35| Fim de jogo - Parte 4
VERENA ainda corria o mais rápido que conseguia pelos corredores do subterrâneo da agência, em direção à saída do estacionamento. O corredor extremamente longo e iluminado, e estranhamente vazio não a impediu de continuar sua fuga e até mesmo caçoar mentalmente daqueles agentes.
No entanto, o que ela não esperava, era que no final daquele corredor, obstruindo sua passagem pela porta de ferro, estaria o homem o qual ela enganou por anos.
Com a postura ereta e muito imponente, Dorian continuava fixo, com os braços cruzados e os olhos cravados em Verena, sua expressão, no entanto, nada revelava. Pelo contrário, o modo austero com o qual ele lhe encarava, pouco demonstrava dos seus reais sentimentos.
— Vai a algum lugar? – Questionou ele.
Por alguns segundos, Verena paralisou, sem saber exatamente o que dizer a ele.
Resolveu que não se intimidaria pela postura do ex marido, estufou o peito e abriu um sorriso sarcástico, dizendo:
— Não sabia que fazia o serviço de porteiro também.
O rosto de Dorian permanecia inalterado, não se via nenhum sinal de mudança em sua postura.
— Dê meia volta, Verena.
— Eu acho que não. Vou sair daqui e não vai ser você que vai me impedir, Dorian.
— Tenta.
— Escuta, se você se deixou ser domado por essa gente, o problema é seu, eu não estou disposta a deixar me prenderem e quem sabe até fazer uma lavagem cerebral como fizeram em você. Então vamos acabar logo com isso e me deixe ir embora.
— Me ofenda o quanto quiser, daqui você não sai.
Deixando um suspiro cansado escapar, Verena abaixou os olhos por alguns segundos, resmungando:
— Você não está tornando isso mais fácil, não me deixa escolha.
Levou a mão às costas e sacou a arma que havia afanado de um dos agentes, apontando diretamente para Dorian, sem hesitação alguma.
— Sai da minha frente, Dorian.
Ele não recuou, nem mesmo um único movimento surpreso veio dele, Dorian continuava de pé, com os braços cruzados e a mesma expressão neutra. Apenas um ínfimo movimento de sua sobrancelha foi detectado por Verena.
— Abaixe essa arma.
— Então saia da minha frente. Eu não vou repetir.
— Só saio se você atirar. – Notando a hesitação dela, Dorian continuou – Vamos, o que está esperando?
— Não brinque com fogo, Dorian.
— Se fosse me machucar, já teria feito. Mas não pode, e sabe por quê? Porque ainda me ama.
Um sorriso se abriu no rosto de Verena e se ampliou, evoluindo para uma gargalhada, enquanto ela avançava um pouco mais.
— Você é idiota? Pensei que fosse mais esperto que isso, Dorian. Eu te amar? Não ouviu toda a história? Eu iria te entregar, seu imbecil.
— E demorou quatro meses para tomar essa decisão, e ainda assim não me entregou.
— Porque não tive tempo. Seu paizinho agiu mais rápido.
— Se fosse realmente me entregar para o Dimitri já teria feito na primeira oportunidade.
Finalmente Dorian deixara sua posição de pé em frente a porta e diminuiu a distância entre eles, parando a menos de um metro de distância de Verena. Ela, no entanto, apenas firmou mais os dedos ao redor do cabo da pistola e deu meio passo para trás, engolindo em seco e tentando convencer a si mesma de que Dorian não mexia com ela.
— Como eu disse. – Retomou ele – Você não tem coragem de me machucar.
Quase como se tomasse aquilo como um desafio, Verena moveu a pistola milímetros para o lado e puxou o gatilho, atirando contra Dorian e acertando de raspão o braço direito dele. O ferimento recém provocado foi a única coisa capaz de fazê-lo se mover e sua postura ceder ao menos um pouco quando ele se abaixou e colocou a mão sobre o braço.
— Acha mesmo que não tenho coragem? Se não sair da minha frente o próximo vai ser na sua cabeça. E não tente me manipular novamente.
Erguendo o corpo lentamente e lutando para não deixar a expressão de dor tomar conta de seu rosto, Dorian voltou a mesma postura ereta, bloqueando o caminho de Verena, e fixando os olhos no dela, não deixando de desfiá-la. A atitude dele só pareceu irritar ainda mais a mulher que sem nem mesmo pensar no que fazia, partiu para cima dele, o empurrando para que se movesse, mas não obtendo qualquer êxito.
Ela ainda conseguiu acertar um soco no rosto de Dorian quando ele com um movimento ágil arrancou a arma de sua mão. Enquanto Verena o atacava sem hesitação, Dorian procurava apenas se defender e impedir que ela escapasse, até conseguiu imobilizá-la, a abraçando por trás e segurando seus braços rente ao corpo.
Por alguns segundos, Verena parou ofegante, desistindo de escapar e virando levemente o rosto para o lado.
— Você não perdeu o jeito, ainda tem uma boa pegada. – Provocou ela.
— Não perca seu tempo, não vou cair na sua.
— Ora, mas que pena.
Sem que Dorian esperasse Verena acertou seu rosto com uma cabeçada, mal teve tempo de se recuperar quando sentiu outro forte golpe no calcanhar e outro ainda não virilha. Sem poder evitar a dor ele acabou afrouxando os braços que estavam sobre Verena, lhe dando a brecha perfeita para que ela escapasse e ainda acertasse outro golpe em seu joelho e fazendo ceder e pela primeira vez ir ao chão. Dorian não desistiria tão facilmente, mesmo que no chão, lutando contra a dor e tentando ignorá-la, ele agarrou a perna de Verena, a fazendo se desequilibrar e cair, o problema era que um de seus braços não dispunha mais de tanta força, principalmente porque começava a sentir o ferimento arder. E foi justo ali que ela se aproveitou para atacar.
Verena sabia que Dorian não a machucaria, ele jamais desferiria qualquer golpe contra ela, era íntegro demais naquele assunto, o que significava que ela se aproveitaria o máximo daquela fraqueza dele. Com a perna livre, ela acertou o ferimento dele, o fazendo recuar o braço, e com mais força acertou o rosto, arrancando sangue do nariz. Estava tão furiosa com a intervenção dele, que naquele momento, mesmo que estivesse livre, não tentou fugir, pelo contrário, seu único objetivo era eliminar Dorian.
Notando que finalmente ele havia cedido à dor, Verena enroscou as pernas ao redor do tronco dele, as coxas pressionavam as costelas enquanto um braço contornou o pescoço o apertando, o braço restante pressionava a nuca, o travando naquela posição e impedindo que saísse.
Dorian não sabia como se livrar daquele aperto, tentou empurrar as coxas de Verena, mas ela continuava firme, sem ceder um centímetro sequer, assim como seus braços permaneceram muito fixos onde estavam, não saberia dizer o que era pior, a pressão que sentia nas costelas apenas piorava a sensação de asfixia que os braços de Verena causavam. Ele bem que tentou lutar e se debater, mas ela permanecia onde estava, parecendo se enrolar nele como uma cobra, junto da falta de ar, vinha a dor dos outros ferimentos e principalmente do braço, que já havia encharcado a camisa de sangue.
Sentia o ar penetrar cada vez menos nos pulmões e a visão escurecer rapidamente, enquanto ouvia a voz propositalmente suave de Verena:
— Isso, durma.
Os braços perderam a pouca força que tinham e cederam, levando consigo a última esperança de Dorian escapar, a visão escureceu de uma vez quando a pálpebras pesaram. Por alguns segundos seus sentidos esvaíram, mas foram trazidos de volta com um estampido alto que soou e ecoou pelas paredes, o fazendo se sobressaltar e perceber que os braços de Verena haviam o libertado, enquanto as pernas dela também já não se enroscavam a seu redor.
Puxou a maior quantidade de ar que conseguiu, fazendo o peito chiar e trazendo totalmente os sentidos, o despertando melhor. Só então notou Verena grunhindo de dor, enquanto rolava no chão, segurando a coxa com as mãos ensanguentadas.
Elevando os olhos, viu Melina se aproximar rapidamente com a arma empunhada e a expressão mais assustadora que Dorian já havia visto no rosto dela.
— Acha mesmo que pode ferir meus amigos, fugir e sair impune? – Ralhou Melina.
Tentando esconder a dor que sentia na perna, Verena a encarou com um riso sarcástico, respondendo:
— Ainda assim se não fosse por seu querido Dorian não teria me alcançado.
Dirigindo um olhar rápido para Dorian, que ainda se encontrava estirado no chão, Melina notou o quanto ele estava ferido. Sentindo uma ira repentina se inflar em seu peito, ela apertou ainda mais o cabo da pistola, com a mira posta sobre Verena.
— O machucou!
— Eu só queria saber como era tê-lo entre minhas pernas novamente.
Aquela frase bastou para a ira de Melina evoluir para pura fúria. Diminuindo a distância que ainda tinha de Verena, ela pisou sobre a coxa da mulher, justamente onde havia acertado o tiro, arrancando mais um grito de dor, e daquela vez a fazendo se calar.
— Aproveite para debochar enquanto ainda tem boca. Vadia.
Dorian nunca havia visto Melina tão irada como naquele momento, decidiu que permaneceria quieto, temia que se ao se atrever a dizer algo piorasse a situação, principalmente quando ela voltou os olhos em sua direção, encarando como ele estava ferido.
Com o alerta que Melina emitiu os outros agentes chegaram rapidamente, chamando junto a ambulância para levar Verena ao hospital, embora Dorian permanecesse relutante, não permitiram que ele continuasse ali. O encaminharam diretamente para o setor médico, onde receberia os devidos cuidados.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top