian rapidamente avançou contra ele, passando a gravata por sua garganta e puxando, tentando asfixia-lo. Por alguns segundos Adam perdeu o controle do carro, fazendo-o ziguezaguear no meio da pista, mas assim que retomou a reta, tentou agarrar a gravata de Dorian, na tentativa de se livrar do aperto, enquanto ainda se concentrava na estrada, tentando evitar que sofressem um acidente.
— Ficou maluco, Delyon? – Bradou ele com certa dificuldade – Me solte. Se eu perder o controle nós dois morremos.
— Estou pouco me fodendo, se eu morrer levo você junto comigo, Hastings. Agora me diga aonde está me levando.
Adam ainda relutava em responder e Dorian se recusava a ceder, mesmo que o carro por vezes derrapasse pelas ruas.
Com uma freada brusca, Adam parou o carro, atirando ambos para frente, fazendo Dorian bater o rosto no encosto do banco, enquanto ele acertava o rosto no painel do carro.
Antes que Dorian pudesse agir novamente, a porta de trás do carro se abriu, revelando Aquiles e seu monótono olhar, encarando o irmão mais novo.
Naquele instante Dorian sentiu um certo choque se assentar sobre si, não estava entendendo mais nada daquela situação. Notando a falta de reação de Adam e que ele apenas esfregava o pescoço dolorido, concluiu que ele conhecia seu irmão.
— Desce, Dorian. – Ordernou Aquiles abrindo espaço para ele.
Ainda receoso, Dorian obedeceu, encarando o irmão em confusão e logo depois voltando seu olhar para Adam, que também havia descido do carro.
— Que merda está acontecendo aqui? – Questionou.
Nenhum dos dois respondeu, Adam apenas mexeu em algumas coisas em seu celular antes de voltar os olhos para Aquiles, o informando:
— Vocês têm até o final do dia, depois disso a tornozeleira dele vai começar a emitir o sinal correto.
Como se aquela simples frase explicasse tudo, o agente voltou para dentro do carro sem nem mesmo dar mais explicações e logo partiu dali, deixando Dorian atônito para trás. Foi só quando sentiu a mão de Aquiles sobre seu ombro que ele voltou a si, encarando o irmão de forma incrédula.
— É o que estou pensando?
— Achou mesmo que seu chefe era o único?
— Mas... mas...
— Anda, entra no carro, eu vim te buscar.
— Me buscar? Para onde vamos?
— Ele quer te ver. – Respondeu Aquiles contornando o carro preto e abrindo a porta. Percebendo que Dorian permanecia estático e com certo medo estampado em seus olhos, completou – Vamos, nada de mal vai te acontecer, eu prometo. Ele só quer te ver. Chegou a hora.
A respiração de Dorian se acelerou de tal forma que o deixara ofegante começando até mesmo a ver certos pontinhos pretos dançando à sua frente. Receoso, deu alguns passos para trás, incerto do que fazer.
— Eu... eu...
Vendo a perturbação e palidez do irmão, Aquiles se aproximou rapidamente, tocando o ombro de Dorian para lhe chamar a atenção.
— Ei, se acalma. Eu prometo que nada ruim vai te acontecer, o papai não vai te machucar, Dorian, está tudo bem. Confia em mim? – Recebendo um leve acenar de cabeça, Aquiles passou o braço ao redor dos ombros de Dorian, o guiando para o carro e abrindo a porta para que ele adentrasse – Então vamos, não podemos perder tempo, as horas são curtas.
A maior parte do caminho Dorian se manteve paralisado, encarando à estrada que se abria à sua frente, mostrando os enormes campos verdes que levavam à saída da cidade. A companhia de Aquiles ao seu lado não diminuía o aperto no peito, tampouco a batida descompassada de seu coração, mesmo que se sentisse bem ao lado do irmão, naquele momento nada seria capaz de acalmá-lo. Mas agradecia aos céus, a boa intuição de Aquiles, que apenas o deixou processar tudo o que estava acontecendo.
— Quer dizer que Hastings também trabalha para o Corbeau? – Questionou ele, finalmente.
— Sim. – Respondeu Aquiles – Ele e mais alguns, quando Alex foi descoberto hoje pela manhã ele nos acionou.
— Existe alguém naquela agência que não trabalha para vocês?
— Muitos. Mas os que trabalham são leais o suficiente.
— É assim que me vigiavam?
— Sim, e foi assim que ficamos sabendo que havia sido envenenado no coquetel da Pandora.
— Foi assim também que fizeram uma chacina. – Respondeu Dorian, amargamente, se voltando para Aquiles.
Ele notou certo contorcer na face do irmão, sabendo que aquele assunto o incomodava, desde que conhecera Aquiles soube que algo de diferente havia nele.
— Eu disse ao papai que não era boa ideia e que matar um suspeito dentro da própria agência abriria muitas suspeitas, mas ele não me ouviu.
— Quem mais é infiltrado de vocês lá? Dante? Tales?
— Não.
— A Ayumi?
— Não, pare de tentar adivinhar.
Dorian não conseguiu impedir que certa possibilidade passasse por sua mente, o que só fez o peito se apertar mais e um nó se formar em sua garganta, o fazendo se sentir tão mal a ponto de certo enjoo o atingir.
— A Max e a Mel... – Sugeriu.
— Não. – Cortou Aquiles rapidamente – Elas são íntegras demais para aceitar algo assim, o papai sabia que elas não aceitariam e provavelmente o prenderiam. Se lhe serve de consolo, nenhum outro agente da sua divisão é nosso informante. Lá tínhamos apenas o Alex, e ele era o suficiente.
Se contentando com aquela resposta, Dorian se afundou no assento, voltando sua atenção novamente para a estrada, ainda sentindo o incômodo tomar seus sentidos. Não conseguia se sentir bem com o que estava fazendo naquele instante. Embora uma pequena porção de si se sentisse muito bem em saber que Adria havia sido enganada, e que o homem de confiança dela também era um traidor.
— O que ele quer comigo? – Perguntou depois de alguns minutos – Por que se aproximou só agora? Eu estava muito bem sem saber quem era meu pai biológico.
Os segundos de silêncio que Aquiles fez, pareceram durar horas até que ele inspirasse profundamente, antes de responder:
— As coisas mudaram. Mas não serei eu quem vai te explicar tudo, Dorian. Isso vou deixar para nosso pai, somente ele pode lhe dizer seus motivos.
O resto da viagem passaram em silêncio, Aquiles concentrado na estrada, e Dorian se preparando para o encontro que estava por vir. Admitia que talvez nunca estivesse de fato pronto.
Quando viu despontar uma grande propriedade com uma casa construída em grandes blocos cor de areia e um telhado preto, cercado de um gramado tão grande a se perder de vista sua extensão, Dorian se sobressaltou no banco. Incrédulo com o lugar que começava a adentrar através dos portões grandes e pretos.
— Esse não é o refúgio do cônsul?
— É sim.
— Está brincando comigo? Corbeau se esconde justamente na propriedade mais cara da cidade? Bem debaixo do nariz de todas as autoridades?
— Sim. Por que a surpresa?
— E eu pensando que eu era abusado.
Um riso divertido escapou de Aquiles que não pôde deixar de se divertir com a careta que Dorian fazia, encarando admirado toda a propriedade. Assim que estacionaram em frente à escadaria principal, foram recebidos por um dos seguranças que rondavam por ali.
— Bem-vindo de volta, senhor Norev. – Saudou ele.
— Obrigado, Darius.
— Senhor Delyon. – Cumprimentou o homem se dirigindo a Dorian.
Ele não pôde deixar de se sentir surpreso ao ser cumprimentado como se aquele homem já o conhecesse toda a vida. Talvez conhecesse, não se admiraria se lhe dissessem que tinha alguns seguranças em sua cola sem que percebesse.
— Vem, ele deve estar ansioso. – Soou a voz de Aquiles o chamando.
Ainda receoso, Dorian deu passos hesitantes, subindo os degraus impecavelmente limpos, os conduzindo até uma porta de madeira escura e vidro. Ao adentrarem um grande salão era revelado, com seu piso brando e preto brilhando como se fosse polido todos os dias, estátuas, quadros e candelabros eram encontrados por todos os lados e mais à frente duas entradas revelavam corredores que levavam aos outros cômodos, ao meio uma escada de mármore branco era parcialmente coberta por um carpete bege, que levava ao andar superior.
De um dos corredores uma moça que aparentava ter a mesma idade de Dorian surgiu. Os cabelos curtos, acima dos ombros, eram de um loiro extremo assim como os de Aquiles, os fios sedosos balançavam revelando suas ondas, enquanto ela corria animada em sua direção. Os olhos bicolores não deixaram nenhum vestígio de dúvida de quem ela era.
— Ah, finalmente chegou! – Bradou ela, se chocando contra Dorian em um abraço e enroscando os braços ao redor do pescoço dele – Eu estava tão ansiosa em finalmente vê-lo novamente. – Se afastando acrescentou, apertando as bochechas dele – Agora sim está como deveria estar. Olha só como é bonito, é tão bom te ver saudável e acordado. Eu estava tão preocupada com você.
Toda aquela falação e preocupação deixara Dorian confuso sobre o que aquela mulher falava, ele nunca a havia visto em toda sua vida e ela simplesmente agia como se já fossem velhos conhecidos.
A voz mansa de Aquiles foi o que chamou a atenção dos dois.
— Chloe, vá devagar, não o sufoque tanto. Deve se apresentar primeiro.
— Ah, sim! Como pude ser tão descuidada? Você é meio esquecidinho não é mesmo?
Esquecidinho? Do que ela estava falando?
— Chloe, por favor. – Repreendeu Aquiles novamente.
— Oh, me desculpe. Meu nome é Chloe, sou sua irmã mais velha, Dorian. Quer dizer, o mais velho é o Aquiles. Eu nasci no mesmo ano que você, sou só alguns meses mais velha. Mesmo assim você é nosso caçulinha.
Dorian não sabia como reagir diante da moça, especialmente porque ela não parava de apertar a bochecha dele como se fosse um garotinho. Agradeceu a boa percepção de Aquiles que logo o puxou pelo braço o desvencilhando de Chloe, enquanto o empurrava para o outro lado do corredor.
— Vamos, não podemos deixar o papai esperando.
— Ah, sim! Estava super ansioso antes de vocês chegarem. – Emendou Chloe correndo atrás deles e os acompanhando – Eu nunca vi o papai tão nervoso.
— É porque você não pode sentir como está meu coração nesse momento. – Respondeu Dorian, resmungando.
Silenciosamente ele seguiu os irmãos, descendo por uma escada que levava ao subsolo, à direita havia um corredor extenso, com uma única porta de madeira escura aos fundos. Os quadros pendurados e a iluminação baixa faziam o lugar se tornar menos claustrofóbico e mais acolhedor, por incrível que parecesse, não se sentiu tão agitado enquanto caminhava em direção à porta.
Diferente do que imaginara, não se sentia um animal sendo conduzido ao abatedouro.
Mas quando pararam em frente à porta e Aquiles bateu delicadamente recebendo a permissão de entrar, Dorian não conseguiu conter o arrepio que percorreu todo o corpo, estremeceu somente de ouvir a voz grave que vinha de dentro do cômodo. Imaginou se era daquela forma que as vítimas de Corbeau se sentiam ao se depararem com ele.
"Olá, meus amores! Como vão?
Vim aqui para esclarecer meu sumiço repentino hahaha. Eu tinha dado uma pausa para poder escrever mais e trazer melhores conteúdos para vocês, e enfim, já tenho boa parte dos capítulos escritos e poderei voltar com as publicações contínuas. Espero que gostem do rumo da história, foi preparada com muito carinho.
Enfim, teremos o encontro de pai e filho, frente a frente. O que vocês esperam?
Podem ter certeza que nos próximos capítulos, muitas coisa serão esclarecidas e reveladas. Então não percam.
Não se esqueçam de deixar uma estrelinha e compartilhar com os amigos para ajudar a autora. Muito obrigada por cada leitura. Vejo vocês em breve!"
Beijos,
Rafa."
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