29| O gênio da tarde - Parte 2
UM POUCO mais a tarde, os três partiram para a divisão de narcóticos. Nunca imaginaram que justamente aquela divisão estaria o caos que estava, os agentes andavam agitados de um lado para o outro e diferente de sua própria divisão, aquele lugar era uma completa bagunça, com caixas espalhadas para todos os lados, enquanto algumas pessoas se encontravam concentradas em seus próprios cubículos.
Ao avistá-los adentrando, Alicia prontamente veio em direção a eles, com um grande sorriso banhando seu rosto.
— Finalmente chegaram. – Dirigindo os olhos para Dorian, completou com o sorriso aumentando – É um prazer poder contar sua ajuda, Delyon.
— Me chame de Dorian, por favor. O prazer é meu em ajudar.
Max e Melina estavam logo atrás e não entenderam muito bem o motivo de Alicia ter corado daquela forma, mas o olhar que Melina lançava para ela, era claro o suficiente para Maxine desvendá-lo. Ela até poderia provocar a amiga com o que tinha percebido, mas julgou que aquele momento não era exatamente apropriado, principalmente quando viu Alicia os chamar para uma sala particular, mas manter os olhos cravados em Dorian.
Prontamente ela foi seguida pelos três que agradeceram por encontrar aquela sala de reuniões um pouco mais organizada. A mesa era ampla e doze cadeiras se estendiam ao redor dela, um enorme quadro branco estava logo à frente, enquanto o projetor estava logo acima. Apenas três caixas eram vistas em cima da mesa, onde Alicia se aproximou e empurrou na direção deles.
— Isso foi tudo o que conseguimos sobre Javier no momento, não parece muito, mas o conteúdo que temos é promissor. Já temos a confirmações dos pontos de vendas e tráfico que ele possui, mas eles são extremamente vigiados. – Explicou ela – Essa terceira caixa contém conteúdos mais recentes sobre a investigação. Algumas plantas e mapas nos esclareceram muitas coisas, mas há um documento muito estranho que estava no meio. São números aleatórios com alguns pontos estranhos. O descartamos como alguma pista, mas algo me dizia que ele era importante, ou então não estaria em meio a tantos outros documentos bem escondidos.
Enquanto Alicia se encontrava em um monólogo, esclarecendo tudo o que tinham encontrado, Melina e Max analisavam os documentos das caixas, e Dorian apanhava em suas mãos o documento estranho que ela mencionara. De fato, parecia algo sem importância alguma, poucos números apareciam em linha reta, enquanto logo abaixo vários pontos pretos pareciam salpicar a página, alguns estavam próximos uns dos outros e passavam sobre uma linha muito fina, quase invisível.
Por alguns segundos, ele continuou analisando, girando o documento de um lado para o outro e tentando buscar em sua mente o que poderia ser ou que tipo de código era aquele.
— O que vocês têm já não é mais do que o suficiente? – Questionou Melina.
— Talvez para mantê-lo preso por alguns anos, mas Javier é escorregadio, queremos assegurar de que não escape.
— Um flagrante? – Questionou Max.
— Sim, e essas pistas que já temos nos ajudarão.
A loira concordou com a cabeça e continuou junto de Melina analisando tudo o que tinham. Alicia parecia um pouco nervosa e talvez receosa diante dos três, especialmente de Dorian que fazia alguns minutos que não desgrudava os olhos daquela página, as sobrancelhas praticamente unidas indicavam sua concentração e quando os olhos bicolores se arregalaram, ela pôde notar que uma ideia cruzara a mente dele.
Se voltando para a agente ele questionou:
— Alicia, consegue escanear essa página e projetar naquele quadro?
— Consigo.
Ela pareceu incerta, mas ainda assim fez rapidamente o que Dorian lhe pediu, projetando a imagem maior daquele documento.
— Tem uma caneta de quadro, por favor? – Pediu ele, de novo.
Rapidamente Alicia estendeu uma caneta preta para ele, e Dorian logo começou a trabalhar em sua ideia, chamando a atenção de Max e Melina também.
Ele desenhou cinco linhas paralelas e horizontais, passando por cima dos pontos pretos, que ele havia destacado com a caneta. Sabendo que estava sendo observado e conhecendo a curiosidade de suas amigas, começou a explicar:
— Isso é uma partitura, desenhando o pentagrama talvez eu consiga saber de qual música se trata.
— Pensei que pentagrama fosse outra coisa. – Opinou Max.
Dorian parou por alguns segundos, com a caneta ainda erguida rente ao quadro, como se ainda tentasse entender a que Maxine se referia, quando por fim pareceu compreender, ele deixou um suspiro cansado escapar, enquanto rebatia:
— Esse aí é outro pentagrama, Max. Um mais bizarro. Aqui estou tratando de teoria musical.
— Entendi. E essa letra S estranha que você desenhou aí na esquerda?
Daquela vez Dorian se voltou totalmente para Max, a encarando com indignidade, e ao que parecia, ela era a única ali que não entendia, pois Melina e Alicia também se voltaram para ela.
— Que foi? Eu não entendo nada de música.
— Isso aqui é uma clave de sol. – Corrigiu Dorian – Aliás, vocês conseguem me arranjar um violino?
— Por que um violino? – Questionou Melina.
— Porque é o único instrumento que sei tocar.
As sobrancelhas arqueadas das três demonstraram o tamanho de suas surpresas, Alicia não esperava que Dorian tivesse tanto conhecimento àquele ponto, enquanto Max e Melina pensavam que já sabiam tudo sobre ele.
Dorian não soube como a agência conseguia agir tão rápido, mas em questão de minutos o violino foi providenciado, ele ainda demorou alguns bons minutos para entender de qual música se tratava, mas foi questão de meia hora para completar aquele pentagrama com as notas musicais que havia formado.
Empolgado com o que havia descoberto, Dorian rapidamente tomou o violino e o arco nas mãos, assumindo uma postura tão ereta que parecia um músico profissional, arranhou o instrumento por alguns segundos, verificando sua afinação e fazendo questão de afiná-lo novamente.
Quando enfim se deu por satisfeito, se voltou para a partitura que havia formado no quadro e começou a tocar, seguindo exatamente as notas que lia. Mas enquanto as três agentes atrás dele pareciam embasbacadas com o talento dele recém-descoberto, Dorian estranhava aqueles números incomuns acima das notas do pentagrama, não pareciam ter qualquer relação com o tempo em que as notas deveriam soar. Parou de tocar por alguns segundos, observando tudo o que havia escrito e novamente voltou a tocar, tentando relacionar os números com as notas, mas somente quando reparou duas pequenas letras se formarem ente um intervalo de números e outro, é que uma outra ideia esclarecedora lhe ocorreu. Na verdade, aquilo parecia ser mais simples do que imaginara.
Deixou o violino de lado, e pegou a caneta novamente, riscando a letra E depois da primeira sequência se números e a letra C ao final da segunda sequência. A última letra pareceu estranhamente deformada e inclinada, e foi ali que ele entendeu do que se tratava, o C, na verdade, era um S disfarçado.
Com aquilo em mente, correu para perto da mesa e pegou um pequeno bloco de papel, anotando os números e as duas letras, em seguida, pegou um dos mapas da cidade que estavam nos arquivos e começou a vasculhar por ele.
— Dorian, se nos disser o que está procurando e qual sua ideia, nós podemos ajudar. – Max lhe chamou a atenção.
Foi somente naquele momento que ele ergueu os olhos e respondeu a dúvida de todas que estavam ali ao redor dele.
— É mais simples do que imaginávamos. São coordenadas geográficas. Aqueles números em cima das notas estão desproporcionais, não tem qualquer relação com essa sonata, estão apenas para confundir. A letra E na partitura geralmente significaria a nota Mi, e a letra C significaria a nota Dó, mas não têm qualquer relação com a música. Foi então que percebi que a letra C, era S, na verdade, então ela, juntamente com o E formariam as siglas que vemos em uma bússola, indicando Este e Sul. Se juntarmos essas direções aos números, temos as coordenadas que levam a algum lugar no mapa da cidade.
Dorian explicava tudo tão rapidamente e de forma tão empolgada que as três agentes já não sabiam se conseguiam entendê-lo, mas uma coisa era clara, ele conseguira achar algo que Javier queria manter escondido a todo custo. Mesmo que tivesse que recorrer a truques mirabolantes.
Ainda que parecessem ligeiramente confusas, as agentes, especialmente Alicia, tomaram as coordenadas e começaram a procurar pelo mapa a localização exata. Quem encontrou foi justamente a agente da divisão de narcóticos, que com os olhos arregalados, bradou:
— Estranho, essas coordenadas se referem a uma instalação militar. Está desativada a algum tempo, mas acredito que ainda seja monitorada.
— Mas porque a localização de uma base militar estaria entre as coisas de Javier? – Questionou Max.
— E tem lugar melhor para esconder as mercadorias do que uma instalação militar? – Opinou Dorian.
— Mas isso é impossível, acho que já está exagerando, Dorian. Os militares não iriam permitir algo assim em seu território.
— Então tem alguém sendo pago para ficar de boca fechada e não deixar que eles saibam.
Alguns instantes de silêncio foram feitos, estabelecendo certa tensão entre os quatro, mas não poderiam ficar ali parados como se nada estivesse acontecendo. Alicia foi a primeira a tomar uma atitude, se encaminhando para a porta e dizendo:
— Irei pedir para uma equipe verificar o local.
— Ainda não, agente. – Interrompeu Dorian, a impedindo de sair da sala – Se quer ter certeza do que tem naquela instalação, então mande uma equipe apenas para vigiar a movimentação, mas não os autorize a fazer nada, tampouco deixe que sejam vistos.
— O que tem em mente? – Questionou Melina, se aproximando, sabendo que algo já começava a se formar na mente de Dorian.
— Uma carta na manga, essa informação é nosso trunfo, tenho certeza de que Javier não espera que descubramos o que há nessa partitura escondida. O fato de ele utilizar uma instalação militar já é indicativo o suficiente do quanto ele subestima as autoridades, é e justamente esse orgulho dele que usaremos como contra-ataque.
Parecendo interessada no que Dorian dizia, Alicia fechou a porta, se aproximando a fim de saber mais.
— E como pretende utilizar essa informação?
— Contando a ele.
A agente pareceu um pouco contrariada e franziu o cenho, visivelmente desconfortável com aquela ideia, enquanto Melina e Max se mantinham ainda esperando Dorian concluir seu pensamento.
— Mas isso não seria contraditório? O trunfo é exatamente ele não saber que decodificamos.
— Tem toda razão, mas se ele souber por meio de alguém conhecido que seu esconderijo está ameaçado, irá querer saber de onde partiu a informação. Lembre-se que ele é extremamente autoconfiante, uma brecha assim iria ser uma rachadura nessa confiança. Logo, se alguém do ramo dele lhe der a informação de que está exposto e ele pensar que poderá agir sem ser pego, poderemos adquirir um pouco mais de confiabilidade nele e adentrar justamente por essa rachadura. E é aí que atacamos de dentro para fora.
— Pretende se aproximar dele sem um disfarce então? – Questionou Melina.
— Se a agente Alicia permitir assim...
Os olhos de Dorian se cravaram na agente, em expectativa por sua resposta, enquanto ela ainda se mantinha boquiaberta ao saber como ele conseguia elaborar um plano praticamente completo em tão pouco tempo. Ao perceber que os três pares de olhos estavam fixos em si, ela corou levemente, antes de desviar a atenção e abrir novamente a porta da sala, saindo, enquanto confirmava:
— Irei enviar uma equipe para vigia.
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