27| Quando o gigante cai - Parte 4
DEPOIS de finalmente voltarem para o hotel e deixar Thomas seguramente aos cuidados da própria guarda, junto de sua família, Dorian se apressou a descer todos os andares e se embrenhar para dentro da van onde Max e Melina o esperavam. Ainda não havia tirado o disfarce e tinha a ligeira impressão de que ainda precisaria dele por mais algumas horas naquela noite.
O Serviço Secreto ainda não havia entrado em contato com nenhum deles e particularmente temiam que já tivessem tomado alguma atitude mesmo sem eles. No entanto, aquela hipótese foi descartada assim que o celular de Max começou a tocar, anunciando o nome de Alex em sua tela.
Ainda receosa, ela atendeu, imaginando quantos xingamentos escutariam do chefe novamente, mas tudo o que soou naquela chamada, foi a voz extremamente controlada dele:
— Vocês três estão sendo convocados pelo Serviço Secreto, dei a eles a localização de onde estão e logo serão conduzidos à agência para que terminem esse caso em conjunto.
— Então quer dizer que não nos descartaram? – Questionou Dorian, empolgado.
— Aparentemente você chamou a atenção deles, Delyon, e agora que o trunfo do caso está com você, terá de prestar seus serviços.
Antes que qualquer um deles pudesse comemorar, a porta foi aberta abruptamente e um dos agentes que estava com Lewis anteriormente, mostrando toda a carranca que carregava em sua face morena.
— Vamos. – Disse simplesmente.
Os três se encontravam tão surpresos com a rapidez que só se lembraram que estavam em ligação com Alex quando a voz dele soou novamente antes de desligar:
— Acabem com isso de uma vez. Já se prolongou demais.
Sem terem muitas escolhas, desceram da van, a trancando, e caminharam silenciosamente até o carro preto que o agente os conduziu, sendo observados por pelo menos mais quatro agentes, dois deles, em outro carro como escolta.
Apesar da tensão estabelecida entre eles, as únicas que se encontravam apreensivas eram Max e Melina, enquanto Dorian mantinha um sorriso satisfeito no rosto, como se tivesse conseguido exatamente o que queria, ludibriando os agentes.
Pensavam que não poderiam se sentir mais reprimidos pelos agentes do Serviço Secreto, mas foram frustrados quando aquele que os buscara na van se virara para trás em seu banco, estendendo três vendas e ordenando:
— Coloquem.
Estranharam aquilo, mas ainda assim as agentes pegaram, enquanto Dorian permanecia desconfortável, encarando o agente.
— Para que isso?
— O que ninguém sabe permanece oculto, não devem saber onde se localiza a agência.
— Diz isso como se fossemos revelar a localização de vocês.
— Não somos chamados de Serviço Secreto por acaso, senhor Delyon. Ou prefere ser chamado de Norev? Ou que tal Vulpe?
Pela primeira vez naquela noite, Dorian sentiu um arrepio percorrer a coluna diante do poder que aqueles agentes possuíam. O que Melina e Max, e até mesmo ele próprio, demoraram anos para descobrir, aqueles agentes descobriram em poucos minutos. Não estavam mais lidando com quaisquer pessoas.
— Vocês fizeram o dever de casa, não é mesmo?
Antes que pudesse gerar mais desconforto, Dorian aceitou a venda, a colocando sobre os olhos, assim como Max e Melina. Ainda assim, apenas para contrariar aqueles agentes, se concentrou no caminho que faziam, sabendo exatamente em quais ruas o carro adentrava cada vez que fazia alguma curva. Conhecia tão bem aquela cidade que seria capaz de andar cegamente por ela.
Acabou se desconcentrando brevemente quando sentiu a mão de Melina sobre sua perna, e os dedos dela lhe apertaram brevemente, transmitindo o receio que ela sentia naquele momento, e foi justamente aquele gesto que fez Dorian descer do pedestal que havia subido naquela noite e notar o quanto estava sendo orgulhoso, sem nem mesmo se importar com o desconforto que causara a ela e a Max.
Ficou tão empolgado e orgulhoso de enganar as maiores autoridades que acabara não se dando conta do quão séria era aquela situação.
Tomando a mão de Melina na sua, ele entrelaçou seus dedos nos dela, apertando levemente e sentindo o calor que ela emanava. Nunca pensou que um toque poderia acalmá-lo tanto.
Não demorou muito tempo para que sentissem o carro parar e ouvirem a porta se abrir, com os agentes os ajudando a sair e tirar suas vendas. Ainda demoraram para se acostumar com a luz forte daquele estacionamento subterrâneo, mas assim que seus olhos se adaptaram, puderam ver os quatro agentes que os escoltaram, Lewis novamente e um outro homem ao lado dela. Este era alto e de porte muito atlético, o terno cinza contrastava com a pele escura e os cabelos grisalhos que já delatavam sua experiência.
Um olhar arrogante pousou sobre os três e os analisou minuciosamente, os olhos escuros se estreitaram desconfiados quando Dorian quebrou o silêncio dizendo:
— Não sabia que a agência de vocês ficava em um prédio de artes tombado historicamente e suspeitosamente perto da embaixada.
Enquanto os outros agentes arregalavam os olhos, espantados e desconfortáveis, aquele senhor misterioso abriu um sorriso contido, parecendo até mesmo satisfeito com o que acabara de ouvir.
— Não sabia que tinha um senso de direção tão apurado, senhor Delyon. – Disse.
— Eu avisei que não adiantaria me vendar.
— Ouvi sobre seus truques, mas não acreditei de imediato, agora vejo que posso tê-lo subestimado.
— Não é um truque, eu conheço essa cidade como a palma da minha mão. O mapa dela está na minha cabeça.
Diminuindo a distância entre eles, o homem cruzou os braços para trás do corpo e deu passos lentos na direção de Dorian, enquanto o encarava com curiosidade.
— Conseguiu enganar perfeitamente meus agentes, senhor Delyon, e agora sei o porquê. Não consigo ver diferença entre o senhor nesse exato momento e o senhor Belmok. No entanto, o senhor interveio na missão dos meus agentes e os fez de idiotas e isso é imperdoável.
— Ele não estava sozinho nisso. – Interveio Melina – Todos nós elaboramos esse plano unicamente porque era nossa única chance de chegarmos ao nosso objetivo.
— Além disso, tudo foi orquestrado com a permissão do próprio senhor Belmok. – Acrescentou Max.
— Tomei conhecimento disso também, agentes, inclusive acabei de ter uma ligação muito curiosa com o príncipe. Irei querer detalhes sobre como derrubou seis agentes secretos, senhor Delyon.
Se lembrando de tudo o que ele e Thomas haviam feito naquela noite, Dorian recuou alguns passos, pela primeira vez receoso em responder.
— Não, acho que o senhor não irá querer não.
— Conversaremos sobre isso depois, quando eu tomar uma decisão sobre o que fazer com o senhor. Por enquanto, quero apenas que ajude meus agentes a terminar essa missão.
— Nossa missão, o senhor quis dizer. – Interrompeu Max.
— Discutiremos depois, agente. Por enquanto trabalhamos juntos, e seu consultor irá nos ajudar a terminar o que vocês começaram.
— Como faremos? – Questionou Dorian antes que qualquer uma das duas rebatesse aquela fala arrogante.
O homem abriu um sorriso satisfeito e deu alguns passos adiante, parando há poucos centímetros de Dorian, o encarando com curiosidade, enquanto continuava:
— Apenas deve continuar a ser quem é esta noite, senhor Delyon. Continue a fazer o senador acreditar que você é Thomas Belmok, e faça-o ser pego em flagrante.
Era mais simples do que Dorian havia pensado, imaginava que o Serviço Secreto elaboraria um plano mirabolante para apanhar o senador, quando, na verdade, o encerramento daquele caso estava em suas mãos. Literalmente. Puxando o celular do bolso e o encarando com satisfação, Dorian voltou os olhos para o homem à sua frente e concordou com a cabeça.
Ficaria extremamente satisfeito em acabar com aquilo, e mais satisfeito ainda em encarar o senador assim que ele se deparasse com a verdade e entendesse que seu plano havia se voltado contra si mesmo.
Tinham uma carta na manga e com prazer ele iria usá-la em um último blefe naquela noite.
Assim que todos foram orientados conforme o plano, se apressaram em voltar para o antigo teatro, onde o coquetel ainda acontecia e provavelmente estaria em seu fim. Dorian não fez questão de trocar sua roupa ou se arrumar devidamente, principalmente porque o tempo estava se esgotando e enquanto estavam assumindo suas posições recebeu a ligação do senador.
Apreensivo, ele adentrou o salão, e percorreu o ambiente andando pelos cantos do lugar, se aproveitando da camuflagem que as sombras ofereciam.
— Já estão longe o complexo? – Questionou o senador pelo telefone.
— Apenas esperando suas ordens. – Respondeu Dorian.
— Levem-no para o endereço que lhe enviei por mensagem. Mantenham-no por lá, o resto eu mesmo cuidarei.
Localizando o senador escondido em uma das sacadas, Dorian sinalizou com a mão para alguns agentes que estavam espalhados em meio aos convidados, e continuou caminhando vagarosamente, na tentativa de arrancar uma verdadeira confissão.
— Ele está um pouco agitado. O que faremos com ele?
— Deem um jeito, não sou eu quem conhece técnicas para silenciar uma pessoa. Ora, irei ter que pensar em tudo? Vocês são profissionais.
— No seu lugar, eu teria mais cuidado com o que sai da sua boca, senador...
— Eu já disse para não me chamar assim! – Ralhou o homem irritado – E é melhor que não torne a dizer como devo agir ou não...
— O senhor não está em posição de me contrariar, senador. Pode muito bem me incriminar, mas saiba que o senhor também está na palma da minha mão. Se eu cair, o senhor cai junto, então é melhor que comece a colaborar de verdade para isso dar certo, porque esse plano já está me custando caro demais.
Uma risada debochada soou através da ligação, enquanto Dorian parava bem ao lado da porta que levava à sacada, observando os agentes agirem e assumirem suas posições, no comando deles estavam Max e a agente Lewis, que por algum milagre haviam entrado em um consenso.
— Deve ter perdido o juízo de vez se acha que pode me ameaçar, seu agentezinho de merda. Eu sou um senador, não faz ideia do que sou capaz de fazer, acabo com sua vida em segundos e não deixo nenhum rastro seu para contar história. Aliás, você já me saturou.
Quando Morgan finalmente se virou para adentrar o salão se deparou com os agentes à sua frente, empunhando as armas, enquanto Max segurava uma algema em suas mãos, a balançando deliberadamente, não fazendo questão alguma de esconder o sorriso que surgia em seu rosto.
Dorian saiu das sombras, ainda com o telefone na orelha, encarando o senador com um sorriso vitorioso e ainda imitando a voz do agente, enquanto dizia:
— Ah, senador, o senhor que não sabe do que eu sou capaz.
Morgan arregalou tanto os olhos, que naquele momento pensaram que poderia ter um ataque. Ainda assim, o senador não iria se dar por vencido, tampouco se entregar tão facilmente. Tentando disfarçar, ele abriu um sorriso forçado, dizendo:
— Alteza, não sabia que iria voltar, pensei que tivesse ido embora para ficar com sua família.
Uma única sobrancelha de Dorian se ergueu, deixando claro sua indignação com o atrevimento daquele homem, em toda sua vida nunca encontrara alguém tão cínico. Exceto ele mesmo.
Quem verbalizou os pensamentos dele foi Max, que se aproximando de Morgan, disse:
— É melhor poupar suas energias, senador, vai precisar quando for a julgamento e enfrentar o tribunal. O senhor está preso por homicídio, sequestro e conspiração. – Quando Morgan finalmente entendeu que ali era o fim e deixou Maxine o algemar, ela completou – Garanto que mais acusações serão adicionadas a sua ficha, mas não quero estragar a surpresa aqui. Vamos deixar em segredo por enquanto, igual o senhor deixou seu cofre com as provas do desvio de verbas.
Novamente o homem pareceu em completo choque, mas daquela vez, reagiu, tentando se livrar das mãos da agente e parecendo furioso enquanto se debatia.
— Vocês não têm o direito de fazer isso. Eu sou uma autoridade.
— Ainda assim não deixa de ser um criminoso, acabou de provar isso para todos nós.
— Não poderão me acusar de nada, não podem quebrar o sigilo telefônico dessa forma, e assim que me livrar dessa situação ridícula farei questão de acabar com todos vocês.
As ameaças do senador não surtiam mais efeito em ninguém que estava ali, e enquanto ele ainda continuava esbravejando ao ser arrastado pelo meio do salão e exposto para que todos o vissem, os agentes faziam questão de andar vagarosamente, apenas para dar tempo de todos os convidados registrarem bem aquele momento.
No entanto, não ficariam calados diante de todas as ofensas proferidas por aquele homem. Assim que saíram do teatro e pararam aos pés da escadaria, próximos do carro que levaria o senador, Maxine mais uma vez respondeu:
— O senhor pode ter a certeza de que o Serviço Secreto dará um jeito para que tenhamos acesso aos seus registros telefônicos, assim como irão garantir que a ligação de hoje sirva como prova. Estou certa?
A última pergunta ela dirigiu para a agente Lewis, que apenas sorriu satisfeita, concordando:
— Sem dúvida alguma. Ficaremos mais do que satisfeitos em ajudar.
Aquilo bastou para calar o homem, que em uma última tentativa, lançou um olhar para Dorian, o encarando como se esperasse que ele intervisse em algum momento.
— Não entendo como o senhor pôde agir tão rápido e se aliar a eles.
— Ah, eu? – Questionou Dorian, fingindo surpresa e voltando a falar com a própria voz, surpreendendo o senador – Não sou quem o senhor está pensando, senador. Na verdade, o senhor passou uma parte de sua noite falando com um farsante. – Levando as mãos aos olhos e retirando as lentes, Dorian voltou a dizer – Lembra de mim? Da Agência Interna de Investigação. Eu disse que o senhor deveria nos temer, e eu não estava brincando. E se quer mais uma prova de sua burrice em nos desafiar, nesse exato momento meus amigos e alguns colegas da agente Lewis estão abrindo um cofre na sua propriedade que contém todas as provas de sua corrupção, acredito eu. Ah, vale lembrar que eles têm um mandado para isso.
As últimas informações desestabilizaram a postura que restava no senador, tomado por ira, ele tentou avançar na direção de Dorian, mais foi impedido pelos agentes e posto a força dentro do carro preto estacionado logo à frente.
— Ficou com raiva, foi? – Provocou Dorian se aproximando da janela. Abaixando consideravelmente a voz, fez questão de parecer ameaçador quando completou – O senhor não deveria ter ferido aquelas pessoas e muito menos minha amiga. Nem mandado alguém para nos matar. Porque agora, eu vou fazer questão de mostrar ao senhor quem é Dorian Delyon. É melhor que não esqueça esse nome... senador.
Ignorando o quanto o homem esbravejava contra ele, Dorian voltou para perto de Max e com satisfação assistiu o carro dar a partida e levar aquele homem para onde deveria de fato ir. Aos poucos, os outros agentes, entre os do Serviço Secreto e os da Agência Interna, foram se retirando do local, cada um seguindo para onde deveria, deixando apenas ele e Max naquele cenário escuro que era a escadaria.
Por alguns segundos permaneceram em silêncio, apenas observando o céu, que estava incrivelmente estrelado naquela noite, os sons das pessoas e da música que ecoava de dentro do antigo teatro chegavam até eles, mas ainda assim, permaneciam estáticos, como se absorvessem que enfim aquela noite e aquele caso haviam chegado ao fim.
A primeira a quebrar o silêncio, foi Max, que ainda observava o céu ao dizer:
— É, ao que parece conseguimos.
— É, conseguimos. – Concordou Dorian.
De repente, como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada, Max explodiu em uma gargalhada, arrancando um franzir de sobrancelhas de Dorian. Naquele momento ele se questionava se a amiga havia surtado de vez.
— O que tem tanta graça? – Questionou.
Max ainda continuou rindo por alguns segundos, até parecer perder a força e se atirar de modo desleixado em um dos degraus, enquanto segurava a própria barriga.
— Não acredito que conseguimos engara o Serviço Secreto e de quebra prender um dos maiores senadores desse país. Estou me sentindo em um filme.
Ela retomou a gargalhada e daquela vez foi acompanhada por Dorian, que não conseguiu se manter sério por muito tempo, abriu um sorriso que evoluiu para uma gargalhada, e se atirou ao lado de Maxine.
Quem passasse por ali talvez pensasse que fossem dois bêbados que haviam acabado de sair de uma noitada regada de muito álcool.
Quando finalmente se acalmaram, tentaram regular suas respirações e fizeram mais alguns instantes de silêncio. Dorian havia retomado a expressão séria e encarava as estrelas, enquanto Maxine o observava atentamente. A tensão que ela enxergava nele durante todo o caso já não era mais visível, talvez o desfecho daquela noite houvesse tirado uma carga dos ombros dele.
— O que falou para o senador naquela hora que ele estava no carro? – Questionou ela – Ele pareceu ficar furioso, mais do que já estava.
— Ah, nada que mereça ser repetido. O que importa é que acabou.
— Eu sei que estava querendo se vingar, Dorian.
A atenção de Dorian saiu das estrelas e passou para o rosto de Max, que o encarava como se soubesse de todos os segredos que ele carregava.
— Não é bem assim. – Ele rebateu.
— É claro que é. Pensa que não sei? Desde aquele dia que quase morri você ficou obcecado pelo senador, se dedicou tanto a esse caso que surpreendeu a todos com um dos seus melhores disfarces, se não o melhor. Você só fica assim quando está tomado por um rancor muito grande.
Não adiantava disfarçar, Maxine havia desvendado a parte obscura da personalidade de Dorian, e embora ele estivesse se sentindo exposto, estava ligeiramente feliz por não ter de esconder mais aquela sua parte ruim. Maxine era esperta, e de certo saberia que ele não fazia aquilo propositalmente, pelo menos na maioria das vezes, Dorian agia quase que por instinto.
Um riso curto e constrangido escapou dele, quando cedeu:
— Ele deveria ter pensado duas vezes antes de tentar nos ferir.
— Olha, Dorian, eu não o culpo pelo que sentiu. Na verdade, eu também fiquei irada com todo isso, mas... – Ela fez uma pausa, procurando as palavras – Não quero que se deixe dominar por esse seu lado. Na maioria das vezes você fica cego e age de uma forma que não é você.
Ela estava certa, o sentimentalismo de Dorian ainda iria colocá-lo em uma situação muito pior do que aquela, ou quiçá até matá-lo. Não era aquilo que desejava.
— Prometo tentar me controlar.
Abrindo um sorriso satisfeito, Max se colocou de pé e estendeu a mão para Dorian, o ajudando a se levantar.
— Muito bem, é assim que gosto. Agora vamos, precisamos descansar e amanhã ainda temos trabalho.
— Não acha que merecemos uma folguinha? Acabamos de prender um dos maiores criminosos de colarinho branco e salvamos o país.
— Não seja exagerado, Dorian. Somo pagos para isso.
— Eu não sou.
Aquela última sentença de Dorian arrancou mais uma gargalhada de Max, que apenas partiu em direção ao seu carro e não rebateu ao argumento dele. No fundo, ele não estava errado.
Dorian havia se atrasado completamente no dia seguinte. Na noite anterior havia se esquecido dos recentes ferimentos devido à explosão e somente quando chegou ao galpão que sentiu o corpo todo reclamar de dor, especialmente as costelas que já estavam feridas. Deveria esperar que toda a ação daquela madrugada geraria alguma consequência, e ela veio no dia seguinte, quando ele se levantou.
Demorou mais de uma hora apenas para encontrar algo que fosse minimamente confortável para vestir e não exigisse que fizesse tantos movimentos. E foi dessa forma que ele acabou indo para a agência vestindo apenas uma calça social e uma camiseta de manga curta, o que fez todos ali estranharem o novo estilo dele. No entanto, a expressão mal-humorada dele, não permitiu que ninguém o questionasse sobre suas roupas e o desleixo com seu cabelo bagunçado.
Pensou que talvez por aquele dia teria paz, mas foi Dante o portador da notícia que o tirou do conforto de seu canto na divisão.
— Aí, o chefe pediu para que assim que chegasse fosse até a sala dele. O chefe do Serviço Secreto está aí e queria conversar com você.
— Sobre o quê? O caso já não terminou?
— Eu sei lá, cara, eu que não iria questionar uma ordem.
Sem esperar por uma resposta, Dante lhe deu as costas, sabendo que já havia cumprido a ordem que havia lhe sido dada. Dorian não conseguia entender aquele agente, o homem era um brutamonte cheio de músculos, mas quando se tratava do chefe ele praticamente se encolhia feito uma criancinha assustada. Dante era a prova viva de que o poder vence a força.
Inspirando profundamente, e buscando por paciência, Dorian se levantou de onde estava e a passos lentos começou subir os degraus do mezanino que levava à sala de Alex. Antes de entrar, hesitou por alguns segundos, já prevendo o que viria daquela "pequena reunião". Assim que bateu à porta, ouviu uma ordem vir de dentro, indicando que entrasse.
A sala havia sido toda fechada e os dois homens estavam sentados um de frente para o outro, parecendo conversar sobre o recente envolvimento das duas agências e o causador daquilo. No caso, o próprio Dorian.
Assim que fechou a porta, ele parou, ainda incerto sobre o que fazer e sentindo um arrepio percorrer seu corpo e um certo receio lhe atingir assim que os olhos castanhos do chefe do Serviço Secreto pousaram sobre si. O sorriso mínimo dele também não lhe parecia nada amigável.
— Dorian, esse é Simon Belfort, o chefe do Serviço Secreto. – Começou Alex, se levantando e os apresentando – Creio que já tenham se conhecido anteriormente como ele me relatou.
— Sim, receio que sim. – Respondeu Dorian, suscinto.
Simon se levantou e estendeu a mão para cumprimentar Dorian, e assim que foi correspondido aumentou seu sorriso e disse:
— É um prazer vê-lo em seu habitat natural, senhor Delyon.
— Diz isso como se eu fosse um animal.
— Sempre com uma resposta pronta, não é mesmo, Dorian?
Alex interveio ao notar o sorriso satisfeito de Dorian e pressentir que outra resposta abusada viria dele:
— O senhor Belfort estava me dizendo como a operação foi bem-sucedida apesar dos imprevistos. Disse que a nossa equipe e a dele trabalharam bem ao final do caso.
— Realmente. – Concordou Simon – O relatório que chegou até mim foi de um desfecho excelente. Mas como eu havia dito ao senhor Delyon anteriormente, eu ainda iria me decidir o que faria com ele por mentir, enganar meus agentes e se intrometer onde não deveria.
Dorian mordeu o interior da boca na tentativa de conter a resposta malcriada que lhe veio à mente, mas céus... como aquilo era difícil. Não obteve sucesso por muito tempo, quando deu por si, sua voz já soava:
— Veja pelo lado bom, senhor, se eu não houvesse os enganado o senhor não saberia que existia agentes corruptos dentro da sua agência.
Atrás de Simon, Alex fazia sinais ameaçadores para que Dorian calasse a boca, sinais esses que ele fez questão de ignorar, enquanto mantinha um sorriso jocoso em seu rosto.
Ao contrário do que Alex pensava, Simon encarou aquele comentário abusado de forma descontraída e até mesmo deixou uma risada escapar enquanto se aproximava de Dorian, mantendo sempre as mãos atrás das costas.
— O senhor é impressionante, senhor Delyon. De fato, um talento único, não é para qualquer um o que o senhor possuí. – Quando Dorian deu de ombros, como se estivesse se gabando, Simon desfez a expressão branda, tornando o rosto austero e revelando sua verdadeira face – Só que a mim o senhor não engana. Eu consigo ver muito bem através de você, por trás dos comentários abusados e sarcásticos, por trás de todo o desdém que demonstra, existe alguém manipulador e, pior que isso, muito convincente. O que a meu ver são características muito perigosas para alguém tão inteligente deter. Em todos esses anos de carreira poucas vezes vi alguém assim, mas já lidei com pessoas o suficiente para reconhecer essa personalidade destrutiva, homens como o senhor não sujam suas mãos. Fazem outros sujá-las para vocês. Então, não pense que só porque deixei essa agência levar os créditos pela prisão do senador que esquecerei o que aconteceu. Pelo contrário, estarei sempre de olho no senhor e em qualquer movimento que fizer. Em seu relatório você já foi classificado como perigoso, se quer saber. – Simon se aproximou mais, até parar ao lado de Dorian e abaixar consideravelmente sua voz, apenas para que ele ouvisse, cochichando em seu ouvido – Queria chamar a atenção, Dorian, e agora conseguiu.
Como se nenhuma daquelas palavras tivesse acabado de sair de sua boca, Simon se afastou, abrindo um sorriso e dando leves tapinhas no ombro de Dorian, enquanto caminhava em direção à saída da sala.
Dorian, por sua vez, não esboçou qualquer reação, continuou ali parado, com a cabeça baixa, a movendo milimetricamente para trás, enquanto seus olhos encaravam se esgueira Simon se afastar e sair da sala. As sobrancelhas haviam cedido e praticamente se uniam, a respiração se tornara pesada, demonstrando claramente o quanto ele havia odiado ter sido desvendado e desafiado daquela forma.
Alex apenas observava seu comportamento, temendo o que se passava na mente do ladrão àquela hora, ele parecia alguém completamente diferente do que era e quando voltou apenas os olhos em sua direção, ele pôde reconhecer um olhar muito perigoso que havia visto uma única vez e em uma única pessoa.
Como se percebesse que havia sido pego em sua pior versão, Dorian instantaneamente desfez a expressão, como se mudasse da água para o vinho. As sobrancelhas haviam voltado ao normal e a postura se endireitado, enquanto ele abria um sorriso e debochava.
— Pelo menos ficamos com os créditos, não é mesmo? Estou dispensado?
— Está, pode ir. – Respondeu Alex, contornando a mesa e se sentando.
Assim que Dorian saiu, fechando a porta silenciosamente atrás de si, ele se acomodou mais em sua poltrona, com os pensamentos correndo por sua mente, e questionando a si mesmo o que havia acabado de presenciar naquela sala. Se Dorian já se sentira desconfortável ao saber que estava sendo vigiado e tinha sido classificado como perigoso, não imaginava qual poderia ser a reação dele ao saber que, na verdade, a classificação em que ele se encontrava era "extremamente perigoso".
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