28| O procurado do dia - Parte 1
NAQUELA SEMANA os casos na divisão eram escassos o suficiente para que somente duas equipes estivessem trabalhando. A divisão toda havia sido dividida em duas, para que pudessem prestar o máximo de apoio aos que estavam em campo e não ficassem ociosos.
Dorian estava isolado em sua mesa, tentando elaborar um plano para ajudar uma das equipes quando Max chamou por Melina, que também estava em seu próprio canto. Se aproximando da amiga, ela pôde notar a expressão preocupada de Maxine, enquanto ainda encarava a tela do computador.
- Recebi algumas informações do Dante e do Tales, eles acabaram de me enviar esse relatório e olha de quem eles estão no rastro.
Encarando a imagem da loira no computador de Max, Melina sentiu um desconforto se acumular em seu peito ao mesmo tempo que estranhamente se sentia satisfeita.
- Verena. - Constatou.
- Exatamente. - Confirmou Max - Eles disseram que estão bem perto de prendê-la e estão traçando uma maneira de pegá-la desprevenida para que não escape dessa vez.
- Qual a acusação?
- Fraude imobiliária. Ela foi descuidada o suficiente para deixar seu rastro, o que acho muito estranho por sinal. Se ela aprendeu todos os truques com o Dorian, então deveria ser mais cuidadosa.
- Talvez ela esteja tramando alguma coisa, como um contragolpe. Irão trazê-la para cá?
- Sim, e essa é minha preocupação. - Confessou Maxine - Penso que é melhor avisarmos o Dorian para que ele não seja pego de surpresa.
Melina não respondeu de imediato, apenas direcionou o olhar na direção de Dorian, que continuava extremamente concentrado no documento que lia e estava alheio ao olhar das duas.
- Mas justo agora que ele está bem? - Resmungou ela.
- Não temos outra escolha, Mel. É melhor o Dorian saber por nós mesmas que logo Verena poderá entrar aqui, presa, do que ficar sabendo somente quando ver a ex esposa aqui.
- Não queria perturbá-lo.
- Ele ficará perturbado de uma forma ou de outra. Por isso acho melhor o alertarmos e darmos tempo para que ele se prepare, ele conhece Verena mais do que ninguém, pode até mesmo nos ajudar a entender qual o plano dela ao deixar um rastro tão visível assim. Além disso, ele não é criança para ser poupado, Dorian sabe que esse é um dos destinos para as pessoas que atuam como ela faz e como ele fazia.
Maxine sempre fora a mais sensata e sábia entre as duas, e naquele momento não estava sendo diferente, Melina foi obrigada a concordar com ela. Era melhor que Dorian soubesse de uma vez o que estava acontecendo. Respirando profundamente, ela balançou a cabeça concordando e ajeitou a postura, caminhando na direção em que Dorian estava, com Max em seu encalço. No entanto, não chegou nem mesmo perto de onde ele estava, foi interrompida pela fala de uma agente de outro departamento que adentrara a divisão, chamando por ela.
- Agente Singh?
Rapidamente Melina se voltou para a direção da entrada, encontrando uma mulher se aproximando rapidamente, ela conhecia bem aqueles cabelos cacheados e castanhos e a pele alva, já a conhecia de vista, mas nunca soubera seu nome.
- Sim. - Respondeu.
- Meu nome é Alicia, sou da divisão de narcóticos. - Se apresentou a mulher assim que se aproximou - Será que podemos conversar por alguns minutos? Queria lhes pedir um favor.
As duas se encararam confusas por alguns segundos, mas acabaram aceitando e conduzindo Alicia para a sala de reuniões que ficava aos fundos. A sala não era muito grande, havia espaço o suficiente apenas para abrigar a mesa de seis cadeira e um quadro branco que também servia como telão para o projetor que ficava logo acima da mesa. Melina apontou para as cadeiras, convidando a agente a se sentar, mas ela acabou recusando e indo diretamente ao assunto.
- Serei breve, agentes, ainda tenho muitas coisas a fazer e não posso me demorar. Estamos perto do encerramento de um caso que já dura há anos e não podemos falhar agora. No entanto, ainda estamos encontrando alguns obstáculos e precisamos de ajuda. A fama de vocês têm crescido na agência e precede suas reputações, notamos o quanto o número de casos bem-sucedidos de vocês têm aumentado e é disso que precisamos agora.
- Não sei se entendi muito bem aonde quer chegar com isso. - Resmungou Max, cruzando os braços.
Eles nunca haviam sido muito bem-vistos e nem queridos na agência toda, e de repente a divisão de narcóticos, que anteriormente detinha o maior número de casos bem-sucedidos, vem pedir a ajuda deles. Alguma coisa havia.
- A questão é que meu chefe conversou com o de vocês, sabemos que grande parte do sucesso da divisão se deve ao Delyon, então pensamos em pedi-lo emprestado apenas por alguns dias para que possamos finalmente acabar com isso. Javier é um dos maiores traficantes do estado e estamos muito perto de pôr as mãos nele, não podemos correr o risco de perdê-lo agora.
- E aí vocês querem tirar o Dorian da gente?
- Não queremos tirá-lo de vocês, é apenas por um período. Sei que a divisão de vocês não está com grandes casos no momento, seria o momento oportuno para utilizarmos a ajuda do seu consultor.
Max e Melina mais uma vez se encararam, e puderam ver uma no rosto da outra a contrariedade, os pensamentos das duas eram tão sincronizados que poderiam estar com a mesma ideia cruzando suas mentes. Antes que pudessem formular qualquer argumento, Alicia retomou:
- O superior de vocês deixou bem claro para o meu que só liberaria o Delyon se ele ainda estivesse sob a supervisão de vocês duas, então nesse caso precisaríamos de vocês também. Não quero forçar nada, e é claro que vocês têm todo o direito de negar, mas estou pedindo que, por favor, considerem ao menos pensar sobre o assunto. O caso é sério e se vocês puderem, nos ajudarão a tirar um grande criminoso das ruas.
- Tudo bem. - Concordou Melina - Pensaremos sobre isso e conversaremos com o Dorian para saber se ele está de acordo. Até o fim dessa manhã daremos uma resposta definitiva.
O suspiro de alívio de Alícia foi audível o suficiente para que Max e Melina entendessem que ela realmente estava preocupada com o caso.
Assim que a breve reunião delas terminou, Alícia voltou rapidamente para sua divisão, enquanto as outras duas se encaminhavam para perto de Dorian, prontas para dar a notícia.
- Dorian, temos duas notícias para te dar. - Começou Melina.
- Duas notícias em uma semana em que nada aconteceu? Isso sim que é novidade. - Debochou ele.
- Só não sabemos se você vai gostar delas.
- É tão ruim assim?
- Talvez não. - Respondeu Max - A primeira é que a divisão de narcóticos pediu nossa ajuda.
- A narcóticos? Os famosinhos da agência pediram nossa ajuda?
- Para você ver como o mundo gira.
O assovio de Dorian foi resposta suficiente para demonstrar o quanto ele estava realmente surpreendido com aquela notícia.
- Na verdade, eles pediram você, para ser mais precisa. - Esclareceu Melina.
- Eu? Por quê?
- Porque você é a celebridade atual da agência, gênio. - Rebateu Max.
- O que posso fazer se sou bom?
Melina teria dado uma melhor resposta além da revirada de olhos, mas não estava disposta a discutir com Dorian naquele momento, então apenas cruzou os braços e se recostou na mesa dele, dizendo:
- Menos, Delyon. A questão é que o chefe te liberou para ajudar, mas só se ainda estiver sob nossa supervisão, então nós também teremos que ir.
- Ótimo, eu não iria sem vocês mesmo.
- Então quer dizer que você concorda em ajudar?
- Por que não? Estamos ociosos.
- Certo, irei comunicar Alícia sobre nossa decisão.
Melina nem mesmo esperou por uma resposta, apenas virou as costas e saiu da divisão, deixando Maxine e Dorian para trás, e naquele peculiar momento, Max quis correr atrás da amiga e puxá-la pelos cabelos, porque sabia que ela fizera aquilo de propósito, apenas para não dar a segunda notícia a Dorian.
Ela bem que tentou disfarçar também e sair de fininho, mas Dorian tinha uma ótima memória e com os olhos cravados na amiga, cobrou:
- E então, qual a segunda notícia?
- Hein? - Questionou Max na tentativa de desviar do assunto e se fingir de desentendida.
- Vocês disseram que tinham duas notícias, mas só me deram uma. Qual é a outra?
Os olhos curiosos dele ainda se prendiam na amiga e foi ali que Max entendeu que não teria como escapar. Puxou uma cadeira e se sentou bem perto de Dorian para que a conversa ficasse somente entre os dois. Suspirou buscando por coragem antes de confessar:
- O Dante e o Tales estão em um caso de fraude imobiliária e me mandaram um relatório sobre os envolvidos que são os suspeitos.
- E...? - Instigou ele.
- E acontece, Dorian... que a Verena está entre eles.
Toda a leveza que Dorian tinha no rosto foi drenada instantaneamente, os lábios se entreabriram prontos para ditar algo, mas nenhuma palavra saiu, as sobrancelhas se elevaram levemente e o olhar permaneceu perdido em algum canto no chão. Ele abria e fechava a boca diversas vezes, na tentativa de balbuciar algo, mas parecia não encontrar nenhuma palavra.
- Vão trazê-la para cá? - Questionou finalmente.
- Sim. Assim que a prenderem. Estou te contando agora para que não seja pego desprevenido. Não gostaria que soubesse somente quando ela entrasse por aquela porta.
Ele apenas balançou a cabeça lentamente e inspirou, recobrando a postura.
- Obrigado. - Foi tudo o que disse antes de se virar para sua mesa e voltar aos documentos.
Ali Maxine entendeu que ele queria ficar sozinho, e ela sabia que ele precisava realmente daquele momento para digerir, e deveria fazer só, nem ela, nem Melina poderiam fazer mais nada por ele.
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