33| O jogo começa - Parte 2

ACORDAR nos braços de Dorian foi uma das melhores sensações que Melina sentiu em anos. Quando abriu os olhos notou que ele ainda dormia profundamente e embora estivesse extremamente relaxado, seu braço pousava possessivamente sobre a cintura dela.

Melina não pôde deixar de abrir um sorriso ao constar aquilo, mas ainda assim, não permaneceu muito tempo deitada. Procurando fazer o mínimo de movimento possível para não acordá-lo, ela escorregou pela cama e a passos leves saiu do quarto, indo diretamente para o banheiro escovar os dentes para logo em seguida se dirigir para a cozinha, fazer o café.

Meia hora depois, enquanto arrumava tudo o que comeriam, sentiu as mãos de Dorian pousarem sobre sua cintura e os lábios dele pousarem em seu pescoço em um beijo cálido. Ela não soube como ele conseguira tomar banho e se arrumar novamente sem que ela percebesse, as habilidades de gatuno dele o faziam ser quase imperceptível. No entanto, ela não reclamaria por aquilo. Pelo contrário, se virou de frente para Dorian e retribuiu o beijo, sentindo o corpo esquentar novamente apenas por estar tão colada a ele.

— Precisamos trabalhar. – Constatou ela, se desprendendo.

— E se fugíssemos com o dinheiro?

Por alguns segundos Melina não conseguiu entender se ele falava sério ou não, a expressão de Dorian permanecia neutra, mas o mínimo sorriso traidor que surgiu nos lábios dele o entregou. Ele sabia muito bem qual seria a resposta de Melina para aquela proposta descabida.

Ela não precisou dizer nada para que ele soubesse a resposta dela, conseguiu entender perfeitamente aquele olhar e silenciosamente se sentou para tomar o desjejum.

Ainda a ajudou a lavar a louça que haviam sujado, arrumar a cama e esperou pacientemente ela se arrumar para que pudessem enfim sair do apartamento.

Carregando a maleta como se carregasse a própria vida, Dorian rapidamente marchou em direção ao carro de Melina assim que adentraram a garagem e mal esperou até que ela destrancasse a porta para poder tomar seu lugar no banco do carona.

Antes mesmo que Melina saísse da garagem, ele pediu:

— Podemos passar no banco? Quero depositar o dinheiro.

Melina não precisava de mais motivações para desviar seu percurso, afinal, andar com um milhão e meio em cédulas não era nem um pouco inteligente, além de poder despertar certa desconfiança.

Aquele "pequeno" desvio acabou tomando mais tempo do que ela imaginava, assim que chegaram ao banco, Dorian pedira para falar com o gerente, e é claro que com aquela maleta em mãos ele prontamente foi atendido. E enquanto ele resolvia como iria depositar tudo aquilo, Melina decidira esperar do lado de fora da sala do gerente, onde poderia aproveitar dos jornais daquela manhã e do café que ficava sobre o aparador.

Nunca imaginou que pudesse demorar tanto para que um simples depósito fosse feito, até mesmo Maxine já havia mandado mensagem perguntando o que havia acontecido.

Dorian passou uma hora e meia trancado na sala com o gerente, que tinha um sorriso radiante no rosto assim que a porta de sua sala foi aberta e tratava Dorian como se fosse o presidente do país. Agradecendo por finalmente poder sair dali, Melina rapidamente seguiu atrás de Dorian, em direção à saída, tentando imaginar o motivo de ele sempre lhe lançar uma olhadela muito suspeita.

Assim que pararam do lado de fora, na calçada, ela se preparou para interrogá-lo e questionar o motivo daquela agitação, mas quando seu celular apitou, alertando sobre uma notificação e ela leu a mensagem que havia recebido, paralisou.

Os olhos permaneceram cravados na tela do celular por alguns instantes, enquanto ela ainda tentava entender como aquela quantia havia aparecido em sua conta. E embora a resposta fosse muito simples, ela ainda demorou a processar aquela informação.

Levantou os olhos lentamente na direção de Dorian e o encontrou a encarando de volta, daquela vez sem esconder o sorriso que havia tomado seu rosto.

— Foi você? – Questionou ela.

— Foi.

— Por que fez isso?

— Eu disse iria distribuir o dinheiro.

— Mas.. mas... iria distribuir para sua família, para quem ama.

— Exatamente. Eu distribuí para quem amo.

Aquela última frase fez a voz de Melina se calar, ela até mesmo tentou elaborar uma frase, mas nada saía. Apenas um balbuciar confuso e algumas lágrimas teimosas que rolaram por sua face sem sua permissão.

Tentando disfarçar, ela fungou e enxugou o rosto, recobrando a postura e ditando com voz firme:

— Muito obrigada, mas eu não posso aceitar.

— É claro que pode. – Respondeu ele, ofendido.

— Dorian, o dinheiro é seu, não é justo que fique sem nada.

— O dinheiro era meu e eu fiz o que achei melhor com ele. Eu sei que estava precisando e esse é o exato valor para você quitar seu apartamento. Eu não aceitarei uma recusa.

As lágrimas voltaram a verter pelo rosto de Melina, e daquela vez ela não fez questão de esconder a emoção, encarou a tela do celular mais uma vez, sem saber como agradeceria a Dorian por aquilo. Ultimamente, tudo o que pensava era como pagar suas contas e pior ainda, como pagaria o apartamento. Ela corria um sério risco de perdê-lo e Dorian havia resolvido aquele problema completamente.

— Mas e você? – Perguntou ela, com voz embargada – Você vai precisar...

Dorian interrompeu as palavras dela se aproximando e tomando seu rosto entre as mãos, encarou o fundo dos olhos dela e com firmeza em sua voz, ditou:

— Eu não vou precisar. Quando tudo isso acabar, o que menos poderei usufruir é de dinheiro.

Mesmo que ele tentasse consolá-la, aquelas palavras cortaram Melina por dentro. Não queria pensar que o tempo com ele teria um fim, não queria nem mesmo imaginar a possibilidade, não queria imaginar como seria aquele fim.

Tentando espantar o sentimento ruim que se acumulara, ela diminuiu a distância entre eles e o abraçou apertado, não permitindo em nenhum momento que ele se afastasse.

— Não torne a dizer isso nunca mais. – Ordenou.

— Sabe que vai acontecer...

— Pouco me importa, eu não quero que fale sobre um fim.

— Como você desejar. – Deixando um beijo casto sobre a cabeça de Melina, Dorian a abraçou de volta e sussurrou – Eu amo você.

— Também te amo.

Ainda permaneceram alguns segundos abraçados até que Melina se acalmasse e finalmente aceitasse aquele presente. E com isso, mais alguns minutos do dia lhe foram tomados. O que acarretou um completo atraso.

Enquanto dirigia pelas ruas, em direção à agência, Melina elaborava em sua mente todas as desculpas que poderia dar a seu chefe para chegar praticamente no meio do dia. Nenhuma delas eram boas o suficiente.

Tentava se preparar para todo e qualquer cenário que encontrasse, menos para a imagem de Maxine perambulando de um lado para o outro no subterrâneo, onde estacionavam os carros. A loira parecia completamente transtornada enquanto encarava o celular. A face rubra e os olhos estalados, entregavam que algo a estava deixando muito tensa.

Quando se aproximaram precisaram lhe chamar a atenção para que ela finalmente os respondesse.

— Agora não, preciso falar com meu banco e aqueles babacas não atendem. Do nada apareceu um quarto de milhão na minha conta bancária e estou em pânico só de pensar que deve ter algo errado.

Aquela frase, de certa forma, tranquilizou Melina, que apenas encarou Dorian com um sorriso cúmplice no rosto, enquanto ele questionava:

— Por que não fica com esse dinheiro?

— Ficou maluco, Delyon? Essa quantia não é minha, não posso ficar com ela.

— É claro que pode, está na sua conta e não tem nada de errado com ela.

— Escuta aqui, Dorian, se você é mau caráter de ficar com o dinheiro dos outros, o problema é seu, eu não quero meu nome sujo por aí.

— Para alguém tão inteligente as vezes você é bem lerdinha, Maxine.

Aquela frase que Dorian havia voltado contra ela fez Max parar de andar de um lado para o outro, sabendo que ele a havia dito por pura provocação e se lembrando de que na noite anterior havia dito a mesma coisa para ele.

Por alguns segundos, ela manteve os olhos estreitos, o encarando em desafio, mas ao notar o sorriso se ampliar no rosto dele uma nova ideia a atingiu. E daquela vez a agitação dela veio em forma de uma empolgação quando ela praticamente gritou:

— Foi você!

— Parabéns, Einstein. – Debochou Dorian.

— Eu não acredito foi você! Você depositou isso na minha conta. – Deixando uma gargalhada escapar e preencher o local, Max avançou na direção de Dorian, o abraçando e apertando, enquanto ainda dizia alto demais – Alguém já disse que você é o melhor amigo que alguém poderia ter? Obrigada! Eu te amo demais, cara, você é incrível. Se pudesse te beijava agora!

— Não precisa de tanto, Max.

Se afastando, Maxine mais uma vez encarou a tela do celular, apenas para ter certeza de que a quantia continuava ali em sua conta e voltou a bradar:

— Como não? Olha isso! Olha só tudo isso, eu mal posso acreditar. Dorian Delyon eu te venero, a partir de hoje serei sua escudeira leal e te darei mais dinheiro para financiar suas partidas de pôquer.

A empolgação de Max era tanta que ela mal conseguia ficar parada no lugar, ainda abraçou Dorian mais uma vez e deixou um beijo em sua bochecha, enquanto conferia várias e várias vezes o valor em sua conta e reforçava que iria financiar Dorian.

— Max, por favor, não dê ideias. – Repreendeu Melina.

— Acha mesmo que irei perder essa oportunidade? Dorian é uma máquina de fazer dinheiro, Mel. Tem duzentos e cinquenta mil na minha conta!

— E pensar que ela não queria aceitar. – Desdenhou Dorian.

Max se voltou para Melina com total indignação estampada em seu rosto, enquanto respondia:

— Porque é uma idiota. Se não quiser dê para mim.

— Nem fodendo. – Respondeu Melina.

As risadas dos três se entrelaçaram preenchendo a garagem e de certa forma os acalmando, principalmente Maxine que quase havia tido uma espécie de surto.

A sensação boa entre eles se esvaiu quando uma SUV adentrou a garagem, os vidros completamente escuros não revelavam seus passageiros, mas Maxine reconheceu o carro de imediato, principalmente porque sabia quem havia saído nele logo de manhã.

Uma certa tensão se apossou dela e de Melina quando viram Dante e Tales abrirem a porta do carro e descerem para logo em seguida abrir a porta de trás, puxando o passageiro que ali estava. Ou no caso a passageira.

Toda a leveza que Dorian carregava no rosto sumiu em questão de segundos quando ele avistou a mulher loira descer algemada, os olhos azuis dela se prenderam nele imediatamente e ele pôde ver um riso contido se formar no rosto dela, embora tentasse esconder.

Os dois agentes que a escoltavam não pareceram notar a tensão daquele encontro e continuaram a arrastando em direção ao elevador, silenciosamente.

E assim que as portas se fecharam, os três restantes continuaram em completo silêncio. Max e Melina temiam o que Dorian pensava naquele momento e como ele estava se sentindo por ver Verena de tão perto, e pior, sabendo que ela acabara de ser presa.

No entanto, tudo o que ele sentia naquele momento se resumia a uma grande dor no peito e uma sensação de falta de ar. Sem perceber, sua respiração havia aumentado e os olhos pareceram marejar, contendo as lágrimas.

Por minutos ninguém se atreveu a dizer nada, tampouco tentar consolá-lo de alguma forma, as duas apenas permaneceram ali ao lado dele, esperando o tempo que Dorian precisava para se recuperar.

Por fim, ele apenas ajeitou a postura e pigarreou, parecendo esconder todo e qualquer sentimento. Inspirou profundamente e tomou a direção das escadas, enquanto dizia:

— Vamos, ainda temos trabalho.


"Olá, meus amores! Como vão?

E agora teremos o temido encontro de Dorian com a falecida - nem tão falecida assim - esposa. O que acham que vai sair disso, hein? Aguardem as cenas dos próximos capítulos!

Beijos, e obrigada por acompanharem até aqui!"

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