15| Rei de ouro II - Parte 5
COMO PODIA SER POSSÍVEL?
Melina permaneceu parada, incrédula, enquanto assistia Dorian caminhar alegremente na direção de Thomas e este lhe receber com um abraço e alguns tapinhas nas costas.
— Seu desgraçado, você não morreu. – Comentou Thomas deixando um enorme sorriso aparecer em sua face, antes fechada.
— E nem você. Achei que a paternidade te mataria.
— Está me fazendo melhor do que pensei. Mas sente-se, vamos conversar.
— Antes apenas deixe-me apresentar minha amiga. – Disse Dorian estendendo o braço para Melina – Essa é a agente Melina Singh, ela é uma federal e foi ela quem me prendeu.
— Ah, então foi você que acabou com a farra do Dorian?
Melina ainda hesitou alguns instantes, antes de forçar suas pernas a se moverem até se aproximar de onde os dois estavam. Sua voz parecia ter simplesmente desaparecido e sua língua se enrolado dentro de sua boca, ainda assim, se forçou a balbuciar:
— Ah, foi... f-foi sim. – Estendendo a mão em cumprimento, completou – É... é um grande p-prazer conhecê-lo, senhor Belmok.
Respondendo ao cumprimento de Melina, Thomas abriu mais um sorriso, dizendo:
— Me chame só de Thomas, por favor, sem formalidades por enquanto.
Depois que se acomodaram em seus respectivos lugares, Dorian foi o primeiro que tomou a palavra, olhando em volta.
— Onde estão seus filhos e sua esposa?
— Amália está no banheiro trocando os gêmeos e Colin ultimamente anda mais apegado a ela, então eu tecnicamente fui abandonado pela minha família.
— Oh, pobre garoto rico. – Debochou Dorian.
Melina arregalou os olhos diante daquele atrevimento e disfarçadamente chutou Dorian embaixo da mesa, enquanto Thomas abria mais um de seus sorrisos tortos. Aparentemente ele havia gostado daquela provocação.
— Ao que parece nem mesmo três anos de prisão foram suficientes para frear essa sua língua afiada, Delyon. Acho que alguém deveria arrancá-la.
— E quem vai ser? Você?
— Me dê uma oportunidade.
Os dois haviam aproximado tanto seus rostos que Melina podia jurar que dali sairia uma briga. Mas já deveria saber que aquele dia estava sendo mais estranho do que o comum e que tudo poderia surpreendê-la. Depois de um curto silêncio e tensão, os dois não conseguiram mais manter a postura e deixaram suas gargalhadas preencherem todo o salão.
Ela não poderia estar mais confusa.
— Com licença, me desculpem interromper o momento de reencontro de vocês, mas... de onde exatamente se conhecem? – Questionou ela, sem conseguir conter sua curiosidade.
Thomas pousou os olhos em Melina por alguns instantes, parecendo muito satisfeito com a confusão da agente, para logo em seguida os voltar para Dorian. Se recostou de volta na cadeira e cruzou os braços.
— Eu conto ou você quer ter a honra?
— De contar que o principezinho veio parar no país vizinho em um dos piores internatos? Eu não perderia essa oportunidade. – Se voltando para Melina, Dorian pareceu realmente empolgado do esclarecer – Thomas chegou no internato em nosso último ano. Ele havia dado um certo trabalho para seus pais e aprontado uma coisa muito séria no país dele, aí como forma de o punirem o mandaram para o internato.
— Até hoje não entendo porque estourar os pneus do carro do primeiro ministro foi considerado uma grande merda. – Comentou Thomas despreocupado – Ele mereceu.
Dorian interrompeu o relato apenas para voltar o olhar chocado para Thomas, principalmente porque a expressão inocente dele em nada mudara.
— Ainda não entendeu? Você era um aprendiz de psicopata!
— Olha quem está falando. Quem colocou fogo no escritório do diretor foi você.
— Em minha defesa, eu só quis apagar minhas notas ruins.
— Colocando fogo nos arquivos? Para uma pessoa tão inteligente foi uma coisa muito idiota de se fazer.
— Escuta aqui, Belmok, você também estava lá e estava bem interessado em apagar suas notas também.
— Mas eu faria de outro jeito.
— Faria como? – Questionou Melina.
— O governo apagaria por mim. – Respondeu Thomas, com um sorriso vitorioso – Não que eu precisasse daquelas notas, não fariam a menor diferença para mim.
Com um olhar monótono, Dorian se voltou para Melina, mas apontou diretamente para Thomas, quando explicou:
— E era por isso que eu era o único amigo desse idiota naquele internato. Ninguém gostava dele. Apenas respeitavam e mantinham distância.
— Você, por outro lado, se mantinha por perto e dava respostas abusadas.
Melina não poderia estar mais surpresa. Em todo aquele tempo convivendo com Dorian, o conhecendo de maneira até íntima, jamais imaginara que uma situação como aquela poderia acontecer. Temia se aprofundar mais na relação daqueles dois e descobrir coisas que não queria descobrir.
Interrompendo todo e qualquer outro pensamento que pudesse passar pela mente dela, Dorian desviou do assunto e tornou o semblante sério pela primeira vez.
— Mas vamos ao que interessa. Conseguiu aquilo que te pedi?
— Me fale uma coisa que eu não consigo. – Respondeu Thomas, tirando um pen drive de dentro do bolso e o arrastando sobre a mesa na direção de Dorian – Mas antes de te entregar, me responda algo. É sobre sua família biológica?
— É, sim.
— Uh! Seja bem-vindo então.
— Bem-vindo a quê?
— Vai entender quando vir tudo o que está aí.
O momento foi interrompido quando alguns garçons se aproximaram da mesa trazendo algumas bandejas e deixando um prato em frente a Thomas, enquanto os outros, com alguns quitutes, era distribuídos pelo resto da mesa.
Thomas não esperou nem mesmo meio segundo para atacar a comida, estava faminto. Apenas apontou para os quitutes os oferecendo para Dorian e Melina, e continuou a comer.
Não desejando que caíssem em um silêncio constrangedor, e se lembrando de uma informação aleatória que adquirira, Dorian se dirigiu para Thomas novamente.
— Aí, é verdade que a mesma médica que cuidou de mim é a mesma que cuidou de você?
Thomas pareceu pensar por alguns segundos até dar de ombros e comer mais um pouco daquela pasta estranho.
— Não sei, já passei por tantos médicos na minha vida.
— Foi quando você sofreu um acidente. – Notando que Thomas ainda se encontrava confuso, Dorian acrescentou – O mais recente.
— Ah, sim! Está falando da Doutora Jane?
— Ela mesma. É namorada da Max, a outra agente que trabalha comigo.
— Mas que coincidência.
— Sim. Mas o que aconteceu com você exatamente para precisar dos cuidados dela?
Thomas pareceu ponderar novamente, mas diante da expectativa nos olhos de Dorian, respondeu serenamente:
— Um prédio caiu na minha cabeça. Quase fui soterrado. – Diante do assovio de espanto vindo de Dorian, Thomas acrescentou – E você? O que aconteceu?
— Comi veneno.
Thomas parou com a comida a meio caminho da boca, observando atentamente as feições neutras de Dorian, como se ele já fosse acostumado a ser envenenado e situações como aquela acontecessem todos os dias.
— Sinceramente, não sei qual de nós dois está pior ou é amaldiçoado.
— Deve ser você com esse tanto de filhos.
Arfando ofendido Thomas se defendeu:
— Eu não sou amaldiçoado por ter três filhos.
— Não. É amaldiçoado por ter dois de uma vez só. Quem aguenta gêmeos?
Thomas ainda se calou por alguns segundos, fixando os olhos com expressão monótona em Dorian, e sem que ele esperasse, Thomas se inclinou por cima da mesa e acertou um tapa na testa de Dorian, empurrando sua cabeça para trás.
— Ai! Por que fez isso? – Resmungou ele, esfregando a testa.
— Estou passando a maldição dos gêmeos para você. Quando tiver filhos, serão logo dois.
— Eu sequer sou casado para ter filhos!
— E quem disse que precisa ser casado para ter permissão de ter filhos? Colin não é filho biológico da Amália.
— Sai fora!
Foram interrompidos novamente quando um garotinho se aproximou correndo, mostrando toda sua semelhança com Thomas. Se atirou no colo do pai e foi logo levando a mãozinha ao prato com os quitutes.
— Colin, não seja mal-educado, cumprimente os amigos do papai.
Só então ele ergueu os grandes olhos cinzas e com a boquinha cheia, disse um simples "oi", voltando a comer logo em seguida. Melina apenas sorriu, se divertindo com o jeito guloso do menino, enquanto Dorian se voltava para Thomas e mais uma vez provocava:
— Ao que parece ele não é parecido com você apenas na aparência, Belmok. A gula também é idêntica.
— Não está na hora de você ir embora não, Delyon? – Rebateu Thomas – Melhor sair antes que a Amália te veja.
— Não, acho que vou ficar aqui para vê-la.
— Mas ela não gostaria de vê-lo aqui.
— Tá de brincadeira? Amália me adora!
— Ela nem te conhece!
— Por isso mesmo seria uma boa ideia eu ficar para nos apresentarmos.
Balançando a cabeça discordante e parecendo quase desesperado, Thomas insistiu:
— Não, não. Eu já te dei o que te devia, pode ir.
— Por que não quer que ela me conheça? Está com vergonha de mim? – Provocou Dorian novamente.
— Não, mas se ela te vir aqui vai saber que quebrei minha promessa com ela e me envolvi em coisas que não deveria me envolver.
— Está com medo de apanhar da sua esposa, Belmok?
— Mas é claro que estou, aquela mulher quase me quebrou no meio uma vez!
Aquela era uma informação que surpreendeu Dorian. O tão orgulhoso e inabalável Thomas Belmok finalmente fora rendido por alguém. Não poderia se sentir mais satisfeito.
Não teve tempo para mais provocações contra o amigo. Se aproximando deles, surgiu uma mulher mais ou menos da mesma estatura que Melina, a pele negra combinava perfeitamente com os cabelos volumosos e cacheados, enquanto os olhos castanhos se prendiam no marido, enquanto se aproximava mais, empurrando um carrinho duplo, carregando os bebês.
— Você não faz ideia da bagunça que esses dois fizeram. – Resmungou ela, encarando Thomas, e assim que avistou os outros dois, elevou as sobrancelhas, parecendo surpresa – Oh, não sabia que teríamos companhia.
— Esse é Dorian Delyon, aquele amigo que te falei que estudou comigo, e a amiga dele, agente Singh.
Se esticando na direção deles e estendendo a mão, Amália abriu um simpático sorriso ao cumprimentar:
— É um prazer conhecê-los.
Tanto Dorian quanto Melina se levantaram para apertar a mão de Amália, a respondendo.
— O prazer é nosso em finalmente conhecer a pessoa que colocou juízo na cabeça do Belmok. – Disse Dorian.
— Muito engraçado! – Resmungou Thomas – Mas eles já estavam de saída, não é mesmo, Dorian?
— Thomas, não seja mal-educado. Não se expulsa as pessoas assim. – Repreendeu Amália.
Para o completo horror de Thomas, Dorian havia achado uma aliada contra ele, e quando se tratava de Delyon, ele sabia que todos os recursos seriam utilizados a favor daquele patife.
— Concordo com sua esposa, Belmok, ainda nem conheci direito seus filhos. – Se inclinando para frente, em sua cadeira, Dorian aproximou o rosto do carrinho, encarando os dois meninos brincando com seus ursinhos – Seus filhos são lindos!
— Obrigada! – Respondeu Amália, olhando orgulhosamente para os filhos.
— Tiveram a quem sair. – Se intrometeu Thomas, com um sorriso convencido.
Elevando os olhos do carrinho e encarando diretamente o amigo, Dorian fez questão de rebater:
— Você que não foi, não é?
— Eu deveria socar essa sua cara, Delyon. Aliás, acho que estou te devendo uma.
— Vai querer mesmo entrar nesse assunto? Sua esposa está por perto.
— Ela já sabe de todas as minhas aventuras com mulheres.
— Mesmo?
Com um olhar monótono, como se pouco se importasse com aquele assunto, Amália se voltou para Dorian, respondendo:
— Já presenciei algumas. Infelizmente.
Satisfeito com a oportunidade que viu despontar, Dorian ajeitou a postura, deixando o tronco ereto e exibindo um sorriso convencido, confesso sem remorso algum:
— Eu roubei uma garota que Belmok andava se enroscando uma vez.
— Ladrão desde sempre.
— Você estava me devendo uma, Belmok. Te acobertei e levei a culpa por você no incidente com a tinta.
Cruzando os braços de modo desdenhoso, Thomas torceu a boca, mas não conseguiu manter a postura rude que havia simulado, abriu um sorriso matreiro, respondendo:
— Eu não levaria a culpa de toda forma, a aprovação deles não me importava e nem influenciaria na minha vida.
— Por isso mesmo me devia, eu assumi uma culpa que nem precisaria assumir porque não aconteceria nada com você. Sempre foi assim, o principezinho se safava eu, o bastardo, me lascava.
Thomas não teve nem tempo de recriminar Dorian pelo linguajar perto dos filhos, Colin, que ainda estava comendo, se virou para o pai e perguntou de modo curioso:
— Papai, o que é "bastado"?
— Outro dia te explico, filho. Daqui a trinta anos talvez.
— Oh, perdão. – Se desculpou Dorian – Mas vamos mudar de assunto, Belmok. O que está achando de voltar para o país?
— Poderia ser melhor.
— Thomas! – Ralhou Amália, sentindo as bochechas esquentarem de vergonha pelo marido.
Enquanto Thomas apenas dava de ombros, Dorian não escondia a diversão por trás dos olhos, ao dizer:
— Não me surpreende. O que desagradou vossa alteza?
— A companhia que vou ter.
— Uh, essa foi forte! Com quem irá se encontrar?
Finalmente deixando um suspiro cansado escapar, Thomas deixou os ombros cair, demonstrando o quanto aquilo o aborrecia. Quase todos os compromissos relativos à monarquia o faziam se sentir extremamente entediado e irritado. Franzindo o cenho, Thomas enfiou o quitute na boca, antes de responder:
— Senador Morgan. Já o conhecem?
Melina e Dorian se entreolharam, surpresos pela primeira vez naquele dia. Qual era o plano daquele senador, se relacionando com a monarquia do país vizinho?
Aquilo sim poderia ser uma informação valorosa.
Apontando para o próprio rosto, ainda machucado, Dorian comentou:
— Está vendo isso aqui na minha cara?
— Ah, isso aí foi um acidente? Achei que sua cara era feia assim mesmo.
— Engraçadão. – Ironizou Dorian – Sempre odiei seu senso de humor.
— Não sabe mais brincar, Delyon? Estava mesmo me perguntando onde havia se metido dessa vez. Mas não queria ser indelicado.
— Delicadeza é seu traço menos óbvio, Belmok. Mas voltando ao assunto, o possível responsável por isso aqui é justamente seu amiguinho senador.
— Ele fez isso aí? – Questionou elevando uma sobrancelha.
— Hipoteticamente. Acreditamos que para encobrir uma lavagem de dinheiro ele mandou explodir o secretário dele.
— E você muito azarado estava próximo?
— Exatamente. Eu e uma amiga nossa fomos atingidos, mas ela ficou mais ferida e precisou ser hospitalizada.
Notando certo choque nas expressões de Amália e Thomas, Melina resolveu intervir e acrescentar:
— Agora estamos mais empenhados em investigá-lo, mas ainda não temos nenhuma prova concreta. Nem mesmo podemos fazer qualquer movimento errado sem que sejamos prejudicados.
— Mas por que chamar o Thomas aqui, se ele está envolvido em um esquema de corrupção? Isso não chamaria mais atenção? – Interveio Amália, parecendo ligeiramente confusa.
Como se suas mentes estivessem conectadas e trabalhassem como uma só, Thomas e Dorian se encararam, pela primeira vez naquele encontro sem qualquer tipo de sarcasmo ou provocação despontando em suas feições. Em uníssono, chegaram a um consenso, dizendo:
— Imunidade.
— Na verdade, ele entrou em contato como Nicolas. – Acrescentou Thomas – Ele sendo o rei não poderia se ausentar agora do país, então me mandou para cá para representá-lo. Morgan afirmou ter algumas propostas excelentes para estreitar as relações entre nossos países e eu fiquei incumbido de analisar essas propostas. Se eu dissesse ao Nicolas que as propostas são boas o suficiente, ele ficaria muito bem-quisto nos dois países por trazer avanços para ambas as populações. Vocês não poderiam fazer nenhuma investida contra ele sem se arruinarem.
— Filho da... – Dorian se interrompeu quando viu Thomas rapidamente tapar os ouvidos do filho, e acabou se corrigindo – mãe.
— Posso negar as propostas dele. Sempre analiso as pessoas antes de conversar com elas, e confesso que ele não me despertou muita confiança.
— Terá de encontrar um argumento mais convincente para negar as propostas dele, principalmente se forem boas. – Interrompeu Amália, de modo sério – Não pode basear suas decisões apenas em sua intuição, mesmo que esteja certo.
— Claro que posso.
Amália apenas lançou um olhar significativo para Thomas, elevando uma única sobrancelha. Aquilo bastou para ele entender o recado.
Indignado por se encontrar sem um plano a que seguir daquela vez, Dorian deixou sua frustração escapar por meio de um suspiro alto e um torcer de lábios, enquanto resmungava:
— Não acredito que dessa vez vou ficar de mãos atadas sem poder fazer nada.
Mais alguns segundos de silêncio foram feitos, tornando o ambiente tenso, os únicos que pareciam não entender nada do que estava acontecendo ali eram os gêmeos, que continuavam brincando no carrinho, e Colin, que adquiria certa curiosidade pelo guardanapo.
O silêncio estranho, no entanto, foi quebrado por Thomas, que se inclinou ligeiramente para frente, fixando os olhos em Dorian e lentamente abrindo um sorrisinho conspiratório em seu rosto, enquanto abaixava o tom de voz.
— Ainda consegue me copiar, Delyon?
Dorian ergueu os olhos abruptamente diante daquela frase, as sobrancelhas arqueadas demonstraram sua surpresa, mas assim que entendeu a intenção do amigo, deixou sua expressão se suavizar, se encaminhando para a diversão e quiçá até pretensiosidade.
— Me diga uma vez que não consegui.
— Então acho que temos a solução do seu problema.
Melina foi a primeira a entender o que os dois estavam pensando. Apavorada com aquela ideia, acabou cutucando Dorian com o cotovelo para quem sabe trazê-lo de volta à realidade.
— Você não está mesmo pensando em fazer isso, está? – Ralhou.
— Tem outra ideia melhor?
— Dorian, você usar suas identidades falsas para resolver casos é uma coisa, agora se passar por uma autoridade da realeza que nem do nosso país é, já é demais.
— Não é crime se eu o autorizo a fazer, não é? – Interveio Thomas.
Melina lhe dirigiu o olhar confuso, piscou algumas vezes parecendo incrédula que os dois estavam realmente cogitando aquela hipótese. Não teve resposta para dar de imediato, apenas voltou o olhar na direção de Amália, que se encontrava igualmente confusa, e resignada, teve se responder:
— Não, não é.
— Então eu o autorizo. Essa é a melhor chance de vocês conseguirem provas contra ele. Se Dorian chegar perto o suficiente de fazê-lo entregar uma informação valiosa, vocês resolvem o caso de vocês.
— Nicolas vai ficar furioso com você se descobrir isso. – Argumentou Amália.
— E daí? Ele vive furioso comigo. Pelo menos isso vai ser por um bom motivo e vou poupar nosso país de se envolver em um escândalo. Além disso, ele nem precisa saber.
Melina até queria lançar outro argumento, mas estava receosa de contrariar Thomas e sabia que nada faria Dorian desistir se ele tivesse carta branca do príncipe. Estava de mãos atadas como sempre esteve quando se tratava de Delyon, principalmente naquele momento que ele tinha um cúmplice, que aparentemente tendia a ir por caminhos tão criminosos quanto os dele.
— Vocês não irão desistir, não é? – Questionou ela, mesmo já sabendo da resposta.
Completamente sincronizados, ambos responderam novamente em uníssono:
— Não.
Deixando um suspiro desgostoso escapar e já imaginando milhares de possibilidades de aquilo tudo dar errado, Melina acabou concordando com a cabeça, embora suas palavras fossem contrárias:
— Quero ver como vamos convencer o chefe disso.
— Isso vocês deixem comigo. Sei ser bastante persuasivo. – Respondeu Thomas.
— Em quanto tempo o encontro de vocês ocorrerá? – Questionou Dorian.
— Em duas noites. Um coquetel seria oferecido no parlamento de vocês, mas pelo que vi nas notícias parte dele virou escombros. Então o local mudou para o antigo teatro.
— É uma boa localização. O salão de festas dele é bem amplo. – Se levantando Dorian apoiou as mãos sobre a mesa, mas se dirigiu para Melina, completando – Bom, nesse caso temos muito trabalho a fazer, então temos que começar agora.
Melina não saberia dizer se estava feliz por aquele encontro ter chegado ao fim sem que mais nenhuma ideia mirabolante passasse pela cabeça daqueles dois, ou se sentia receosa pelo que viria a partir dali, mas resolveu guardar os próprios sentimentos para si, e se levantou, concordando com Dorian. Thomas e Amália acompanharam seus movimentos e se despediram com abraços calorosos como se já fossem amigos de longa data.
Depois de um curto abraço entre os dois homens, Dorian se despediu com um acenar de cabeça e a passos lentos começou a caminhar na direção da saída. Thomas apenas permaneceu em pé, com as mãos nos bolsos, o observando. No entanto, antes mesmo que Dorian pusesse os pés para fora, ele o chamou novamente:
— Antes de ir, Dorian, acredito que esteja com uma coisa que me pertence.
Lentamente, Dorian se voltou na direção de Thomas, que o encarava com um sorrisinho presunçoso no rosto. No entanto, Melina tornou sua postura apreensiva, enquanto encarava Dorian, se forçando a esconder a fúria que lhe atingiu naquele instante.
— Você não fez isso, Dorian! – Resmungou ela, entredentes.
Ele não se deu ao trabalho de responder, tampouco a encarou, continuou com os olhos fixos em Thomas, enquanto abria um sorriso.
— Não sei do que está falando, Belmok. Eu não tenho nada.
Thomas ampliou o sorriso antes de responder:
— Bolso esquerdo interno do seu paletó, provavelmente um bolso falso que você fez. O conheço bem, Delyon, a mim você não engana. Mas se não quiser me devolver minha carteira tudo bem. – Thomas puxou a mão de dentro do bolso, deixando à mostra um relógio que estava enroscado entre seus dedos – Acho que essa belezinha aqui cobre o prejuízo. Um relógio bem caro para quem acabou de sair da prisão.
— Seu patife. – Resmungou Dorian.
— Ladrão. – Rebateu Thomas.
Enquanto ambos se xingavam ainda mantendo um sorriso em seus rostos, tanto Melina quanto Amália ficavam paralisadas em seus lugares, sem entender nada sobre a relação que aqueles dois tinham.
Caminhando um na direção do outro, eles trocaram os objetos que tinham afanado e daquela vez se despediram devidamente.
Quando finalmente puseram os pés para fora do restaurante e adentraram o carro, Melina permaneceu paralisada por alguns instantes, encarando a rua à sua frente e tentando assimilar se aquilo havia sido realmente verdade.
— Você está bem? – Questionou Dorian, preocupado.
— Eu ainda estou tentando entender se o que acabou de acontecer é realidade ou não. Como pode você conhecer um príncipe, Dorian?
— Nós literalmente acabamos de lhe contar a história de como nos conhecemos.
— Eu sei, mas é que... existe a possibilidade de você não conhecer sequer uma pessoa nesse mundo?
Dorian parou, incrédulo, por alguns minutos, encarando Melina e tentando entender a lógica daquela pergunta sem sentido dela.
— Existem oito bilhões de pessoas no planeta. Acha mesmo que eu conheço todas?
— Eu não sei, às vezes tenho impressão que sim. Você conhece todo mundo!
— São apenas coincidências. Acontece que os contatos que tenho são os mesmos com os quais você já lidou. O mundo do crime tende a ser cheio dessas coisas.
Soltando um suspiro, Melina girou a chave na ignição e ligou o carro e engatou a primeira marcha.
— Eu desisto de entendê-lo, Delyon.
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