16| Segredos revelados - Parte 1
ESTAVAM percorrendo uma das principais avenidas da cidade quando Dorian deixou o silêncio de lado, e apontando para uma das ruas paralelas disse:
— Podemos passar para ver meu pai? Esse é o caminho para a casa dele.
— Fizeram as pazes?
— Sim, tivemos uma conversa depois que saí do hospital.
— Fico feliz que tenham se acertado. Vai me dizendo onde tenho que entrar.
— É fácil, só pegar a próxima esquina à esquerda.
Não levaram mais do que dez minutos para estacionarem em frente a uma casa branca com grades também brancas e altas, o pequeno jardim na frente era bem cuidado e possuía uma pequena fonte e um caminhozinho de cascalho que levava à escada com três degraus, onde uma varanda guardava a porta dupla de madeira.
Desprendendo o cinto, Dorian se adiantou para fora, e somente quando atravessou a rua percebeu que Melina ficara no carro. A encarou confuso, ao que ela respondeu:
— Vou ficar aqui te esperando.
Acenando com a cabeça, ele abriu o portão e adentrou, percorrendo o caminho de cascalho e parou à porta, batendo e esperando que fosse atendido.
Não se passou mais do que dois minutos até a porta se abrir e Caíque aparecer atrás dela. Os olhos dele se arregalaram por trás dos óculos, demonstrando sua surpresa, enquanto as bochechas coraram, por algum motivo que Dorian não entendeu naquele instante.
— Dorian? O que faz aqui? – Questionou, confuso.
— Eu vim visitar o senhor. Pensei que poderia.
Notando o tom decepcionado na voz de Dorian, Caíque se adiantou em se esclarecer, temendo que o filho tomasse sua surpresa como negativa. Abriu mais a porta e apontou para dentro, sinalizando que Dorian adentrasse.
— É claro que pode me visitar sempre que quiser, filho. Apenas fiquei surpreso em vê-lo aqui nesse horário, pensei que estaria no trabalho.
— Bom, eu deveria ter avisado também que viria. Mas acabei de sair de um encontro com um amigo meu e estávamos passando por aqui, imaginei que talvez estivesse em casa para o almoço antes de ir para a universidade e resolvi passar aqui para vê-lo.
Dorian começava a estranhar o comportamento arredio de Caíque, ainda continuavam parados no hall de entrada que ficava na sala. Seu pai nem mesmo o convidara para se sentar em um dos sofás brancos como sempre fazia, no entanto, ele logo entendeu que algo estava errado quando uma voz feminina soou vinda do lado esquerdo, onde se localizava a cozinha:
— Querido, está tudo bem aí?
Dorian nunca tinha ouvido aquela voz, muito menos havia ouvido qualquer mulher chamar Caíque de "querido" em toda sua vida. Nem mesmo sua mãe costumava fazer aquilo. Encarando a expressão culpada do pai, Dorian elevou uma sobrancelha, mas não se contentou em ficar parado, tomou o corredor em direção à cozinha, enquanto questionava:
— Querido?
— Dorian, espera...
O fato de o corredor ser bem pequeno fez com que Dorian chegasse rapidamente à cozinha toda trabalhada em mármore branco, incluindo a ilha bem ao centro do cômodo, onde naquele momento uma mulher ruiva e muito bem-vestida, estava acomodada, aparentemente comendo. Os olhos verdes dela praticamente saltaram da órbita quando avistaram Dorian. Ela rapidamente se levantou e alisou a saia, ainda mantendo a postura elegante, mas carregando o mesmo olhar de culpa que Caíque.
Ainda confuso, Dorian se voltou para o pai e não precisou de nenhum questionamento, Caíque logo tomou a frente, percebendo que não adiantaria de nada protelar mais.
— Dorian, essa é a Laura. Laura, esse é meu filho Dorian, de quem te falei.
— Oh, então esse é o Dorian? Seu pai me falou muito sobre você, é um prazer finalmente conhecê-lo. – Respondeu a mulher de forma simpática, estendendo a mão.
Mesmo que estivesse encabulado com o que via ali, Dorian estendeu a mão de volta e a cumprimentou, finalmente entendendo o que estava acontecendo. Ele não perderia aquela oportunidade preciosa de importunar Caíque.
— O prazer é todo meu. Mas sinto muito, meu pai nunca me falou que tinha uma amiga íntima.
— Dorian, a Laura é minha namorada. – Se apressou em explicar.
— Ah, agora as coisas estão fazendo mais sentido. Por que não me contou antes?
— E-eu não sabia como contar. Temi que talvez não aprovasse.
— Eu? – Bradou Dorian indignado – Pai... o pai aqui é você, eu não tenho que aprovar nada a respeito de sua vida.
— Eu sei, mas é que... faz tanto tempo que estou sozinho. Talvez você e suas irmãs estranhassem.
— Na verdade, eu fico muito feliz com isso. Há quanto tempo se conhecem?
Foi a vez de Laura responder, se intrometendo no assunto e fazendo sua voz suave soar:
— Há pouco mais de seis meses.
— Laura também leciona na universidade. E, na verdade, foi ela quem me substituiu pelo período que fiquei com você no hospital.
Aquela sim foi uma informação que surpreendeu Dorian, principalmente porque percebeu o olhar apaixonado que seu pai lançava àquela mulher, e incrivelmente ele era correspondido. O sorriso que surgia no rosto dela cada vez que olhava Caíque, fazia Dorian de fato estranhar tudo aquilo.
— Bom, nesse caso, muito obrigado por ajudar meu pai, Laura.
— Não foi nada. – Respondeu ela – Era o mínimo que eu poderia fazer, não deixar ele se sobrecarregar daquela forma. Me doía ver o quanto ele estava abatido. Mas o importante é que está melhor agora, Dorian.
— É... eu estou. – Mais alguns segundos de um silêncio constrangedor reinou na cozinha, antes de Dorian retomar – Bom, eu preciso ir. Melina está me esperando no carro.
— Não quer se juntar a nós para almoçar? Pode chamar sua amiga se quiser. – Sugeriu Caíque.
— Muito obrigado, pai, mas me lembrei que preciso voltar para a agência e ainda tenho um monte de coisas para resolver.
— Está com trabalho novo?
— Digamos que sim.
Caíque o encarou preocupado, principalmente por ver aqueles ferimentos no rosto do filho, mas sabia que de nada adiantaria tentar dissuadir Dorian, então apenas suspirou e concordou com a cabeça.
Estendendo a mão novamente para Laura, Dorian se despediu com um sorriso simpático, antes de dizer:
— Foi um prazer te conhecer, Laura.
— O prazer foi todo meu, espero que nos vejamos mais vezes.
— Eu também espero.
Já se encaminhando para fora da cozinha, e sabendo que Caíque seguia logo atrás, Dorian não pôde deixar de lançar uma última frase para constranger seu pai.
— Desejo felicidades para vocês e, por favor, pai, use camisinha, eu não quero mais um irmão e o senhor não tem mais idade para filhos.
— Dorian!
Enquanto Caíque esbravejava atrás dele, Dorian podia claramente ouvir a risada de Laura vinda da cozinha, pelo menos ela tinha um bom senso de humor.
Parados no hall de entrada, Caíque puxou o braço de Dorian, o fazendo se voltar para ele.
— Filho, por favor, me prometa que vai tomar cuidado.
— Eu tomo cuidado, pai.
— Toma mesmo? Olha só para esse rosto, já está todo machucado novamente.
— Isso aqui foi só um contratempo, não se preocupe comigo, se preocupe com você e sua nova namorada.
Deixando um suspiro escapar, mas incapaz de conter o sorriso que se formou em seu rosto, Caíque questionou novamente:
— Está tudo bem mesmo para você? Que eu... tenha alguém novamente?
— Mas é claro que está, pai. Eu fico feliz em vê-lo se relacionar novamente, precisa pensar mais em si mesmo e deixar de se preocupar tanto com a gente. Só deveria ter me contado antes.
— Eu realmente fiquei receoso, sabe. Não sabia como você ia reagir, nem suas irmãs.
— Elas já sabem?
— Sabem sim. Helena reagiu bem, como sempre me apoiou e foi muito madura, mas a Lívia...
— Ela reagiu tão mal assim?
— Ela ainda tem dificuldades em aceitar. Não se entende muito bem com a Laura e morre de ciúmes todas as vezes que ela está por perto. Talvez ela esteja se sentindo ameaçada, eu sempre dediquei todo meu tempo a ela.
A angústia e o receio estampados nos olhos de Caíque, fazia Dorian se sentir um pouco culpado, ainda que não entendesse o motivo daquilo. Laura fazia bem a ele, podia-se notar de longe, mas talvez aquele velho professor ainda se sentisse receoso em se entregar completamente àquele relacionamento, e aquilo poderia ser perigoso.
— Vamos fazer o seguinte então – Propôs Dorian – Eu busco Lívia na escola hoje pela tarde e ela fica comigo no galpão até um pouco mais a noite, assim o senhor pode aproveitar mais seu tempo com a Laura e eu tenho uma conversa com a Lívia.
— Faria isso mesmo? Não vai te atrapalhar?
— Pai, é a Liv, ela nunca me atrapalha.
— Só toma cuidado com o que falará a ela, Dorian, sua irmã ainda está chateada comigo, nem quis dormir aqui por esses dias, passou a semana toda na casa de Helena
— Lívia não é mais uma criança pai, ela já bem grandinha para entender bem certas coisas, e precisa que alguém diga isso a ela. E, bem, já que nem você e nem Helena tem coragem para fazer isso, eu me encarrego dessa tarefa.
Deixando uma risada escapar com aquela atitude tão paternal de Dorian, Caíque apenas concordou e deu leves tapinhas no ombro do filho, lhe dando permissão. O acompanhou até o lado de fora do portão da casa e acenou cumprimentando Melina, que ainda se encontrava dentro do carro e somente depois que ela deu partida e saiu deslizando pela rua, Caíque voltou para dentro.
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