41| Fora dos planos - Parte 2

DORIAN ainda continuava sentado em um canto naala médica, não se atrevera a sair de seu lugar e dar outros argumentos paraque o encarassem como um desequilibrado. Na verdade, até concordava que havia agido como um naquele dia, mas se lhe perguntassem, não havia qualquer gota de arrependimento dentro dele.

Quando notou Melina e Max se aproximando, não conteve a ansiedade, se levantou rapidamente e não esperou que elas lhe dissessem algo.

— Então, eu vou poder ficar com ela? – Questionou.

Soltando um suspiro Maxine concordou com a cabeça.

— Pode, Dorian, você pode ficar com o cão.

— É fêmea. O nome dela é Ceres.

— Batizou a cachorra sem nem mesmo saber se poderia ficar com ela?

— Eu confio no poder de persuasão de vocês.

— É bom mesmo que tenha confiança em nós porque livramos seu traseiro mais uma vez. – Respondeu Maxine – Mas não vai sair totalmente impune, terá que frequentar consultas com a psicóloga e a psiquiatra pelo menos uma vez por semana.

O cenho de Dorian se franziu em contradição, mas ele não se opôs, no fundo sabia que precisava de ajuda e aquela era a oportunidade que tinha de se levantar, não poderia ficar à mercê de seu descontrole.

— Também não poderá mais ficar sozinho. Será acompanhado vinte e quatro horas. – Completou Melina – Conversei com Max e tomamos a decisão de que eu ficaria com você.

— Vai se mudar para o galpão ou terei que ir para outro lugar? – Questionou ele de modo receoso.

— Vou para o galpão. Vamos passar esse tempo juntos.

Apesar de se sentir feliz em ter Melina morando consigo, em seu íntimo Dorian não pôde deixar de se sentir incomodado, não queria ser um estorvo ou o motivo dela sair do conforto de sua casa. Notando o constrangimento dele, ela completou:

— Eu sei que não gosta da ideia de ser vigiado sempre, mas...

— Não é isso. – Interrompeu – Não queria ter que interferir na sua vida.

— Pense nisso como uma forma de passarem mais tempo juntos. – Opinou Maxine – Vocês já andam tão grudados, o que faltava era morarem juntos e agora têm a desculpa perfeita.

Como uma tentativa de aliviar o sentimento de Dorian, Melina se aproximou, roçando o corpo no dele de forma provocadora e sussurrou em seu ouvido:

— Pode ser divertido.

— Não faça isso, não estou podendo pensar em coisas indecentes agora. Essa calça já está apertada.

— Ah, pelo amor de Deus, eu não mereço ouvir isso. – Resmungou Maxine, tapando os ouvidos e se afastando.

Os dois não puderam segurar o riso, Max sempre reagia daquela forma quando os dois demonstravam algum tipo de carinho um pelo outro.

— Ainda não me respondeu se vou poder ficar com a Ceres ou não. – Cobrou Dorian.

— Alex permitiu. A psicóloga conseguiu convencê-lo que um pouco de responsabilidade poderá ajudá-lo.

Um grande sorriso se abriu no rosto de Dorian, trazendo certo brilho para seus olhos e empolgação para suas feições.

— Eu vou cuidar muito bem dela.

— Eu não tenho dúvidas quanto a isso.

Os dias que se passaram fizeram com que Dorian se levantasse e recuperasse toda a confiança que dispunha antes, os sorrisos sinceros e fáceis voltaram a seu rosto, os olhos demonstravam mais vivacidade e parecia até mesmo mais disposto. Ajudou Melina com a mudança, embora ela houvesse levado poucas coisas para o galpão, e todos os dias religiosamente passeava com Ceres pelos arredores do galpão.

E embora algumas noites fossem mal dormidas ou rodeadas por pesadelos, ter a companhia de Melina ao seu lado lhe trazia conforto e calmaria.

Melina tinha de admitir que nunca vira seu chefe tão agitado da forma que estava naquele dia, o homem andava de um lado para o outro em toda a divisão, o rosto estava rubro destacando os cabelos brancos e os olhos azuis estalados deixavam muito claro seu estado de alerta. E embora ninguém ali entendesse muito bem sua agitação, não se atreviam a contrariá-lo e sempre obedeciam a suas ordens de deixar aquele lugar impecável.

Ela chegou até mesmo a pensar que nenhuma ordem seria dirigida a ela, mas suas expectativas foram quebradas quando o olhar de Alex se concentrou em sua figura e ele marchou decidido em sua direção.

— Singh, onde está Delyon?

— Está organizando alguns arquivos com Maxine, senhor. Eles estavam trocando algumas caixas de lugar.

— Pois então tire-o daqui, em hipótese alguma deixe-o voltar para essa divisão. Leve-o para qualquer lugar, mas o deixe fora por hoje.

Melina não entendia a preocupação de Alex, na maior parte do tempo ele pouco fazia questão de Dorian, e naquele momento demonstrava certa preocupação por ele.

— Eu não entendo, senhor, ainda temos muito trabalho a fazer e ele é de ajuda imprescindível.

— Apenas faça o que falei, Singh. – Bradou ele, aumentando o tom de voz – A superintendente está chegando e em hipótese alguma ela pode vê-lo.

Um arrepio percorreu toda a coluna de Melina ao ouvir a sentença A superintendente Adria Salt não era conhecida por sua boa recepção, muito pelo contrário, era temida por muitos e famosa por arruinar carreiras em um estalar de dedos, principalmente por descobrir acusações muito graves contra seus alvos.

Ainda assim, Melina não entendia o desespero de Alex, Adria nunca havia sido um dos alvos de Dorian, suspeitava que ele nem mesmo a conhecesse.

— Mas o Delyon nunca afetou ela, senhor. Pelo contrário ela pode ver que ele está nos ajudando e muito...

— Ela não sabe que Delyon está solto, Sing. – Gritou Alex, impaciente – Eu não a consultei, ela não autorizou a soltura dele.

Aquela frase sim explicava o temor dele, temor esse que se apossou de Melina também. Sabia que toda decisão tomada por Alex passava pela superintendente e se aquela fosse uma informação da qual ela não tinha conhecimento, significava que ele havia passado por cima dela, e que a presença de Dorian ali significava uma afronta a autoridade dela.

Não precisou de mais argumentos para sair em disparada da divisão, rogava aos céus que Dorian e Max ainda estivessem no mesmo lugar e que não houvessem saído da sala de arquivos. O coração disparado dentro do peito fazia o ar chegar com dificuldade aos pulmões, mas não se sentiria tranquila até ter Dorian bem longe dali.

Nunca se sentiu tão aliviada ao adentrar a sala de arquivos, sempre odiara aquele lugar abarrotado de caixas e armários, mas daquela vez se sentiu grata ao ouvir a movimentação de Maxine ali dentro.

— Max, cadê o Dorian? – Questionou se aproximando.

— Eu pedi para ele levar algumas caixas para a divisão, vou ter que revisar os arquivos de alguns casos.

— Droga!

Sem responder aos questionamentos de Max, Melina novamente disparou pelos corredores, fazendo o caminho reversos e se questionando como não o encontrara pelo caminho.

O sentimento de fracasso a atingiu quando adentrou a divisão e viu a situação constrangedora e alarmante se desdobrar à sua frente. Dorian estava abaixado, recolhendo várias pastas e papéis, tentando organizar uma pilha de caixas, enquanto a mulher imponente diante de si o encarava de cima, não fazendo a mínima questão de esconder o olhar de desprezo.

O cabelo curto na altura do queixo a tronava intimidadora, enquanto o terninho impecavelmente passado demonstrava sua posição naquela agência, o batom vermelho se destacava na pele escura, enquanto a sobrancelha muito bem desenhada se elevava.

— Você faz ideia de quem eu sou? – Repreendeu ela, elevando a voz suficiente para que toda a divisão ouvisse e Alex saísse alarmado de sua sala.

— A senhora pode ser a presidente do país se quiser, eu não vou pedir desculpas pela falta de educação da sua parte. – Respondeu Dorian, petulante – Eu já lhe expliquei que não a vi, as caixas tamparam minha visão e já pedi desculpas, agora se a senhora não tem humildade o suficiente para reconhecer que também estava errada não posso fazer nada.

Antes que um dos seguranças dela pudesse fazer qualquer coisa com Dorian, Melina correu em sua direção o puxando para perto, enquanto a voz de Alex, soava, enquanto ele descia as escadas:

— Mas o que está fazendo aqui?

— Trabalhando. – Respondeu Dorian, como se fosse óbvio.

— Saia daqui imediatamente.

— Tudo isso só porque derrubei algumas caixas?

— Tudo isso porque está desacatando a superintendente. Agora, fora!

Dorian não entendia muito bem todo aquele chilique de Alex, mas resolveu acompanhar Melina, que tentava puxá-lo para fora antes que a situação piorasse mais.

— Não tão rápido, agente. – Soou a voz de Adria, interrompendo Melina. Se aproximando a passos rápidos de Dorian, ela o questionou – O que foi que disse que estava fazendo mesmo?

— Ele estava apenas ajudando, senhora. – Tentou Alex.

Adria apenas elevou o dedo indicador, sinalizando para que ele se calasse, ainda mantendo os olhos fixos em Dorian.

— Eu não falei com você, eu falei com o Delyon. É você, não é mesmo?

— Sou. A senhora me conhece...

— Ah, Dorian Delyon. – Interrompeu ela – É mais bonito pessoalmente. Mas acredito que temos um pequeno engano aqui – Se voltando para Alex, ela completou – porque pelo que eu soube, Delyon ainda está preso. Então ele não deveria estar aqui.

O nervosismo de Alex era quase palpável, o afrouxar da gravata demonstrou o quanto se sentia intimidado por aquela mulher, o que ela fazia questão de se aproveitar.

— Pode ter sido realmente um engano, senhora, pensei que já a haviam informado.

— Por favor, Alex, se eu quisesse escutar mentiras conversaria com meus filhos. Seja sincero ao menos uma vez em sua vida. Por que soltou Delyon?

Dorian voltou o olhar confuso na direção de Melina que também não soube explicar, até poucos minutos ela também não tinha conhecimento do que seu chefe havia feito.

— O conhecimento de Delyon é muito valioso, senhora. – Respondeu ele – Pode-se ver isso pelo número de casos bem resolvidos da divisão. Além é claro de todos os contatos que ele dispõe.

— Eu sei o quão inteligente ele é, mas eu não autorizei a soltura dele. Então, Alex, me explique, por que ignorou minhas ordens e passou por cima da minha autoridade?

— Acredito que podemos resolver esse assunto em minha sala.

Se voltando para perto de Alex, Adria tornou o semblante ainda mais austero e tornou a falar com alta voz:

— Não, eu quero que me explique isso aqui na frente dos seus agentes. – Se recostando em uma das mesas e tirando a arma que carregava no bolso, e começava a incomodá-la, deixando-a em cima da mesa, a superintendente retomou – Vamos, estou aguardando sua explicação.

Os olhares de todos os agentes estavam direcionados diretamente em Alex, especialmente o de Dorian, que era o mais confuso ali.

Antes que ele pudesse elaborar qualquer argumento, Adria mais uma vez falou:

— Na verdade, eu mesma explicarei. Eu deveria ter vindo aqui antes, porém, estava apenas reunindo algumas provas de que precisava para dar o xeque mate. Então, me veio a notícia de que nosso querido Delyon era filho de um dos maiores criminosos da história desse país – Voltando os olhos na direção de Dorian, ela exibiu um sorriso cínico – estava seguindo os passos do papai, não é mesmo? – Voltou para Alex e continuou – Então, todas as peças se encaixaram e tudo fez sentido. Então vou lhe perguntar uma única vez, Alex, e acho bom que não tente me enganar. Há quanto tempo trabalha para Corbeau?

Os olhos arregalados dos agentes, suas expressões e até mesmo os cochichos que surgiram fizeram o ambiente se tornar ainda mais tenso do que estava. Melina e Dorian especialmente permaneciam parados, quase que cravados no chão, sem qualquer tipo de reação. A verdade, é que nenhum dos presentes ali estava preparado para aquele tipo de acusação. Sequer desconfiavam de Alex.

Ele, no entanto, permanecia com o semblante sereno, toda a agitação havia desaparecido de suas feições, como se aquela situação não passasse de um problema corriqueiro e não fosse caótica como estava se mostrando.

Ainda tentando assimilar tudo o que estava acontecendo, Dorian direcionou o olhar para Melina, em busca de apoio, mas ela ainda permanecia tão sem ação quanto qualquer outro ali, talvez até mais paralisada. A respiração havia acelerado, enquanto os olhos permaneciam repletos de espanto misturado com medo. Na intenção de acalmá-la e tentar deter a ansiedade dentro de si, Dorian entrelaçou os dedos aos dela e se aproximou mais a puxando ligeiramente para trás, na intenção de protegê-la. De quê exatamente, ele não saberia dizer.

A risada baixa de Alex finalmente quebrou o silêncio que se estabelecera, enquanto ele inspirava profundamente antes de responder:

— Pensei que fosse mais séria em suas acusações, superintendente. Isso não tem fundamento algum.

— Eu pedi que não tentasse me enganar, Alex. Não brinque com fogo e não provoque a ira de quem não pode lidar. Apenas responda o que perguntei.

— Acredita mesmo que eu estaria o caçando há vinte anos se estivesse trabalhando para ele? Dediquei a minha carreira a pará-lo.

— Se estivesse de fato empenhado em prendê-lo já o teria feito. – Respondeu ela, rispidamente – O que faz há vinte anos é acobertá-lo e desviar a atenção sempre que chegamos perto de capturá-lo.

— Sabe muito bem que ninguém conseguiu sequer chegar perto dele, mesmo aqueles que vieram antes de mim. Inclusive a senhora.

Aquela última frase de Alex pareceu ter despertado um lado que Adria ainda não havia revelado. Um lado pior do que os presentes ali viam. Uma certa malícia brilhou nos olhos daquela mulher de meia idade, em um movimento ágil, ela sacou a arma de um de seus seguranças que estava por perto e apontou diretamente para Dorian, engatilhando.

O que ninguém ali esperava, era que Alex agisse mais rápido e tomasse a arma que ela havia deixado em cima da mesa anteriormente, apontando para ela e puxando o gatilho sem pensar. Foi somente quando a arma falhou que ele percebeu a armadilha daquela mulher perversa, ela havia deixado a arma ali propositalmente, sem nenhuma munição. Apenas para testá-lo.

Dorian não sabia se sua respiração havia acelerado por ter sido o alvo daquela mulher, ou por descobrir que seu até então chefe, estava disposto até mesmo a matar sua superiora apenas para defendê-lo.

Aquela atitude esclarecia tudo.

— Aí está. – Disse Adria vitoriosa – Estava até mesmo disposto a me matar para defender o filho do homem ao qual pertence a sua lealdade. Finalmente, a sua máscara caiu, Alex.

Contrariando o que todos ali pensavam, Alex não se abateu, pelo contrário, abaixou a arma e abriu um sorriso tão confiante que nenhum deles nunca havia visto em seu rosto. O semblante sempre austero foi tomado por puro deboche, enquanto os ombros começavam a se chacoalhar, indicando o riso que emergia.

— Muito bem, Adria. – Respondeu ele – Você sempre foi uma víbora traiçoeira, não sei como pude ser tolo de não esperar algo assim vindo de você. Só que você demorou tanto. Vinte anos para perceber, sua presunção é tanta que a cegou e somente quando já estava atolada até seu pescoço acordou, sua imbecil.

A passos calmos ela se aproximou e encarou Alex bem nos olhos, antes de responder:

— Sobre isso conversaremos depois. E essas acusações sim, trataremos em particular. Podem levá-lo.

Os seguranças ali presentes não precisaram de outra ordem, saíram arrastando Alex para fora da divisão, sob o olhar embasbacado dos agentes que permaneciam sem qualquer tipo de ação.

Somente quando seus olhos acompanharam Alex e os seguranças saírem que Dorian percebeu Max parada à porta, tão surpresa e confusa quanto qualquer outro presente ali.

Sem dar tempo para que ninguém ali se recuperasse, Adria voltou a falar:

— E vocês com o inimigo bem debaixo de seus narizes. Não se enganem, eu sei de tudo o que acontece por aqui, sei inclusive que há outros informantes e não somente de Corbeau. Mas teremos tempo para acertar tudo isso, principalmente porque a partir de agora eu estou assumindo esta divisão.

— O quê? – Bradou Melina, sem conseguiu segurar sua surpresa.

— Isso mesmo que ouviu, agente Singh. Eu irei comandar a divisão a partir de agora e tomarei todas as providências que já deveriam ter sido tomadas. Começando por Delyon.

Dorian se preparava para rebater qualquer argumento lançado contra si quando sentiu a mão de Melina apertando ligeiramente a sua, indicando que permanecesse quieto e não piorasse a situação. O gesto não passou despercebido por Adria, e ela fez questão de eles percebessem seu olhar cravado sobre os dedos de ambos entrelaçados.

Mais do que rapidamente Dorian se desprendeu de Melina, temendo que algo pudesse acontecer a ela, não se importava muito consigo, mas sabia que para Melina aquele trabalho, sua carreira era o que ela tinha de mais importante.

— Nos perdoe, senhora. – Max, tomou à frente, se aproximando e tentando desviar o foco – Nunca imaginaríamos que justamente nosso chefe... quer dizer, trabalhamos arduamente, mas nunca houve provas que levassem a ele.

— Eu sei, e é por isso que estou aqui. Alex manipulou e ludibriou todos vocês, e eu não os culpo. Com o poder que tinha ele interferiu em cada investigação de vocês e os desviou de seu foco, mas isso acaba hoje. Para serem melhores do que já são precisam de alguém que os guie na direção certa e com punho de ferro. E é por isso, agente Blanchard, que está destituída de sua função de liderança dessa divisão.

Os olhos de Maxine se arregalaram demonstrando sua surpresa, enquanto os outros reclamavam desgostosos com a decisão de Adria. Era do acordo de todos que Max era a mais preparada para estar na liderança dos agentes. Daquela vez Dorian não se conteve, avançou na direção da superintendente esbravejando:

— Não tem o direito de fazer isso, Max não teve culpa de nada e a senhora nem mesmo estava aqui para saber o quanto ela se esforçou.

— Por favor, aguarde sua vez, Delyon, ela vai chegar. – Ela respondeu simplesmente – Não é nada pessoal, mas acredito que a agente Blanchard está comprometida e profundamente atingida pelo que aconteceu, isso pode causar certo... prejuízo em suas percepções, por isso ela precisa se afastar por um tempo. Irei direcioná-la para a divisão de narcóticos, acredito que será mais bem aproveitada por lá.

— Mas... – Max tentou protestar, mas foi interrompida mais uma vez.

— Quanto a agente Singh, deverá se apresentar na homicídios. Sei que veio de lá e acredito que já esteja familiarizada.

Dorian novamente tentou avançar, mas foi impedido por Melina o puxando para trás na tentativa de não deixá-lo fazer alguma besteira. Mas o gesto não impediu que ele disparasse novamente:

— Está fazendo isso por puro capricho, só porque seu ego foi ferido. Está acabando com tudo o que já foi construído e está dando certo até agora.

Cansada da afronta de Dorian, Adria se aproximou e parou a míseros centímetros de distância do rosto dele, fazendo questão de desafiá-lo.

— Quem está com o ego ferido aqui, Delyon? Eu ou você que está se gabando de ter ajudado nas resoluções de meros casos de pessoas dotadas de menos inteligência que você? E se quer saber não tenho a menor vergonha de admitir que me senti contrariada sim, você não deveria ter saído de onde saiu e se depender de mim o mandarei de volta para sua cela escura, vazia e decrépita.

Dorian riu amargamente, sem esconder o sarcasmo que brilhava em seus olhos.

— Vadia arrogante. É apenas por pura pirraça?

Adria devolveu a risada, balançando a cabeça, enquanto analisava cada traço do rosto de Dorian.

— Eu não preciso fazer pirraça, Delyon. O que eu digo é lei. Você por outro lado, precisa sempre apelar para joguinhos, manipulação e sarcasmo para esconder a verdadeira personalidade. Narcisista, manipulador, sádico, é sempre igual. Deve estar no seu sangue podre ser assim. É igualzinho ao pai.

Daquela vez apenas as mãos de Melina não seriam suficientes para parar Dorian, precisou que Dante de unisse a ela e Maxine para segurá-lo e impedir que avançasse no pescoço daquela mulher.

Rilhando os dentes, ele gritou:

— Você não sabe de nada!

— Sei, sei sim. Sei e vejo no seu rosto, nesse mesmo instante. Já vi essa expressão antes, Delyon, e não foi em você. Isso não me assusta mais.

Antes que ele formulasse qualquer resposta, Max tentou fazê-lo recobrar a consciência.

— Dorian, por favor, mantenha a calma, não faça nenhuma estupidez.

— Segura a onda, cara, respira fundo. – Emendou Dante.

Assim que os ânimos se acalmaram e Dorian pareceu ter seguido o concelho dos amigos, Adria se afastou e voltou a encarar os outros agentes, dizendo:

— Bom, agora que estamos entendidos quero apresentar o novo líder da divisão. – Voltando o olhar na direção da porta de vidro, ela completou – Me perdoe toda essa confusão, Hastings, mas precisava estabelecer uma ordem primeiro.

Aos fundos da divisão Adam estava escorado na porta de vidro, não parecia nem um pouco contente de estar ali também e se mostrava muito contrariado em assumir a divisão, principalmente com o olhar dos outros agentes queimando sobre ele. Mas pareceu não ter nenhuma escolha quando Adria estendeu a mão o chamando.

— Hastings irá assumir o comando da divisão junto comigo. Porei alguém de minha confiança para me passar toda e qualquer informação. Estou a par do histórico de rixa entre todos aqui, mas alerto que não tolerarei qualquer tipo de desrespeito para com Adam. Foi ele quem escolhi e ponto. Acredito que eu não precise ser mais clara.

Ninguém ali se atreveu a confrontá-la e embora em seus rostos demonstrassem desgosto e repulsa por aquela situação, nenhum dos agentes abriu a boca, nem mesmo Max que lançava um olhar cortante na direção de Adam.

Melina mantinha sua cabeça baixa o tempo todo, se recusando a acreditar na situação que se desenrolava à sua frente. Aquilo tudo só poderia ser um grande pesadelo.

— Bom, estando tudo esclarecido não gostaria de perder mais tempo. – Retomou Adria – Quanto a Delyon, quero que o levem de volta para o galpão onde ele está alocado. Não deverá sair de lá em hipótese alguma, tampouco deve receber qualquer tipo de visita, o contato com as agentes Singh e Blanchard está totalmente proibido e as visitas de sua família também.

— Está me prendendo? – Bradou ele, sentindo a ira voltar com total força.

— Estou, até eu resolver o que farei com você.

— Dorian. – Soou a voz baixa de Melina atrás dele, lhe chamando a atenção – Por favor, não piore as coisas. Faça o que ela disse.

— Mas ela não tem o direito de fazer isso, não faz o menor sentido essa retaliação toda!

— Dorian, por favor. Por mim, apenas faça, nós não podemos medir força com ela. Não faça algo do qual vai se arrepender, é exatamente isso que ela está querendo.

Os olhos castanhos de Melina praticamente transbordavam, embora ela se forçasse a permanecer firme, sem demonstrar o quanto aquilo a havia abalado. Dorian, por outro lado não escondia o fato de que estava completamente irado e indignado com aquela situação, se não fosse por Mel e Max talvez já tivesse feito alguma besteira. Era inaceitável a punição que recebiam sem nem mesmo merecerem. Seu ego se rebelava e gritava contrariado dentro de si, implorando que ele fizesse algo, mas Dorian sabia que Melina tinha razão, qualquer que fosse sua resposta àquela situação, poderia piorar consideravelmente o que já estava ruim.

A sensação de derrota se acumulou em seu peito e os ombros caíram quando finalmente cedeu e se calou, abaixando a cabeça.

— Que bom que entendeu. – Provocou Adria – Agora basta de perdermos tempo, quero todos de volta a seus trabalhos. Blanchard e Singh apresentem-se na divisão as quais as dirigi. Hastings, por favor, quero que escolte Delyon até o galpão. E por favor, retire todas as chaves do lugar que ele possui, traga-as para mim.

— Sim, senhora. – Respondeu Adam, simplesmente – Vamos, Delyon.

Dorian ainda permaneceu parado onde estava, encarando o chão. Por pura teimosia se recusava a sair dali e foi por puro atrevimento que ergueu os olhos, os mirando diretamente em Adria, com uma promessa silenciosa de vingança. Os voltando na direção de Melina, suavizou suas feições, enquanto tomava a mão dela entre as suas, e depositava um beijo demorado, praticamente assumindo para todos ali seus sentimentos.

Logo depois se afastou, deixando Adam o conduzir pelos corredores até chegar ao subsolo, onde adentraram a 4x4 preta.

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